jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
domingo, 22 de março de 2015
quinta-feira, 19 de março de 2015
quarta-feira, 18 de março de 2015
segunda-feira, 16 de março de 2015
Da “riqueza das nações”
Na
semana passada passaram 239 anos sobre a publicação de “A Riqueza das Nações”
de Adam Smith. Trata-se de um dos livros mais importantes de sempre, da
economia mas também do funcionamento geral da sociedade. Introduziu conceitos
originais que hoje são utilizados no dia-a-dia e que vieram substituir velhas
ideias sobre a formação de riqueza que não faziam sentido, mas que eram
geralmente aceites e que, curiosamente, ainda muita gente segue de forma
subliminar.
O primeiro tem a
ver com o próprio conceito de riqueza de um país. Adam Smith veio dizer que
está naquilo que produz, ao contrário da ideia até então prevalecente que media
a riqueza pela quantidade de ouro ou prata que cada país tinha em reserva.
Ainda hoje muita gente imagina que as reservas de ouro dos bancos centrais são
indicadoras da saúde financeira dos países. Daqui deriva directamente a ideia
do “produto interno bruto”, hoje adoptada em todo o mundo. O segundo conceito
tem a ver com o número de cidadãos que partilham da produção de riqueza, donde
surge o “PIB per capita”, conceito que mostra a importância da relação entre a
riqueza produzida e o nº de pessoas que dela beneficiam. Adam Smith não se
ficou por aqui e partiu para um terceiro conceito que tem a ver com o nº de
pessoas que realmente contribuem para a produção da riqueza de cada país,
através do seu trabalho. Trata-se da produtividade que, como é evidente, tem a
ver com a própria organização de cada país e da sua capacidade de introduzir
melhorias nos sistemas laborais e inovações nos sistemas produtivos.
Na
base de toda a riqueza produzida estão as empresas e a sua capacidade para se
instalarem no mercado de forma competitiva, sendo aquilo a que se chama
vulgarmente o seu capital social determinante para o seu sucesso. O capital
social das empresas vai muito para além da sua capacidade financeira e dos seus
balanços, já que o seu verdadeiro valor vem do conhecimento que advém do saber
fazer, que lhes permite produzir bens diferenciados, com valor próprio e
competitivo.
Uma das fábricas
de motos mais antigas do mundo é a italiana Benelli, que nasceu em 1921 na
cidade de Pesaro. A sua notoriedade tecnológica e comercial manteve-se até ao
fim da década de 60. A partir daí, com o surgimento das motos japonesas, a
Benelli afundou-se por incapacidade de competir comercialmente com as Honda,
Yamaha e Kawasakis, à semelhança aliás, do sucedido com toda a indústria europeia
de fabricação de motos. Já neste século, a Benelli foi comprada por um
fabricante gigantesco chinês de motorizadas que pretendeu fazer a produção das
Benelli na China. Foi um fiasco, porque, apesar de toda a maquinaria e
tecnologia transferidas para a Ásia, faltava o saber fazer dos operários
italianos. Era necessário um conhecimento específico para produzir aquelas
máquinas fantásticas. A empresa chinesa resolveu o problema reiniciando a
produção em Pesaro e contratando a antiga mão-de-obra. O capital financeiro
pode ser chinês, mas o capital social é italiano e é assim que continuamos a
poder ouvir aqueles motores na rua com o seu som inconfundível.
Há poucos dias,
uma notícia passou quase despercebida entre nós, no meio da espuma da política
e assuntos adjacentes. A fábrica Cerâmica de Valadares, encerrada há dois anos,
retomou o seu funcionamento. Também aqui a recuperação só é possível porque há
todo um conhecimento que ainda é possível recuperar, a nível de saber fazer, a
nível de gestão e de garantia de qualidade de produto fabricado. Aqui são antigos
quadros da empresa que conseguiram apoio financeiro de novos investidores,
contando ainda com o crucial trabalho de algumas centenas de antigos operários
que conhecem bem tudo o que é necessário para que o produto final seja de
qualidade e competitivo, mesmo a nível internacional.
Nas suas obras
fundamentais, “Riqueza das Nações” e “Teoria dos Sentimentos Morais”, Adam
Smith mostrou o papel da produção de riqueza e, além disso, como a produção e troca
de produtos é impulsionada pela especialização, crucial para que as empresas se
afirmem nos mercados e criem a riqueza necessária a todos. Apesar dos mais de
duzentos anos sobre a sua publicação, os exemplos empresariais mostram bem a
sua actualidade.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 16 de Março de 2015
quarta-feira, 11 de março de 2015
11 de Março
Passam hoje 40 anos sobre o 11 de Março. Naquele dia acabou algo e entrou-se numa espécie de túnel do tempo que deveria terminar numa "revolução de Outubro", mas que desembocou num dia de Novembro, graças a um punhado de militares a sério.
