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sábado, 2 de abril de 2011
COMO CREDIBILIZAR AS NOSSAS CONTAS PÚBLICAS
quarta-feira, 30 de março de 2011
Aprender a falar.
segunda-feira, 28 de março de 2011
QUERO VER O BURACO!
“Onde não há Liberdade de Imprensa não há democracia”
Quando parte alguém que, pelo seu exemplo, foi farol de orientação para os outros concidadãos, é nossa obrigação parar um pouco e tomar consciência da importância que teve e de como, na sua área, contribuiu para que o mundo fosse um pouco melhor.
A frase acima citada é da autoria de Adriano Lucas e muitos colaboradores seus a terão ouvido ao longo dos muitos anos em que esteve à frente do Diário de Coimbra.
O Eng. Adriano Lucas, falecido há poucos dias era o Decano dos jornais portugueses. Dirigiu o Diário de Coimbra desde 1950, onde já antes colaborava com seu Pai, ainda muitos de nós não eram nascidos. Foi Director do jornal durante mais de duas décadas do Estado Novo e quase quatro décadas em Democracia. Em ambas as situações experimentou as pressões de quem tem problemas com a liberdade de imprensa.
Ao longo da sua vida, o Eng. Adriano Lucas exerceu funções de gestão, ao mais alto nível, de numerosas e importantes empresas de Coimbra. Mas voltou sempre àquilo que verdadeiramente mexia com ele: a imprensa. Continuou e fez crescer o Diário de Coimbra, mas fundou muitos outros jornais na região Centro. Para ele, era cristalino que sem uma imprensa livre, não há verdadeira Liberdade.
Para que uma imprensa seja livre, é necessário que esteja em condições de dizer não, quer ao poder político, quer às pressões económicas. Adriano Lucas sabia-o muito bem e toda a vida trabalhou para que os seus jornais fossem verdadeiramente livres, através do seu próprio sucesso empresarial.
Antes do 25 de Abril, sustentou do seu bolso as despesas de um jornal suspenso pelo poder político durante praticamente um ano, por causa da publicação de um conto que tinha um significado político evidente, na sequência do fim da 2ª Guerra Mundial; lemos o texto e o que à época foi considerado subversivo é hoje apenas irónico! Mas não se vergou. Depois do 25 de Abril, os disparates dos revolucionários levaram-no a criar um nome diferente para a edição de fim de semana do Diário de Coimbra. Foi assim que surgiu o “Domingo”. Mas não deixou de publicar o jornal: não faltava mais nada, que não o pudesse fazer.
O Eng. Adriano Lucas não se fechou no mundo dos seus jornais. Participou de forma activa e mesmo decisiva na elaboração da primeira Lei de Imprensa que houve em Portugal depois do 25 de Abril, tendo sido membro do Conselho de Imprensa, enquanto este existiu.
Era assim, com toda a simplicidade, que aos ataques à liberdade de imprensa, reagia com frontalidade, viessem esses ataques de onde viessem. Verdadeiro espírito de liberdade, exemplo para todos nós, particularmente nos dias de hoje em que a subserviência ao partido, à igreja, ao patrão, à entidade oficial que coloca anúncios ou mesmo aos reguladores do politicamente correcto tentam condicionar a liberdade de imprensa, quase sempre por meios pouco transparentes.
Que este singelo artigo, escrito por um beneficiário da liberdade de opinião que o Eng. Adriano Lucas defendia, sirva para que os jovens percebam como um espírito liberal, bem-formado, com consciência e rectidão, sem grandes alardes, pode ser tão ou mais importante para a sociedade e para todos nós do que muitos daqueles que todos os dias enchem as televisões e jornais com um brilho muitas vezes artificial que desaparece à primeira dificuldade.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 28 de Março de 2011
sábado, 26 de março de 2011
terça-feira, 22 de março de 2011
ESTUDO DO ECONOMISTA ÁLVARO SANTOS PEREIRA
Estudo do Economista Álvaro Santos Pereira, Professor da Simon Fraser University, no Canadá. *
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segunda-feira, 21 de março de 2011
PONTO VERNAL
segunda-feira, 14 de março de 2011
O MAR (JÁ) NÃO É PORTUGUÊS
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!”
