Imersos que estamos em informação que nos chega em permanência com origens as mais diversas, desde as mais próximas às mais afastadas, através dos mais diferentes meios, por vezes torna-se difícil que nos apercebamos completamente da velocidade dos acontecimentos e da sua importância para o nosso futuro colectivo.
Bastaram alguns dias de distração relativa às notícias causada por um maior e feliz acompanhamento das netas para, regressando ao ritmo habitual, deparar com uma chuva de notícias que nos deveriam fazer pensar no que nos reserva o futuro próximo e mais longínquo.
Começando pelo exterior, fiquei a saber que o presidente Putin reuniu com Prigozhin e dezenas de comandantes do grupo mercenário Wagner escassos cinco dias depois do motim que todos seguimos em directo pela TV. Declaração de incapacidade política mais evidente será difícil. Deve ser por isso mesmo que, surpresa das surpresas, o presidente da Turquia decidiu aceitar a entrada da Suécia na NATO, depois de a Finlândia ter feito o mesmo. O que coloca Putin perante novas grandes dificuldades atendendo ao domínio da Turquia sobre os acessos navais ao Mar Negro. A própria Ucrânia viu ser constituído um grupo de contacto permanente com a NATO que funcionará até à futura adesão à organização militar ocidental. Apesar de tudo, não foi grande surpresa que o único país da União Europeia a ter manifestado críticas a essa futura adesão tenha sido a Hungria, país que já deveria ter sido colocado na ordem pela União, devido à sua deriva anti-democrática. Tal como, atendendo a tudo o que tem acontecido nesta guerra desde Fevereiro de 2022, Putin demonstra de novo a sua maneira de encarar o povo ucraniano bombardeando as principais cidades do país mártir durante várias noites sucessivas. Isto enquanto o alter-ego de Putin chamado Medvedev ameaçou mais uma vez com a Terceira Guerra Mundial a propósito das notícias sobre a colocação de minas na maior central nuclear da Europa em Zaporíjia. Com a sua invasão à Ucrânia iniciada em 2014 e elevada a um novo patamar em 2022, Putin está a conseguir tudo aquilo que dizia querer evitar com esta guerra: A Ucrânia vai, mais cedo ou mais tarde, entrar na União Europeia integrando-se definitivamente na Europa das liberdades, tal como a NATO cobre hoje um arco desde o Mediterrâneo ao Ártico passando pelo Mar Báltico, estando mais unida do que nunca. E, no fim desta guerra absurda em território europeu, irá definir-se mesmo uma nova ordem internacional, mas com a Rússia muito mais rodeada por países da Aliança Atlântica, enquanto do outro lado a China está cada vez mais poderosa, económica e militarmente.
Mas a nível nacional, embora evidentemente com outras consequências, uma série de notícias de certa forma chocantes marcaram também estes dias. Poderia ter sido de outra forma, mas não foi: o Relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito às relações entre poder político e gestão da TAP foi aprovado apenas com os votos favoráveis do PS. Depois de tudo o que se passou perante os nossos olhos, o resultado foi este, claramente resultado da existência de uma maioria absoluta no Parlamento. É que nem se tentou fingir que a situação é outra que não esta. Aliás, para marcar ainda mais essa posição política, o Ministro da Cultura considerou que “a CPI contribuiu para a degradação da imagem das instituições e da democracia”. Sendo o seu pelouro a Cultura, não nos passa pela cabeça que desconheça o que se passa em inquéritos parlamentares de democracias bem mais antigas e estabilizadas que a nossa, como a americana e a britânica. A 13ª demissão de um membro do Governo que tem pouco mais de um ano, por ser suspeito de corrupção, não mereceu do seu Primeiro-Ministro mais do que um leve comentário de que os portugueses têm mais com que se preocupar, com assuntos económicos. Para terminar esta leva de notícias, só faltava mesmo assistir em directo pela TV à entrada da Justiça em casa de Rui Rio no âmbito de uma investigação judicial.
Está um cidadão calma e placidamente alheio de notícias durante poucos dias e quando acorda cai-lhe tudo isto em cima. Não sei o que será, mas estação pateta é que este Verão não está a ser.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 17 de Julho de 2023
Imagens recolhidas na internet
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