terça-feira, 11 de junho de 2024

ANTES VERMELHOS QUE MORTOS

 


Esta era a frase gritada por estudantes universitários em Berlim ocidental no início dos anos oitenta do século passado quando, perante a ameaça dos mísseis SS20 apontados ao ocidente colocados por Moscovo na Europa de Leste, os americanos responderam com a colocação de mísseis Pershing na Europa ocidental virados a leste. O contexto já pertence à História, dado que poucos anos depois a URSS implodiria e com ela o mundo comunista com o seu modelo social e político. Era um grito de certo modo pacifista que contemporizava com quem desde sempre tentava forçar a sua vontade, no caso o império russo, na altura dito soviético. Por cá também havia quem defendesse o mesmo, com um Conselho para a Paz e Cooperação sempre na vanguarda, na realidade mais um organismo teleguiado a partir de Moscovo.

Há pouco menos de cem anos Hitler atirou as condições do Tratado de Versalhes para o caixote do lixo e rearmou a Alemanha iniciando uma série de invasões de países vizinhos perante a complacência dos líderes dos restantes países. Mesmo depois dessas ditas anexações os líderes dos países democráticos de tudo tentaram para acalmar os ímpetos agressivos do regime nazi desde tentativas de pedir a intermediação de Mussolini até à conferência de Munique de Setembro de1938 visando o “apaziguamento” de Hitler. Em Agosto de 1939 até mesmo Estaline estabeleceu um pacto de não agressão entre a Alemanha Nazi e a URSS o conhecido Pacto Molotov-Ribbentrop. A invasão da Polónia aconteceu logo em 1 de Setembro de 1939, iniciando-se aí a hecatombe trágica da Segunda Guerra Mundial, com a declaração de guerra à Alemanha pela Grã Bretanha e pela França a ter lugar dois dias depois. Acabava aí a discussão sobre as intenções de Hitler e sobre se seria mais vantajoso para o mundo ceder às suas pretensões evitando uma guerra generalizada.

Em 22 de Fevereiro de 2022 a Rússia invadiu a Ucrânia numa guerra que continua mais de dois anos depois. Esta acção militar seguiu-se à conquista militar de duas províncias ucranianas e da península da Crimeia que ocorreram em Março de 2014. Nessa altura o Ocidente balbuciou uns protestos, mas Putin levou a sua avante sem problemas de maior, utilizando pretextos em tudo semelhantes aos de Hitler nas suas acções imediatamente anteriores à invasão da Polónia. Nesta nova “operação militar” como Putin começou por lhe chamar, o exército russo dirigiu-se directamente à capital ucraniana mas, de alguma forma, o exército ucraniano conseguiu travar essa gigantesca coluna russa obrigando-a a dar meia volta e regressar ao exterior das fronteiras ucranianas. Desde então Putin iniciou uma guerra generalizada de conquista de território ucraniano, estilhaçando todas as regras internacionais relativas à guerra e nomeadamente de protecção de populações civis. Um exemplo: a táctica mais recente consiste em bombardear instalações civis, provocando a deslocação para o local de bombeiros, médicos e enfermeiros, para meia-hora depois bombardear o mesmo local atingindo directamente as forças de socorro.

Entretanto, aparecem aqui e ali, propostas de negociação de termos de paz imediata. Claro que, enquanto decorre uma guerra de invasão a um país soberano, estas propostas equivalem a um reconhecimento de derrota por parte da Ucrânia. Como acontecia com Hitler, tentar apaziguar Putin desta maneira não teria outro efeito senão dar-lhe força para continuar sua estratégia imperial de conquista de países que ele considera que nunca deveriam ter saído da esfera russa. Putin tem de ser parado na Ucrânia e, ao contrário do que proclamam de novo os falsos “pacifistas”, só a derrota russa na Ucrânia poderá impedir uma nova guerra europeia generalizada com todas as consequências que traria.


 Putin assume que rejeita a ordem internacional baseada em princípios liberais e acordos internacionais essencialmente saída da II Guerra Mundial por outra que todos percebemos ser exactamente o contrário, orientada por ditaduras. Os próximos tempos vão ser perigosos porque, para se defender, a Ucrânia tem absoluta necessidade de responder aos ataques russos de onde eles são lançados, isto é, de território russo. O Ocidente tem de se manter firme no apoio à Ucrânia incluindo desmascarar os falsos “pacifistas” que por aí andam, mesmo entre nós. Porque todos estamos em perigo, na mira das armas de Putin, não duvidemos disso.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 10 de Junho de 2024

Imagens retiradas da internet

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