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quinta-feira, 14 de novembro de 2019
segunda-feira, 11 de novembro de 2019
ÀCERCA DE MUROS
Os muros que separam comunidades são um símbolo do pior de
que a raça humana é capaz. E, infelizmente, há-os para todo os gostos. Desde a
Grande Muralha da China com os seus 6.000 km de extensão e que é hoje apenas
uma atracção turística, até aos muros com que os presidentes americanos Clinton,
Obama e agora Trump têm vindo a tentar impedir a entrada clandestina de
mexicanos nos EUA, passando pelo muro da Cisjordânia, há-os para todos os
gostos.
Mas a História recente regista um que deveria fazer pensar
duas vezes todos aqueles que sonham com a capacidade dos muros para reter a
liberdade das pessoas. Ao contrário dos outros, cuja edificação encontra sempre
como justificação proteger “os de dentro e o seu sistema de vida contra “os de
fora” que os pretenderão invadir, o Muro de Berlim, dissessem os seus
construtores o que dissessem, só teve um objectivo: impedir os berlinenses de
sair, abandonar o regime que os oprimia.
Após o fim da hecatombe europeia da Segunda Guerra Mundial,
Estaline aproveitou os avanços militares dos seus exércitos a caminho de Berlim
e forçou, pela força e sem qualquer respeito pela vontade democrática dos
respectivos povos, o estabelecimento de regimes comunistas por toda parte
oriental da Europa. Apenas escapou a Grécia depois de uma guerra civil entre
1946 e 1949, porque as potências ocidentais apoiaram as forças democráticas
contra os comunistas que, também na Grécia, tentavam tomar o poder pela força
das armas. Sobre o Leste da Europa caiu o que Churchill chamou uma “cortina de
ferro desde Stettin no Báltico até Trieste no Adriático”. Acerca do que se
passou na Europa nesses tempos escuros da 2ª Grande Guerra e dos que se
seguiram no leste europeu, não há como ler a história do camponês romeno Johann
Moritz descrita no notável romance “A 25ª Hora” de Virgil Gheorghiu.
Na Conferência de Potsdam a Alemanha derrotada foi dividida
entre as potências vencedoras. A partir de 1947 as zonas americana, britânica e
francesa constituíram a República Federal da Alemanha, enquanto a parte de
influência soviética se manteve à parte, dominada pelo partido comunista, na
República Democrática Alemã. A capital, Berlim, ficou dentro da RDA, mas ficou
também dividida em duas partes, à semelhança do resto do país. Com surpresa, os
berlinenses acordaram no dia 13 de Agosto de 1961 para descobrirem que, desde a
madrugada, a RDA estava a construir um muro dentro da cidade, assim separando
milhares de famílias. O regime comunista conseguia assim, na prática, estancar
a sangria de mais de 3 milhões de alemães de leste que tinham fugido para o
ocidente, em boa parte através da parte ocidental de Berlim. O muro de Berlim
ficou tristemente célebre pela sua agressividade ostensiva e pela ordem de
atirar a matar sobre toda e qualquer pessoa que o tentasse ultrapassar,
situação trágica que sucedeu muitas vezes, algumas das quais ficaram
testemunhadas para sempre, através de registos fotográficos dramáticos.
Ficou célebre a frase do presidente americano John Kennedy
ao visitar Berlim em Junho de 1963 para manifestar o apoio do mundo ocidental
aos berlinenses sitiados: "Ich bin ein Berliner" ("Eu sou
um berlinense", em alemão).
O “Muro de Berlim”, símbolo máximo da “Guerra Fria”, durou
até 1989. Nesse ano, em que se comemoravam os 40 anos da RDA, o presidente
soviético Gorbatchov visitou Berlim em Outubro, avisando o seu homólogo da RDA
sobre a necessidade de acompanhar os tempos o que, poucos dias depois, levou à
demissão de Honecker. No meio de imensa confusão em todo o bloco soviético, com
países a decidirem ir para eleições, o seu sucessor, Egor Krenz viu-se
envolvido num turbilhão de movimentos de rua e perdeu a mão da situação. A
verdade é que nem a tristemente célebre polícia política comunista, a Stasi,
que controlava a sociedade da RDA com mão de ferro através de mais de 90.000
colaboradores directos e de cerca de 180.000 informadores, isto num país com 16
milhões de habitantes, conseguiu garantir o controlo.
