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domingo, 8 de dezembro de 2019
segunda-feira, 2 de dezembro de 2019
Lembrar Sá Carneiro, um político diferente
Na noite de 4 de Dezembro de 1980 encontrava-me na Base
Naval do Alfeite, sendo Oficial de Dia no Comando da Flotilha de Patrulhas, por
cumprir nessa altura o Serviço Militar Obrigatório na Marinha Portuguesa como
Oficial da Reserva Naval. Depois do jantar encontravamo-nos três pessoas a ver
a televisão na sala, eu próprio, um 1º Tenente e um Sargento quando surgiu a
notícia de um acidente com um avião em Camarate, tendo morrido o
primeiro-Ministro Sá Carneiro. Instantaneamente os outros dois homens levantaram-se,
abraçaram-se de satisfação e literalmente saltaram pela sala fora a comemorar a
notícia. Quanto a mim, restou-me sair para o exterior, absorvendo o ar frio da
noite para tentar acalmar o espírito perante a trágica notícia e a cena inclassificável
a que acabara de assistir.
Faltavam três dias para as eleições presidenciais em que se
confrontavam os generais Ramalho Eanes que se candidatava à reeleição e Soares
Carneiro, apoiado pela AD liderada por Sá Carneiro que havia vencido as
eleições parlamentares pela 2ª vez com maioria absoluta dois meses antes, em 5
de Outubro. As sondagens indicavam uma muito provável vitória de Eanes, face
aos restantes candidatos de que apenas Otelo Saraiva de Carvalho poderia
sobressair, mas não aparecendo qualquer candidato directamente apoiado pelo PS
e pelo PCP que apostavam, assim, na reeleição de Ramalho Eanes. Isto, apesar da
relação tensa (para dizer o mínimo) entre Soares e Eanes e de em 1976, ainda na
sequência do 25 de Novembro, os comunistas terem sido os maiores opositores de
Eanes.
Com a queda do pequeno avião em Camarate, caíam também por
terra as últimas esperanças da AD em obter «um Presidente, uma Maioria, um
Governo» como era desejo expresso de Sá Carneiro, que corporizava aquele
projecto.
O desaparecimento de Sá Carneiro no acidente de Camarate
cortou uma carreira política que acabou por ser curta, mas de uma intensidade
rara, mostrando como a política pode ser exercida de uma forma assumidamente
disruptiva, tendo sempre em mente objectivos concretos e não aceitando situações
dúbias ou mesmo falsas que pudessem colocar em questão os valores fundamentais
subjacentes. Foi assim antes do 25 de Abril quando aceitou integrar as listas
do partido único de então para formar a chamada «ala liberal», com um programa
concreto de exigências prévias sobre liberdades individuais e de imprensa. Ao
ver a impossibilidade de obter o pretendido, demitiu-se com estrondo da então
Assembleia Nacional, cortando todos os laços com o regime.
Foi também assim depois do 25 de Abril, com a fundação do
PPD e lutas imediatas internas e externas. Externamente, rejeitou em absoluto a
hipótese de a Democracia poder ser tutelada pelos militares, bem como o domínio
«popular» das esquerdas revolucionárias sobre o voto livremente expresso pelo
povo em eleições livres, logo após as eleições para a Constituinte em 1975. Tal
como não admitiu que a Igreja, nomeadamente através do Cardeal Patriarca, se
imiscuísse na sua vida privada alinhando em campanhas sórdidas que misturavam
política e religião. Internamente, viu-se permanentemente atacado, praticamente
desde a fundação do partido, por vagas sucessivas de «verdadeiros
social-democratas» que o acusavam de desvios «liberalizantes» ou mesmo
direitistas. Desde Sá Borges, logo em 1975, até às «opções inadiáveis» em Junho
de 1978 que antecederam a formação da Aliança Democrática em que, pela primeira
vez, o PSD viria a aceder ao poder através da escolha democrática da maioria
dos portugueses.
Sá Carneiro não foi um homem santo, nem um político perfeito
e, como todos nós, muitos erros terá cometido na vida. Mas algo fez muitíssimo
bem. Corporizou como poucos políticos os anseios dos portugueses, lutou com
denodo pelo que acreditava, quer em oposição, quer ao exercer o poder. E viveu
a vida em grande velocidade e com intensidade máxima. Só por isso merece aqui
ser recordado, na passagem de 39 anos sobre o seu desaparecimento.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra, em 2 de Dezembro de 2019
domingo, 1 de dezembro de 2019
quarta-feira, 27 de novembro de 2019
FACTURA DE ELECTRICIDADE
A propósito dos encargos excessivos que os portugueses suportam com a electricidade, aqui fica um exemplo concreto:
Valor total a pagar : 108,63€
Dos quais,
- valor a pagar à empresa fornecedora pelo consumo feito: 59,75€ (55% do total)
- potência contratada: 23,13€
- contribuição audiovisual: 6,04€ (incluindo IVA!!!!!)
