No dia 20 de Novembro o Conselho de Revolução afastou Otelo
Saraiva de Carvalho da chefia da Região Militar de Lisboa, nomeando Vasco
Lourenço em sua substituição. Era a continuação dos acontecimentos de Agosto em
que na célebre Assembleia Geral de Tancos de 1 de Setembro Vasco Gonçalves,
destituído de primeiro-ministro no dia anterior, foi igualmente afastado de
Chefe de Estado Maior das Forças Armadas. O chamado Documento dos Nove apresentado
em 7 de Agosto, cujo principal autor era Melo Antunes, fazia o seu caminho nas
Forças Armadas e no MFA, tentando pôr cobro a um caminho de exaltação e
radicalização esquerdista que todos percebiam poder descambar numa guerra
civil.
Foi nessa altura que os sectores mais revolucionários
perceberam que aquele momento era a última hipótese de tentarem fazer a sua
“revolução socialista” à moda soviética porque a agulha do clima político
estava notoriamente a mudar para o lado contrário.
Na sequência do afastamento de Otelo da Região Militar de
Lisboa, log
o a 21 de Novembro, o COPCON reúne-se no Alto do Duque, recusando
acatar a ordem do Conselho da Revolução. Contudo, o Regimento de Comandos
exigiu ficar na dependência directa do Chefe do Estado Maior das Forças
Armadas, abandonando a estrutura do COPCON e mais de uma centena de oficiais
pára-quedistas abandonaram Tancos, deslocando-se para a Cortegaça com aviões e
helicópteros. O Conselho da Revolução reiterou a decisão de nomear Vasco
Lourenço e, em 24 de Novembro, o presidente da República Costa Gomes anuncia
que mantém essa nomeação.
Na madrugada de 25 de Novembro, faz hoje 44 anos, as forças
esquerdistas avançaram, com a ocupação das bases aéreas de Tancos, Monte Real e
Montijo bem como do Estado Maior da Força Aérea por pára-quedistas, enquanto o
RALIS tomava posições do aeroporto de Lisboa, na auto-estrada do Norte e no
depósito de Beirolas. Em frente da Cortegaça colocou-se um navio da Armada
pronto a disparar. O estúdio da RTP no Lumiar foi ocupado, bem como a 1ª Região
Aérea de Monsanto. A partir daí, o presidente Costa Gomes e o grupo dos nove
sob o comando de Ramalho Eanes tomaram todas as iniciativas militares
necessárias para responder à sublevação. Muito importante, Costa Gomes
contactou Álvaro Cunhal para proceder à desmobilização dos seus militantes nas
ruas, o que foi feito, assim se mantendo a contenda apenas entre militares.
Durante todo o dia as operações militares fizeram oscilar a situação para um e
outro lado mas, na madrugada de 26, a situação foi finalmente estabilizada com
uma acção forte dos Comandos da Amadora sobre a Polícia Militar que foi
ocupada.
Em suma, os sectores esquerdistas avançaram, mas o lado
militar democrático estava bem preparado para lhes tolher o passo. E foi assim
que o «processo revolucionário em curso» terminou, abrindo caminho para a
Democracia representativa em respeito pela vontade do povo português expressa
nas urnas e em mais lado nenhum.
Como acontece muitas vezes com as revoluções, os períodos
que se lhes seguem trazem consigo os perigos da radicalização, que podem anular
os bons objectivos que as nortearam. Tal não sucedeu em Portugal porque, em
primeiro lugar houve eleições livres para o povo escolher o caminho que queria
seguir e depois porque houve portugueses de fibra que obrigaram a que essa
vontade fosse respeitada.
Em tempos de oportunismos que tentam aproveitar-se da data
do 25 de Novembro face ao lamentável esquecimento dos últimos anos, é bom que
se saiba o que aconteceu, como aconteceu e o que significou como garantia da
Democracia pluralista que hoje temos.
Publicado originalmente na edição do Diário de Coimbra de 25 de Novembro de 2019
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