jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
sábado, 25 de abril de 2020
sexta-feira, 24 de abril de 2020
LARES E PANDEMIA
Quando ouço falar na elevadíssima percentagem de utentes de lares de idosos nos mortos com esta pandemia, fico perplexo.
O que tem andado a fazer a Segurança Social todos estes anos?
Lares legalizados sem as necessárias condições sanitárias e acompanhamento médico. Lares ilegais por todo o país, que são do conhecimento de toda a gente menos da S. Social, onde estão dezenas de milhares de pessoas.
E ninguém se lembra de fazer uma inspecção independente à Seg. Social?
O que tem andado a fazer a Segurança Social todos estes anos?
Lares legalizados sem as necessárias condições sanitárias e acompanhamento médico. Lares ilegais por todo o país, que são do conhecimento de toda a gente menos da S. Social, onde estão dezenas de milhares de pessoas.
E ninguém se lembra de fazer uma inspecção independente à Seg. Social?
quinta-feira, 23 de abril de 2020
quarta-feira, 22 de abril de 2020
segunda-feira, 20 de abril de 2020
A POLÍTICA NA COVID-19
A actual
pandemia que nos traz a todos numa aflição tem, na sua complexidade, aspectos
diversos que aqui tenho tentado abordar ao longo das últimas semanas. Para o
fim deixei a abordagem política que, como é natural, acaba por influenciar
todas as outras. A situação provocada pela pandemia COVID-19 caracteriza-se por
ser nova e única. Como tal, a abordagem política reveste-se de uma grande dose
de incerteza, já que não se pode ir aos livros buscar soluções sendo necessário
abrir novos caminhos para percorrer. E os académicos apenas podem apresentar
dados parciais, competindo aos decisores políticos tomar decisões que a todos
importam e arcar com as respectivas consequências. Para o bem e para o mal.
Dir-se-á que é para isso que se candidataram e foram eleitos, para governar nos
bons e maus momentos e é verdade. Mas não podemos deixar de ter consciência da
extrema dificuldade dos momentos que atravessamos até regressarmos à vida que
era a nossa ainda há escassas semanas e de ter isso em mente quando abordamos
as decisões políticas, cá e na União Europeia que são as que nos interessam
mais directamente.
A resposta
política à ameaça do novo coronavírus na quase totalidade dos países traduziu-se,
basicamente, em confinar os cidadãos às suas residências e no congelamento da
economia. A que se veio juntar, entre nós, a declaração de estado de
emergência, com limitação de várias liberdades individuais.
Depois destas
intervenções cabe igualmente à política preparar a recuperação da economia,
para além de repor as situações sociais anteriores, logo que a evolução sanitária
da pandemia o permita. Esse retirar da economia do congelador não vai ser instantâneo,
porque não existe um botão LIGAR/DESLIGAR para esse efeito. Muitas empresas
demorarão a retomar a sua velocidade de cruzeiro e outras não retomarão a
actividade, pura e simplesmente.
A paragem da
economia traduz-se numa queda brutal do produto em
2020, que só será recuperado
nos anos seguintes. Embora todos os países estejam com este problema, Portugal
encontra-se numa situação crítica para o enfrentar, dado não ter aproveitado os
últimos anos de crescimento (as tais vacas gordas a que se refere o
Primeiro-Ministro) para realizar reformas estruturais da economia e reduzir
significativamente a dívida pública, que é um pouco superior a 118% do PIB.
Vamos precisar de financiamento externo para pagar os apoios às empresas
durante a crise e depois para a recuperação. A nossa dívida vai assim subir por
dois motivos: novos empréstimos e descida do PIB, podendo atingir o patamar dos
135%, já no próximo ano. Isto, apesar de as verbas que temos previstas para
apoiar a economia serem, em termos relativos, metade do que Espanha está a
fazer e ainda menos que os outros países da União Europeia. Como a nossa capacidade própria de financiamento ainda está debaixo do chapéu da acção do BCE, será através da União Europeia que nos chegará o dinheiro necessário para financiar tudo isto. A última reunião do Eurogrupo aprovou uma verba para cada país no montante de 2% do PIB de cada um o que é manifestamente pouco, para além de verbas menores específicas para apoiar emprego e empresas. O instituto utilizado para estas transferências, que são empréstimos (a juntar à dívida e a pagar futuramente), é o Mecanismo Europeu de Estabilidade, uma espécie de FMI interno da União. Não chegou ainda o tempo da emissão de dívida comum europeia, os tão ansiados Eurobonds, nem mesmo em versão mitigada e específica de «coronabonds». Chegou, contudo, o tempo de começar a discuti-los e encontrar condições para o seu surgimento. Essa novidade terá que ser aprovada por unanimidade pelos estados membros e, quando surgir, trará necessariamente agarrada uma alteração política profunda da União Europeia com novas e fortes transferências de soberania dos países para a União. As dificuldades são imensas mas os responsáveis políticos europeus, incluindo os portugueses, têm que, urgentemente, encontrar bases de entendimento, com cedências mútuas, que permitam responder a um problema novo, de uma dimensão enorme e que toca a todos. A alternativa, pelo menos para nós, seria uma tragédia de empobrecimento inominável.
Publicado originalmente na edição do Diário de Coimbra de 20 de Março de 2020
domingo, 19 de abril de 2020
A MOLEIRINHA de Guerra Junqueiro
Recordado, através de Rentes de Carvalho. Aqui.