Mas foi ali que começaram as nacionalizações e a destruição sistemática do aparelho produtivo do país.
Ao contrário do que possa parecer, a foto acima não é de um cartaz de 1975 e sim a capa de "O Militante" de Abril de 2015. Não é preciso dizer mais nada.
Mas foi ali que começaram as nacionalizações e a destruição sistemática do aparelho produtivo do país.
Ao contrário do que possa parecer, a foto acima não é de um cartaz de 1975 e sim a capa de "O Militante" de Abril de 2015. Não é preciso dizer mais nada.
segunda-feira, 9 de março de 2015
Ética e política
Poder-se-ia
pensar que, em democracia, as épocas de maior atrito político corresponderiam
obrigatoriamente a lutas de carácter ideológico profundo e evidente. Em
contraste, as lutas personalizadas e baseadas em ataques pessoais seriam vistas
como baixa política, praticada por gente sem escrúpulos e falha de ética. No
tempo que passa, em que o espaço comunicativo proporcionado pela internet
substituiu a informação, arrastando consigo os clássicos meios escritos e
televisivos, a capacidade de uso e abuso da espuma do acessório e imediatista
faz as delícias de políticos populistas e pescadores de águas turvas que apenas
pretendem destruir o existente.
Convém,
precisamente em momentos de crispação política, manter alguma distanciação e,
acima de tudo, ter em atenção o valor relativo das coisas e evitar atitudas
falsamente moralistas.
Ao
longo da História surgiram muitos ensinamentos que nos podem ajudar a discernir
o melhor caminho, mesmo que muitas vezes possam vir até nós pela via do paradoxo.
Uma
das lições mais referidas de Maquiavel refere que, em política, os aliados,
quaisquer que eles sejam, não são amigos, como aliás Churchill viria a
reconhecer, séculos mais tarde. Ao escrevê-lo, Maquiavel questiona directamente
as nossas convicções religiosas ou convenções sociais, mesmo as da actualidade.
Maquiavel ataca os moralistas que nos querem fazer crer que os líderes devem
ser generosos, agradecidos e fiéis. Tal como hoje nos querem fazer crer que os
líderes políticos devem ser, acima de tudo bonzinhos, simpáticos e fazerem o
que aqueles que têm acesso aos meios dizem que é bom.
Mas
já Aristóteles, na obra sobre a Ética que dedicou a seu filho Nicómaco havia
alertado sobre a diferença fundamental entre a razão e o sentimento. A
felicidade seria o resultado de uma vida virtuosa encontrada num justo meio
entre os extremos através do exercício de prudência. Para o filósofo grego, as
virtudes tinham características diferentes, divididas basicamente entre a
inteligência, a sabedoria e a prudência e as outras como a liberalidade e a temperança.
Ninguém é perfeito, pelo que se deve encontrar a justa composição das virtudes
pessoais.
A
política é a actividade mais importante de todas, porque trata do bem da
cidade, da colectividade que aliás, nos dias de hoje, paga com os seus impostos
tudo aquilo que é a actividade do Estado. A acção política é ainda das mais
complexas que existem, já que tem de ir buscar informação e capacidades às mais
diversas formas de conhecimento humano e, não menos importante, deve agregar as
diversas virtudes enunciadas, para atingir o objectivo da “felicidade” da
Cidade entendida como comunidade.
O
momento político que se vive em Portugal é tudo menos propício à prossecução do
objectivo de encontrar a “felicidade” da polis. Os sentimentos tomam conta da
actualidade, relegando a razão para os fundos da quase inexistência. Mas a abertura
da caixa de Pandora liberta sempre muitos demónios não se sabendo, depois de
soltos, quem virá a perder ou a ganhar, já que passado um tempo será até
difícil perceber quem tirou a tampa.
Está
bom de ver que não me refiro à Justiça, para quem a Ética é e deve ser a Lei da
República. A Justiça tem o seu tempo e procedimentos próprios, felizmente
independentes dos tempos políticos. Embora se possa recear a tentação política
de limitar a sua acção, não me parece que isso venha a suceder, dado o grau
superior da sua actual organização e capacidade técnica dos seus agentes.
Mas,
até ás próximas eleições legislativas, estando os demónios à solta como estão,
serão de esperar muitas denúncias, certamente muitas falsas e outras parte da
verdade, que criarão perplexidades e confusões nos espíritos dos portugueses.
