A tradição recomenda que no início de um novo ano se deseje aos amigos que seja um bom ano. É isso que hoje faço com gosto aos leitores do Diário de Coimbra.
A passagem dos anos pode parecer uma simples convenção, mas na realidade reflecte uma íntima ligação do Homem à Natureza, já que um ano ou aproximadamente 365 dias é a duração de uma translação do nosso planeta Terra à volta da nossa estrela, o Sol. E o início do ano muito próximo do solistício de Inverno é também muito significativo, porque a partir daqui os dias começam a crescer, criando a sensação de renascimento. Nos nossos dias, o progresso tecnológico e social parece afastar-nos daquilo que verdadeiramente somos, mais parecendo que muitos de nós nos consideramos quase como deuses, quando na verdade todos fazemos parte de um sistema complexo que dominamos muito menos do que julgamos.
O início deste ano de 2012 vem encontrar os portugueses numa situação muito difícil e causadora de perplexidades, ansiedades e sacrifícios pesados para muitos.
Muitas vezes caímos na tentação de falar daquilo que, por demasiado afastado de nós, pouco podemos mudar. Claro que a opinião pública conta e muito, mas na realidade as eurobonds, as taxas do BCE, o comportamento dos mercados, a própria actividade dos bancos, estão muito longe de serem infuenciados pelo que localmente se diz ou escreve.
Já o mesmo não se dirá de tudo aquilo que está mais perto de nós e é por isso que a chamada administração local é tão importante.
Coimbra é uma cidade muito especial e não só por ser a nossa Cidade. É-o pela sua História riquíssima, intimamente ligada à História de Portugal desde o seu início, mas também pelo seu presente que é o que existe na realidade e prepara o futuro que assim dependerá dos que cá estão hoje, isto é, nós mesmos, o que nos responsabiliza perante as gerações futuras. É comum dizer-se, principalmente nos salões do poder em Lisboa, que de cada vez que se fala bem de alguém de Coimbra aparecem logo não sei quantos conimbricenses a criticar e dizer mal. Provavelmente, há razão nisto e é pena. Coimbra está numa encruzilhada da História. O país chama-se cada vez mais Lisboa, Porto e província. A desertificação do interior e mesmo de boa parte do litoral acompanha a metropolização crescente das áreas de Lisboa e do Porto, triste sinal de terceiro-mundismo.
Coimbra é a única cidade média da nossa Região que pode sobreviver a esta desagregação territorial do país. Para isso precisa de todos nós, sejamos de esquerda, de direita, professores, operários, empresários, médicos, enfermeiros ou engenheiros.
Há projectos em andamento, em preparação ou em estudo, cruciais para o futuro de Coimbra e da sua identidade. O Convento de S. Francisco trará vantagens comparativas à Cidade, mas precisa urgentemente de “software” para além do “hardware” que é o edificado: a definição de um modelo de exploração que não seja oneroso ao município é urgente. O Metro Mondego traduz-se hoje numa indefinição que dura já há mais de uma ano e se traduz em transportes rodoviários insuportáveis para os cidadãos de Miranda e da Lousã que os utilizam diariamente, para além das consequências no trânsito urbano de Coimbra; acresce a “ferida” aberta na Baixa que carece de solução urgente, sendo que Coimbra já propôs solução, ainda sem resposta. A Estação Velha continua a ser uma vergonha para a Cidade. Se toda a gente reconhece que Coimbra é uma “marca” turística com um valor enorme, que se promova o turismo cultural que hoje em dia tem tanta pujança e importância económica por essa Europa fora. O parque tecnológico “Coimbra i Parque” está aí em andamento, potenciando uma ligação crucial entre o conhecimento, a inovação e a economia real. A candidatura a Património Mundial da Unesco é uma oportunidade para unir os conimbricenses em torno de algo que pode, não só reconhecer Coimbra e a sua Universidade como um valor a nível mundial, mas também potenciar a renovação urbana de todo um Centro Histórico valiosíssimo e abandonado durante tantas décadas a políticas urbanísticas erradas ditas “de crescimento”.
Tanto mas tanto, tanto a fazer.
Estimado leitor conimbricense: votos de que a crise que atravessamos sirva para nos unir no essencial como cidadãos e, como se costuma dizer, constitua uma oportunidade para definir uma Coimbra que se afirme como a capital regional que sempre foi, pela sua Cultura, Economia, capacidade de atracção dos melhores e de produção do melhor.
Bom ano.