Fernando Pessoa perpetuou na sua “Mensagem” o mito do mar português de forma magnífica. Mas, se muito do mar já foi português, isso pertence a um passado cada vez mais longínquo. Nas últimas dezenas de anos esfumou-se a nossa marinha mercante e com ela as escolas de marinhagem. Quase se eliminou a frota de pescas e, embora continuemos a ser o povo que mais peixe come na Europa, isso deve-se a um bom hábito alimentar que resiste, já que a maior parte do peixe fresco que consumimos hoje em dia é importado. Os nossos estaleiros navais vegetam com poucas encomendas, embora os estaleiros de reparação comecem agora a recuperar, mas bem longe da relevância mundial que tiveram até aos anos setenta do século passado. Para um país que tem uma relação comprimento de costa sobre a sua área tão esmagadora e com o historial náutico que tem, é apenas ridícula a fraca actividade ligada aos desportos náuticos.
No dia da tomada de posse para o seu segundo mandato, o Presidente da República entendeu por bem reafirmar o seu compromisso com o Mar, destacando a importância da chamada Agenda do Mar.
Claro que o teor do discurso de tomada de posse e as reacções que originou atraíram a atenção dos media e a Agenda do Mar passou mais uma vez relativamente despercebida. Mas não devia. A recuperação económica do país é a única verdadeira saída para os nossos problemas, incluindo o desemprego. O resto são paliativos para uma situação grave de dívida externa e de défice de contas públicas.
E, de facto, a economia do mar tem uma potencialidade gigantesca para ajudar o país a recuperar da letargia económica. O saudoso Ernâni Lopes lutou durante anos para que os responsáveis políticos acordassem para o riquíssimo conjunto de actividades económicas relacionadas com o mar, a que sugestivamente chamava “hipercluster do mar”. Portugal continental tem uma extensão de costa com mais de 900 km. A zona económica exclusiva portuguesa tem mais de 1.700.000 km2, sendo a terceira maior da União Europeia. Podemos mesmo considerar que o abandono a que os nossos sucessivos responsáveis têm votado este sector é apenas criminoso. As áreas da Defesa e Segurança – Marinha de Guerra, Transportes Marítimos Europeus, Portos e Investigação e Desenvolvimento constituem, no seu conjunto, um sector gigantesco que deve ser tratado de forma integrada numa perspectiva de crescimento económico sustentado e de grande futuro. Não podemos é continuar a comprar submarinos em vez de patrulhas oceânicos em quantidade, nem ter costa marítima vigiada com radares móveis e binóculos. Nem gastar fortunas em brincadeiras grotescas como a cobra produtora de electricidade das ondas. Nem fechar linhas férreas, cruciais para a circulação de mercadorias trasfegadas nos portos.
O crescimento económico do país não pode passar pelo esquecimento de todo este potencial, que ainda por cima entronca no passado mais brilhante que tivemos. A visão política estratégica é crucial para que a nossa economia recupere e venha a proporcionar aos portugueses níveis de vida comparáveis aos da Europa do Norte como todos desejamos.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 14 de Março de 2011
quinta-feira, 10 de março de 2011
A morte da executiva bem-sucedida
A morte da executiva bem-sucedida
Foi tudo muito rápido. A executiva bem-sucedida sentiu uma pontada no peito, vacilou, cambaleou. Deu um gemido e apagou-se. Quando voltou a abrir os olhos, viu-se diante de um imenso Portal.
Ainda meio tonta, atravessou-o e viu uma miríade de pessoas. Todas vestindo cândidos camisolões e caminhando despreocupadas. Sem entender bem o que estava a acontecer, a executiva bem-sucedida abordou um dos passantes:
- Enfermeiro, eu preciso voltar com urgência para o meu escritório, porque tenho um meeting importantíssimo. Aliás, acho que fui trazida para cá por engano, porque o meu seguro de saúde é Platina, e isto aqui está a parecer-me mais a urgência dum Hospital público. Onde é que nós estamos?
- No céu.
- No céu?...
- É.
