O INE
publicou as suas previsões para população dos municípios do país, para 2019.
Para Coimbra o valor apontado é de 133.945, o que significa uma redução de
5,09% relativamente a 2011. Coimbra não está sozinha neste movimento de
diminuição populacional, antes pelo contrário, acompanha 86% dos concelhos do
país nessa descida. As excepções verificam-se essencialmente em concelhos das
áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, em Aveiro e mais um ou outro concelho
mais próximo de Lisboa, embora não integrado na sua área metropolitana. Já no
que respeita à colecta de IRS, Coimbra aparece em sétimo lugar depois de
Lisboa, Porto, Cascais, Sintra, Oeiras e Gaia mas com Almada e Matosinhos já muito
próximos. Não podemos deixar de verificar que, em termos de IRS per-capita,
Coimbra surge ainda na quarta posição após Lisboa, muito destacada do resto do
país e do Porto, Oeiras e Cascais. Em termos populacionais, Coimbra surge em
décimo sétimo lugar, sendo que, na região Centro, Leiria se aproxima em termos
populacionais.
Quando se
observam estatísticas e dentro delas os resultados da nossa cidade, temos que
ser criteriosos e distantes de clubites partidárias ou ideológicas, porque
estamos todos no mesmo barco, como se costuma dizer. A evolução processa-se
normalmente com alguma lentidão, mas é claramente perceptível ao longo de
algumas dezenas de anos. E a realidade é indesmentível: Coimbra há muito tempo
que deixou de ser a terceira cidade do país como até aos anos setenta do século
passado se costumava apresentar e, em muitos critérios nacionais, surge cada
vez mais abaixo na classificação das cidades portuguesas. Nada que quem tem
filhos não verifique directamente: muitos jovens com formação superior não
encontram trabalho compatível em Coimbra e são chamados para viver em Lisboa ou
têm mesmo que emigrar. Sei exactamente o que é esta constatação, porque é essa
a situação dos meus filhos que dificilmente algum dia voltarão para Coimbra e
os netos só conhecerão a cidade como curiosidade turístico/familiar.
Perante a
situação que a realidade nos transmite, em vez das fantasias e mitos que ainda
por aí andam, duas posições se nos colocam como cidadãos.
Uma delas, a
mais fácil e devo dizer que já foi adoptada por muita gente de grande qualidade
e capacidade de intervenção é a de desistir da cidade, encolher os ombros e
dizer que os conimbricenses (ou coimbrinhas como depreciativamente costumam
dizer) têm o que merecem e o futuro de Coimbra é um lento e irreversível
definhar, restando aproveitar do muito de bom que ainda tem.
A outra será
tentar apontar caminhos, soluções para inverter o caminho das últimas décadas.
Na realidade, Coimbra está na situação muito característica de cidades que se
deixam afundar perante o crescimento de metrópoles relativamente próximas e que
perdem a sua afirmação económica para essas realidades maiores sempre em
crescimento.
A sua
localização privilegiada perto da costa e entre as duas grandes áreas
metropolitanas não foi, no entanto, acompanhada pelo estabelecimento de boas
ligações viárias com o interior, o que a isola das cidades beirãs do interior.
As boas ligações rodo e ferroviárias por que Coimbra é servida devem-se apenas
a se encontrar no caminho entre Lisboa e Porto.
Para
recuperar da estagnação que tem vivido, Coimbra tem que se reinventar
estrategicamente do ponto de vista económico. Necessita de economia produtiva,
para além do Turismo e dos excelentes serviços de que dispõe. O cluster de
indústria alimentar e de bebidas que se constituiu há cerca de cem anos
desapareceu e tem que ser substituído por outro. Só assim se encontrará massa
crítica industrial que promova emprego especializado e criação de riqueza.
Para isso é
necessária e urgente a existência de uma agência que coordene todos os parques
industriais do município de forma a oferecer e manter terrenos de qualidade e
competitivos para alojar empresas produtivas. E ainda uma outra agência, esta
de desenvolvimento, que se dedique a procurar activamente, em Portugal e no
estrangeiro, empresas que se possam localizar em Coimbra, dentro de uma
estratégia de desenvolvimento de cluster.
Tudo isto com
uma colaboração activa e profunda entre o Município e a Universidade e
Politécnico, sem o que não se gerarão sinergias capazes de atrair e desenvolver
novos núcleos produtivos tecnológicos que se afirmem no contexto internacional.
Como é evidente não se trata aqui de inventar, mas
de aplicar soluções que já provaram em muitas cidades-farol que, por um motivo
ou por outro, conheceram dias maus de estagnação e souberam reinventar-se
encontrando um novo papel de relevo na economia dos seus países e mesmo
internacional, desenvolvendo sustentadamente emprego de qualidade
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 6 de Julho de 2020
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