segunda-feira, 19 de junho de 2017

Levar Coimbra a Capital Europeia da Cultura

A escolha de uma cidade para “Capital Europeia da Cultura” é daquelas decisões que contêm em si a possibilidade de mudar o futuro dessa cidade, para além das enormes vantagens culturais e turísticas trazidas durante o ano de referência. É por isso que essa escolha está definida em regras próprias da União Europeia, através de uma decisão específica tomada em conjunto pelo Parlamento Europeu e pela Comissão Europeia.
Assim, encontram-se já pré-indicados os países que terão cidades capitais europeias da cultura até 2033. Portugal tem direito a ter uma cidade “capital europeia da cultura” em 2027, em simultâneo com uma cidade da Letónia. Perante esta definição, poderíamos ser levados a pensar que ainda vem longe e que mais próximo dessa data se discutirá o assunto. Ou que basta exercer alguma pressão política sobre um governo politicamente “amigo” para garantir a escolha. Nada de mais errado. Em primeiro lugar, os países membros em causa deverão publicar uma chamada para submissão de candidaturas, pelo menos seis anos antes do ano em causa, além de que terá de entregar o conjunto de pré-selecção das cidades candidatas até cinco anos antes do mesmo ano. Por outro lado, é a Comissão Europeia que tem a responsabilidade da organização da competição entre as cidades candidatas em cada país pelo que, se a intervenção dos governos é naturalmente importante, o júri de especialistas da Comissão está lá para verificar se não há entorses na análise das candidaturas das cidades.

Daqui se infere que até ao ano de 2020, as cidades que se pretendem candidatar têm que ter o seu “trabalho de casa” completamente feito, ou ficarão excluídas de qualquer hipótese de serem escolhidas. Como estamos em meados de 2017, tal significa que essa preparação terá poucos anos para ser realizada.
Há ainda outros aspectos a ter seriamente em conta, nas candidaturas. Em primeiro lugar, cada candidatura deverá basear-se num programa cultural com uma “forte dimensão Europeia”. Por outro lado, uma simples leitura dos critérios mostra a exigência do trabalho de montagem das candidaturas, que deverão ser elaboradas por equipas pluridisciplinares, coordenadas por personalidades de grande competência em várias áreas, mas essencialmente na organização e cultura. Esses critérios estão agrupados em grandes capítulos como sejam a “contribuição para a estratégia a longo prazo”, o “conteúdo cultural e artístico”, a “capacidade para distribuir”, a “divulgação” e ainda a “gestão”.
A novidade é que, desde 2014, as candidaturas têm que cumprir os critérios e o processo de escolha é ainda completamente definido, sendo atribuídas competências à União Europeia e não apenas ao país das cidades candidatas.
As cidades portuguesas que já foram “Capital Europeia da Cultura” não tiveram que cumprir este rigoroso procedimento de escolha, já que foram Lisboa em 1994, o Porto em 2001 e Guimarães em 2012, pelo que a actual situação é muito diferente. Significa que qualquer cidade que pretenda candidatar-se a ser “Capital Europeia da Cultura” em 2027 já deveria neste momento estar a trabalhar muito seriamente nesse sentido.
O que nos traz a Coimbra, dado constar que algumas cidades portuguesas já estarão a preparar as suas candidaturas.
São várias as razões para defender Coimbra como próxima cidade portuguesa “Capital Europeia da Cultura”, em 2027. Desde logo, as duas principais cidades, uma a Norte e outra a Sul, já o foram. Por outro lado, o Norte já viu duas cidades geograficamente bem próximas sê-lo. Por razões de coesão nacional, faz todo o sentido que a próxima se localize na região Centro. A classificação de boa parte da Cidade como “Património Mundial” pela UNESCO veio dar uma notoriedade cultural acrescida a Coimbra, dado que o bem protegido é precisamente a Universidade (Alta e Rua da Sofia), ligada intimamente à Cultura Europeia por ser uma das universidades mais antigas da Europa e pelo seu papel importantíssimo na definição da língua portuguesa. Dentro da região Centro, não parece ser bairrismo defender que Coimbra é, neste momento, a única cidade que pode aspirar a ser a próxima cidade portuguesa “Capital Europeia da Cultura”, desde logo pela dimensão relativa e ainda pelo histórico da Cidade, a nível cultural. A título de exemplo, recorda-se que em Guimarães foi constituída uma orquestra de música erudita que funcionou apenas no ano da Capital Europeia, no que foram gastos mais de seis milhões de euros. Como se sabe, Coimbra tem uma orquestra residente, como aliás dispõe de vários grupos profissionais de teatro, tal como importantes equipamentos pelo que dispõe, também aqui, de vantagens comparativas óbvias.
Falta a razão principal, que é Coimbra querer ser Capital Europeia da Cultura em 2027. Este assunto foi introduzido no debate público por uma candidatura autárquica, no caso a de Jaime Ramos. Penso que foi da melhor maneira que o fez, não partidarizando a questão, mas chamando a atenção para ela e propondo que todas as restantes candidaturas se unam neste caso e estabeleçam uma plataforma de entendimento, evitando querelas estéreis.

Na realidade trata-se de um assunto da maior relevância para a Cidade pelo que, para além de organizar uma equipa credível responsável elaboração da candidatura, se tornará necessário concitar o apoio e colaboração das mais diversas entidades públicas e privadas, forças políticas e representantes da sociedade civil. E isto com a maior urgência, porque amanhã já será tarde.

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