segunda-feira, 28 de março de 2016

Assassinos. Em todo o mundo.


E voltaram a fazê-lo. Os agentes do autoproclamado Estado Islâmico voltaram a matar pessoas na Europa, desta vez em Bruxelas que, para além de ser a capital da Bélgica, funciona também, na prática, como capital da União Europeia. Por isso mesmo, todos os que nos sentimos europeus, sentimos esses atentados como sendo contra nós próprios, o que nos faz sentir também atacados e vítimas da barbárie, em completa solidariedade com os 31 mortos e centenas de feridos em Bruxelas.
No entanto, e sem ir mais longe, uma revisão dos atentados de raiz islâmica desde 13 de Novembro de 2015 em que morreram pelo menos 137 pessoas em Paris, dá-nos um quadro tenebroso que não deixa praticamente nenhuma parte do mundo livre destas acções. Assim, de forma resumida, no mesmo mês de Novembro, um atentado em Beirute provocou 43 mortos, outro em Bamako no Mali, 27 mortos, e um em Tunes, 12 mortos. No mês de Dezembro, em San Bernardino nos EUA morreram 14 pessoas e em Panaclim no Paquistão, 23 pessoas. Já em Janeiro do corrente ano, um atentado em Zliten na Líbia, fez 65 mortos e outro em Jacarta na Indonésia, 8 mortos. Em Fevereiro, um atentado em Bagdad no Iraque, provocou 73 mortos. 

No corrente mês de Março, ainda antes de Bruxelas os terroristas islâmicos atacaram em Ancara na Turquia onde fizeram 37 mortos e em Grand-Bassam na Costa do Marfim, causando 18 vítimas mortais. Não refiro o nº de feridos, que é de largas centenas. Antes destes atentados, recorda-se o sucedido em Bruxelas em Maio de 2014 quando um islamita matou 3 pessoas no Museu Judaico, dando início a este ciclo de atentados, a que se seguiu a matança do Charlie Hebdo em Paris, em Janeiro de 2015, em que morreram 12 pessoas.
Há evidentemente um ponto comum em todos estes atentados, que é o facto de em todos eles os autores se reivindicarem de islamitas e agirem em nome da sua religião, pela construção de um dito califado e contra os cruzados do ocidente. Notoriamente são tele-comandados pela organização do dito Estado Islâmico ou DAESH que em muitos casos envia os terroristas, mas em muitos outros utiliza agentes nascidos nos próprios países europeus onde atacam.
Estes ataques terroristas, juntamente com os milhões de refugiados que há anos procuram a segurança da Europa, são uma das consequências do estado actual do Médio-Oriente. Se até ao final dos anos 70 do século passado a vida naquela zona do globo era minimamente aceitável, bastando ver as fotografias dessa altura, a implantação dos estados teocráticos desfez as ilusões de quem imaginaria que a civilização, tal como a conhecemos no resto do mundo, era ali possível. O regime dos aiatolas no Irão e a monarquia da Arábia Saudita acirraram os ódios seculares entre as duas principais facções islâmicas, favorecendo o surgimento de pequenos grupos radicais que foram crescendo de importância, até se tornarem no que são hoje. A invasão soviética do Afeganistão em 1979 e a guerra selvagem que se seguiu, criou as condições para o regime dos talibans e o desenvolvimento da Al-Qaeda, o atentado do 11 de Setembro e posterior invasão americana, a que se seguiram as guerras do golfo. As chamadas primaveras árabes que descambaram nos mais sombrios invernos e a guerra civil na Síria formaram o caldo em que os mais radicais dos radicais islâmicos começaram a fazer o que se considerava impossível, isto é, conquistar grandes áreas de terreno, estabelecer uma organização económica também ela toda baseada em terrorismo e formar algo com aparência de estado, o DAESH.

Os ataques internacionais contra o dito Estado Islâmico têm sido importantes e estarão a ter consequências quer na sua organização, quer na reconquista de terreno. Mas existe a sensação de que não está a ser tudo feito para acabar com ele, o que levanta dúvidas e mesmo suspeitas sobre os seus financiamentos e aquisição de armamento. A venda de petróleo e bens culturais tem que ser feita através de países vizinhos, tal como a entrada de armamento.

Discute-se muito, e bem, sobre o controlo dos possíveis terroristas no interior dos países europeus e a necessidade de prevenir os actos terroristas; discute-se igualmente a necessária segurança associada aos milhões de refugiados vindos do Médio Oriente. Mas essas, repito, são consequências de algo e não o verdadeiro problema. E esse consiste na situação caótica no Médio Oriente, de que muitos são historicamente responsáveis, mas para o qual é necessário, acima de tudo, encontrar solução. Há o problema militar do Estado Islâmico que exige solução drástica e rápida, através da concertação internacional, na qual a Europa tem que ter voz decisiva, dado que é a primeira a sofrer as consequências.
E há o problema cultural e religioso do Islão em confronto com o resto do mundo que há muitos anos escolheu um modelo civilizacional assente nos direitos definidos internacionalmente, quer os humanos, quer os das mulheres e das crianças, por exemplo. Esse será, talvez, o mais difícil de resolver sabendo que, se sempre houve fanáticos e sempre haverá, o que é preciso é que por detrás deles não haja falsos moderados a instigarem o ódio e o terror.

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