terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Felizmente, o Sol volta sempre com o seu calor

 


No meio de tantos dias de chuva intensa, tantas vezes acompanhada de ventos fortes e desagradáveis, na passada semana houve um pouco de Sol durante uma manhã. Durou pouco, mas foi o suficiente para aquecer as costas durante um passeio e para lembrar que, por maiores que sejam as tempestades, o Sol acaba sempre por voltar a surgir.

Aquelas horas de Sol em Dezembro tiveram o condão de puxar por pensamentos positivos, mas também de contrariar as sensações de perda e tristeza que este Outono nos trouxe.

Como é cada vez mais frequente, à medida que a idade avança, os frios deste Outono levaram pessoas de alguma forma próximas trazendo a dor da perda aos mais próximos e amigos. A guerra na Ucrânia dura já há nove meses sendo uma verdadeira desgraça para a população daquele país alvo de todo o tipo de ataques por parte da Federação Russa com milhões de deslocados, milhares de mortos e uma destruição de cidades e aldeias que a Europa não conhecia desde a Segunda Guerra Mundial. Todos os dias assistimos aos horrores daquela guerra de invasão que Putin levou e leva a um país soberano e ao sofrimento de uma população inteira.

A visita do Sol em Dezembro, mesmo que por poucas horas, tem o condão de trazer algum calor aos corações, juntando a lembrança dos que partiram à esperança para os que ficam, em especial as nossas crianças, filhos e netos. Afinal este é também o tempo do Natal a chegar, que esperamos seja não o do consumismo desenfreado, mas o da alegria do reencontro das famílias.

E o Sol esteve ainda ligado a uma boa notícia por estes dias. Como sabemos toda a energia que gastamos e que nos é essencial para vivermos tem origem na estrela do nosso sistema planetário que é precisamente o Sol. Fornalha imensa que durante os milhares de milhões de anos da sua existência permite, entre outras coisas, que a vida exista na Terra. O fenómeno natural que tal permite é a fusão nuclear de átomos de hidrogénio em hélio, os elementos que constituem o Sol na sua esmagadora maioria. Há dezenas de anos que cientistas de vários países estudam a possibilidade de reproduzir artificialmente este fenómeno que permitiria a produção de energia em tal quantidade que responderia à totalidade das necessidades da humanidade durante muitos anos. Claro que já existem reactores nucleares a produzir energia através, neste caso, de fissão nuclear de elementos pesados, mas que provoca custos ambientais enormes, dado que o «lixo» radioactivo que produzem demora dezenas de milhares de anos até ficar inactivo, a que acrescem os perigos inerentes às instalações dos reactores. 


Até agora, os estudos e experiências realizadas conseguiam de facto produzir a fusão nuclear e assim produzir energia durante breves instantes mas de forma ineficiente, isto é, o processo gastava mais energia do que produzia. A notícia sensacional da semana passada foi de que, pela primeira vez, um laboratório americano conseguiu realizar fusão nuclear num teste ainda reduzido, mas em que a energia produzida foi superior à gasta no processo. Ainda faltarão muitos anos até haver fábricas que possam produzir industrialmente electricidade a partir de fusão nuclear, mas o caminho para o sonho de fazer surgir pequenos sóis e produzir energia limpa, barata e sem restrições parece estar finalmente aberto.


O Sol com a sua energia que nos parece inesgotável, dando-nos a luz e o aquecimento que permitem a nossa existência, é apenas uma estrela no meio de milhões de outras semelhantes da nossa galáxia que não é mais do que um ponto do Universo do qual nos julgamos o centro. Que a consciência desta nossa pequenez nos ilumine para abandonarmos a inveja, o ódio e todos os nossos grandes e pequenos defeitos, aceitando as propostas de paz e amor como aquela que o menino nascido em Belém há mais de 2.000 anos nos deixou.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 19 Dezembro 2022

Imagens recolhidas na internet

Sem comentários: