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terça-feira, 23 de novembro de 2010
Retrato de um país
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
SOFTWARE ou HARDWARE? (de novo)
O leitor sabe o que é o “centro de Portugal”? Talvez tenha uma ideia, mas na realidade não sabe, porque isso não existe. Mas sabe com certeza o que é Coimbra. Nesse conhecimento está aliás acompanhado por quase todo o mundo. No mundo globalizado em que as marcas dominam a vida económica, desperdiçar uma marca com o valor de Coimbra é, não só disparatado, mas um crime económico.
Dir-me-ão que esta é uma verdade lapalissiana que nada tem de novo e será verdade. Mas, pelos vistos, é necessário recordá-la permanentemente. Coimbra continua inundada de belos cartazes do Turismo de Portugal numa campanha com o lema “Descubra Portugal – um país que vale por mil”. Descontando a frase pateta, que é apenas publicidade sem sentido (vale por mil quê? mil países? mil euros? mil publicitários?) as três fotografias de Lisboa, Porto e Coimbra são de facto muito bonitas. Claro que sobre a foto de Lisboa está escrito “Lisboa e Vale do Tejo”, sobre a foto do Porto aparece escrito “Porto e Norte”. Já sobre a foto da nossa Cidade aparece “Centro de Portugal”. A palavra Coimbra parece ser proibida no “Turismo de Portugal”. Talvez por isso a capital do “Turismo da região Centro” tenha ido para Aveiro. Mas para a foto representativa, Coimbra já serve. É preciso ter lata para colocar estes cartazes em Coimbra!
Coimbra não precisa de se por em bicos de pés para se afirmar turisticamente. Apenas precisamos de aproveitar o que temos. Já em tempos referi aqui o valor turístico e económico da História de Coimbra, fundamentalmente no período em que se confunde em absoluto com a de Portugal que é a Primeira Dinastia.
Recorda-se o essencial. O nosso primeiro Rei poderá ou não ter nascido em Coimbra, mas foi aqui que estabeleceu a primeira Capital do Reino e é aqui que está sepultado. O seu filho Rei D. Sancho I cá nasceu e está sepultado como o Pai, na Igreja de Sta. Cruz. Cá nasceram os reis seguintes, D. Afonso II, D. Sancho II e D. Afonso III.
A nossa Rainha Santa (Isabel de Aragão) é uma figura de tal densidade e tão conhecida que dispensa mais comentários, estando sepultada em Coimbra. O seu marido, o Rei D. Dinis, fundou a primeira Universidade portuguesa em Coimbra através da “Magna Carta Priveligiorum”.
Aqui decorreram os amores de Pedro e Inês; na Quinta das Lágrimas está a “fonte dos Amores” e cá se passaram os actos trágicos da morte de Inês e subsequentes.
Foi nas “Cortes de Coimbra” de Abril de 1385 que o Mestre de Aviz foi proclamado Rei, encerrando-se a Primeira Dinastia, resolvendo-se a crise política de 1383/85 e dando-se início à Segunda Dinastia que projectou Portugal no mundo como ninguém na altura poderia supor.
Em Coimbra está a Sé Velha construída durante o reinado de D. Afonso Henriques, onde está sepultado D. Sesnando Conde de Coimbra e em Coimbra está também o Mosteiro de Sta. Cruz fundado pelo primeiro Rei e que é Panteão Nacional por lá estar o seu túmulo.
Em Coimbra estão o Mosteiro de Sta. Clara-a-Nova onde se encontra o túmulo da Rainha Santa, o Mosteiro de Sta. Clara-a-Velha que foi alvo de uma recuperação extraordinária e a Quinta das Lágrimas local do drama dos amores de Pedro e Inês. Em Coimbra está também a primeira universidade portuguesa ocupando aquele que foi o Paço de El-Rei onde decorreram as Cortes de Coimbra.
Em Coimbra existe o Convento de Celas fundado por D. Sancha, filha do segundo Rei de Portugal.
Com tudo isto, basta juntar as peças e organizar um programa turístico de carácter histórico-cultural sobre a Primeira Dinastia associado a Coimbra, para ter um produto concreto de altíssimo valor económico. Com ou sem Turismo do Centro. Nem é preciso construir nada. Software e não hardware, de novo.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 22 de Novembro de 2010
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
SOFTWARE ou HARDWARE?
A minha crónica da semana passada terminava com esta frase:
Daqui para a frente, precisamos é de organização, convergência de esforços e ideias claras: software e já não hardware.
O que tinha em pensamento, na sequência da ideia que tinha desenvolvido no resto do texto, era que se chegou a um ponto em que se deve deixar a quantidade e pensar mais na qualidade. Se isto é importante para uma Cidade, é verdadeiramente crucial para o país, sobretudo na situação especial em que nos encontramos.
Já todos perceberam que acabou o tempo em que se julgava possível basear o desenvolvimento do país em obras públicas e mais obras públicas, à custa do endividamento das gerações futuras. A saída para os nossos problemas, já o aqui escrevi mais que uma vez, é a produção de bens transaccionáveis, que se vendam no estrangeiro. Para se ver isto não é necessário ser economista, basta olhar para os grandes números.
O desvio dos rendimentos produzidos pelas empresas para o Estado, que por sua vez o gasta cada vez mais apenas para existir e para pagar juros, tem sido a grande causa dos nossos problemas. Chegámos a um ponto em que a taxa da nossa dívida soberana ultrapassou os 7%, muito acima das taxas de trabalho entre os bancos, entre os bancos e o BCE e muito acima das taxas praticadas entre os bancos e as empresas ou pessoas individuais. Depois ainda há para aí quem se queixe dos “mercados”: tendo-se deixado criar estas condições e não se fazendo nada para as contrariar, o que esperar dos especuladores internacionais que sempre existiram e toda a gente sabe que estão lá a aproveitar precisamente estas condições favoráveis para fazer fortunas instantâneas? O resultado é o Estado sugar o dinheiro gerado pelas empresas, para por sua vez ser ele mesmo sugado pelos famosos “mercados”. Verdadeiramente inacreditável! E o país sem capacidade de resposta, porque o sistema político está assim mesmo: como temos em breve eleições presidenciais, só a partir de Maio o povo poderá dizer o que pensa sobre a saída da solução, seja ela qual for. O que é certo é que as opções, mesmo as políticas, têm todas um preço e é esse que se está a pagar neste momento e se irá sempre pagar no futuro, não nos iludamos.
Hoje muitos políticos descobrem com admiração que as nossas exportações estão a aumentar, o que ajuda à recuperação económica. São os empresários a fazer o que lhes compete e sabem fazer, assim os deixem. E é este o caminho! Nunca percebi o dirigismo da nossa classe política que tudo quer orientar e definir. Os fundos europeus que deviam apoiar as empresas nos seus esforços de modernização e internacionalização são canalizados para “formações” cujo resultado pouco mais é que melhorar estatísticas internacionais na área da educação (assim, com minúscula, de propósito).
Nunca nenhum governo foi capaz de fazer como se faz aqui ao lado em Espanha, por exemplo, onde quem gere esses dinheiros são as próprias associações patronais que não vão em fantasias de “desígnios nacionais” que a primeira brisa leva para longe. Se os deixarem, os nossos empresários vão alargar o leque do destino dos seus produtos e deixar de vender quase tudo na União Europeia, ampliando de forma gigantesca os nossos mercados. Apetece dizer: deixem trabalhar os empresários!
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 15 de Novembro de 2010
domingo, 14 de novembro de 2010
Vasco Pulido Valente, hoje no Público. Sem comentários.
sábado, 13 de novembro de 2010
O ESTADO (SEM) DA VERGONHA
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
ESTA NOSSA CIDADE
Esta nossa Cidade que é Coimbra está hoje perante escolhas cruciais que definirão qual será o seu futuro nas próximas dezenas de anos. É já um lugar-comum dizer-se que a competição internacional se faz hoje entre cidades e não entre países. E se isso se verifica a nível mundial onde as grandes cidades com Singapura, Xangai, S. Paulo, Londres ou Nova Iorque claramente competem entre si, é particularmente verdade no interior da União Europeia onde as cidades médias lutam hoje pela sua própria competitividade num espaço económico, social, e político comum.
É para este espaço e para este mundo que Coimbra tem que olhar e já não para uma região que hoje a limita. Longe vai o tempo em que políticos de vistas curtas olhavam para a região centro como um região multipolar em que Coimbra surgiria apenas como mais uma entre as cidades da região. Chegou a propor-se uma Região em que a respectiva capital rodaria entre as suas diversas cidades.
A sua localização geográfica é privilegiada e isso não depende da vontade de políticas nacionais, por mais desastradas que sejam. Claro que as ligações rodoviárias ao interior são basicamente as mesmas de há dezenas de anos, afastando cada vez mais Viseu, a Guarda, a Covilhã e Castelo Branco de Coimbra, o que tem consequências económicas claramente negativas para a nossa cidade, já que favorece as ligações daquelas cidades a Lisboa e ao Porto. Mais uma vez a nossa disparatada macrocefalia a funcionar e não é certamente por acaso. A nossa estação de caminho de ferro cuja remodelação ficará eternamente à espera de um mítico e fantasioso TGV entre Lisboa e Porto é uma vergonha nacional e não de Coimbra.
As fraquezas e forças da nossa cidade, todos nós as conhecemos e não vale muito a pena falar delas. Qualquer empresa de consultadoria exterior que elabore um plano estratégico diz o que nós todos sabemos, porque vemos, ouvimos e lemos todos os dias (embora eventualmente uma listagem seriada do que há e do que poderá haver seja certamente útil) .
Também não é a gritar muito alto e com voz grossa por Coimbra, que se consegue algo, a não ser conseguir ser ouvido pelos vizinhos do lado.
Coimbra tem dentro de si todas as potencialidades para se afirmar num contexto internacional. A sua História que se confunde com a História de Portugal durante toda a Primeira Dinastia é motivo mais do que suficiente para criar todo um “cluster” turístico verdadeiramente excepcional. A existência de um serviço de Turismo próprio de Coimbra, seja empresa ou outro qualquer está mais que justificada. E ao ver há poucos dias espalhados pela cidade cartazes do Turismo de Portugal em que aparecia uma foto do Porto com a legenda “região norte, Douro e Porto”, uma foto de Lisboa com a legenda “região vale do Tejo e Lisboa” e ainda uma foto de Coimbra com a legenda “região Centro” sem a palavra Coimbra, fiquei ainda mais convencido da justeza dessa opção. Só estranhei que ninguém por cá tivesse dado por isso, mas os habituais berradores por Coimbra deviam andar distraídos.
As novas actividades económicas sofisticadas de Coimbra, quase todas saídas da excelente incubadora do Pedro Nunes colocam-nos já no mundo global e não na região. Neste contexto, o Centro de Congressos do Convento de S. Francisco finalmente em obra, é uma das últimas infra-estruturas de que Coimbra precisava para ser competitiva. Juntamente com o i Parque, claro. Mesmo porque Coimbra já dispõe hoje de infra-estruturas básicas ao melhor nível do país.
Daqui para a frente, precisamos é de organização, convergência de esforços e ideias claras: software e já não hardware.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 8 de Novembro de 2010