O título desta
crónica vai propositadamente inconclusivo, oferecendo a quem a lê a hipótese de
colocar o remate que achar mais adequado.
Na realidade Coimbra
já foi capital de muitas coisas e pretendeu ser de outras tantas. Foi,
imagine-se, a primeira capital de Portugal, a Cidade onde o nosso primeiro Rei
estabeleceu a sua Corte e onde vieram a nascer quase todos os reis da Dinastia
que fundou.
Durante séculos
Coimbra foi a verdadeira “Capital do Conhecimento” por nela se localizar a
única Universidade do país. Por isso se diz que era também a Capital da Língua
Portuguesa, onde aprendiam todos os doutores ou bacharéis que se espalhavam
posteriormente pelo mundo, difundindo o conhecimento adquirido em Coimbra.
Foi capital de
Distrito até essa divisão territorial e política desaparecer, para ser
integrada numa Região Centro de que os mais diversos poderes sempre impediram
que fosse capital, o que faria todo o sentido para bem de Coimbra e da própria
região que não apresenta mais nenhuma cidade de dimensão média. Também não é
capital da Região de Turismo em que se insere, nem lhe empresta o nome ou a
sede.
Alguém sonhou que fosse
Capital da Saúde, o que não sucedeu e está cada vez mais longe da realidade.
Quando ouvi um antigo ministro da Saúde cá em Coimbra afirmar que a nossa
cidade tinha uns HUC com uma dimensão que não se justificava e que ainda por
cima existia do outro lado do Mondego o Hospital dos Covões também plenamente
utilizado, o que era algo que já tinha desistido de entender, antevi o que hoje
é já a plena e triste realidade. O Parque Tecnológico que era para ser também
da Saúde é hoje uma pálida imagem do que poderia ter sido.
É, contudo,
capital de obras e projectos inacabados. Sobre o Metro Mondego a que os
governantes até em tempos deram a pomposo designação de Plano de Mobilidade do
Mondego não é preciso grandes considerações face à vertiginosa descida de
expectativas que, com sorte, ainda terminarão com mais uns autocarros sem via
dedicada. A auto-estrada A13, talvez pelo azar que a designação lhe trouxe,
incluiu uns viadutos gigantescos, mas morreu contra um monte ali pelas bandas
de Ceira, ficando-se por ser uma excelente ligação a Tomar onde, de vez em
quando, lá passam uns carros. A auto-estrada A14 vem da Figueira da Foz para
desaparecer em Coimbra, dando lugar ao malfadado IP3, desgraçada via que
substitui a auto-estrada que nos devia ligar a Viseu.
É também a capital
das promessas falhadas. O novo Tribunal, que até já teve um projecto completo
elaborado para o mesmo local onde ainda hoje está “previsto”, pago e tudo,
continua a existir apenas numas vagas declarações ministeriais sobre novos projectos
e estudos; claro que as últimas eleições proporcionaram que o estacionamento
que lá existe há dezenas de anos passasse a ter melhor aspecto, mas não mais
que isso. A nova Maternidade sai de vez em quando do esquecimento para ser
motivo das mais desencontradas discussões, mais apetecendo dizer como em
Alqueva: “construam-me, porra!”. E o mesmo direi para o parque de
estacionamento dos HUC, sem mais comentários. Quanto à promessa do aeroporto
internacional em Cernache, nem vale a pena falar, porque Coimbra não pode ser a
Capital do ridículo isso, decididamente, nunca.
Perante tudo isto,
que resta aos conimbricenses no ano da graça de 2018? Que Coimbra seja a Capital
da Esperança. E a Esperança tem que estar nas pessoas de Coimbra. É tempo de
acreditarmos nos conimbricenses todos, no conhecimento que detêm e na capacidade
de realizar, com excelência, de que por cá se dá provas em suficiência. As
mudanças nos paradigmas urbanos têm sido avassaladoras nos últimos anos e só se
pode esperar que acelerem no futuro próximo. As actividades humanas, a todos os
níveis, estão a sofrer profundas alterações e as cidades não fogem a essas
mudanças Por isso é mais do que nunca necessária e urgente a máxima exigência
para com os governantes nacionais, mas também e sobretudo para com os
governantes mais próximos e para com todos os que democraticamente nos
representam independentemente das ideologias e partidos. Para que Coimbra seja
realmente a capital da Esperança para todos, progressiva, culta e progressista,
finalmente livre de atavismos seculares ainda hoje causadores de injustiças e atrasos
a todos os níveis.
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