sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Haja mais rigor na linguagem

Nos últimos anos o pais foi-se transformando progressivamente num mar de propaganda.
As "pessoas", como agora se diz, nem se apercebem como a conversa à volta delas, a todos os níveis de responsabilidades públicas e privadas foi evoluindo de uma forma que retira rigor à linguagem e nos obriga a todos a aprender a descodificar as mensagens.
Ainda agora apreciei na tv uma entrevista a um Comissário da PSP. À pergunta sobre "quais foram os números da operação Natal da PSP", a resposta foi esta: "os números são muito positivos".
Isto é, antes de passar a fornecer os números, como lhe havia sido perguntado, começou por condicionar a nossa percepção da mensagem. Isto num profissional sem responsabilidades políticas.
Depois até se saiu muito bem a descrever as estatísticas e mesmo a interpretá-las, vincando mesmo os problemas de alcoolismo social que os números denunciam. Mas antes disso, teve que usar propaganda, provavelmente sem sequer se aperceber disso.
É apenas um pequeno exemplo do dia a dia, mas representa bem aquela minha ideia.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

IDADE DA INOCÊNCIA

Há alguns meses que a programação da TSF entre as dez da noite e a meia noite é ocupada com o programa "idade da inocência" de Margarida Pinto Correia, apenas cortado de meia em meia hora por pequenos blocos noticiosos.
Não é uma rádio nostálgica, porque tanto transmite músicas da nossa juventude, como apresenta esses temas interpretados por artistas actuais.
Ontem tiveram a coragem de colocar o "shine on you crazy diamond" do álbum "Wish you were here" dos Pink Floyd. Como os cotas como eu se recordarão, aquele tema ocupava um lado inteiro do álbum, o que são cerca de vinte minutos. Numa emissora actual, é obra.
A publicação daquele álbum seguiu-se ao "Dark side of the moon", talvez o melhor album de sempre da música rock.
Como já sou um bocado velho, dado que cresci nos anos 60 e início dos anos 70, para mim os Pink Floyd acabaram precisamente no "wish you were here"; a partir dali tocaram mais variações do mesmo. Tal como aconteceu mais ou menos por essa altura com os Genesis que, após a saída do Peter Gabriel e a sua substituição como vocalista pelo xaroposo baterista ficaram insuportáveis.
Claro, é apenas a minha opinião e gostos (ainda por cima musicais) não se discutem.
Um presentinho:

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Cuba, quero conhecer-te melhor

Alertado pelo 31 da Armada (ver em baixo à direita), fui ao sítio da FENPROF ver as codições do novo concurso que a Fenprof está a levar cabo entre os seus associados, com a colaboração da Embaixada de Cuba.
Convido os leitores a irem ver, porque contado não se acredita.
Com a devida vénia à Fenprof, aqui vai um excerto do concurso:

Convocado pela Embaixada de Cuba em Portugal e anunciado no Jornal da FENPROF nº 226, Junho de 2008, este concurso alarga o prazo de entrega dos trabalhos até 22 de Dezembro, dando assim possibilidades de mais tempo de pesquisas, designadamente para os trabalhos de texto e investigação do tema escolhido. Os resultados serão conhecidos em Janeiro de 2009.

Relembro que este concurso é dirigido a crianças e jovens contemplando os seguintes níveis etários:

Dos 5 aos 9 anos
Dos 10 aos 13 anos
Dos 14 aos 18 anos

Cada concorrente deverá participar numa das seguintes temáticas:

Triunfo da Revolução Cubana � 1 de Janeiro de 1959
Ernesto Che Guevara (Guerrilheiro Heróico)
Os 5 heróis (jovens lutadores anti-terroristas, prisioneiros nos EUA hoje)
José Marti (Herói, ideólogo e poeta de Cuba)
10 de Outubro, início da 1ª guerra de independência de Cuba.

Sugerimos, de novo, os seguintes sítios para obter informação:

- José Marti www.marti.cubasi.cu
- História de Cuba www.cubagob.cu/historia
- Los 5 Héroes www.granma.cubaweb.cu/miami
- Che Guevara http://www.cheguevara.cubasi.cu/

Com Cuba no coração estimule e ajude nestas pesquisas e realizações os alunos, filhos e amigos dos seus filhos a conhecerem melhor, através de alguns personagens heróicos, como se forja a dignidade deste Povo, desde as lutas pela independência no século XIX até à actualidade.

