segunda-feira, 13 de julho de 2020

DISCURSOS DE ÓDIO

De quando estes revolucionários culturais descobriam «discursos de ódio» dos professores e agiam em conformidade.


Empresas espanholas estão a assegurar 70% do mercado das obras públicas em Portugal

E é isto. Rumo à total insignificância do país. E julgam que alteram a situação mudando a lei. Claro que os bandidos dos empresários portugueses é que são uns bandidos a quererem ganha tudo numa obra. Não é, BE e PCP (E PS nunista)?

https://www.publico.pt/2020/07/06/economia/noticia/empresas-espanholas-estao-assegurar-70-mercado-obras-publicas-portugal-1923050

segunda-feira, 6 de julho de 2020

DESCONFINAR COIMBRA


O INE publicou as suas previsões para população dos municípios do país, para 2019. Para Coimbra o valor apontado é de 133.945, o que significa uma redução de 5,09% relativamente a 2011. Coimbra não está sozinha neste movimento de diminuição populacional, antes pelo contrário, acompanha 86% dos concelhos do país nessa descida. As excepções verificam-se essencialmente em concelhos das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, em Aveiro e mais um ou outro concelho mais próximo de Lisboa, embora não integrado na sua área metropolitana. Já no que respeita à colecta de IRS, Coimbra aparece em sétimo lugar depois de Lisboa, Porto, Cascais, Sintra, Oeiras e Gaia mas com Almada e Matosinhos já muito próximos. Não podemos deixar de verificar que, em termos de IRS per-capita, Coimbra surge ainda na quarta posição após Lisboa, muito destacada do resto do país e do Porto, Oeiras e Cascais. Em termos populacionais, Coimbra surge em décimo sétimo lugar, sendo que, na região Centro, Leiria se aproxima em termos populacionais.
Quando se observam estatísticas e dentro delas os resultados da nossa cidade, temos que ser criteriosos e distantes de clubites partidárias ou ideológicas, porque estamos todos no mesmo barco, como se costuma dizer. A evolução processa-se normalmente com alguma lentidão, mas é claramente perceptível ao longo de algumas dezenas de anos. E a realidade é indesmentível: Coimbra há muito tempo que deixou de ser a terceira cidade do país como até aos anos setenta do século passado se costumava apresentar e, em muitos critérios nacionais, surge cada vez mais abaixo na classificação das cidades portuguesas. Nada que quem tem filhos não verifique directamente: muitos jovens com formação superior não encontram trabalho compatível em Coimbra e são chamados para viver em Lisboa ou têm mesmo que emigrar. Sei exactamente o que é esta constatação, porque é essa a situação dos meus filhos que dificilmente algum dia voltarão para Coimbra e os netos só conhecerão a cidade como curiosidade turístico/familiar.
Perante a situação que a realidade nos transmite, em vez das fantasias e mitos que ainda por aí andam, duas posições se nos colocam como cidadãos.
Uma delas, a mais fácil e devo dizer que já foi adoptada por muita gente de grande qualidade e capacidade de intervenção é a de desistir da cidade, encolher os ombros e dizer que os conimbricenses (ou coimbrinhas como depreciativamente costumam dizer) têm o que merecem e o futuro de Coimbra é um lento e irreversível definhar, restando aproveitar do muito de bom que ainda tem.