Tenhamos nós próprios as virtudes descritas por Aristóteles, já que do mundo
político e do seu reflexo que é a comunicação social andarão tão ou mais
arredadas do que já hoje andam.
Publicado originalmente no Diário
de Coimbra em 9 de Março de 2015
domingo, 8 de março de 2015
quinta-feira, 5 de março de 2015
segunda-feira, 2 de março de 2015
RADICALIZOU-SE (?)
Confesso que estou farto desta conversa: o terrorista
tal foi radicalizado na mesquita tal em Londres, Nova Iorque ou Berlim não
interessa; o assassino não sei quantos foi radicalizado por se sentir
perseguido pela polícia; jovens rapazes ou raparigas sempre ligados à internet
nos seus quartos, radicalizaram-se e resolveram ir juntar-se ao dito estado
islâmico na Síria. As notícias em si criaram uma imagem que se substituiu à
realidade. Se formos procurar o significado de “radical” encontraremos que é
aquele que regressou às origens, à raiz, por oposição à modernidade, o que não
sucede com nenhum dos jovens ocidentais que resolve ir juntar-se ao dito estado
islâmico. Será, no entanto, isso sim, o que acontece com os religiosos
islamitas que adoptaram o fundamentalismo religioso, pretendendo que toda a
sociedade obedeça à sua lei religiosa, em substituição das leis civis e que, de
uma forma ou de outra, encontram um discurso que, pelo engano, consegue cativar
jovens em processo de dificuldade de afirmação.
Contam, para atingirem os seus objectivos, com a paralisação
provocada por processos de auto-culpabilização ou relativismo do ocidente não
islamita ou mesmo cristão e a verdade é que têm conseguido até agora levar a
sua avante, como se pode ver pela própria linguagem com que são referenciados
na comunicação social.
Mas basta de complexos de culpa histórica. Claro
que há umas centenas de anos houve a Inquisição e há mil anos houve as
Cruzadas. Mas também houve a Revolução Francesa, origem do moderno liberalismo,
que inventou a guilhotina e em menos de dez anos cortou a cabeça a mais pessoas
do que as Inquisições conseguiram matar durante séculos. E, antes das Cruzadas,
foram os próprios muçulmanos que, a golpes de cimitarras, instauraram um império/califado
desde a Arábia até à Península Ibérica.
Apesar de tudo isto, o Ocidente
desenvolveu uma civilização de direitos humanos e de respeito pelas minorias
como nunca houve antes. Uma civilização que respeita o passado e o seu legado
histórico, social, mas também patrimonial e que deseja que os seus descendentes
venham igualmente a desfrutar desse mesmo legado em liberdade.
O que se passa no dito estado islâmico é a negação
de todo um património civilizacional da humanidade e é assim que tem de ser
denunciado e combatido.
O auto denominado “estado islâmico” adoptou
práticas infames e autenticamente selvagens contra todos os que define como inimigos
do Islão. Pior ainda, tornou as suas acções contra pessoas tais como
lapidações, decapitações com facas pequenas, flagelações, queima de
prisioneiros em jaulas, lançamentos de pessoas do alto de prédios, assassínios
na rua, crucificações, execuções colectivas de dezenas ou centenas de pessoas
etc. em actos de propaganda, pela sua filmagem e publicação na internet, algo
que nunca antes havia sido feito.
Nos últimos dias, aos crimes contra pessoas
resolveram acrescentar a destruição de património histórico-cultural da
humanidade. Assim, queimaram milhares de livros e manuscritos raros da
biblioteca de Mossul, fazendo uma fogueira com livros culturais, científicos,
infantis e religiosos. Destruíram ainda uma igreja e o teatro da universidade
local. Não contentes, destruíram ainda estátuas com valor incalculável para a
História da Humanidade e, como habitualmente, filmaram tudo e publicaram na
internet, explicando que Maomé fez o mesmo no seu tempo e que ele próprio
enterrou ídolos com as suas mãos, dando-lhes o exemplo para o que devem fazer.
A barbárie continua à solta. Para se financiar, o
dito “estado islâmico” retira para vender órgãos aos seus prisioneiros, que a seguir
enterra em valas comuns.
Para além de uns bombardeamentos aéreos de meia
dúzia de países directamente afectados, normalmente pelo homicídio em directo
de cidadãos seus, não se vê a comunidade internacional a tomar medidas para
acabar com este estado de coisas. Designadamente, a ONU, o que está a fazer? Na
verdade, a notória incapacidade internacional para lidar com o chamado “estado
islâmico” montado por umas escassas dezenas de milhares de homens impressiona
tanto como a sua barbárie.
Subscrever:
Mensagens (Atom)