Do blogue Impertinências, retirei este comentário sobre o artigo que esta semana Miguel Sousa Tavares escreveu no Expresso sobre o assunto, demonstrando uma falta de cultura que impressiona:
«Eis o que escreveu na sua coluna habitual no semanário de reverência um MST ressabiado porque «os holandeses, os novos-ricos da Europa, actuando como gauleiters da Alemanha» não parecerem disposto a subsidiar a prodigalidade greco-latina através dos coronabonds:
«E, já agora, tirando o “Século de Oiro” da pintura holandesa, abrangendo o último quartel do século XVI e a primeira metade do século XVII, o que deu a Holanda à Europa? Van Gogh, na pintura, e Johan Cruyff, no futebol, são as únicas excepções. De resto, e sobretudo comparando com a Espanha e a Itália, nos últimos quase 400 anos, eles não deram à Europa um escritor, um músico, um compositor, um arquitecto, um estadista, um economista, um cientista, um automóvel, um desenho de sapatos, um filme inesquecível, uma marca de vinho, uma receita de cozinha, uma nova borboleta...»Começo por «novos-ricos» que me parece pouco ajustado a um povo que, desde pelo menos o século XVII, quando aqui abundava a pobreza mais absoluta fora da corte, tem um nível de riqueza muito acima dos habitantes da jangada de pedra.
O "Século de Oiro" foram vários séculos, em que encontramos Bosch, Brueghel o Velho, Hals, Rembrandt, Vermeer e muitos outros. Depois disso, para além de van Gogh (e não Van Gogh), com projecção internacional, lembro assim de repente Escher, Mondrian e de Kooning.
No futebol, além de Cruyff, lembro assim de repente Marco van Basten, Dennis Bergkamp, Ruud Gullit e Ronald Koeman.
É certo que a literatura holandesa não produziu grandes escritores. Em contrapartida produziu Erasmo e Espinoza. Ah, e produziu vinte Prémios Nobel, a maioria em Física e Química, mas também dois em Economia (Jan Tinbergen e Tjalling Koopmans).
É certo que, para além do contemporâneo Gustav Leonhardt, a Holanda também não produziu grandes nomes na música. Em contrapartida, é sede para dez das 500 maiores empresas globais, como Royal Dutch Shell, EXOR, Airbus, ING, Randstad, Heineken, Rabobank. Por acaso, também por lá têm sede fiscal várias empresas portuguesas do PSI-20 (que por acaso só tem 18 empresas cotadas).
Em matéria de arquitectos de topo também só me estou a lembrar de Rem Koolhaas. E quanto a estadistas não recordei nenhum além de Johan De Witt,
É certo que além dos seus 17 Nobel em Física, Química e Medicina, não se encontram grandes cientistas. Em contrapartida é o 9.º país com mais patentes, Portugal é o 39.º (World Intellectual Property Indicators 2019).
Concedo que não me ocorre automóvel, desenho de sapatos, filme inesquecível, marca de vinho, receita de cozinha e borboleta que possa ser atribuída a holandeses e nestas matérias encontramos do lado português o vinho do Porto (que até pode ter sido inventado pelos ingleses...), o bacalhau à Gomes de Sá e as ameijoas à Bolhão Pato.»