A outra será tentar apontar caminhos, soluções para inverter o caminho das últimas décadas. Na realidade, Coimbra está na situação muito característica de cidades que se deixam afundar perante o crescimento de metrópoles relativamente próximas e que perdem a sua afirmação económica para essas realidades maiores sempre em crescimento.
A sua localização privilegiada perto da costa e entre as duas grandes áreas metropolitanas não foi, no entanto, acompanhada pelo estabelecimento de boas ligações viárias com o interior, o que a isola das cidades beirãs do interior. As boas ligações rodo e ferroviárias por que Coimbra é servida devem-se apenas a se encontrar no caminho entre Lisboa e Porto.
Para recuperar da estagnação que tem vivido, Coimbra tem que se reinventar estrategicamente do ponto de vista económico. Necessita de economia produtiva, para além do Turismo e dos excelentes serviços de que dispõe. O cluster de indústria alimentar e de bebidas que se constituiu há cerca de cem anos desapareceu e tem que ser substituído por outro. Só assim se encontrará massa crítica industrial que promova emprego especializado e criação de riqueza.
Para isso é necessária e urgente a existência de uma agência que coordene todos os parques industriais do município de forma a oferecer e manter terrenos de qualidade e competitivos para alojar empresas produtivas. E ainda uma outra agência, esta de desenvolvimento, que se dedique a procurar activamente, em Portugal e no estrangeiro, empresas que se possam localizar em Coimbra, dentro de uma estratégia de desenvolvimento de cluster.
Tudo isto com uma colaboração activa e profunda entre o Município e a Universidade e Politécnico, sem o que não se gerarão sinergias capazes de atrair e desenvolver novos núcleos produtivos tecnológicos que se afirmem no contexto internacional.
Como é evidente não se trata aqui de inventar, mas de aplicar soluções que já provaram em muitas cidades-farol que, por um motivo ou por outro, conheceram dias maus de estagnação e souberam reinventar-se encontrando um novo papel de relevo na economia dos seus países e mesmo internacional, desenvolvendo sustentadamente emprego de qualidade

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 6 de Julho de 2020

quarta-feira, 1 de julho de 2020

A Europa do Norte não é solidária? Uma perspetiva holandesa

Artigo de Ramon O’Callaghan, "dean" da Business Scool do Porto, mo Negócios de 1 Julho 2020, a ler com muita atenção para entender melhor o que se passa na União Europeia:

« No Financial Times de 16 de junho, Mark Rutte, o primeiro-ministro holandês e os líderes da Áustria, Dinamarca e Suécia publicaram um artigo apelando para um “nível realista de despesas” e para que todo este dinheiro seja um empréstimo, não uma doação.

A chanceler alemã e o Presidente francês querem dar 500 mil milhões de euros aos países da UE mais afetados economicamente pelo “lockdown” da covid-19, especialmente os do Sul da Europa. Pretende-se que este fundo constitua uma doação incondicional. Com ele, a Alemanha está “a atravessar o Rubicão”. Pela primeira vez, está disposta a transferir dinheiro para o Sul da Europa. Embora a maioria dos Estados-membros da UE pareça apoiar a proposta, os chamados “Quatro Frugais” (Áustria, Dinamarca, Holanda e Suécia) estão contra.

Um artigo recente na revista holandesa Elsevier argumenta que esta proposta é perversa, pois os países do Sul da Europa (particularmente França e Itália) não são, de modo algum, pobres e têm acesso a dinheiro. De acordo com o Credit Suisse Global Wealth Report (a referência no que toca à avaliação de riqueza doméstica global), os alemães são menos ricos do que os franceses e os italianos. A riqueza média dos franceses é de 276.121 euros, e a dos italianos é de 234.139 euros. Mas para os alemães é de 216.654 euros. Assim, os alemães são, em média, mais pobres do que os franceses e os italianos. Os holandeses são um pouco mais ricos (279. 077 euros).

De acordo com a mesma revista, o que os holandeses acham mais estranho é a acusação do Presidente francês, Emmanuel Macron, e do primeiro-ministro italiano, Guiseppe Conte, de que a Europa do Norte não é solidária. Isto é um disparate. A Alemanha sempre foi um contribuinte líquido para a União Europeia e para os seus antecessores. E a Holanda é, per capita, o maior contribuinte líquido para o orçamento da UE.

A somar a isto, afirmam, o dinheiro está a ser transferido dos aforradores para os devedores. O Banco Central Europeu mantém as taxas de juro baixas e imprime dinheiro a uma escala sem precedentes, o que prejudica os aforradores e favorece os devedores. Na Alemanha e nos Países Baixos, por exemplo, a maioria dos empregados tem pensões privadas. Estas pensões estão a perder valor. Enquanto as pensões e poupanças do Norte da Europa estão a sofrer, os devedores estão a beneficiar, especialmente os países do Sul com uma elevada dívida nacional.

