sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Bach - Sarabande in D minor - Anne-Sophie Mutter

Deus não é para o bico da ciência

Henrique Raposo, hoje, no Expresso on-line.

Deus não é para o bico da ciência

Paizinho Krugman falou

Paizinho Krugman falou:


O que pode Passos Coelho fazer? Promover o crescimento, dizem alguns enquanto põem uma velinha a São Paul Krugman. Estimular a economia, gritam outros enquanto beijam a medalhinha de São Krugman que trazem ao peito. Adoptar medidas anti-ciclicas, berram aqueles que, de joelhos, se dirigem para a capelinha das aparições de São Krugman em pleno New York Times. Pois vai-se a ver e o próprio santinho milagreiro não anda muito convencido disso. De acordo com um post fresquinho, o todo poderoso e omnisciente acaba de comunicar aos devotos que aos países periféricos da Zona Euro que se arrastam em lenta agonia restam as seguintes soluções:



  • Implorar que a Troika torne as medidas de austeridade menos severas (importa recordar que a tábua quarta dos mandamentos das crendices e mezinhas prescreve que ali onde o mestre escreveu austeridade menos severa não deve o fiel discípulo entender coisa diferente);

  • Fazer o que for possível para estimular a competitividade (estimular a competitividade e não qualquer outra coisa - recordo a propósito a já referida tábua quarta), sendo certo que o mestre pensa não se poder fazer grande coisa;

  • Esperar que as coisas melhorem aos poucos por via da desvalorização interna (yes, I am afraid he said it again, pelo que os caríssimos apaniguados podem desde já preparar os raminhos para vergastarem as costas) ou que piorem (situação que pode preparar o contexto económico e politico para uma saída do euro).


Ah, paizinho Krugman também refere que não vê balas mágicas ou soluçõezinhas milagreiras. Rotundazinhas e pontezinhas, investimentozinho do Estado que era tão bom, viste-o nem eu. Agora ide, fieis discípulos do santinho. Ide ler. E orai e fazei penitência se a tanto vos sentirdes obrigados.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

GREGOS



A Grécia de hoje é o exemplo de tudo aquilo que um país não deve ser, principalmente se estiver integrado numa União em que tem responsabilidades perante os outros membros. Nos últimos dias assistimos a uma tentativa, entre nós, de apelar a sentimentos de “solidariedade”, afirmando-se que a Grécia merece todo o apoio por aquilo que a sua História representa para Europa e mesmo para a Humanidade. A Grécia antiga fazia parte do que a minha geração estudou sobre as raízes da nossa civilização, tal como o Egipto antigo e Roma. Conhecer as diferenças entre as cidades de Atenas e Esparta, a guerra do Peloponeso e Péricles, as tragédias de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, os filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles, apreciar a arquitectura e a escultura clássicas gregas e ler a mitologia grega fazia as nossas delícias e levava-nos a um mundo extraordinário e diferente do nosso. Mas a civilização grega foi há mais de dois mil anos e de lá para cá muito se passou. Mais recentemente, no século XX, a Grécia teve até o famoso e tristemente célebre Regime dos Coronéis, a fazer esquecer que a Grécia foi a pátria da Democracia e inventou a República. Isto é, tal como muitos países que tiveram o seu passado glorioso mais ou menos distante, a Grécia de hoje não pode ser olhada como um país especial, mas como um dos membros da União de que todos fazemos parte, tal como a Itália, a Espanha, a Holanda, a França e Portugal. Todos tivemos um passado deslumbrante e um papel importante no mundo, o que não nos livra das responsabilidades do presente.
A realidade é que o presente grego é um fardo pesadíssimo para todos os parceiros europeus. Se no ano passado Portugal se viu obrigado a pedir ajuda financeira de 78 mil milhões de euros, estando a cumprir rigorosamente e com grandes sacrifícios o plano de austeridade negociado com a Troika ainda pelo anterior governo, a Grécia já está a pedir mais 130 mil milhões de euros, depois do primeiro pacote de 110.000 milhões negociado em 2010. É obra e dá a ideia de que a Grécia é um buraco sem fundo. A Europa tem culpas nisto, claro está! Quando a Grécia foi admitida no Euro, toda a gente sabia que as suas contas públicas apresentadas à União eram falsas e mesmo assim deixou-se andar até à actual situação. Hoje, assistimos à revolta nas ruas de Atenas, com manifestações e violência a rodos. Nas últimas semanas o vandalismo andou à solta com centenas de edifícios vandalizados e muitos até incendiados. No Parlamento estabeleceu-se a confusão, havendo já dezenas de expulsões de deputados rebeldes por parte dos principais partidos, de esquerda e de direita. A desolação é geral e o estado de espírito do povo grego cada vez mais impaciente e instável, podendo mesmo esperar-se que nas eleições previstas para daqui a dois meses a revolta se manifeste também nas urnas. Se, de facto, os partidos de extrema esquerda, que criticam a austeridade mas não têm soluções nem se entendem entre si tiverem uma grande votação, será de esperar o pior; a Grécia sairá do Euro, declarará certamente a bancarrota porque deixará de pagar aos seus credores e entrará em mais um período negro da sua História. Toda a Europa e o resto do mundo sabem disto e é por esta razão que os parceiros da União, com a Alemanha à cabeça se mostram hoje em dia tão inflexíveis com a Grécia. A gravidade da situação grega é de tal ordem que um país que representa apenas 3% do PIB europeu e que ainda há oito anos organizou os Jogos Olímpicos conseguiu colocar toda a União e o Euro numa crise cujo fim não se avista.
Portugal não está neste campeonato e temos que ter consciência disso. Os negociadores da Troika têm reconhecido que estamos a cumprir o que infelizmente tivemos que acordar com eles. Mas há ainda um longo e penoso caminho a percorrer até podermos levantar a cabeça, o que só sucederá quando o Estado português se conseguir financiar por si próprio com taxas normais, sem apoio externo. Mesmo que nos vejamos todos gregos para lá chegar, como se costuma dizer.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 20 de Fevereiro de 2012

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Uma doce recordação

Discussão gravíssima com Soares levou Sócrates a pedir ajuda externa - Política - PUBLICO.PT

Quantas décadas de austeridade nos esperam?

Quantas décadas de austeridade nos esperam?:

Notícia de hoje:



Mesmo crescendo 2% ou 4% ao ano, não dá. Portugal está numa "situação crítica" e vai ter de renegociar com os credores um desconto de "33% a 50%" da sua dívida pública, diz um estudo do Instituto Kiel para a Economia Mundial, um conceituado centro de investigação da Alemanha.
A dívida da República portuguesa está hoje perto dos 200 mil milhões de euros, o que significa que, na pior das hipóteses, o Governo teria de renegociar cerca de 100 mil milhões, perto de 58% do produto interno bruto (PIB).
De acordo com os economistas David Bencek e Henning Klodt, "será inevitável um haircut radical" em Portugal, Itália e Irlanda. Por esta ordem. Na Grécia também, mas o caso é tão grave (está a caminho da bancarrota total) que é tratado à parte.
O "haircut" não é mais que um desconto substancial concedido pelos credores após negociação dos termos dos empréstimos contraídos pela República Portuguesa de modo a viabilizar o cumprimento – redução das taxas de juro, pagamento em prestações mais suaves, obter um prazo de amortização mais alargado, por exemplo.


A factura de juros a pagar por Portugal (mais de cinco mil milhões de euros ao ano, até 2015, pelo menos) é tão pesada, que a economia teria de crescer bem mais que 4% para ter músculo e aguentar todo esse endividamento.



Ou seja, vamos viver em austeridade até sermos velhinhos.

A censura de hoje.