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terça-feira, 18 de junho de 2019
segunda-feira, 17 de junho de 2019
SER CONSERVADOR, HOJE
As alterações que estão a
acontecer em todo o mundo, surgidas após o fim da chamada “guerra fria” que, bem
vistas as coisas, já acabou há trinta anos mas também da globalização que se
lhe seguiu e da velocidade com que a tecnologia informática toma conta da
economia e do nosso dia-a-dia, sugerem cada vez mais que devemos adoptar uma
postura conservadora perante a realidade.
A economia sofreu uma
“financeirização” que se traduz num peso crescente do sector financeiro,
nomeadamente da banca de investimento, que se afastou há muito das necessidades
de financiamento da restante economia para viver de si e para si. E mal se
compreende que, perante dificuldades que são da sua própria responsabilidade, a
banca seja hoje em dia sistematicamente “salva” pelos impostos dos cidadãos,
numa demonstração obscena de “privatização dos lucros e socialização dos
prejuízos”. Trata-se de uma das áreas em que é cada vez mais aconselhável adoptarmos
uma atitude defensiva, com a noção de que as transformações em curso na banca
não estão a trazer benefícios para os cidadãos na sua vida, antes pelo
contrário.
Mas as actividades
económicas também estão a trilhar caminhos que não são os melhores, favorecendo
o desperdício com a generalização do “usar e deitar fora”. Tal é perfeitamente
visível no vestuário em que uma poderosa indústria de marketing leva os
consumidores a comprar sucessivamente peças que rapidamente deixam de se usar
para substituir por outras a que rapidamente acontecerá o mesmo. As
necessidades são artificialmente criadas, criando mercados que de outra forma
nem existiriam. A roupa de qualidade feita para durar é substituída por roupa
comprada à tonelada na China e outros países do Oriente que mal pagam aos operários,
muitas vezes crianças. A transição das lojas de rua para os shoppings que, a
meu ver erradamente, estão abertos todos os dias da semana, ajudou a este
efeito nefasto para toda a gente, excepto para os negociantes deste tipo de
roupa que, rapidamente, atingem o patamar das maiores fortunas do mundo.
E o ambiente também sofre
com esta evolução. O desperdício gigantesco gerado por este tipo de economia é
um peso morto que cada vez custa mais a fazer desaparecer. A chamada “economia
circular” é uma designação simpática para algo que sempre se fez, quando as
dificuldades económicas eram gerais e era preciso poupar e fazer render tudo,
como as pessoas das aldeias bem faziam desde há milénios. A recuperação do
conceito, com novas roupagens, é positiva se acompanhada por uma efectiva
consciencialização ambiental e não for tomada como mais uma nova forma de
manipulação.
O ambiente em que a
humanidade se desenvolveu e cresceu já não tem nada a ver com o que era e isso
deve-se, essencialmente, à acção do homem. A obrigação de todos nós, dentro das
nossas possibilidades, é tentar que as gerações vindouras venham a ter, pelo
menos, a qualidade ambiental que recebemos; a apropriação da defesa do ambiente
por parte de algumas posições ideológicas é mais uma das contradições do nosso
tempo, que temos de denunciar porque contrária a toda a prática efectiva, como
foi possível verificar pelo altíssimo grau de poluição ambiental existente em
toda a Europa oriental aquando da libertação democrática.
A revolução das tecnologias
de informação em curso pode significar uma das maiores ameaças à liberdade
individual. As redes sociais e a Google parecem muito simpáticas mas, às
escondidas, já sabem mais sobre nós, os nossos hábitos e as nossas necessidades
do que nós próprios. E transformam essa informação em dinheiro, para eles,
claro, enquanto nos vão transformando em marionetas formatadas e controladas à
distância.
O respeito pelo passado
significa preocupação e também respeito pelos que virão depois de nós. Não
podemos ter complexos relativamente à denúncia do que está actualmente
terrivelmente mal e que está a estragar o que havia e ainda há de bom.
E será a Cultura, que não
tem a ver com a poderosa indústria do entretenimento nem com a massificação do
turismo, que nos dará as chaves da lucidez perante os actuais desafios, que não
podem ser enfrentados com as dicotomias políticas a que estamos habituados, porque
transversais à sociedade.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 17 de Junho de 2019
sexta-feira, 14 de junho de 2019
quarta-feira, 12 de junho de 2019
Ainda as trapalhadas de Berardo, Sócrates, Santos Ferreira, Constâncio e cia. lda.
Isto foi escrito no blog Impertinências há dez anos:
"A estória é conhecida. Joe Berardo compra acções do Millenium bcp com empréstimos, primeiro da Caixa (onde à época era presidente Santos Ferreira, o actual presidente do Millenium bcp que sucedeu a Filipe Pinhal, homem de confiança de Jardim Gonçalves), do BES (por esta e por outras razões Filipe Pinhal escreveu o que escreveu sobre Ricardo Salgado, o banqueiro do regime socialista) e do Santander. Depois do afastamento da administração Filipe Pinhal, o próprio Millenium bcp financiou Berardo na compra de mais acções do próprio banco. Santos Ferreira reeditava assim um processo semelhante ao de Jardim Gonçalves.
