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quarta-feira, 9 de abril de 2008
PONTES E HOMENS
O Prof. Carvalho Rodrigues criticou ontem violentamente a construção da nova ponte de Lisboa.
Partindo do exemplo do que está a acontecer na ponte Vasco da Gama, previu que a nova ponte vai potenciar o surgimento de inundações cada vez mais graves na margem direita do Tejo, particularmente na zona de Sacavém.
De facto, as fotografias aéreas da ponte Vasco da Gama mostram claramente o assoreamento à volta dos seus pilares de uma forma contínua ao longo do seu comprimento, formando uma espécie de açude, que impede a passagem livre das águas do rio. As consequências a nível de inundações na zona referida, a montante da ponte, já foram visíveis nos últimos meses aquando de chuvadas mais fortes.
A construção de uma nova ponte nas proximidades, que criará uma nova área de assoreamento, agravará esta situação de uma forma impressionante com consequências imprevisíveis.
Claro que, como as consequências serão para os seres humanos, os ecologistas estão caladinhos. Se o problema tivesse a ver com abetardas, lobos ou ratinhos do campo aí teríamos as associações todas a gritar aqui'el rei, a fazer manifestações e apelar para as instâncias internacionais.
Carvalho Rodrigues chegou a dizer que os responsáveis por estas decisões deviam ir para a cadeia, tal é a gravidade das consequências do que fazem.
As ligações entre as duas margens do Tejo na região de Lisboa são necessárias e mesmo esta nova ponte não resolve completamente o problema, muito longe disso. A sustentabilidade económica e ambiental de toda aquela área exige no entanto, para além de decisões, qualidade e competência técnica e científica. Numa situação destas, não se pode simplesmente pedir ao LNEC que estude em dois meses a melhor entre duas soluções de ponte que lhe são apresentadas, sem poder, por exemplo, acrescentar alternativas em túnel.
Ao estudarem soluções adequadas, os nórdicos chegam ao ponto de incluir na mesma ligação a ponte e o túnel, como se vê na imagem. Mas isso é em países ricos que se podem dar ao luxo de estudar as soluções mais sustentáveis, inclusivamente do ponto de vista económico, para os problemas de ordenamento do território.
segunda-feira, 7 de abril de 2008
MAIOR DESIGUALDADE SOCIAL
De uma forma incompreensível, a comunicação social praticamente ignorou um relatório do INE sobre a distribuição dos rendimentos das famílias portuguesas publicado na passada semana. De facto, apenas a imprensa especializada em assuntos económicos lhe dedicou atenção, apesar do seu importantíssimo significado para a compreensão das actuais tensões da sociedade portuguesa e para a avaliação social dos resultados das actuações políticas governamentais entre 1995 e 2005.
Entre os vários aspectos referidos naquele relatório, destaca-se o acentuar da diferença entre os rendimentos das famílias mais ricas e mais pobres. Numa década, esse fosso duplicou. Enquanto em 1995 o rendimento médio das famílias mais ricas era 4,6 vezes superior ao das famílias mais pobres, em 2005 esse valor passou a ser de 8,9.
Significam estes números que nesta década os rendimentos das famílias mais ricas cresceram muito mais do que os rendimentos das famílias mais pobres. Muito significativo e com consequências sociais mais gravosas é o facto de as famílias mais ricas terem visto os seus rendimentos crescerem 1,4 vezes mais que as famílias da chamada classe média, que, por sua vez, ainda conseguiu afastar-se cerca de 1,3 vezes das famílias mais pobres.
Trata-se de uma tendência generalizada para a qual a OCDE tem lançado avisos, pelo que Portugal não está sozinho neste problema. Já a Espanha e a Irlanda viram diminuir o fosso na mesma década, o que é politicamente muito significativo.
A globalização será uma das causas deste fenómeno, ao eliminar as protecções das sociedades dos vários países, colocando-as em competição directa na produção económica e acentuando assim as desvantagens das menos preparadas.
Um dos aspectos cruciais a ter em conta para dar a volta a esta situação, e o mais rapidamente possível, sob pena de a nossa sociedade se tornar cada vez mais terceiro-mundista, é a educação. De facto, a maior vantagem comparativa das famílias mais ricas relativamente às outras está na qualidade da educação que podem oferecer aos seus filhos e que lhes permite aceder mais facilmente a carreiras em áreas competitivas a nível internacional.
