A actual crise económica e financeira veio colocar a nu muitas fragilidades das sociedades actuais que necessitam de correcção urgente.
Uma dessas fragilidades é a demissão das suas responsabilidades por parte das elites sociais.
Por muito que custe a algumas pessoas reconhecê-lo, as elites são sempre objecto de escrutínio, e o que fazem, bem ou mal, tem consequências na sociedade em geral. É sabido que um bom exemplo vale mais do que mil palavras. Por isso mesmo, quem mais alto sobe, mais responsabilidades adquire perante os concidadãos.
A substituição da realização pessoal completa pelo enriquecimento material a qualquer custo e o mais rápido possível levou a que muitos representantes das elites sociais passassem a considerar todos e quaisquer valores éticos e interesses dos seus concidadãos como simples obstáculos a remover.
Isso é patente no que sucedeu nos grandes bancos ao nível mundial, ou mesmo entre nós. A busca permanente de lucros crescentes por parte dos seus dirigentes levou a uma espiral financeira descontrolada que contaminou toda a economia, e que agora todos os cidadãos têm de pagar com os seus impostos.
Pessoas que eram consideradas como exemplos de sucesso são hoje vistas como incompetente e insensatas, quando não mesmo como ladrões. Os próprios dirigentes que são pagos para controlar as actividades financeiras são hoje considerados, no mínimo, como ineptos ou distraídos.
E as elites falham até nos mais pequenos pormenores do dia a dia, dando exemplos terríveis à sociedade. Nos últimos dias, a imprensa noticiou que umas trinta pessoas foram constituídas arguidas por corrupção, ao tentarem obter uma “Carta de Desportista Náutico”. A referida escola resolveu enviar previamente as questões do exame aos candidatos, que assim obtiveram bons resultados com toda a facilidade. Não estamos a falar de crianças, e sim de cidadãos que pertencem a uma elite, contando-se entre eles um ex-ministro. Uma verdadeira vergonha.
Um dos maiores problemas da nossa sociedade é mesmo a demissão de grande parte das elites. Em vez de participarem na construção de uma sociedade mais livre e mais digna, fecham-se nos seus casulos, usam e abusam das vantagens que detêm, e não cuidam sequer de evitar serem maus exemplos, eles que estão sempre sob observação, queiram-no ou não.
A História está cheia de exemplos em que situações destas deram mau resultado, quando não trágico. O problema está em que estas novas elites não o sabem: provavelmente nem nunca ouviram falar dos brioches de Maria Antonieta.