Um amigo meu que é médico dos corpos e desconfio que, por vezes, ainda que ele próprio o não saiba até de almas, diz que «os números acertam sempre e as crónicas acertam às vezes» e quanto a mim, apesar de não acreditar em bruxas sei, de ciência certa, que as há.
Este «Visto de Dentro» é a 777ª crónica desta série iniciada em Outubro de 2005 e, se algumas vezes terá acertado e outras menos, confio que será certamente desta vez que acerta em pleno, já que os numerologistas ocidentais e orientais coincidem em atribuir ao número 777 qualidades verdadeiramente excepcionais. No número 777 aparecem três algarismos seguidos. O número 7 só por si é considerado o número da perfeição, ligado ao conhecimento e à espiritualidade, estando presente em mitos e religiões ao longo da História por se encontrar ligado à Natureza através de numerosos ciclos como os dias da semana e as fases lunares entre muitos outros e até às notas musicais. O número 777 será, assim, um número especial, indicativo de sucesso ou realização de um sonho pessoal
Mas, para além da procura de significados de índole mais ou menos esotérica, a manipulação de números permitiu, desde tempos imemoriais, a representação de relações presentes na Natureza, mas também na capacidade de construção mental do Homem. O jogo de xadrez, debaixo do aparente caos de movimentos de 32 peças em 64 casas, esconde a construção de estratégias e utilização de tácticas com a mais fria lógica matemática, existe há mais de mil anos, pensando-se que teve origem na Índia. Classicamente representa uma batalha entre dois exércitos, mas mais modernamente não anda muito longe da representação da luta pelo poder entre partidos e até da conquista do mercado por empresas diferentes.
A capacidade de calcular distâncias entre pontos ultrapassando impossibilidades físicas foi trazida pela trigonometria e pela fórmula do triângulo rectângulo descoberta por Pitágoras uns quinhentos anos antes de Cristo: o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos, algo que todos aprendemos logo no início do Liceu.
Ao dividir-se o perímetro de qualquer círculo pelo seu diâmetro, seja qual for a dimensão do círculo, encontra-se sempre o mesmo valor, conhecido por Pi. As primeiras aproximações do valor de Pi obtiveram-se nas antigas civilizações, tendo os egípcios chegado ao valor de 3,16. O matemático grego Arquimedes calculou o valor de 3,142 e não foi por isso que gritou Eureka, expressão que reservou para outra descoberta também relacionada com números. Hoje em dia sabe-se que o valor de Pi é um número irracional com o valor 3,14159….., portanto uma sequência infinita de dígitos, mas a sua importância do conhecimento de algo matemático tão elementar na nossa vida continua a mesma ou mesmo ainda maior do que nos tempos dos antigos egípcios e babilónicos.
A medição das distâncias percorridas sobre os oceanos foi, durante séculos, um quebra-cabeças para os navegadores dado que, a partir de certa altura souberam como calcular a latitude e muito mais tarde a longitude, mas não sabiam a distância percorrida por um grau à superfície da Terra. Até que um matemático inglês, depois de ter tomado consciência da dificuldade de encontrar umas pequenas ilhas no meio do mar, se deu ao trabalho de o calcular. A partir da Torre de Londres andou a estender um fio muitas vezes até York para calcular esta distância, medindo depois o ângulo do Sol nos dois locais à mesma hora do mesmo dia. O seu cálculo de 110,72 km por grau foi bastante aproximado. O que ele não podia saber então é que a Terra tem menos 43 Km no Equador do que num meridiano, mas a sua obra foi de grande importância para as navegações marítimas.
Além do mais, o número 777 é também uma capicua, o que quer dizer que é idêntico ao ser lido da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda. O termo terá surgido no século XIX em Barcelona, derivando etimologicamente dos termos catalães para cabeça e cauda. As capicuas podem também ser chamadas palíndromos, termo que designa igualmente palavras ou frases com a mesma característica de poderem ser lidas nos dois sentidos. A palavra «Ana» é um exemplo de um palíndromo. Um dos palíndromos mais antigos está em latim: "SATOR AREPO TENET OPERA ROTAS" (O lavrador diligente conhece a rota do arado").
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