Depois de Varsóvia,
Estalinegrado, Dresden, Sarajev e Srebrenica, para referir
apenas algumas,
Aleppo é apenas a última cidade martirizada em que os habitantes, aqueles que
sobreviveram, se transformaram em refugiados cujas únicas memórias são as casas
desfeitas, e os familiares homens, mulheres e crianças despedaçados pela
guerra.
Já poucos se
lembrarão, mas a guerra na Síria começou com manifestações pacíficas em 2011
juntando Sunitas, Shiitas, Cristãos e Curdos contra o despotismo do Presidente
Bashar al-Assad. Este acusou-os a todos de serem terroristas e respondeu com
enorme violência usando de todas as armas, incluindo químicas, contra o seu
povo no que teve o apoio do Irão desde o início.
A partir de certa
altura, a radicalização do conflito levou a que entrassem tantos intervenientes
que é hoje quase impossível conhecer exactamente todas as forças no terreno e
quem está com quem em determinado momento.
O “exército livre da Síria”, única
força que apenas combaterá pela libertação da Síria da tirania de al-Assad é
apenas uma das forças, além do Hezbollah, da ex-Jabhat al Nusra, de facções da
Al-Qaida e, finalmente, do ISIS que, claro, quer estabelecer o “Califado”, para
além das forças armadas do regime. A intervenção de países estrangeiros,
directa ou indirecta, é um facto e tem importância decisiva no desenrolar da
guerra: o Irão, a Turquia, a Arábia Saudita e a Rússia envolveram-se de uma
forma ou de outra na Síria. Outros países têm tido intervenção militar no
território da Síria como a França os EUA ou a Bélgica, mas visando directamente
o ISIS e não tendo propriamente uma intervenção na guerra civil. O número de
mortos desta guerra civil ultrapassará os 400.000, havendo milhões de
refugiados nos países vizinhos.
A cidade de Aleppo
era, até há não muito tempo, a maior cidade da Síria. Tendo estado integrada na
zona ocupada pelo “exército livre da Síria” o regime, ultimamente apoiado pela
aviação russa, decidiu terminar com essa situação, custasse o que custasse, o
que está praticamente conseguido. A cidade está hoje praticamente destruída e
os últimos habitantes tentam fugir às atrocidades que têm sido cometidas pelos
soldados de Bashar, incluindo sobre mulheres e crianças, segundo os relatórios
das Nações Unidas. Nos últimos dias, cerca de 25.000 pessoas terão sido
evacuadas da zona oriental de Aleppo, temendo-se pela sorte das mais de 50.000
que ainda permanecem no interior da cidade cercada pelas forças do regime.
Entre os que
conseguiram sair e atingir a segurança da Turquia conta-se uma menina de sete
anos de idade chamada Bana Alabed que foi colocando na sua conta do Twitter
fotografias do que via nas ruas de Aleppo desde o passado mês de Setembro,
tendo conseguido uma enorme influência ao atingir o número de 352,000
seguidores.
As crianças serão
certamente quem mais sofrerá pela vida fora como testemunhas que foram dos mais
indizíveis horrores que a guerra pode provocar. Mais de 1.000 mulheres sírias
deram à luz nos campos de refugiados gregos no ano de 2016, não tendo as
crianças nascidas um país próprio, nem casa para morar, nem basicamente para
onde ir, num mundo que cada vez se mostra menos receptivo para com os
refugiados.
Segundo Mateus, há
pouco mais de 2.000 anos, numa zona bem próxima daquela em que hoje se
verificam estes acontecimentos, os pais de um menino recém-nascido chamado
Jesus decidiram não voltar para a sua casa em Nazaré e empreender uma viagem
para o Egipto.
Tornaram-se refugiados fugindo à tirania e maldade de um rei
chamado Herodes que, com medo de vir a perder o trono para uma criança desconhecida
mas que alguns prediziam que viria a tornar-se rei, decidiu mandar matar todos
os recém-nascidos da região.
O drama dos
refugiados é bem antigo. Novos são os Direitos da Criança e mesmo os Direitos
do Homem, tal como as convenções como a de Genebra que deveriam introduzir
regras mínimas de respeito, não só pelos soldados combatentes mas, acima de
tudo, pelos civis que nada têm a ver com as guerras dos poderosos. Direitos que
são muito bonitos no papel e para serem celebrados em dias próprios, mas que
são inúteis se só servirem para tempos de harmonia, logo sendo esquecidos
precisamente quando são mais necessários.
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