No dia 2 de Setembro de 1945, faz
no próximo sábado 72 anos, foi assinada a rendição japonesa que ditou o fim da
Segunda Guerra Mundial em que perderam a vida mais de 33 milhões de pessoas. O
Japão imperial foi a última das potências do Eixo a assumir a derrota militar,
depois da Itália fascista e da Alemanha nazi.
A guerra tinha começado
oficialmente seis anos antes, no dia 3 de Setembro de 1939, quando a
Grã-Bretanha e a França declararam guerra à Alemanha, dois dias após esta ter
invadido a Polónia que, a partir de 17 do mesmo mês, começou a ser igualmente
ocupada a Leste pelo exército soviético, assim se dando cumprimento ao Pacto
Nazi-Soviético assinado em 23 de Agosto desse mesmo ano.
Pode-se considerar que a Segunda
Grande Guerra foi apenas o verdadeiro epílogo da Primeira, com um intervalo 23
anos de paz pelo meio. Mas o que lhe deu origem imediata foi a ascensão ao
poder de Hitler e dos seus sequazes do partido Nacional-Socialista. Todas as
justificações dadas pelos nazis, desde a cláusula da “Culpa de Guerra” do
Tratado de Versalhes às reparações financeiras impostas à Alemanha pelo mesmo
Tratado até à definição do “espaço vital” e à superioridade da “raça ariana” e
inferioridade de todas as outras “raças”, não foram mais do que desculpas para
obter o poder absoluto e total que permitisse o seu domínio do mundo.
Em 1923 Hitler era ainda apenas um
político excitado que insultava judeus, marxistas e todos os que considerava
serem responsáveis pela derrota alemã de 1918. O seu partido não tinha qualquer
deputado no parlamento alemão, o “Reichstag”. Com apoio financeiro por parte de
grandes industriais, começou a fazer crescer o número de apoiantes. Em 9 de
Novembro desse ano, depois de um encontro célebre numa cervejaria em Munique,
proclamou um novo governo, mas foi preso e, em Abril de 1924, condenado a 5
anos de cadeia. Acabou por ser libertado em Dezembro do mesmo ano, tendo
aproveitado o tempo de cadeia para escrever o livro “A minha luta” – Mein Kampf.
Aí apresentou as suas ideias e desenvolveu a estratégia para conseguir os seus
objectivos: Os arianos eram a raça pura, enquanto os judeus representavam tudo
o que os homens podiam ter de pior, sendo causadores permanentes da adulteração
do sangue. O ódio puro com base na “raça” era elevado a orientação política.
Com base no populismo e aproveitamento da crise económica com elevadíssima
inflação e grande desemprego, os nazis aumentaram de número, ficando-se no
entanto pela eleição de 12 deputados nas eleições de Maio de 1928. Enquanto passou
a haver milícias nazis nas ruas com perseguições generalizadas a criar medo
colectivo, nas eleições de 1930 esse número aumentou para 107, correspondendo a
18% dos votos.
Nas eleições seguintes em Julho de 1932, o partido nazi alcançou
a sua maior votação democrática - 37,1% sem ter no entanto, a maioria absoluta.
Perante a incapacidade de formar governo e as diatribes de Hitler, houve novas
eleições em Novembro do mesmo ano e o Partido Nazi desceu para 33,1%. Desta vez
o velho Marechal Hindenburg viu-se obrigado a chamar Hitler para Chanceler em
30 de Janeiro e aí começou a tragédia alemã do século XX, ao ser levado para o
poder o terror que já grassava nas ruas às mãos dos “camisas castanhas “nazis.
O incêndio do Reichstag em 27 de Fevereiro de 1933 e as posteriores “eleições”
de Março desencadearam a tomada do poder total pelos nazis, tendo imediatamente
começado o envio para o primeiro campo de concentração (Dachau) de todos os
considerados inimigos, a começar por judeus e políticos comunistas,
sociais-democratas e sindicalistas, cujo número atingia os 100.000 já no final
desse ano.
A barbárie que foi o regime nazi
na Alemanha dos anos 30 e 40 estendeu-se à cultura com proibição e queima
pública de livros, mas também perseguição a todos os artistas criadores do que
considerava “arte degenerada”. Não foi menor a consequência, que durou muitos
anos, da apropriação pelos nazis da criação artística alemã do século XIX tida
como simbólica daquilo que consideravam representativo da cultura ariana, como
a música de Wagner. Como não pode ser escamoteada a forma como um sistema
jurídico sofisticado não só aceitou, como mesmo legitimou os procedimentos
instituídos pelo regime de Hitler.
Mas há algo que marca o regime
nazi para sempre. Foi a perseguição fanática aos judeus, por motivos puramente
raciais, a que se chamou Holocausto. A eliminação pelas mais diversas formas,
qual delas a mais desumana, de mais de seis milhões de pessoas é uma marca
indelével na História da Humanidade. Ann Frank foi apenas uma dessas pessoas,
mas é o símbolo do que aconteceu naqueles anos.
Quando hoje se vêem pessoas a
assumir a admiração e saudade pelos nazis nos mais diversos pontos do globo,
não podemos deixar de recordar quem foram na realidade, o que fizeram e o que
tentaram fazer, evitado pelo sacrifício de milhões de pessoas, civis e
militares, que deram a vida para que a escuridão que traziam não se estendesse
a todo o mundo.
A cultura e o conhecimento que
nos diz, por exemplo, que na humanidade só existe uma raça, são o melhor
antídoto para as tentações que levam ao totalitarismo sempre pronto a saltar
para a luz do dia. Mas uma força calma e decisiva que advém da justiça e do desejo
da Liberdade é sempre também necessária, não o esqueçamos.
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