segunda-feira, 1 de outubro de 2018

BRITEXPULSION



É provável que Theresa May tenha entrado no último Conselho Europeu realizado em Salzburgo, convencida de que o seu plano definitivo Chequers recolheria o apoio da maioria dos líderes europeus. Nunca se saberá se algum desses líderes ou a própria Comissão lhe terão dado esperanças de que houvesse possibilidades dessa aceitação. A verdade é que, não só o plano Chequers foi liminarmente rejeitado por todos os 27, como a Primeira-ministra britânica foi desnecessariamente enxovalhada pelos seus ainda colegas líderes europeus.
Claro que, no fim do Conselho Europeu, o seu presidente Donald Tusk acabou por admitir existirem “elementos positivos” na proposta Chequers mas vincando que precisa de ser ajustada, sem o que o “mercado único” seria prejudicado. Mais tarde, viria mesmo a comparar “Chequers” a uma “fatia de bolo sem a cereja em cima”. Perante estas posições da União Europeia não podemos deixar de pensar no que estará por detrás desta aparente irredutibilidade de posições. E a justificação mais plausível é que os restantes 27 países acreditarão que, se as negociações não tiverem uma conclusão os britânicos, de uma forma ou de outra, acabarão por ser chamados de novo às urnas para, em novo referendo, dizerem de sua justiça sobre a saída ou não da União, desta vez com uma espada de Dâmocles em cima da cabeça. O que, tendo em conta as razões de carácter predominantemente nacionalista que ditaram o resultado surpreendente do referendo de 2016 é bem capaz de, mais uma vez, dar o resultado contrário ao pretendido pelos políticos europeus. E não se julgue que as consequências de um tal resultado se limitariam ao Reino Unido, porque seria certamente muito grave para a própria UE. Tendo em conta o ressurgimento de velhos nacionalismos por esse mundo fora e olhando friamente para a qualidade da generalidade dos políticos europeus, incluindo a Comissão, ninguém ficará verdadeiramente admirado se tudo o que puder correr mal, correr de facto mal.
A única manifestação de algum apoio a May veio precisamente do Primeiro-ministro nacionalista húngaro Victor Orbán que afirmou estar a tentar lutar contra um grupo de líderes europeus os quais, segundo ele, acreditam que o Reino Unido deve sofrer.
A possibilidade de saída do Reino Unido sem acordo é cada vez mais provável, atendendo ao tempo que já passou desde o referendo de 2016 e à irredutibilidade britânica na data definitiva de saída: dia 29 de Março de 2019, às 24 horas.
Ao regressar a casa May viu-se na necessidade de se dirigir aos britânicos, explicando a sua posição sobre o sucedido em Salzburgo. O discurso da Primeira-ministra britânica foi duro para com os restantes líderes europeus, mas também para com os trabalhistas e os membros do seu próprio partido que criticam o seu plano. Theresa May afirmou que não é aceitável que o seu plano Chequers tenha sido rejeitado, sem que a UE tivesse apresentado alternativas e novas bases de negociação. Afirmou mesmo que os britânicos “têm tratado a União Europeia com respeito, exigindo o mesmo da parte dela”.
Os trabalhistas vêem fraqueza na dificuldade de May em obter um acordo para o Brexit que lhes pode dar dividendos eleitorais pelo que resolveram forçar a nota, aprovando na sua convenção uma moção a pedir um novo referendo nos casos de não haver acordo ou de um acordo que seja prejudicial aos interesses britânicos. No próprio partido Conservador os defensores do “hardbrexit” consideram que o plano “Chequers” da Primeira-ministra já ultrapassou as linhas vermelhas de cedência. Neste caso, são radicalmente contra um novo referendo, defendendo, em alternativa, uma saída pura e simples sem qualquer acordo.
A incapacidade negocial de May enredada nas contradições internas do seu partido e as próprias dificuldades habituais para se obterem consensos dentro da União, criaram uma situação explosiva. O Brexit, isto é, a saída voluntária do Reino Unido, está a dar lugar a algo muito mais parecido com “BRITEXPULTION” que mais não será do que uma expulsão do Reino Unido da EU, levada a cabo pelos seus ex-parceiros, ironicamente apoiada pelos extremistas britânicos.

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