Não deverá haver
melhor dia para escrever sobre a minha Cidade do que este em que celebramos a
Liberdade e a devolução da soberania a quem nunca deveria ter sido tirada, o
Povo.
Coimbra é a minha Cidade de acolhimento, para onde vim estudar para
acabar o Liceu, porque naquela altura apenas as cidades capitais de Distrito
possuíam escolas até ao fim do 7º ano que permitia o acesso à Universidade.
Coimbra tinha ainda a vantagem de ter a sua Universidade, pelo que todas as
Beiras drenavam os seus estudantes para aqui, para além de virem outros de
grande parte do país porque, por exemplo, a Universidade do Porto não dispunha
da oferta de cursos da de Coimbra em Letras e em Direito. Tinha dezanove anos
aquando do 25 de Abril que viria a mudar radicalmente Portugal e também a
relação de Coimbra com o resto do país. As mudanças trazidas pela
democratização do ensino alteraram os fluxos de jovens, permitindo que
primeiro, fizessem os seus estudos secundários nas suas próprias terras de
origem e depois, os próprios estudos superiores à medida que novas
universidades e politécnicos se foram instalando por todo o território
nacional.
Pode-se dizer que
estas alterações não deixaram de ser, nas primeiras décadas da Democracia,
desfavoráveis a Coimbra que sofreu um notório definhamento na comparação com
outras cidades do país, não acompanhando a sua evolução. Era, eventualmente,
inevitável. Para isso contribuiu ainda uma evolução errada da ocupação do
território, que privilegiou o crescimento das áreas metropolitanas de Lisboa e
do Porto ensanduichando toda a zona das Beiras, com Coimbra no seu centro.
Certamente, não ajudou muito que responsáveis regionais pretendessem a
afirmação da zona Centro como sendo polinucleada, isto é com várias cidades
consideradas como equivalentes, tendo definido as políticas regionais em função
desse princípio. Tal terá contribuido para a diminuição da importância do papel
de Coimbra na região e, no meu ponto de vista, da própria região com efeitos
que ainda hoje se fazem sentir, nomeadamente nas ligações rodoviárias para cidades
do interior, casos de Viseu, Covilhã e Castelo Branco.
Mas Coimbra reagiu
e surge hoje com uma afirmação a vários níveis, que só os chamados
“coimbrinhas” no seu histórico pessimismo e gosto pela má-lingua se recusam a
ver. Se já não recebemos os estudantes das Beiras como dantes, em contrapartida
os estudantes estrangeiros que nos procuram são aos milhares e Coimbra não fica
notoriamente a perder, sob o ponto de vista económico, mas também pela nova
característica cosmopolita que ganhou.
O espaço urbano é
hoje muito diferente, surgindo a cidade como polinucleada, não já com apenas um
centro, o que lhe confere uma vivência urbana mais moderna e variada. Claro que
o velho centro sofreu desertificação, mas há hoje um movimento de regresso que
dentro de no máximo meia dúzia de anos, se poderá classificar de espectacular e
eu sei bem do que falo neste aspecto particular. Os parques verdes junto às
duas margens do Mondego alteraram por completo o relacionamento dos
conimbricenses com o rio que anseiam agora pela continuação da intervenção
urbana nas duas margens até à Ponte-açude.
(2ª parte na
próxima semana)