É absolutamente crucial alterar radicalmente o panorama da educação em Portugal se queremos uma sociedade menos desigual. Se a escola pública continuar a ser dominada por teorias educativas ultrapassadas centradas no aluno e no seu bem estar, a desigualdade social continuará a aumentar e a média geral a descer. Não adianta atribuir diplomas para melhorar artificialmente as nossas estatísticas a nível internacional. O que é necessário e urgente é esquecer todo este passado e introduzir sem receios critérios de rigor e exigência absolutos, desde o 1º ao 12º anos e obrigar as escolas a cumpri-los sem contemplações.
Publicado no Diário de Coimbra em 7 de Abril de 2008
domingo, 6 de abril de 2008
SONDAGENS E PERSPECTIVAS
- PS: 42,1%
- PSD: 29,4%
- CDU: 9,6%
- BE: 8,4%
- CDS: 6,0%
Partindo destes valores, o Expresso conclui que há uma viragem à esquerda no país, somando os partidos à Esquerda do PS 18%, o que já não sucedia desde 1979, verificando-se que a descida do PS corresponde a um ganho desses partidos, não sendo absorvida pela Direita.
Esta lembrança de 1979 não deixa de ser curiosa, já que foi precisamente nesse ano que a AD ganhou as eleições pela primeira vez.
Claro que as indicações desta sondagem são preocupantes para a Direita, quer para o PSD, quer para o CDS.
Parece óbvio que os eleitores, ao afastarem-se do PS e do Governo, não encontram respostas aos seus problemas nos partidos da Direita, indo refugiar-se à Esquerda.
Os eleitores querem respostas e vão tentar encontrá-las onde pensam que elas estão e já poderão ter retirado a maioria absoluta ao PS.
Quer isto dizer que o PSD necessita urgentemente de mostrar que tem essas respostas e a credibilidade para as concretizar, sob pena de não estar à altura das suas responsabilidades, com as consequências que se adivinham.
sexta-feira, 4 de abril de 2008
HERBERT VON KARAJAN
Como não podia deixar de ser, aqui fica um momento único da sua carreira e da história da música:
o primeiro andamento da 5ª de Beethoven, com a sua filarmónica de Berlim
AMVOX
Como agora se diz, "então é assim":
O brinquedo para o pulso custa uns meros 23.000 Euros; se for comprado com o carrito, fica apenas em 15.000 Euros o que convenhamos, é uma pechincha. Ver aqui e aqui.
Três notas importantes:
1) Fico satisfeito por estes comentários já terem despertado o interesse de mais alguém por estas matérias.
2) Garanto aos visitantes mais politizados que estes comentários não têm qualquer mensagem política subliminar.
3) Para evitar mal-entendidos, informo que não possuo qualquer máquina deste género, nem conto algum dia vir a possuir.
AMVOX
Não sei qual o preço, embora possa fazer uma ideia por comparação com outras peças do mesmo género, isto é, não me surpreenderia se custasse à volta dos 40 ou 50 mil euros. Tal como o Aston DBS deverá custar uns 250 a 300 mil euros.
Nestes casos o preço não me interessa para nada. Como disse, trata-se apenas de admirar construções mecânicas absolutamente excepcionais realizadas pelo génio humano, que se aproximam de verdadeiras obras de arte. No caso do relógio, basta imaginar o que serão mais de trezentas peças em movimento perfeitamente coordenado e controlado, a funcionarem num espaço reduzido, em condições de falta de estabilidade e mantendo a máxima precisão. Quanto ao automóvel, será uma das construções mecânicas mais sofisticadas dos dias de hoje, recorrendo a soluções de engenharia mecânica, de materiais e de electrónica extremamente avançadas que, eventualmente, um dia serão mais ou menos comuns nos restantes automóveis a preços já abordáveis pela maioria dos mortais. Claro que o luxo de materiais e acabamentos também ajuda ao preço destes produtos.
Como disse, estas peças aproximam-se muito de obras de arte. As obras de grandes artistas, como as pinturas de Paula Rego na actualidade, por exemplo, atingem igualmente valores astronómicos, acessíveis a muito poucos afortunados.