- O céu, CÉU....?! Aquele com querubins, anjinhos e coisas assim?
- Exacto! Aqui vivemos todos em estado de graça permanente.
Apesar das óbvias evidências, ausência de poluição, toda a gente a sorrir, ninguém a usar telemóvel, a executiva bem-sucedida levou tempo a admitir que havia mesmo batido a bota.
Tentou então o plano B: convencer o interlocutor, por meio das infalíveis técnicas avançadas de negociação, de que aquela situação era inaceitável. Porque, ponderou, dali a uma semana iria receber o bónus anual, além de estar fortemente cotada para assumir a posição de presidente do conselho de administração da empresa.
E foi aí que o interlocutor sugeriu:
- Talvez seja melhor a senhora conversar com Pedro, o coordenador..
- É?! E como é que eu marco uma audiência? Ele tem secretária?
- Não, não. Basta estalar os dedos e ele aparece.
- Assim? (...)
- Quem me chama?
A executiva bem-sucedida quase desabava da nuvem. À sua frente, imponente, segurando uma chave que mais parecia um martelo, estava o próprio Pedro.
Mas, a executiva tinha feito um curso intensivo de approach para situações inesperadas e reagiu logo:
- Bom dia. Muito prazer. Belas sandálias. Eu sou uma executiva bem-sucedida e...
- Executiva... Que palavra estranha. De que século veio?
- Do XXI. O distinto vai dizer-me que não conhece o termo 'executiva'?
- Já ouvi falar. Mas não é do meu tempo.
Foi então que a executiva bem-sucedida teve um insight. A máxima autoridade ali no paraíso aparentava ser um zero à esquerda em modernas técnicas de gestão empresarial. Logo, com seu brilhante currículo tecnocrático, a executiva poderia rapidamente assumir uma posição hierárquica, por assim dizer, celestial ali na organização.
- Sabe, meu caro Pedro. Se me permite, gostaria de lhe fazer uma proposta. Basta olhar para essa gente toda aí, só na palheta e andando a toa, para perceber que aqui no Paraíso há enormes oportunidades para dar um upgrade na produtividade sistémica.
- É mesmo?
- Pode acreditar, porque tenho PHD em reorganização. Por exemplo, não vejo ninguém usando identificação. Como é que a gente sabe quem é quem aqui, e quem faz o quê?
- Ah, não sabemos.
- Percebeu? Sem controlo, há dispersão. E dispersão gera desmotivação. Com o tempo isto aqui vai acabar em anarquia. Mas podemos resolver isso num instante implementando um simples programa de targets individuais e avaliação de performance.
- Que interessante...
- É claro que, antes de tudo, precisaríamos de uma hierarquização e um organograma funcional, nada que dinâmicas de grupo e avaliações de perfis psicológicos não consigam resolver.
- !!!...???...!!!...???...!!!
- Aí, contrataríamos uma consultoria especializada para nos ajudar a definir as estratégias operacionais e estabeleceríamos algumas metas factíveis de leverage, maximizando, dessa forma, o retorno do investimento do Grande Accionista... Ele existe, certo?
- Sobre todas as coisas.
- Óptimo. O passo seguinte seria partir para um downsizingprogressivo, encontrar sinergias high-tech, redigir manuais de procedimento, definir o marketing mix e investir no desenvolvimento de produtos alternativos de alto valor agregado. O mercado telestérico, por exemplo, parece-me extremamente atractivo.
- Incrível!
- É óbvio que, para conseguir tudo isso, teremos de nomear um boardde altíssimo nível. Com um pacote de remuneração atraente, é claro. Coisa assim de salário de seis dígitos e todos os fringe benefits e mordomias da praxe. Porque, agora falando de colega para colega, tenho a certeza de que vai concordar comigo, Pedro. O desafio que temos pela frente vai resultar num Turnaround radical.
- Impressionante!
- Isso significa que podemos partir para a implementação?
- Não. Significa que a senhora terá um futuro brilhante... se for trabalhar com o nosso concorrente. Porque acaba de descrever, exactamente, como funciona o Inferno...
Max Gehringer
(Revista Exame)