Assim, os holandeses argumentam que é a solidariedade do Sul que está a falhar. Os acordos da UE no Pacto de Crescimento e Estabilidade têm sido sistematicamente violados pelo Sul. Desde a introdução do euro em 1999, França e Itália nunca cumpriram. A dívida italiana aumentou de 113% para 137% do PIB. Deveria ter caído para 60%. E França, que tinha uma dívida nacional de cerca de 60% quando o euro foi introduzido, tem agora uma dívida de 100%. Como guardiã das regras, a Comissão Europeia deveria ter distribuído multas, mas nunca o fez sob pressão de França e de Itália. Em contraste, as dívidas nacionais da Alemanha, dos Países Baixos e dos países escandinavos sempre foram cerca de 60% ou menos (exceto temporariamente, durante a crise financeira de 2008).

Os norte-europeus pagam mais contribuições para as pensões e os impostos, e gozam de menos anos de reforma. Durante a sua vida, os holandeses trabalham em média 41 anos, os suecos 42,9 anos, os alemães 39,1, os dinamarqueses, 40 anos, relata o Eurostat. Em França, a média é de 35,4 anos, e em Itália 32. Os holandeses trabalham em média 39 horas por semana, enquanto os franceses trabalham a mais curta em toda a Europa: apenas 35 horas. Assim, a produtividade laboral dos holandeses e alemães é 25% mais elevada do que em Itália. Em suma, os europeus do Norte trabalham com mais frequência e mais anos.

O IMD acaba de publicar os resultados do Ranking Mundial de Competitividade 2020. O ranking baseia-se em muitos fatores, incluindo a produtividade, e é realizado em colaboração com institutos parceiros em diferentes países. Em Portugal, a parceira é a Porto Business School. Neste ranking global, “os Quatro Frugais” ocupam as posições cimeiras: Dinamarca - 2.º posição, seguida de Holanda (4.º), Suécia (6.º), e Áustria (16.º). A estes seguem-se a Alemanha (17.º lugar), França (32.º), Espanha (36.º), Portugal (37.º), e Itália (44.º). Não é pois, surpreendente que os “Quatro Frugais” sejam contra a atribuição deste dinheiro as europeus do Sul, que são menos produtivos e se reformam mais cedo.

No Financial Times de 16 de junho, Mark Rutte, o primeiro-ministro holandês e os líderes da Áustria, Dinamarca e Suécia publicaram um artigo apelando para um “nível realista de despesas” e para que todo este dinheiro seja um empréstimo, não uma doação, dizendo o seguinte:

“Como pode ser responsável gastar 500 mil milhões de euros de dinheiro, de repente, e enviar a conta para o futuro? Parte da recente proposta da Comissão Europeia baseia-se em encontrar novas formas de financiamento. Mas não existe dinheiro novo ou fresco. (...) quando pedimos dinheiro emprestado, em conjunto, na UE, a forma correta de utilizar esse dinheiro é convertê-lo em empréstimos para aqueles que realmente precisam deles, nas melhores condições possíveis”.

Os “quatro frugais” não se veem como mesquinhos, preferem antes ser vistos como os “quatro sensatos”. Compreendem que os trabalhadores da Volvo na Suécia e da Philips nos Países Baixos dependem do desenvolvimento económico no Sul. Quanto mais fortes forem as economias italiana e espanhola, melhor para a Dinamarca, Áustria, Suécia e Holanda. E vice-versa. Apoiam a criação de um fundo de recuperação de emergência limitado no tempo para atingir aqueles que foram mais duramente atingidos pela crise da covid-19. Mas já disseram “não” ao plano Merkel-Macron e fizeram uma contraproposta: empréstimos para os próximos dois anos com o compromisso de reformas fortes e a garantia de proteção contra a fraude.

Em última análise, na perspetiva destes países, os problemas dos países do Sul da Europa deveriam ser resolvidos pelos próprios, aumentando a idade da reforma, tornando o mercado de trabalho mais flexível, simplificando a criação de empresas, melhorando a competitividade. Os cidadãos e os políticos do Sul não devem amaldiçoar os do Norte porque se recusam a “dar dinheiro”. Os empréstimos podem ser utilizados para investimentos orientados para necessidades reais e acompanhados por reformas que podem ajudar a relançar a economia e torná-la mais forte e mais resistente para o futuro. Abraçar a transformação verde e digital será também essencial para avançar depois do coronavírus, para fomentar o crescimento e a criação de emprego e para permitir o reembolso de empréstimos, em linha com princípios económicos sólidos.»