- taxas e impostos: 19,71€
Isto é uma perfeita pouca-vergonha que deve ser alterada já no OGE para 2020, diminuindo os impostos sobre a a electricidade doméstica.
Valor total a pagar : 108,63€
Dos quais,
- valor a pagar à empresa fornecedora pelo consumo feito: 59,75€ (55% do total)
- potência contratada: 23,13€
- contribuição audiovisual: 6,04€ (incluindo IVA!!!!!)
- taxas e impostos: 19,71€
Isto é uma perfeita pouca-vergonha que deve ser alterada já no OGE para 2020, diminuindo os impostos sobre a a electricidade doméstica.
terça-feira, 26 de novembro de 2019
segunda-feira, 25 de novembro de 2019
25 NOVEMBRO 75
No dia 20 de Novembro o Conselho de Revolução afastou Otelo
Saraiva de Carvalho da chefia da Região Militar de Lisboa, nomeando Vasco
Lourenço em sua substituição. Era a continuação dos acontecimentos de Agosto em
que na célebre Assembleia Geral de Tancos de 1 de Setembro Vasco Gonçalves,
destituído de primeiro-ministro no dia anterior, foi igualmente afastado de
Chefe de Estado Maior das Forças Armadas. O chamado Documento dos Nove apresentado
em 7 de Agosto, cujo principal autor era Melo Antunes, fazia o seu caminho nas
Forças Armadas e no MFA, tentando pôr cobro a um caminho de exaltação e
radicalização esquerdista que todos percebiam poder descambar numa guerra
civil.
Foi nessa altura que os sectores mais revolucionários
perceberam que aquele momento era a última hipótese de tentarem fazer a sua
“revolução socialista” à moda soviética porque a agulha do clima político
estava notoriamente a mudar para o lado contrário.
Na sequência do afastamento de Otelo da Região Militar de
Lisboa, log
o a 21 de Novembro, o COPCON reúne-se no Alto do Duque, recusando
acatar a ordem do Conselho da Revolução. Contudo, o Regimento de Comandos
exigiu ficar na dependência directa do Chefe do Estado Maior das Forças
Armadas, abandonando a estrutura do COPCON e mais de uma centena de oficiais
pára-quedistas abandonaram Tancos, deslocando-se para a Cortegaça com aviões e
helicópteros. O Conselho da Revolução reiterou a decisão de nomear Vasco
Lourenço e, em 24 de Novembro, o presidente da República Costa Gomes anuncia
que mantém essa nomeação.
Na madrugada de 25 de Novembro, faz hoje 44 anos, as forças
esquerdistas avançaram, com a ocupação das bases aéreas de Tancos, Monte Real e
Montijo bem como do Estado Maior da Força Aérea por pára-quedistas, enquanto o
RALIS tomava posições do aeroporto de Lisboa, na auto-estrada do Norte e no
depósito de Beirolas. Em frente da Cortegaça colocou-se um navio da Armada
pronto a disparar. O estúdio da RTP no Lumiar foi ocupado, bem como a 1ª Região
Aérea de Monsanto. A partir daí, o presidente Costa Gomes e o grupo dos nove
sob o comando de Ramalho Eanes tomaram todas as iniciativas militares
necessárias para responder à sublevação. Muito importante, Costa Gomes
contactou Álvaro Cunhal para proceder à desmobilização dos seus militantes nas
ruas, o que foi feito, assim se mantendo a contenda apenas entre militares.
Durante todo o dia as operações militares fizeram oscilar a situação para um e
outro lado mas, na madrugada de 26, a situação foi finalmente estabilizada com
uma acção forte dos Comandos da Amadora sobre a Polícia Militar que foi
ocupada.
Em suma, os sectores esquerdistas avançaram, mas o lado
militar democrático estava bem preparado para lhes tolher o passo. E foi assim
que o «processo revolucionário em curso» terminou, abrindo caminho para a
Democracia representativa em respeito pela vontade do povo português expressa
nas urnas e em mais lado nenhum.
Como acontece muitas vezes com as revoluções, os períodos
que se lhes seguem trazem consigo os perigos da radicalização, que podem anular
os bons objectivos que as nortearam. Tal não sucedeu em Portugal porque, em
primeiro lugar houve eleições livres para o povo escolher o caminho que queria
seguir e depois porque houve portugueses de fibra que obrigaram a que essa
vontade fosse respeitada.
Em tempos de oportunismos que tentam aproveitar-se da data
do 25 de Novembro face ao lamentável esquecimento dos últimos anos, é bom que
se saiba o que aconteceu, como aconteceu e o que significou como garantia da
Democracia pluralista que hoje temos.
Publicado originalmente na edição do Diário de Coimbra de 25 de Novembro de 2019
domingo, 24 de novembro de 2019
sexta-feira, 22 de novembro de 2019
quinta-feira, 21 de novembro de 2019
terça-feira, 19 de novembro de 2019
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