O fim da União Soviética em 1991 levou
à destruição de todos os equilíbrios que, embora instáveis, conseguiram que a
chamada “guerra fria” nunca tivesse aquecido ao ponto de provocar a catástrofe
nuclear com consequências que nem se imaginam. Durante alguns anos a nova ordem
internacional mais pareceu uma desordem, onde o terrorismo encontrou um terreno
fértil com atentados pavorosos a fazer lembrar os filmes que se dedicam ao tema
do pós-apocalipse nuclear.
Lentamente a Rússia, conduzida a
uma expressão mais reduzida denominada Federação Russa, foi-se reorganizando
internamente e recuperando algum do seu poderio militar anterior, enquanto a
economia demasiado dependente da produção de petróleo e gás natural tarda a
impor-se num tempo de desregulação internacional. Putin encontra agora um mundo
que não é favorável ao crescimento da influência russa por que ele tão
notoriamente se bate, utilizando para isso todos os meios de que dispõe, mesmo
alguns que se suspeita serem menos lícitos.
Um dos maiores obstáculos que
encontra reside na nova configuração política na Europa de Leste,
particularmente nos países que, até à queda do Muro de Berlim, pertenciam ao
Pacto de Varsóvia na sequência da sua ocupação militar pelas forças comunistas
no fim da Segunda Guerra Mundial. Em boa parte das populações desses países, os
exércitos do Pacto de Varsóvia eram vistos como força de ocupação, bastando
relembrar o sucedido nas revoltas na Hungria e na Polónia em 1956 e na Checoslováquia
em 1968.
Esses países, na sua quase totalidade, aproveitaram estes anos de
fraqueza russa para restabelecerem democracias parlamentares e se aproximarem
da União Europeia e nela entrarem. Mas, mais importante e muito mais
perturbador para Moscovo, todos esses países ex-comunistas entraram na NATO
antes de aderirem à União Europeia. Este facto significa claramente que, antes
das decisões políticas e económicas, trataram de assegurar a segurança militar
que a NATO lhes proporciona face ao gigantesco país a Leste que os dominou nos
mais diversos aspectos desde 1945.
Foi assim que, logo em 1999, a
NATO passou a contar com a República Checa, a Hungria e a Polónia como novos
membros. Em 2004 aderiram a Bulgária, a Roménia e ainda os países bálticos que
tinham sido ocupados militarmente pela ex-URSS e recuperado a independência
após 1991: a Estónia, a Letónia e a Lituânia. Em 2009 foi a vez de a Croácia e
a Albânia aderirem à NATO.
No passado dia 5 de Junho, coube
ao Montenegro passar a fazer parte da NATO. Trata-se de uma participação
simbólica dada a reduzida capacidade militar deste pequeno país, mas com um
significado enorme para a Rússia. Com a entrada do Montenegro, toda a costa
Norte do Mediterrânio passou a estar controlada pela NATO, desde o Sul de
Espanha até à fronteira Síria, tendo agora perdido o porto da Baía de Kotor,
últimas instalações em toda esta costa que a sua Armada ainda utilizava
livremente até há pouco tempo.
Mas a entrada do Montenegro na NATO
teve ainda outro simbolismo, se bem que circunstancial. Foi o primeiro ministro
do Montenegro Dusko Markovic que o presidente americano Donald Trump
“atropelou” na cimeira da NATO em 25 de Maio, para se colocar na linha da
frente da fotografia oficial.
Foi nessa cimeira que Trump
resolveu publicamente criticar os parceiros de aliança pelos seus baixos gastos
militares, criando um clima de menor confiança entre os dois lados do
Atlântico. Música celestial para os ouvidos de Putin, nada satisfeito com o passo
dado pelo Montenegro: Markovic foi publicamente humilhado por Trump na cimeira
numa atitude que se tornou viral por todo o mundo, e o principal membro da NATO
tornou pública a sua desconsideração pelos países europeus.A Europa e as suas fronteiras
O palco do xadrez mundial
político e militar está a mudar drasticamente. Do outro lado do Atlântico, está
o presidente Trump para quem a estratégia política se parece reduzir aos
negócios. Do lado oriental da Europa está o presidente Putin que sabe muito bem
o que quer e que está disposto a tudo para o conseguir. Nesta altura, convinha
que a União Europeia tivesse alguma capacidade de visão estratégica e se unisse
perante o essencial, em que se inclui a segurança.
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