"A Moleirinha" de Guerra Junqueiro:
"A Moleirinha" de Guerra Junqueiro:
Pela estrada plana, toc, toc, toc,
Guia o jumentinho uma velhinha errante.
Como vão ligeiros, ambos a reboque,
Antes que anoiteça, toc, toc, toc,
A velhinha atraz, o jumentito adiante!...
Toc, toc, a velha vae para o moinho,
Tem oitenta anos, bem bonito rol!...
E comtudo alegre como um passarinho,
Toc, toc, e fresca como o branco linho,
De manhã nas relvas a córar ao sol.
Guia o jumentinho uma velhinha errante.
Como vão ligeiros, ambos a reboque,
Antes que anoiteça, toc, toc, toc,
A velhinha atraz, o jumentito adiante!...
Toc, toc, a velha vae para o moinho,
Tem oitenta anos, bem bonito rol!...
E comtudo alegre como um passarinho,
Toc, toc, e fresca como o branco linho,
De manhã nas relvas a córar ao sol.
Vae sem cabeçada, em liberdade franca,
O gerico russo d'uma linda côr;
Nunca foi ferrado, nunca usou retranca,
Tange-o, toc, toc, a moleirinha branca
Com o galho verde d'uma giesta em flor.
Vendo esta velhita, encarquilhada e benta,
Toc, toc, toc, que recordação!
Minha avó ceguinha se me representa...
Tinha eu seis anos, tinha ella oitenta,
Quem me fez o berço fez-lhe o seu caixão!...
Toc, toc, toc, lindo burriquito,
Para as minhas filhas quem m'o dera a mim!
Nada mais gracioso, nada mais bonito!
Quando a Virgem pura foi para o Egipto,
Com certeza ia n'um burrico assim.
O gerico russo d'uma linda côr;
Nunca foi ferrado, nunca usou retranca,
Tange-o, toc, toc, a moleirinha branca
Com o galho verde d'uma giesta em flor.
Vendo esta velhita, encarquilhada e benta,
Toc, toc, toc, que recordação!
Minha avó ceguinha se me representa...
Tinha eu seis anos, tinha ella oitenta,
Quem me fez o berço fez-lhe o seu caixão!...
Toc, toc, toc, lindo burriquito,
Para as minhas filhas quem m'o dera a mim!
Nada mais gracioso, nada mais bonito!
Quando a Virgem pura foi para o Egipto,
Com certeza ia n'um burrico assim.
Toc, toc, é tarde, moleirinha santa!
Nascem as estrellas, vivas, em cardume...
Toc, toc, toc, e quando o galo canta,
Logo a moleirinha, toc, se levanta,
P'ra vestir os netos, p'ra acender o lume...
Toc, toc, toc, como se espaneja,
Lindo o jumentinho pela estrada chan!
Tão ingenuo e humilde, dá-me, salvo seja,
Dá-me até vontade de o levar á egreja,
Baptisar-lhe a alma p'ra a fazer cristan!
Toc, toc, toc, e a moleirinha antiga,
Toda, toda branca, vae n'uma frescata...
Foi enfarinhada, sorridente amiga,
Pela mó da azenha com farinha triga,
Pelos anjos loiros com luar de prata!...
Nascem as estrellas, vivas, em cardume...
Toc, toc, toc, e quando o galo canta,
Logo a moleirinha, toc, se levanta,
P'ra vestir os netos, p'ra acender o lume...
Toc, toc, toc, como se espaneja,
Lindo o jumentinho pela estrada chan!
Tão ingenuo e humilde, dá-me, salvo seja,
Dá-me até vontade de o levar á egreja,
Baptisar-lhe a alma p'ra a fazer cristan!
Toc, toc, toc, e a moleirinha antiga,
Toda, toda branca, vae n'uma frescata...
Foi enfarinhada, sorridente amiga,
Pela mó da azenha com farinha triga,
Pelos anjos loiros com luar de prata!...
Toc, toc, como o burriquito avança!
Que prazer d'outrora para os olhos meus!
Minha avó contou-me quando fui creança,
Que era assim tal qual a jumentinha mansa
Que adorou nas palhas o menino Deos...
Toc, toc, é noite... ouvem-se ao longe os sinos,
Moleirinha branca, branca de luar!...
Toc, toc, e os astros abrem diamantinos,
Como estremunhados cherubins divinos,
Os olhitos meigos para a ver passar...
Toc, toc, e vendo sideral tesoiro,
Entre os milhões d'astros o luar sem veo,
O burrico pensa: Quanto milho loiro!
Quem será que moe estas farinhas d'oiro
Com a mó de jaspe que anda alem no ceo!...
Que prazer d'outrora para os olhos meus!
Minha avó contou-me quando fui creança,
Que era assim tal qual a jumentinha mansa
Que adorou nas palhas o menino Deos...
Toc, toc, é noite... ouvem-se ao longe os sinos,
Moleirinha branca, branca de luar!...
Toc, toc, e os astros abrem diamantinos,
Como estremunhados cherubins divinos,
Os olhitos meigos para a ver passar...
Toc, toc, e vendo sideral tesoiro,
Entre os milhões d'astros o luar sem veo,
O burrico pensa: Quanto milho loiro!
Quem será que moe estas farinhas d'oiro
Com a mó de jaspe que anda alem no ceo!...
Novembro de 1889
sábado, 18 de abril de 2020
quarta-feira, 15 de abril de 2020
Subscrever:
Mensagens (Atom)