segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

2017: Corridas em vias paralelas




 Entrámos num ano que já todos sabemos de antemão ir ser cheio de dificuldades, dramas e mesmo confusões um pouco por todo o mundo. Depois de um ano em que por todo o lado se tentou abafar ou apenas esconder a realidade dos cidadãos, os resultados dos erros e mentiras vão surgir à luz do dia e, em muitos casos, não deverão ser bonitos de se ver. Como se houvesse uma parte do mundo que tenta viver dentro de um conforto habitual, enquanto outra parte resolveu acelerar e partir para outra realidade que não tem nada a ver com aquela e que corre noutra faixa.
As mudanças trazidas pela eleição de Donald Trump nos EUA vão ser catalisador para muitas alterações no xadrez mundial e que ninguém pense que só terão implicações internas. O eixo que já se vê em formação entre a Rússia e a América irá ter grandes implicações económicas e, sobretudo, políticas. A auto-defesa dos dois gigantes vai colocar um travão na globalização, o que de imediato provocará reacção da actual grande fornecedora mundial de bens de consumo que é a China. O exercício de António Guterres do cargo de Secretário Geral das Nações Unidas vai ser muito mais difícil do que se poderia supor e só podemos esperar que ele tenha mudado muito nos últimos quinze anos depois da fuga do “pântano”, para que esse exercício seja um êxito, como todos desejamos.

Na Europa, as eleições francesas já em Abril/Maio e as alemãs no Outono, trazem os responsáveis europeus em fuga constante da realidade, esperando não agitar muito as águas para evitar resultados catastróficos para a União. A presidência de François Hollande, a todos os títulos lamentável, colocou Marine Le Pen ainda mais perto de ser presidente da França do que nas últimas eleições, obrigando a exercícios de malabarismo por todas as outras forças políticas. Por toda a Europa se reza aos santinhos para que Angela Merkel vença as eleições alemãs, mesmo por muitos cuja principal diversão nos últimos anos foi insultá-la e desfazer na sua política. O que se passou nos patéticos referendos na Grã-Bretanha e na Itália não é de molde a sossegar ninguém, não se percebendo como o governo inglês e a Comissão Europeia continuam a assobiar para o lado, fingindo não ver o enorme monstro que ali está a olhar para eles.
Em Portugal, parece haver igualmente duas realidades que correm lado a lado. Para satisfação dos burocratas da União Europeia, o país apresenta um número de défice de 2016 que lhes evita terem que tomar decisões sempre difíceis, principalmente numa altura em que aquilo de que querem menos ouvir falar é em mais sarilhos.
 Que o número seja atingido com o desaparecimento do investimento público que é, em função do PIB, só o mais baixo dos últimos 60 anos e que os serviços públicos como a saúde e a educação penem com dificuldades financeiras inauditas, isso não é obviamente o problema deles. Já o crescimento da dívida a um ritmo de 40 milhões de euros por dia em todos os dias de 2016 deveria preocupá-los, mas lá está, desde que o défice se cumpra, “no problem”. E para manter as taxas de juro num valor aceitável, o Banco Central Europeu lá vai dando diariamente o seu copinho de metadona aos viciados em dívida através da compra maciça de dívida pública, enganando a realidade, evitando reformas e assim comprando problemas ainda maiores no futuro, com os “malvados mercados” sempre à espreita.
Como o discurso do maior partido da Assembleia da República, circunstância que o facto de estar na oposição não anula, é altamente inconveniente porque não tem alinhado com esta realidade correndo na sua própria pista, abriu a caça à sua liderança. Como argumentos, nada melhor que acenar com sondagens em que hoje em dia ninguém acredita e salientar dificuldades na preparação das autárquicas que serão só no próximo Outono. Quando surge um pouco mais de política nos discursos, lá surge o estafado argumento de que o PSD já não é verdadeiramente social-democrata e que agora está muito liberal. Parece que voltámos aos tempos da caça a Sá Carneiro, desde os tempos do grupo de Sá Borges em 75 até aos inefáveis “Inadiáveis” de Abril de 79 que, curiosamente, viram a AD ter maioria absoluta em Dezembro do mesmo ano, todos eles sempre a bater nessa mesma tecla.

O ano de 2017 não vai ser fácil para ninguém, por mais sorrisos que se mostrem em público. Só podemos fazer votos para que Trump e Putin não façam demasiados disparates, que a União Europeia sobreviva aos resultados eleitorais em França e na Alemanha e que, entre nós, se consiga fugir a um destino que parece traçado e por que tantos anseiam, já que os seus esforços para que tal suceda são enormes e permanentes.

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