No passado mês de
Dezembro cumpriram-se 75 anos sobre um dos mais célebres episódios militares da
História, o ataque japonês a Pearl Harbour na ilha havaiana de Oahu, que ditou
a entrada dos EUA na II Guerra Mundial. Neste ataque surpresa foram destruídos
vários couraçados, tendo sido severamente danificados vários outros couraçados,
contratorpedeiros e cruzadores, e morreram mais de 2.400 americanos. Este
episódio tem sido abordado quer na literatura, quer no cinema, sendo hoje bem
conhecido, tal como as suas consequências que acabaram por levar à rendição do
Japão após o lançamento das bombas atómicas em Hiroshima e Nagasaki em Agosto
de 1945.
O ataque a Pearl
Harbour teve um estratega, o Almirante japonês Isoroku Yamamoto. Após o ataque,
fez um comentário em que referia “recear que apenas tivesse acordado um gigante
adormecido”. E Yamamoto sabia do que falava. Apesar de considerado um sucesso,
na realidade não estava nenhum porta-aviões americano em Pearl Harbour, os
submarinos não foram danificados e os depósitos de combustível também escaparam
e ele sabia o que isso significava. Quando jovem Yamamoto foi para os EUA onde
estudou na Universidade de Harvard então, como hoje, uma das universidades mais
prestigiadas. Aí, a sua percepção do mundo mudou certamente da visão
imperialista e fechada da filosofia medieval da “honra” dos samurais para uma
abertura cosmopolita, mudança que terá sido ainda acentuada pelas suas funções
posteriores de Adido Naval em Washington.
Por tudo isso era
um opositor declarado à entrada do Japão em guerra com os EUA. Além de que,
sendo um profundo conhecedor desse país onde vivera tantos anos, sabia
exactamente o que significaria para o Japão entrar em conflito militar com os
EUA. Por causa dessas suas posições, a sua vida ficou mesmo em perigo junto da
clique militarista que rodeava o Imperador pelo que, se a nomeação como
Comandante-chefe da Frota Combinada foi uma boia de salvação momentânea,
colocou-o também na posição de responsável estratégico pela preparação do
início da guerra com os EUA. E planeou um ataque de forma a infligir o máximo
de estragos à Marinha Americana no Pacífico de uma só vez, prevendo a
utilização de centenas de aviões transportados em porta-aviões, numa tática
moderna até aí não utilizada. Os militares americanos falharam aqui
redondamente porque, por um lado acreditaram que não haveria ataque sem prévia declaração
de guerra e, por outro lado, não acautelaram devidamente a hipótese de ataque
aero-naval combinado à distância que, no entanto, tinha sido previsto e
analisado em pormenor pelo próprio Yamamoto enquanto fazia a sua preparação na
América.
Yamamoto sabia que
o ataque a Pearl Harbour, celebrado como uma grande vitória no Japão, havia
sido um fracasso estratégico. Tal veio a confirmar-se seis meses depois num dos
piores desastres navais da História, a batalha naval de Midway, em que quatro porta-aviões
japoneses foram afundados pela Marinha Americana utilizando precisamente os
seus porta-aviões que tinham escapado ao ataque de Pearl Harbour e que, mais
uma vez, Yamamoto tentava destruir. O poderio naval japonês ficou praticamente
anulado comprometendo definitivamente as aspirações de domínio do Pacífico pelo
Império do Sol Nascente e colocando o Japão ao alcance dos aviões americanos. Em
Abril de 1943, Yamamoto seria vítima de uma missão da aviação americana
designada apropriadamente “vingança” que visou deliberadamente o abate do avião
em que se deslocava quando fazia uma visita às Ilhas Salomão.
Antes de Pearl
Harbour Yamamoto tinha avisado o governo japonês de que, depois de entrar em
guerra com os EUA, estes demorariam entre seis meses a um ano a virar a sorte
da guerra contra o Japão. Não conseguindo demover o seu governo, trabalhou
depois para conseguir o máximo de eficácia naval com vista a obrigar os
americanos a negociar a paz. Foi assim que delineou o ataque a Pearl Harbour e,
depois às Ilhas Midway para eliminar a Marinha Americana e conseguir um domínio
sobre todo o Pacífico.
A batalha de Midway ainda hoje é estudada pelos oficiais
de marinha e, embora os comandantes americanos chefiados pelo Almirante Nimitz
tenham tido uma acção notável, não pode deixar de se pensar que a sorte teve
também um papel essencial no resultado.
E Yamamoto ficou
igualmente na História como um militar excepcional que, no entanto, colocou
toda a sua competência e conhecimento ao serviço de uma política infame, com a
qual aliás nem concordava, ligando a sua sorte ao destino dos criminosos
imperialistas japoneses.