A coisa correu mal porque as acções do Millenium bcp, que Berardo deve ter comprado a um preço médio de cerca de 2 euros, foram caindo até quase 50 cêntimos. Correu mal para Berardo e para os bancos que o financiaram, a quem Berardo tinha oferecido como garantia as próprias acções do bcp. O Santander, que não faz parte complexo político-empresarial socialista português (nem do espanhol), perante a insuficiência da garantia exigiu um reforço e dispunha-se a executar a dívida se tal não acontecesse. Pelo caminho Berardo ofereceu como garantia, que o Santander recusou mas os bancos do regime aceitaram, a colecção de arte que o governo de Sócrates alojou no CCB a expensas dos sujeitos passivos.
O desfecho do episódio, revelado pelo Expresso e não desmentido por Berardo, foi o Millenium bcp, cujo Conselho de Remunerações é presidido por Berardo, prestar uma garantia à primeira interpelação (on first demand) ao Santander, pessoalmente aprovada por Santos Ferreira, que já tinha aprovado empréstimos, primeiro na Caixa e depois no Millenium bcp.
Que este emaranhado de conflitos de interesse pareça normal neste país é apenas um sintoma de como o governo de José Sócrates contribuiu para tornar este país ainda mais anormal."
Como é que anda para aí tanta gente agora desmemoriada e muito admirada com o que se passou é que me surpreende. Como não compreendo que se continue a votar no mesmo partido (e em parte, mesmas pessoas). Se calhar é mesmo verdade que "les portugais sont toujours gais"
"A estória é conhecida. Joe Berardo compra acções do Millenium bcp com empréstimos, primeiro da Caixa (onde à época era presidente Santos Ferreira, o actual presidente do Millenium bcp que sucedeu a Filipe Pinhal, homem de confiança de Jardim Gonçalves), do BES (por esta e por outras razões Filipe Pinhal escreveu o que escreveu sobre Ricardo Salgado, o banqueiro do regime socialista) e do Santander. Depois do afastamento da administração Filipe Pinhal, o próprio Millenium bcp financiou Berardo na compra de mais acções do próprio banco. Santos Ferreira reeditava assim um processo semelhante ao de Jardim Gonçalves.
A coisa correu mal porque as acções do Millenium bcp, que Berardo deve ter comprado a um preço médio de cerca de 2 euros, foram caindo até quase 50 cêntimos. Correu mal para Berardo e para os bancos que o financiaram, a quem Berardo tinha oferecido como garantia as próprias acções do bcp. O Santander, que não faz parte complexo político-empresarial socialista português (nem do espanhol), perante a insuficiência da garantia exigiu um reforço e dispunha-se a executar a dívida se tal não acontecesse. Pelo caminho Berardo ofereceu como garantia, que o Santander recusou mas os bancos do regime aceitaram, a colecção de arte que o governo de Sócrates alojou no CCB a expensas dos sujeitos passivos.
O desfecho do episódio, revelado pelo Expresso e não desmentido por Berardo, foi o Millenium bcp, cujo Conselho de Remunerações é presidido por Berardo, prestar uma garantia à primeira interpelação (on first demand) ao Santander, pessoalmente aprovada por Santos Ferreira, que já tinha aprovado empréstimos, primeiro na Caixa e depois no Millenium bcp.
Que este emaranhado de conflitos de interesse pareça normal neste país é apenas um sintoma de como o governo de José Sócrates contribuiu para tornar este país ainda mais anormal."
Como é que anda para aí tanta gente agora desmemoriada e muito admirada com o que se passou é que me surpreende. Como não compreendo que se continue a votar no mesmo partido (e em parte, mesmas pessoas). Se calhar é mesmo verdade que "les portugais sont toujours gais"
terça-feira, 11 de junho de 2019
SNS e ADSE
Vi uma lista de umas centenas de pessoas a exigir o fim das PPP's em Saúde. Curiosamente, muitas delas são funcionários públicos na reforma ou ao serviço. Alguma delas utiliza o SNS? É que, quase certamente, são utentes da ADSE. ADSE que basicamente funciona como um seguro de saúde que permite aos fp fugirem ao SNS e utilizarem o sector privado para resolver os seus problemas de saúde. Eu sei que hoje a ADSE é financiada exclusivamente pelos utentes, mas não é hipócrita quererem para os outros o que não querem para eles? As PPP são um instrumento que o SNS utiliza em alternativa ao investimento público e em que o Estado sistematicamente poupa dinheiro. Por outro lado, têm servido bem as populações locais, como provam os relatórios e mesmo os autarcas que não querem que acabem, curiosamente alguns do PCP e do PS. A existência de algumas PPP (que deverão sempre ser uma excepção e não a regra) tem ainda outra função, que é a de poder comparar com os hospitais públicos e verificar os custos relativos para os mesmos serviços, pondo a nú as ineficiências, desperdícios e deficiências de gestão. Se calhar, por detrás da exigência ideológica contra o privado esconde-se mesmo a vontade de esconder aquilo que se passa em hospitais de gestão pública (que, aliás, Centeno está farto de denunciar para justificar os cortes que faz).
