É provável que
Theresa May tenha entrado no último Conselho Europeu realizado em Salzburgo,
convencida de que o seu plano definitivo Chequers recolheria o apoio da maioria
dos líderes europeus. Nunca se saberá se algum desses líderes ou a própria
Comissão lhe terão dado esperanças de que houvesse possibilidades dessa
aceitação. A verdade é que, não só o plano Chequers foi liminarmente rejeitado
por todos os 27, como a Primeira-ministra britânica foi desnecessariamente enxovalhada
pelos seus ainda colegas líderes europeus.
Claro que, no fim
do Conselho Europeu, o seu presidente Donald Tusk acabou por admitir existirem
“elementos positivos” na proposta Chequers mas vincando que precisa de ser
ajustada, sem o que o “mercado único” seria prejudicado. Mais tarde, viria
mesmo a comparar “Chequers” a uma “fatia de bolo sem a cereja em cima”. Perante
estas posições da União Europeia não podemos deixar de pensar no que estará por
detrás desta aparente irredutibilidade de posições. E a justificação mais
plausível é que os restantes 27 países acreditarão que, se as negociações não
tiverem uma conclusão os britânicos, de uma forma ou de outra, acabarão por ser
chamados de novo às urnas para, em novo referendo, dizerem de sua justiça sobre
a saída ou não da União, desta vez com uma espada de Dâmocles em cima da
cabeça. O que, tendo em conta as razões de carácter predominantemente
nacionalista que ditaram o resultado surpreendente do referendo de 2016 é bem
capaz de, mais uma vez, dar o resultado contrário ao pretendido pelos políticos
europeus. E não se julgue que as consequências de um tal resultado se limitariam
ao Reino Unido, porque seria certamente muito grave para a própria UE. Tendo em
conta o ressurgimento de velhos nacionalismos por esse mundo fora e olhando
friamente para a qualidade da generalidade dos políticos europeus, incluindo a
Comissão, ninguém ficará verdadeiramente admirado se tudo o que puder correr
mal, correr de facto mal.
A única
manifestação de algum apoio a May veio precisamente do Primeiro-ministro
nacionalista húngaro Victor Orbán que afirmou estar a tentar lutar contra um
grupo de líderes europeus os quais, segundo ele, acreditam que o Reino Unido
deve sofrer.
A possibilidade de
saída do Reino Unido sem acordo é cada vez mais provável, atendendo ao tempo
que já passou desde o referendo de 2016 e à irredutibilidade britânica na data
definitiva de saída: dia 29 de Março de 2019, às 24 horas.
Ao regressar a casa
May viu-se na necessidade de se dirigir aos britânicos, explicando a sua
posição sobre o sucedido em Salzburgo. O discurso da Primeira-ministra
britânica foi duro para com os restantes líderes europeus, mas também para com
os trabalhistas e os membros do seu próprio partido que criticam o seu plano.
Theresa May afirmou que não é aceitável que o seu plano Chequers tenha sido
rejeitado, sem que a UE tivesse apresentado alternativas e novas bases de
negociação. Afirmou mesmo que os britânicos “têm tratado a União Europeia com
respeito, exigindo o mesmo da parte dela”.
Os trabalhistas
vêem fraqueza na dificuldade de May em obter um acordo para o Brexit que lhes
pode dar dividendos eleitorais pelo que resolveram forçar a nota, aprovando na
sua convenção uma moção a pedir um novo referendo nos casos de não haver acordo
ou de um acordo que seja prejudicial aos interesses britânicos. No próprio
partido Conservador os defensores do “hardbrexit” consideram que o plano
“Chequers” da Primeira-ministra já ultrapassou as linhas vermelhas de cedência.
Neste caso, são radicalmente contra um novo referendo, defendendo, em
alternativa, uma saída pura e simples sem qualquer acordo.
A incapacidade
negocial de May enredada nas contradições internas do seu partido e as próprias
dificuldades habituais para se obterem consensos dentro da União, criaram uma
situação explosiva. O Brexit, isto é, a saída voluntária do Reino Unido, está a
dar lugar a algo muito mais parecido com “BRITEXPULTION” que mais não será do
que uma expulsão do Reino Unido da EU, levada a cabo pelos seus ex-parceiros,
ironicamente apoiada pelos extremistas britânicos.
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