Não é o facto de atingirem valores astronómicos que nos vai impedir de admirar estes produtos do engenho humano, sabendo-se bem que a sua posse é de facto privilégio de um número reduzido de pessoas, esperando-se apenas que os possuam não só por os poderem adquirir, mas porque conhecem bem o que significam culturalmente.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
Governo pelo privado
A reunião decorreu nas instalações de uma escola privada, no caso a Bissaya Barreto. Sem ironia, regista-se o bom gosto e o sinal dado à sociedade em geral sobre a opção pelo privado dos senhores Secretários de Estado.
terça-feira, 1 de abril de 2008
AMVOX2 Chronograph DBS
Hoje apresento uma das peças mais extraordinárias que apareceram nos últimos tempos.
Trata-se do AMVOX2 Chronograph DBS. Alguns notarão as letras AM e DBS e poderão achar algo estranho o seu aparecimento na designação de um relógio.
De facto não é uma coincidência. AM são mesmo as iniciais de ASTON MARTIN. E DBS, bem, é isso mesmo, refere-se a essa máquina impressionante e o sonho de qualquer amante de bons automóveis que é o Aston Martin DBS.
O relógio a que me refiro é pois o resultado de uma colaboração entre a Jaeger-LeCoultre e a Aston Martin e como tal só podia ser uma coisa absolutamente extraordinária.
Trata-se de um cronógrafo produzido numa série extremamente reduzida em que em vez de se carregar nos botões tradicionais para o fazer trabalhar, se carrega muito simplesmente no cimo e no fundo do mostrador.
Para além do feliz e merecidamente bem sucedido comentador que consegue fazer do círculo um quadrado, só conheço uma pessoa que mereceria inteiramente possuir uma jóia destas que é o meu amigo JPF.
Aqui fica a imagem daquilo que estou a descrever, se conseguirem desviar a vista do animal de quatro rodas que está ao lado:
VERDADES DURAS COMO PUNHOS
No passado fim de semana, António Borges deu uma entrevista ao Público onde, a certa altura, disse o seguinte:
"Os factos são o que são. Em 2005, fui ao Congresso do PSD e apresentei uma moção onde me disponibilizei para ajudar o PSD a ter uma oposição mais activa em relação ao Governo. O congresso teve lugar no fim-de -semana e na segunda-feira, logo de manhã, fui chamado ao gabinete do ministro Manuel Pinho que me comunicou que todos os contratos com a Goldman Sachs estavam cancelados a partir daquele momento".
Após estas afirmações, o ainda ministro Manuel Pinho pretendeu desmentir António Borges garantindo que honestamente não se lembra de ter falado com ele.
Dois comentários:
-Em primeiro lugar, quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. No momento em que António Borges devia ter assumido a sua candidatura não teve coragem para o fazer; se o tivesse feito, mesmo perdendo, estaria hoje numa posição completamente diferente perante os militantes do PSD que, embora tendo muitos defeitos, apreciam sobretudo quem tem coragem para ir à luta. Com isto não quero dizer que não tem hipóteses: tem apenas que sair da redoma intelectual e ir à luta pura e dura dos argumentos políticos, para além da técnica.
- Em segundo lugar, a actuação do ministro Manuel Pinho que politicamente não é ninguém, é bem a imagem dos dias de hoje, em que um Estado cada vez mais omnipresente põe e dispõe na área económica. Em vez de colocar a economia em cima e apoiar as pequenas e médias empresas como lhe competia, trata de manipular cada vez mais os grandes negócios em função de objectivos políticos.
Apesar de tudo, António Borges fez muito bem em se afirmar com esta entrevista. É de atitudes destas que o país precisa; de quem seja capaz de apresentar caminhos diferentes e de os sustentar devidamente do ponto de vista técnico.
Doutor António Borges: que não lhe doa a mão e não se fique por Alter do Chão.
A LIBERDADE ESTÁ A PASSAR POR ALI?
Esta pequena manifestação de liberdade dada aos cubanos no seu próprio país será utilizada por muito poucos, dada o baixíssimo nível dos ordenados em Cuba, mas vale pelo significado.
Segue-se à autorização de comprar fornos de microondas, leitores de DVD, computadores e uso de telemóveis por particulares.
É o próprio regime comunista que, na sua fase moribunda, vem confirmar as correntes com que tem limitado a liberdade dos cubanos.