Portugal acaba de
passar por um dos períodos eleitorais mais longos da sua história democrática.
As eleições legislativas de Outubro tiveram uma campanha eleitoral que não se
limitou ao período definido na lei, dado que na realidade começou muitos meses antes.
Seguiu-se-lhe a campanha presidencial que terminou com a eleição de Marcelo
Rebelo de Sousa logo à primeira volta.
As eleições
presidenciais tiveram vários aspectos dignos de nota. Desde logo porque houve
dez candidatos, tendo-se considerado desde o início que havia nove candidatos
contra um, Marcelo. Oriundos directamente do Partido Socialista, havia três candidatos
a que se acrescentava um oficioso, independente “mais ou menos apoiado” pelo partido.
Dois partidos, o PCP e o BE apresentaram os seus candidatos próprios, mesmo
sendo estas eleições para o Órgão de Soberania Presidente da República, logo
nominais e não para governação do país; claro que estão no direito de o fazer,
mas não deixa de ser digno de registo que esses candidatos o sejam como
militantes dos respectivos partidos e não em nome individual. Assistiu-se
também a uma entrada inopinada e violenta do Tribunal Constitucional na
campanha, liquidando instantaneamente a candidatura de Maria de Belém, ao
escolher o momento para anunciar um acórdão sobre subvenções vitalícias
atribuíveis aos titulares de postos parlamentares anteriores a 2005 que
perfizessem 12 anos na AR; recorda-se que o assunto estava em apreciação no TC desde
2014, dizia respeito a centenas de políticos, mas só um deles era candidato
naquele momento, pelo que o tiro foi de morte (política, claro está).
Os resultados
eleitorais merecem também algumas observações. Desde logo a abstenção que foi
de 51,2%, tendo portanto votado menos cerca de 700.000 eleitores do que nas
eleições legislativas de três meses antes. Marcelo Rebelo de Sousa, foi eleito
com 2,4 milhões de votos quando Cavaco Silva há dez anos obteve 2,8 milhões,
Mário Soares teve 3 milhões em 1986 na segunda volta e Jorge Sampaio também 3
milhões em 1996.
Os partidos que
apresentaram candidaturas próprias sujeitaram-se às inevitáveis comparações com
os resultados das legislativas. Assim, o BE que em 2009 teve 590.000 votos e em
Outubro passado 550.000, viu a sua candidata obter 470.000, longe portanto do grande
sucesso propagandeado. Descida ainda maior teve o PCP que tem mantido
consistentemente o seu valor eleitoral à volta dos 450.000 eleitores e viu o
seu candidato perder mais de metade desses votos, devendo perguntar-se se isso
terá razões conjunturais pelo apoio ao actual Governo, ou se será o caminho
definitivo para a irrelevância política, tantos anos depois da queda do muro de
Berlim.
Estas duas descidas eleitorais são ainda particularmente significativas
porque, em conjunto com os dois candidatos socialistas mais relevantes
apoiantes da actual solução governativa, obtiveram um total de quase 2 milhões
de votos quando os respectivos partidos haviam obtido, em Outubro, um total de
2,7 milhões, numa queda de 750.000 votos desde então.
O sucesso de
Marcelo Rebelo de Sousa é indesmentível e resultado de uma campanha
completamente definida e organizada pelo próprio candidato, que não colou um
único cartaz nem deu canetas ou autocolantes. Marcelo é, indiscutivelmente, uma
das personalidades portuguesas mais bem preparadas para o exercício de qualquer
função no Estado. A partir de Março vai exercer a mais relevante de todas.
Portugal atravessa um momento de grandes dificuldades, quer na sua afirmação externa
como membro da União Europeia, também ela própria a passar por um momento
difícil, quer sobretudo pela política interna que nos próximos anos vai ter que
encontrar caminhos diferentes para aproximar o nível de vida dos portugueses
daquele que todos ambicionamos.
Desengane-se quem
pensa que Marcelo se vai imiscuir nas tácticas dos partidos do governo ou da
oposição, ou mesmo nos pormenores da governação. Mas desengane-se também quem
imagina que Marcelo chegou ao fim da sua brilhante carreira pessoal e que, não
precisando de mais nada para se afirmar, irá agora descansar. Marcelo, o
primeiro presidente da República portuguesa a ser chamado pelo nome próprio
pela maioria dos portugueses, sabe diferenciar o dia-a-dia da estratégia que o
país precisa e não vai ceder perante as facilidades ou mesmo erros governativos,
seja qual for o partido que estiver a governar.
Quem me lê sabe que
Marcelo Rebelo de Sousa era o meu candidato. Por isso mesmo, devo dizer que a
minha exigência pessoal para com o seu exercício da presidência da República
será maior do que seria com qualquer outra pessoa no cargo. A bem de Portugal e
dos portugueses, desejo-lhe as maiores felicidades como Presidente da República
de Portugal.