A
Síria, tal como a conhecemos durante muitos anos, é um país que já não existe.
Actualmente, já nem sequer pode ser considerado como um país, por não ter
território definido, governo que governe, nem qualquer sombra de soberania,
para além de não haver paz em lado nenhum para os seus habitantes, que não se
podem sequer chamar cidadãos. Aquilo que começou na chamada “primavera Árabe”
resvalou para um conflito militar inter-Islão entre sunitas e xiitas com uma
violência inaudita. Na Síria, anteriormente um país multicultural e
multiétnico, mas bastante ligado ao Irão, convergiram todos medos e todos os
ódios da região, movimentando alianças regionais e mundiais, desde a Arábia
Saudita e Qatar contra o Irão, Rússia e China contra Estados Unidos e Europa,
sem esquecer Israel e a Turquia devido ao Hezbollah e aos Curdos. O avanço do
xiismo, que sempre foi minoritário, um pouco por todo o mundo muçulmano colocou
os principais países sunitas como a Arábia Saudita e seus aliados em alerta
pelo medo que têm do Irão xiita, que consideram como o seu inimigo principal,
mais ainda que o próprio Israel.
Deste caldo
saíram as condições para que nascesse algo ainda pior, o chamado “Estado
Islâmico”. Depois de terem aproveitado as deficiências e falhas graves do
Iraque após a saída das forças americanas, onde originalmente lutaram para
criar um califado nas zonas de maioria sunita no Iraque, os jihadistas
avançaram pela Síria, ocupando grande parte do seu território a saque.
O seu
objectivo final é agora recriar o antigo califado, exercendo a sua autoridade
sobre todos os muçulmanos do mundo. O objectivo imediato passa pela criação de
um Estado muçulmano cujo território será constituído pela zonas sunitas da
Síria e do Iraque, o que já estará quase alcançado. As reacções internacionais
têm primado pela ineficácia, já que se restringem a acções de força aérea sem
qualquer colocação de exércitos no terreno. De facto, o historial do
médio-oriente aconselha à maior prudência nas acções militares, porque os
aliados de hoje serão certamente os inimigos de amanhã e é impossível conhecer
as alianças subterrâneas entre os diversos países, famílias e orientações
religiosas que funcionam a cada momento, ditadas pela religião mas também, ou
sobretudo, pelo poder do petróleo.
Mas o problema
não está circunscrito à Síria e ao Iraque, bem pelo contrário. Na realidade, o
terror da autoria de fundamentalistas islâmicos tem sido levado praticamente a
todo o lado, não se circunscrevendo à área daquilo a que chamam Califado.
Na Europa recordam-se,
entre outros, os atentados nos comboios em Madrid em Março de 2004 que
provocaram 191 mortos, em Londres em Julho de 2005 com 52 mortos, em Toulouse
em Março de 2012 com 4 mortos, o ataque à revista Charlie Hebdo com 12 mortos
em Janeiro de 2015. Sem esquecer os mortíferos atentados islamitas anteriores
em Nova Iorque e.Bombaim.
Em África, todo o
Norte se encontra em chamas devido aos extremistas muçulmanos. Desde a Tunísia
em que turistas são chacinados na praia, até ao Egipto onde a guerra no Sinai é
aberta, passando pela Líbia onde as praias são utilizadas pelos jihadistas para
mortandades filmadas e mostradas ao mundo inteiro.
Mas a África sub-sariana
experimenta também os horrores da guerra trazida pelos extremistas muçulmanos.
Os países situados nas margens do lago Chade, a Nigéria, o Chade, o Níger e os Camarões
têm sofrido horrores indescritíveis causados pelos islamitas do Boko Haram. A
Somália é palco de frequentes ataques jihadistas que atacam directamente as
forças armadas do país. No Quénia, os terroristas islâmicos entraram numa
Universidade e foram perguntando a quem encontravam se era cristão, matando de
imediato quem respondesse afirmativamente e deixando assim 147 mortos para
trás.
Na Índia, em
Bombaim, atentados dos jihadistas islâmicos provocaram quase duzentos mortos em
Novembro de 2008.
Verifica-se que o
jihadismo islâmico encontra terreno propício para a sua macabra actuação em
países sem Estado central forte ou mesmo minimamente organizado e em países em
que os detentores de poder pouco mais fazem do que canalizar as riquezas dos
seus países para as suas próprias contas bancárias, gerando pobreza
generalizada e forte insatisfação dos povos.
Olhando para o
mapa actual da actividade do jihadismo islâmico, não podemos deixar de nos
assustar e perguntar qual a saída para a situação que é visível não ser já
resolúvel com acções militares localizadas. E impressiona a aparente
passividade do resto do mundo e a completa incapacidade de resposta das
instâncias internacionais, como as Nações Unidas.