Sem mais comentários.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Ano novo, vida nova: façamos por isso

Entrados no ano de todos os maus presságios, não podemos deixar de considerar que, apesar de tudo, 2009 dificilmente será pior que 2008.
Como se o ano que passou não tivesse sido suficientemente mau, os actores políticos que temos não quiseram deixar passar a oportunidade para nos demonstrar como por vezes conseguem tornar tudo ainda pior.
O episódio do Estatuto dos Açores deverá ficar na História como um dos momentos menos edificantes da nossa democracia.
Após a declaração do Presidente da República em Julho, seria de esperar que a Assembleia da República tivesse um momento de sensatez e recuasse na proposta do Estatuto, eliminando os malfadados artigos 114 e 140 contestados publicamente pela generalidade dos constitucionalistas.
Mas não. A teimosia e o receio de perda dos votos açorianos falaram mais alto, pelo que a hipocrisia e o cinismo político ditaram as razões de voto na Assembleia da República.
Da estratégia assumida de confronto directo com o Presidente da República por parte dos partidos da esquerda parlamentar não haverá muito a dizer, a não ser registá-la.
Já a posição dos partidos da direita tem muito que se lhe diga, atendendo a que apoiaram directamente a eleição de Cavaco Silva como Presidente da República.
Talvez o actual CDS não se reveja muito no Presidente da República, mas não me parece grande ideia alinhar com toda a esquerda parlamentar numa matéria de confronto político com o Chefe de Estado.
No que toca ao PSD o que se passou foi muito mais grave e indesculpável.
O grupo parlamentar do PSD conseguiu o mais difícil, ao optar pela abstenção na votação do Estatuto nestas condições e ainda por cima reconhecendo razão às críticas do Presidente da República. A cereja em cima do bolo foi dar liberdade de voto para apoiar o Estatuto e proibir a votação contrária, oferecendo os votos para obter 2/3 dos deputados na aprovação. Que saudades dos tempos de Sá Carneiro que dizia primeiro o interesse do país, depois o governo e só depois o partido.
Foi um fim de ano infeliz para todos os intervenientes. Pessoalmente estou convencido que o Presidente da República só não dissolveu a Assembleia da República porque não há dúvidas que coloca o interesse nacional acima das contingências, ao contrário do que agora é comum por aí.
Que neste ano de 2009, ao nível de responsabilidade de cada um de nós sejamos todos capazes de contribuir para que seja melhor do que o ano que agora findou, são os meus votos.

Publicado no Diário de Coimbra em 5 de Janeiro de 2009

sábado, 3 de janeiro de 2009

Momento certo para apoiar pequenas empresas

Excerto da entrevista de ontem no Diário de Coimbra:
"João Paulo Craveiro não escondeu que a actual situação de crise que se vive em Portugal e no Mundo deveria assumir-se como o momento certo para, em termos de investimentos públicos, se apoiar a reabilitação urbana dos centros históricos, cujo investimento é feito prédio a prédio, não exige milhões e milhões de euros como as grandes obras, os projectos podem ser feitos rapidamente e podem ser distribuídas obras por pequenas e médias empresas sem ser tudo para os grandes empreiteiros.
O Eng. civil afirmou que, com alguma facilidade, desde que se constituam instrumentos financeiros, se dinamizava a actividade económica de empresas que não têm possibilidade, a não ser como subempreiteiros, para grandes empreitadas, antes de assumir ser preciso criar condições para apoiar as empresas e os investidores, de forma coerente para que possa ser imediatamente reflectida na economia das pequenas empresas locais."

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Crise e confusões ideológicas


A actual crise económica e financeira tem servido para os maiores desvarios ideológicos. Generaliza-se a ideia de que a solução dos nossos problemas está exclusivamente no Estado, porque é um actor racional, ao contrário do Mercado, que deu provas de se comportar irracionalmente. Esquece-se assim, de um fôlego, a história empresarial como um dos grandes progressos da humanidade, que funcionou, com o racionalismo que usa para as decisões, como base de todo o desenvolvimento dos últimos duzentos anos. Para alguns mais saudosos dos tempos de brasa de Vasco Gonçalves, os problemas da banca resolver-se-iam mesmo pela sua nacionalização sistemática.

Como responder a isto? Basta recordar que na base da actual crise mundial estão os chamados “produtos tóxicos” financeiros. Estes tiveram origem no “subprime” norte-americano, uma criação do Estado, repleta de boas intenções, para que toda a gente pudesse ter acesso a casa própria nos EUA. Passou-se isto ainda no tempo de Clinton; entretanto, os fundos Fannie Mae e Freddie Mac cresceram de tal maneira que levaram a uma valorização excessiva do mercado imobiliário. A consequência imediata é bem conhecida: toda a chamada banca de investimento foi infectada, seguindo-se, por contágio, a banca comercial e a chamada economia real.