segunda-feira, 10 de junho de 2019
A SAÚDE IMPORTA
O Estado, seja qual for o
quadrante ideológico de onde se observe, tem funções básicas que deve assumir,
sob pena de nem ter razão de existência. Uma delas é garantir serviços de saúde
a todos os seus cidadãos sem discriminações, independentemente das suas
condições socio-económicas ou do local do território nacional onde habitem. E,
se outras funções primordiais são garantidas na Constituição sem que ainda hoje
não passem do papel, como a habitação condigna e outras, a Saúde foi talvez
aquela que o Estado melhor conseguiu cumprir. Imaginar que, por qualquer razão,
um cidadão não veja abrir-se-lhe a porta de um hospital para se tratar, é hoje algo
de inadmissível em Portugal. É por isso que tenho uma dificuldade muito grande
em compreender a facilidade com que se ataca uma das poucas coisas que foram
bem conseguidas em Portugal nas últimas dezenas de anos, o Serviço Nacional de
Saúde.
Mas, como tudo na vida, o
SNS não é algo que se constrói para depois se apreciar de forma estática. Evolui
com a sociedade que deve servir. E está, naturalmente, sujeito às flutuações
políticas e variação das condições do país desde logo pelas necessidades de
financiamento, mas também pela espantosa evolução da medicina e das alterações
demográficas com um acentuado envelhecimento da sociedade.
Notoriamente causados pelas
escolhas políticas que tentam conciliar reposições de rendimentos com controlo
do défice, têm vindo a lume problemas no SNS que não deveriam existir. Se, por
um lado, se diz que aumentou em absoluto a verba orçamental destinada ao SNS,
por outro lado, essa verba desceu em função do PIB. E essa verba tem que
responder à redução do horário das 40 para 35 horas semanais, o que significa
um aumento salarial implícito de 12,5%, mas também a necessidade de compensar
as horas de trabalho desaparecidas com novo pessoal, o que permite ao governo
dizer que aumentou o número de pessoas a trabalhar no SNS. Será verdade, só que
não significa qualquer aumento de capacidade de resposta havendo, antes pelo contrário,
notícias cada vez mais frequentes de esgotamento de médicos e enfermeiros.
Claro que, perante este quadro, teve que haver compensação com diminuição de
despesa em algum lado, como as Finanças exigem para mostrar um défice simpático
à União Europeia. Essa diminuição entrou por todas as frinchas do SNS através
das cativações e da redução radical do investimento, de que a ala pediátrica do
Hospital de S. João no Porto é apenas um conspícuo, mas triste e lamentável
exemplo. Todos os hospitais do SNS estão a sofrer com os cortes radicais de
despesa, seja com adiamentos inadmissíveis nas consultas, tratamentos e cirurgias,
inclusive na área da oncologia, seja na necessidade de o SNS recorrer ao resto
do Sistema de Saúde, por completa falta de capacidade de resposta. O
racionamento nas reparações de equipamentos e mesmo na aquisição dos produtos
mais básicos para diagnósticos e tratamentos é um facto que já não se consegue
esconder.
A excessiva centralização da gestão dos hospitais pode garantir o
co
ntrolo orçamental, mas tem como consequência uma deterioração da oferta, quer
em quantidade quer, pior que isso, em qualidade. E a produtividade confunde-se
muitas vezes com controlo de assiduidade, numa demonstração de falta de capacidade
de gestão já que, na verdade, quem ainda mantém o SNS a funcionar, apesar de
tudo, são os seus trabalhadores que não são escolhidos pela cor política, ao
contrário do que cada vez mais se verifica nas chefias.
Perante a actual situação de
carências de toda a ordem do SNS, sectores políticos elegeram como prioridade
cortar toda a possibilidade de o SNS recorrer a outros sectores do Sistema de
Saúde, nomeadamente através de parcerias público-privadas que, nesta área, e ao
contrário de outras, até têm dado bons resultados. Estão no seu direito,
deverão é ser responsabilizados pela queda da qualidade da oferta de saúde às
populações servidas.
O SNS é tão importante para
os cidadãos em geral, que direitas e esquerdas estão convocadas para criarem as
condições de sustentabilidade que o permitam manter com a maior e melhor
capacidade possível, não estragando o que foi resultado de trabalho de tantos.
Publicado originalmente na edição do Diário de Coimbra de 10 de Junho de 2019
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