Há duas semanas
tivemos a oportunidade de ouvir em Coimbra, e ao vivo, um grande artista cabo-verdiano
que tem também nacionalidade portuguesa. Vasco Martins esteve entre nós para
participar na apresentação do seu CD “Viagens no imaginário da Morna” editado
pela Orquestra Clássica do Centro tendo ainda, no dia seguinte, apresentado o
seu mais recente livro, “SINFONIAS”.
Vasco Martins é
muitas vezes apresentado como o maior compositor actual de música erudita de
África, o que é na verdade redutor perante a sua personalidade artística. Vasco
Martins é, antes de tudo, um artista multifacetado, sendo um grande compositor
de música clássica que acontece ter escolhido viver em Cabo-Verde não sendo
capaz, nas suas próprias palavras, de estar mais de um mês afastado de Vale da
Ribeira de Calhau onde actualmente reside, na ilha de S. Vicente.
Vasco Martins é também
escritor, tendo editado vários livros de entre os quais o já referido
“Sinfonias”, mas também os seus trabalhos sobre a Música Tradicional
Cabo-Verdiana (Morna), as obras “A Verdadeira Dimensão”, “Tempos da Moral
moral” sobre a sua mundividência e ainda os livros de poemas “Universo da Ilha”
e “Navegam os olhares com o voo do pássaro”. Foi ainda co-autor, juntamente com
o pintor Tchalé Figueira, de um livro sobre a vida de Cesária Évora (Cesária –
A rota da Lua vagabunda) editado em Coimbra pela Orquestra Clássica do Centro.
Pela sua ligação
afectiva e intelectual à Morna é o responsável pelo Centro de Estudos da Morna
que tem como um dos seus objectivos o reconhecimento deste género musical como
património mundial pela Unesco. Como o próprio Vasco Martins escreve, “a Morna
é sem dúvida uma das mais belas manifestações do mundo da chamada ‘música
popular urbana” e está, sem dúvida, no interior de muita da sua produção
musical.
Mas Vasco Martins
vai muito para além disso, como compositor. A sua formação musical iniciou-se
com Fernando Lopes Graça após o que continuou os seus estudos em Paris com
Henri-Claude Fantapié. Teve contacto próximo com a música dita contemporânea
modal e dodecafónica, tendo-se, no entanto, afastado dela por a achar puramente
intelectual, afastando-se do prazer que esta forma de arte deve proporcionar a
quem dela desfruta.
Vasco Martins é um
compositor prolífico, tendo escrito nove sinfonias entre 1997 e 2013, estando
neste momento a terminar a décima. Em vez de as numerar designa-as com nomes
próprios que remetem claramente para o ambiente geográfico, cultural e
artístico de Cabo Verde. Assim surgem as sinfonias “Equinócio”, “Erupção”,
“Arquipélago”, “Oceano Atlântico”, mas também “Buda Dharma” ou “Himalaias” que
reflectem as suas preocupações cosmogónicas. Para além das sinfonias, Vasco
Martins tem ainda obras para guitarra, piano e sintetizador, reflectindo os
seus diversos interesses musicais para além da música clássica, como o jazz ou
a música new-wave, para além da Morna, claro.
O facto de a sua obra
musical ter frequentemente referências à música de Cabo–Verde não significa que
fique confinada a um estilo “nacionalista” ou mesmo folclórico. Longe disso.
Como o próprio Vasco Martins acentua, muitos compositores clássicos integraram
elementos musicais das suas terras como Chopin, Mahler, Stravinsky, ou o
próprio Bach, para além de muitos compositores que incluíram elementos musicais
das terras de que gostavam como Debussy ou Messiaen.
A música sinfónica de
Vasco Martins é belíssima em qualquer parte do mundo, sendo a prova do seu
enorme talento, mas também da justeza das suas opções musicais. Nas suas
sinfonias Vasco Martins utiliza a orquestra como um instrumento, muito para
além da variedade de sons dos seus instrumentos musicais constituintes, sendo
perceptível a sua admiração por esse instrumento colectivo complexo.
A edição do CD
“Viagens no imaginário da Morna” com composições sobre temas da música
tradicional de Cabo-Verde é um acontecimento invulgar entre nós, tanto mais
importante quanto o Fado não se encontra tão longe da Morna quanto se poderia
pensar.
1 comentário:
Sou um Fã de Vasco desde do disco memorias do atlantico tenho quase todos os disco do Vasco tive a honra de viajar com ele para Holanda na aprentaçao do disco Dos com Voginha e de participar na abertura do Festival Musical Baia das Gatas junto com o bailarino e coreografo To Tavarres mais um mostre caboverdiano da dança,
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