E, no dia 9 de Novembro de 1989, passam agora trinta anos,
aconteceu o que, três meses antes, ninguém seria capaz de prever: a população
berlinense literalmente saltou para cima do Muro e, de todas as formas,
destruiu-o em pouco tempo, perante a passividade e espanto dos polícias,
mudando o mundo já que, depois disso, nada mais foi como dantes em toda a
Europa e mesmo no mundo, numa História ainda a fazer-se.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra de 11 de Novembro de 2019
sábado, 9 de novembro de 2019
sexta-feira, 8 de novembro de 2019
segunda-feira, 4 de novembro de 2019
DA REPRESENTAÇÃO POLÍTICA DOS PORTUGUESES
Das últimas eleições saíram dez partidos com representação
parlamentar, um número até hoje nunca visto. Como novidades entraram o Livre, a
Iniciativa Liberal e o Chega, cada um com um representante. O PAN surpreendeu
ao obter 4 lugares, apenas menos um que o CDS que viu a sua representação
diminuída em treze lugares. Já o PSD perdeu dez lugares, ficando com 79
deputados. O BE manteve os seus 19 lugares, tendo a CDU perdido cinco lugares e
ficando com 12 deputados. O PS, ao ser vencedor das eleições, obteve mais vinte
e dois lugares ficando o seu grupo parlamentar com 108 deputados. Sobre quem
ganhou e perdeu, estes são os números.
Contudo, os números têm ainda outros significados, para além
da conversa habitual para enganar crédulos que é afirmar que o eleitorado quis
isto ou aquilo. Um significado profundo é o da abstenção que subiu a um valor
nunca antes visto, acima de metade do eleitorado: 51,43%. Pese embora se pressinta
um empolamento artificial dos cadernos eleitorais, é certo que há uma grande
parte de eleitores que não participam nesse momento crucial da vida
democrática, que são as eleições.
Como resultado das eleições, tudo mudou. O partido
Socialista é, desta vez, o maior partido e o PSD o segundo, numa alteração
radical da situação. Embora não tenha tido a almejada maioria absoluta, desta
vez o PS sente que está à vontade para governar, não necessitando de firmar
acordos escritos com os partidos que o apoiaram durante a anterior legislativa.
Basta-lhe lembrar, como o fez com completa clareza o ministro Santos Silva no
encerramento do debate do programa do Governo, e cito: "Só é possível retirar as condições básicas
de governação ao Governo do PS através da constituição de uma coligação negativa e contranatura entre o
centro-direita e direita e
todas as forças à esquerda do PS - e todos sabemos, na maioria parlamentar, que
isso seria uma traição ao nosso eleitorado".
Isto é, o PS sente-se finalmente na confortável situação de
ser o fiel da balança da democracia portuguesa que desde sempre almejou. Se na
anterior legislatura os acordos foram com a esquerda apenas para evitar o
governo da direita, nesta nova situação o PS considera-se o centro, o que lhe
permite ir acordando à esquerda ou à direita. Entretanto vai fazendo juras de
amor com a esquerda que lhe proporcionou a vantagem da paz nas ruas e nos
sindicatos nos últimos quatro anos, pelo que serão de prever negociações, mas
desta vez privadas.
O que nos traz à situação da direita, principalmente do PSD,
já que o CDS está com outros problemas que têm mais a ver com a sobrevivência a
curto prazo.
A questão do défice, que foi motivo de discussão e de
querela ideológica durante todo o século XX, foi finalmente ultrapassada por
força da pertença à União Europeia e ao Euro. À sua maneira, claro, o PS aderiu
às “boas contas” e mesmo o resto da esquerda fala agora apenas em evitar
grandes excedentes orçamentais que coloquem o investimento em causa, como o
disse o BE no Parlamento. Isto é, deixou de ser uma bandeira típica da direita
para ser hoje um consenso. Se houve alguma vantagem trazida pela “Geringonça”,
esta não será certamente a menor.
O PSD está, assim, perante uma situação completamente nova,
tendo que se assumir como alternativa ao PS, eliminando todo e qualquer
sentimento de que lhe possa servir de “muleta” como fizeram o BE e o PCP
durante 4 anos inteiros. Não poderá nunca deixar que se instale a ideia de que
o PS é o centro do regime e terá que encontrar os temas que lhe permitam
afirmar-se como a alternativa ao PS, sem o que se verá reduzido à irrelevância.
Até porque o sistema mexicano de um grande partido ao centro produz a
normalidade de que hoje tanto se fala como necessária, mas normalidade essa que
foge à mudança, não produz crescimento que se veja e só ajudará a esse lento
deslizar que já está a levar Portugal para o lugar de “lanterna vermelha” da
Europa.
Desenho reproduzido do jornal Público
Desenho reproduzido do jornal Público
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 4 de Novembro de 2019
Poupar na (des)educação
Houve um tempo em que se dizia qualquer coisa como isto: se pensas que a educação é cara, experimenta um mundo sem educação.
Agora parece que as contas socialistas sobre educação andam nisto.
Agora parece que as contas socialistas sobre educação andam nisto.
domingo, 3 de novembro de 2019
sábado, 2 de novembro de 2019
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