Ouvi alguém defender recentemente que a política é como um pêndulo: umas vezes balança para a direita, outras vezes para a esquerda. Segundo essa teoria, quem ganha as eleições é quem estiver no centro do pêndulo no momento certo. Para ganhar eleições, tudo o que então seria preciso é ter a argúcia de ocupar esse sítio no momento das eleições. Quando o pêndulo anda mais à esquerda, tiram-se do bolso umas medidas sociais fracturantes; quando o pêndulo puxa mais para a direita, arranja-se algo em conformidade.

Assim se compreende melhor a proposta abstrusa dos casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo feita neste momento específico, dois meses depois de ter sido recusada pelos actuais proponentes.

Parece que há quem ache que a aceitação dos métodos que os Estados estão a usar para combater a crise significa que o eleitorado passou a defender mais Estado, logo, está mais à esquerda no espectro ideológico. Estes métodos, recorde-se, consistem em injectar dinheiro dos impostos actuais e futuros para cima dos problemas. No meio disto, só o ministro das Finanças parece não ter perdido o Norte, porque reconhece calmamente que os actuais governos se vêem obrigados a navegar sem GPS, isto é, às cegas.

Há mesmo por aí quem recorde que já Hegel defendeu algures que o Estado é o centro da ideia ética, e que, perante a actual situação, deverá ser o mesmo Estado a moralizar o capitalismo. Doce engano. Perante a economia, se o Estado cumprir aquilo para que serve, isto é, cumprir leal e rigorosamente as suas funções reguladoras e de supervisão, já ficaremos todos satisfeitos. Ninguém na economia precisa que o Estado lhe venha dizer o que deve produzir, quando e como.


Publicado no Diário de Coimbra em 2 de Fevereiro de 2009

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Descer de degrau em degrau


Qualquer que seja o motivo para o fazer, irrealismo ou compreensível vontade de transmitir confiança, a retirada de palavras do léxico noticiário não altera a realidade e, em determinados casos, só aumenta a desconfiança dos cidadãos.

Há poucas semanas, soube-se de uma certa aversão da agência Lusa pela utilização do termo estagnação para caracterizar a situação económica do país.

A queda acentuada de todos os indicadores depressa ultrapassou essa questão, porque a palavra recessão veio infelizmente substituir a estagnação em todos os noticiários. Ao nível internacional, começa a falar-se em depressão, o que é ainda muito mais complicado e promete um futuro muito difícil.

Para se perceber facilmente a diferença entre as duas situações, podemos socorrer-nos da definição simplista do antigo presidente americano Truman: dizia ele que há recessão quando o vizinho perde o emprego, e há depressão quando perdemos o nosso.

A situação económica começa a parecer-se com um imenso buraco negro. As pazadas de dinheiro atiradas para cima do problema desaparecem sem deixar rasto. Fala-se da banca e da economia real, como se tudo não fizesse parte do sistema económico e como se os bancos fossem os únicos responsáveis pelos problemas das empresas não financeiras. Nada de mais errado: a crise é geral, e é assim que deve ser encarada, para ser possível a obtenção de resultados. Não vale a pena diabolizar a banca, para além de erros e até eventuais ilegalidades cometidas por alguns banqueiros em tempos de vacas gordas que devem ser exemplarmente punidos por isso.

O leitor lembrar-se-á da calma com que foi para férias no Verão passado. Pois bem, ao pensar em tudo o que aconteceu nestes seis meses, poderá imaginar que já está psicologicamente preparado para tudo o que poderá vir aí. Pois é melhor começar pensar em tirar o cavalinho da chuva, como diz o povo.

As taxas de juro americanas e japonesas estão praticamente a zero. A deflação aparece no horizonte.

As taxas do Banco Central Europeu desceram como nunca visto, mas as taxas que nos chegam pouco descem, porque as comissões e spreads sobem. Isto é, não há liquidez, como o prova a incapacidade de a CGD se financiar lá fora, mesmo com garantias do Estado e sucessivos aumentos de capital.

Isto é, não há liquidez.

Os teóricos perdem tempos infindáveis a discutir se se deve aumentar os investimentos públicos e em que áreas, ou se será melhor diminuir os impostos para promover o consumo.

Infelizmente, o que não se vê é quem explique aos cidadãos com clareza e verdade, a realidade da situação e os critérios para as medidas de apoio que se vão tomando.

Porventura, a proximidade de três actos eleitorais não ajuda à clarificação da situação. Seria bom que os actores políticos fossem capazes de colocar os interesses nacionais acima dos seus interesses partidários imediatos, porque a gravidade da situação assim o exige e o povo português não iria gostar nada de acordar num dia destes numa situação miserável generalizada e descobrir que foi enganado.


Publicado no Diário de Coimbra em 29 de Dezembro de 2008