A destruição da
produção agrícola que se seguiu à revolução russa de há cem anos levou a que os
novos dirigentes soviéticos tentassem encontrar soluções que rapidamente
resolvessem os problemas da fome que surgiam num país que, até então, tinha
sido um produtor gigantesco de cereais.
Num regime com uma
ideologia que, supostamente, iria resolver todos os problemas que a humanidade
tinha sentido ao longo da sua História, em particular após a primeira revolução
industrial, acreditou-se que os princípios fundamentais do marxismo se
aplicariam também aos métodos científicos da agricultura e a toda a biologia.
Foi assim que um
técnico agrário conseguiu influenciar e mesmo dominar toda a ciência, em
particular a Biologia, na União Soviética durante a primeira metade do século
XX com consequências desastrosas sobre a ciência, mas sobretudo pela fome e
desgraça que levou a milhões de pessoas nos campos do país.
Trofim Denisovicht
Lysenko desenvolveu as suas doutrinas pseudo-científicas contra toda a
investigação científica de muitos anos, tendo-se conseguido impor através da
intrusão da política e da ideologia na área que deveria estar reservada aos
cientistas no seu trabalho livre e independente. Prometendo ao poder soviético grandes
colheitas de cereais na sequência das fomes dos anos 30, Lysenko distorceu todo
o conhecimento científico que já existia na altura em nome dos princípios da
teoria marxista e de um discurso politicamente correcto. Negou toda a genética
mendeliana e a teoria da evolução de Darwin, descartando o papel dos
cromossomas e dos genes como estando na base da hereditariedade,
contrapondo-lhe o disparate científico dos “caracteres adquiridos” já que,
segundo ele, o espírito da teoria marxista exigia uma teoria de formação das
espécies por saltos e não pelo gradualismo da evolução de Darwin. Quem não
concordasse era reacionário, com as consequências inerentes.
Para Lysenko, todos
os organismos tinham a capacidade, em função do meio ambiente, de se poderem
modificar, com a vantagem de transmitir essas mudanças à sua descendência. Esta
afirmação era música para os ouvidos dos comunistas, na altura liderados por
Stalin, apostados na construção de um “homem novo” e para quem o homem seria
largamente o produto da sua própria vontade. Para os soviéticos a ciência devia
servir a ideologia política, pelo que Lysenko encontrou o terreno ideal para
dar largas à difusão das suas teses, colocando toda a comunidade científica a
seus pés. O que era mentira passou, através do poder político, a ser a verdade
obrigatoriamente aceite.
O Comité Central do
Partido Comunista ofereceu-lhe todos os meios para se afirmar contra a
verdadeira ciência o que, num regime ditatorial significou a perseguição de
todos os cientistas que se atreceram a manifestar a mínima discordância, como
sucedeu com Vavilov que era um cientista reconhecido mundialmente e que foi
afastado, enviado para um campo de concentração e logo depois eliminado. Ao
mesmo tempo, Lysenko era eleito para a Academia das Ciências da URSS e para
presidente da Academia Lenine das Ciências Agrárias, só tendo perdido o seu
ascendente já em meados dos anos 60.
Nos nossos dias
começa a falar-se apenas de géneros, ultrapassando-se tudo o que a ciência
ensina acerca da genética e mesmo da biologia celular, sendo politicamente
incorrecto falar de sexo masculino e de sexo feminino. Contudo, a evolução das
espécies, em particular nos animais mamíferos como os seres humanos,
orientou-se para a diferenciação de dois sexos, que transmitem a sua informação
genética através das células reprodutoras masculinas e femininas. Os cientistas
dizem que foi isso que levou à enorme variedade dos seres humanos, dos quais
não há dois rigorosamente iguais e daí a enorme riqueza da humanidade. As
diferenças entre os dois sexos não são apenas, ou mesmo essencialmente,
exteriores existindo ao nível de todas as células do corpo humano, por exemplo
nas mitocôndrias. É por isso que o aspecto exterior de qualquer um de nós pode
ser artificialmente alterado de acordo com a nossa vontade, mas não a essência biológica
profunda.
O respeito pelas
opções individuais de cada um incluindo as sexuais, que deve ser defendido, não
pode ser confundido com uma obrigatoriedade de aceitar acriticamente teorias
sociais que mudam com os respectivos autores, susceptíveis das maiores manipulações.
É por isso que, por exemplo, é insensato substituir sexo por género em
documentos oficiais, abrindo a porta à substituição da realidade concreta e
verificável por algo que não se conhece nem de que se sabe o fim.
O exemplo do
Lysenkoismo deve estar presente quando alguém ultrapassa a evidência e o
conhecimento científico, curiosamente de novo a Biologia e a Genética, para
chegar a conclusões pré-definidas em função de objectivos sociais assentes em
orientações políticas.
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