Enquanto o país se arrasta penosamente até que um novo Governo com a capacidade efectiva de decisão que a EU e o FMI permitirem possa sair das eleições de 5 de Junho, as notícias que nos caem em cima são cada vez mais aflitivas.
No meio da avalanche de desgraças, houve uma notícia que, se chamou a atenção aos partidos (et pour cause), passou relativamente despercebida à população em geral. O Distrito de Coimbra passou a ter direito a eleger 9 Deputados, em vez dos dez das últimas eleições e dos doze que elegia ainda há poucos anos. Os responsáveis partidários tiveram umas palavras de circunstância sobre o sucedido e passaram adiante. Qual a posição do Distrito de Coimbra em comparação com os outros? Do total dos círculos eleitorais, sete elegem mais deputados que Coimbra, doze elegem menos e outros dois elegem o mesmo número: Faro e Viseu. Saliente-se que, relativamente às últimas eleições, o Distrito de Coimbra até aumentou o número de eleitores em pouco mais de 2.200, mas Faro que ganhou o Deputado que Coimbra perdeu, aumentou esse valor em mais de 10.000. Dos distritos vizinhos, Aveiro elege 16 deputados e Leiria 10.
A perda de importância do nosso Distrito ao longo dos anos da Democracia tem sido notória e há razões para isso, sendo elas endógenas e exógenas.
Começando por estas últimas, há desde logo a normal e sã competitividade entre cidades. Muitas das cidades que são capital de Distrito mudaram radicalmente ao longo dos últimos anos. Pegaram nas suas fraquezas e delas fizeram forças, montaram estratégias de desenvolvimento, atraíram novas populações, apoiaram a criação e atracção de empresas, limparam a cara, construíram parques de estacionamento centrais, criaram novos jardins, ordenaram a ocupação do território, criaram novas universidades, etc.
Depois, houve acções do Estado Central ou mesmo de responsáveis regionais em sua representação que introduziram factores externos. Por exemplo, os acessos rodoviários de Coimbra à Beira Interior continuam praticamente os mesmos de há décadas, a Estação Ferroviária continua absolutamente miserável à espera de um mirífico TGV e, quando há obra nova é muitas vezes mal feita e desadequada ao desenvolvimento urbano como a passagem do IC2 sobre a cidade e a vergonha mais recente dos acessos da Ponte Europa e da rotunda final da variante do IC2 ao Almegue sem que a cidade gema. Isto para não falar da retirada de Direcções Regionais como a da Agricultura e da Economia, relativamente às quais conviria agora saber quais os custos e benefícios que originaram para o próprio Estado. Ou da retirada da sede do Turismo do Centro, introduzindo em simultâneo uma “marca” absolutamente inócua chamada Centro, quando existe aqui uma das marcas turísticas mais valiosas de Portugal: Coimbra.
Para não falar ainda das teses peregrinas de desenvolvimento regional que “matam” Coimbra, através do conceito da região polinucleada.
Que ninguém em Coimbra se iluda: tudo isto ajuda a retirar paulatinamente Coimbra do mapa, seja eleitoral ou outro qualquer.
Mas entre nós também temos responsabilidades no que tem acontecido e isso não deve ser escamoteado. Desde logo, aquela espécie de pudor que todos temos em assumir a liderança, quando na realidade os municípios à nossa volta só têm a ganhar se Coimbra for forte. Depois, a Cidade deixou-se levar outra vez pelo espírito coimbrinha, completamente provinciano. Não é por acaso que os dois eventos principais da Cidade voltaram a ser, como há cinquenta anos, a procissão da Rainha Santa e…a Queima das Fitas, felizmente regressada, senão nem isso.
Eu sei que estou a ser algo injusto para algumas situações e que temos cá do melhor que há em Portugal. Mas não chega e que diabo, assumamos o famoso direito à indignação e exijamos sem vergonha nem contemplações o melhor para Coimbra, quer lá fora, quer cá dentro. Sejamos capazes, como já aconteceu antes, de unir as mãos, estabelecer bases mínimas de entendimento e forçar que a curva inclinada descendente mude para ascendente, não para termos mais deputados, mas para alterar tudo aquilo que leva a que tenhamos ainda menos, no futuro.
Publicado originariamente no Diário de Coimbra em 18 de Abril de 2011