E ele derrubou mesmo. Foi em Junho de 1987 que, junto à Porta de Brandenburgo na então Berlim Ocidental, o presidente Reagan desafiou o Sec. Geral do Partido Comunista da URSS Mikail Gorbachev a derrubar o Muro de Berlim. O muro fora construído em 1961 com o argumento de defender os berlinenses orientais do fascismo ocidental e de impedir a fuga para leste dos explorados berlinenses ocidentais. Na realidade era exactamente o oposto como o provou o assassínio de tantos berlinenses orientais, ao tentarem fugir para o ocidente.
O Muro de Berlim era o símbolo perfeito da Guerra Fria que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, quando o exército Vermelho proporcionou a ocupação dos países do Leste europeu por partidos comunistas sem possibilidade de escolha democrática pelos respectivos cidadãos. Estaline ampliava assim o território da URSS e estabelecia o Pacto de Varsóvia dominado com mão de ferro, como aconteceu na Hungria em 1956 e na Checoslováquia em 1968. Em todos aqueles países se estabeleceu um regime ditatorial com polícias políticas que controlavam todos os cidadãos nas suas vidas públicas e privadas.
A então URSS impunha-se como uma das grandes potências mundiais ao lado dos EUA, quer na área científica e tecnológica quer, e sobretudo, na área militar. Foram os soviéticos os primeiros a mandar um homem para o espaço, Yuri Gagarin, em Abril de 1961. Contudo, o extraordinário crescimento da economia ocidental nos anos sessenta e setenta proporcionou uma riqueza generalizada e uma qualidade de vida sem paralelo na História. Foi assim que em 1969 já foi um americano o primeiro homem a pisar a Lua. Nas duas décadas seguintes foi-se aprofundando o fosso económico e social entre os dois blocos à medida que os soviéticos tentavam acompanhar o desenvolvimento militar do ocidente à custa de uma pobreza cada vez mais chocante no seu bloco.
Tornava-se cada vez mais difícil ao Partido Comunista da União Soviética aguentar a pressão sobre a sua governação autoritária e fechada em absoluto à modernidade. Foi assim que em 1985 o PCUS elegeu um jovem (para os padrões habituais) Secretário-Geral para dirigir o partido, chamado Mikail Gorbatchev que rapidamente se apercebeu da necessidade absoluta de diminuir a pressão social que se ia acumulando, através de reformas do sistema. Ninguém poderia imaginar então que acabavam de eleger o oitavo e último líder da União Soviética. Com Gorbatchev surgiram dois novos termos na terminologia soviética que rapidamente adquiriram uma força enorme, com consequências em todo o mundo: Perestroika e Glasnost. Se pela Perestroika que significa «reestruturação» Gorbatchev pretendia descentralizar as decisões políticas e económicas, através da Glasnost ou «transparência» levou ao país as liberdades de expressão e de imprensa. Mas as tensões libertadas por estas mudanças foram gigantescas, quer na URSS, quer nos países do Pacto de Varsóvia., tendo-se Gorbatchev recusado a intervir militarmente nos países do Leste europeu.
E o muro de Berlim caiu em Novembro de 1989. Gorbatchev aguentou-se no cargo mas em Agosto de 1991 verificou-se um golpe de estado em Moscovo tentando repor a velha ordem soviética. Muito pela acção de Boris Yeltsin, o golpe de estado falhou e Gorbatchev acabou por se demitir dos seus cargos em Dezembro desse ano.
Mikail Gorbachev nunca terá tido a intenção de acabar com a União Soviética, mas teve a coragem de assumir as alterações necessárias para a democratização e modernização do país. Libertou, no entanto, forças que não foi capaz de dominar, o que seria provavelmente impossível.
É claro que Gorbatchev foi a personalidade histórica que promoveu as mudanças políticas que redundaram na extinção da URSS e do Pacto de Varsóvia ditando o fim da Guerra Fria. O que aliás, explica os comentários azedos dos comunistas portugueses sobre o falecimento do antigo líder soviético que agora sucedeu aos 91 anos de idade, por tudo o que perderam, que não foi pouco... Pela sua acção extraordinária Gorbatchev recebeu, com toda a justiça, o Prémio Nobel da Paz. Mas hoje é também evidente que a Rússia, ao fim de sete décadas de regime comunista, não estava preparada para passar de repente para uma Democracia liberal ao modo ocidental. Como por estes dias, tragicamente, todos podemos ver com a invasão da Ucrânia pela Rússia e, de forma ainda mais assustadora, pela argumentação justificativa que lhe está subjacente.Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 5 de Setembro de 2022
Imagens retiradas na internet
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