segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Os microfones são (mesmo) inflamáveis


Enquanto batia com o dedo esticado no microfone do jornalista que lhe fazia perguntas incómodas, o ministro da Administração Interna respondia que o microfone também era inflamável. Mal ele, nesse momento, imaginaria a razão que lhe assistia nessa afirmação.
O hábito de os governantes “matarem os mensageiros” que lhes trazem más notícias vem de muito longe. Conta-se que o rei da Pérsia Dario III matou Charidemos com as suas próprias mãos quando este lhe veio comunicar a notícia da derrota do seu exército contra o de Alexandre III da Macedónia na batalha de Issus.
Ao fazerem perguntas aos governantes, os jornalistas colocam-nos frequentemente na situação de terem que assumir erros e, quando tal sucede, normalmente o problema até morre aí. Sucede que por vezes, ao levantarem uma situação que se pode considerar menor ou mesmo caricata, os jornalistas entreabrem apenas uma porta por onde, de repente, começam a sair grandes questões que a escancaram por completo, deixando à vista aquilo que se queria esconder.
A arrogância do ministro levou-o a tratar a questão das golas incluídas no kit de protecção do “Programa Aldeias Seguras- Pessoas Seguras” de uma forma desastrada agredindo verbalmente os jornalistas e fisicamente o microfone que estava à sua frente. Em vez de assumir um erro que seria imediatamente corrigido justificando, como habitualmente se faz, com um lapso, levou a comunicação social a esgravatar no assunto, como lhe compete num regime livre e democrático.
A partir daí foi um não parar de surgir coisas estranhas à luz do dia. Claro que as golas são feitas de poliester, um material inadequado para o que que quer que seja que tenha a ver com o fogo. Mas a seguir descobriu-se que o fornecedor está relacionado com o partido do Governo por ligações familiares e, pior, que o preço pago era mais do dobro do corrente para aquele tipo de material. Começou então um jogo de passa-culpas entre o secretário de Estado da área, antigo presidente da Câmara de Arouca, e a Autoridade Nacional de Protecção Civil a que se seguiu a demissão do elo mais fraco da história. Neste caso foi um adjunto do governante, arvorado em “técnico especialista”, quando antes era padeiro na pastelaria do cunhado mas, mais importante, presidente da concelhia do partido em Arouca. Contudo, a questão não morreu com a queima do adjunto “fusível”. A seguir vieram os negócios com o Estado do filho do governante, ilegais face à lei em vigor, quer se concorde ou não com ela.
Quando se esperava a demissão do secretário de Estado eis que, para espanto geral, o governante faz emitir um comunicado onde informa não se demitir, por não ver nada de ilegal no que aconteceu. A comunicação social continuou a tentar perceber as razões de tanta energia nesse comunicado e eis que se descobre que, afinal, a saída do sec. Estado teria implicações políticas enormes. Na mesma situação estariam vários ministros com familiares directos, desde pais a cônjugues, com contratos com o Estado, quando a lei em vigor prevê a demissão de governantes que tenham familiares com contratos com entidades públicas.
Foi o momento de destacar o ministro dos Negócios Estrangeiros, com a sua notória capacidade de argumentação que veio misturada com uma dose de cinismo q.b., explicando que seria absurdo interpretar a lei em causa, a das incompatibilidades, de forma literal. Assim deu nova roupagem à velha frase “para os amigos tudo, para os outros, a lei” já que, se há lei clara e concreta, é precisamente aquela. E atirou para a exclusividade da Justiça uma questão que é, antes do mais, do foro da ética.
Pois é, senhor ministro Eduardo Cabrita. A verdade é que os microfones dos jornalistas são de tal forma inflamáveis que, neste caso, deram origem a um incêndio político que ninguém do partido do governo a que pertence desejaria a dois meses das eleições. E que só existiu devido ao tremendo hábito de alguns governantes preferirem “matar o mensageiro” em vez de lidarem honestamente com a realidade, o que só pode piorá-la como mais uma vez se comprova.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 5 de Agosto de 2019

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

A garagem de Ralph Lauren

PSD e sondagens desde 2016

Fui fazer um levantamento dos resultados das sondagens relativas ao PSD desde as eleições de 2015.
A aliança entre PSD e CDS teve nessas eleições uma votação de 36,86%  (o PSD terá andado pelos 30/31%) e o PS conseguiu 32,31%.
A partir daí, as sondagens deram ao PSD sucessivamente:
Outubro 2016: 30,7%
Junho 2017: 29%
Dezembro 2017: 28%
Março 2018: 27% (Rui Rio foi eleito em Fevereiro 2018)
Setembro 2018: 24%
Janeiro 2019: 25%
Julho 2019: 20%

Só podemos esperar que a liderança consiga inverter esta tendência para o desastre nos próximos dois meses, sendo as eleições em 6 de Outubro ou então, como defende RR, que as sondagens estejam todas erradas e ele esteja certo.