segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Reconhecer erros e passar adiante

 


A troca, na minha última crónica, da autoria de uma citação (todo o indivíduo é ele próprio e a sua circunstância) que erradamente atribuí a Unamuno quando na verdade é de José Ortega e Gasset é a prova de como o nosso cérebro é frágil e de como podemos cometer erros até naquilo que consideramos como adquirido pacificamente. Da falta aqui fica o pedido de desculpas aos leitores, já que aos citados autores não o posso fazer.

Errar é de facto humano e penso que ninguém estará livre disso, mais cedo ou mais tarde. E há erros e há erros já que, se uns se ultrapassam com o seu reconhecimento, outros há que exigem muito mais do que isso, pelas consequências trágicas que podem acarretar. Como por vezes acontece ao governar um país, nomeadamente quando se defrontam situações sem igual na História. Já houve várias pandemias ao longo da História da Humanidade, mas nenhuma com as características da que enfrentamos, porque nunca houve capacidade científica para lhes fazer frente como agora, nem nunca houve força política para encerrar sociedades e economias como estamos a assistir hoje.

Portugal, por razões ainda não inteiramente explicadas, mostrou-se incapaz de coordenar devidamente todas as acções necessárias a nível, sanitário, social e económico, falhando estrondosamente com a pior situação de mortos COVID a nível mundial e um número inaceitável de falecimentos não-COVID em excesso relativamente ao habitual, de que quase é proibido falar. É uma catástrofe e todos temos de ter consciência disso.


Perante catástrofes, há que se ser capaz de tomar medidas excepcionais, sendo evidente que quem nos trouxe a este ponto não tem condições para continuar calma e placidamente no mesmo caminho e outro demonstra não conhecer. Qual a saída? Realizar eleições no actual cenário não parece ser solução porque, muito provavelmente, do resultado não sairia uma alternativa evidente com força política para mudar as coisas.


 As últimas eleições não deram maioria absoluta a nenhum partido. Significa isso que a solução governativa está sempre em aberto. E há uma solução clara e evidente para se conseguir sair com dignidade, respeito democrático pelas escolhas dos portugueses e capacidade de resposta perante os desafios que o actual governo se mostra incapaz de ter. Essa solução exige intervenção do Presidente da República e espírito de missão dos dois principais partidos portugueses para evitar que a tragédia económica se venha somar à tragédia sanitária em que estamos mergulhados. Um governo, não de iniciativa presidencial, mas inteiramente constitucional, baseado num acordo parlamentar firme. Até porque ninguém nos garante que não venha aí outra vaga ainda pior que a actual.

O PS e o PSD devem mostrar espírito patriótico em vez de pensarem nos seus interesses políticos imediatos que, embora compreensíveis, devem ficar de parte enquanto o país não recuperar desta situação.

Para que um governo faça finalmente o que deve ser feito e se pare com o jogo de esconde-esconde em que os políticos parecem entretidos, não será mais que uma «proposta modesta» que os dois partidos renunciem a que os seus líderes máximos ocupem o lugar de Primeiro-ministro. Este poderia ser ocupado por um independente ou mesmo alguém do partido maior com aceitação pelos dois partidos, como por exemplo Fernando Medina, com um tempo de duração perfeitamente definido à partida.

O Marquês de Pombal, depois do terramoto de 1 de Novembro de 1755, afirmou ser preciso enterrar os mortos e cuidar dos vivos. Além de cuidar dos sobreviventes, conseguiu também iniciar o processo de reconstrução notável da Baixa lisboeta tal como hoje a conhecemos. Exemplo a seguir, nestas circunstâncias também excepcionais.

A possibilidade de se ultrapassar a actual situação catastrófica de Portugal está nas mãos do Sr. Presidente da República e dos líderes dos dois principais partidos que garantem na Assembleia da República o apoio legislativo necessário para encontrar e levar à prática as soluções necessárias para a enfrentar e ultrapassar, preferencialmente com o apoio da IL e do CDS. Em nome dos portugueses sobreviventes, mas acima de tudo dos nossos filhos e netos, assim sejam capazes de o fazer, rejeitando aqueles nacionalismos balofos de sermos os melhores do mundo (que não somos, muito longe disso) e aceitando que os trabalhos que temos pela frente exigem acima de tudo patriotismo, espírito de missão e competência através da escolha dos melhores.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 8 de Fevereiro de 2021

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Os Presidentes e a História

 


Como era previsto por toda a gente, as eleições presidenciais de 2021 foram um plebiscito ao primeiro mandato de Marcelo Rebelo de Sousa que o Presidente passou com grande facilidade, como aliás aconteceu com todos os presidentes eleitos que o antecederam, desde Ramalho Eanes.

Como Ortega Y Gasset ensinou, cada indivíduo é ele próprio e a sua circunstância mas, para lá disso, há ainda quem consegue alterar as suas próprias circunstâncias e com isso ficar na História. Sendo um homem superiormente inteligente, Marcelo é mais do que capaz de se colocar do lado de fora e observar o devir da sua própria história, ele que não pretenderá ser recordado apenas com tendo ocupado o Palácio de Belém durante dez anos de acordo com as circunstâncias. Até porque praticamente não tem outra História executiva senão essa mesma, para além da simbólica presidência da Assembleia Municipal de Celorico de Basto e de uma efémera passagem por um ministério do Governo AD de Francisco Balsemão.

Ramalho Eanes ficou na História não apenas como Presidente da República, aliás o primeiro eleito depois do 25 de Abril. O seu papel determinante na defesa da democracia representativa no 25 de Novembro garantiu-lhe um lugar insubstituível na nossa memória colectiva. Mas também como Presidente marcou e definiu as presidências posteriores, não chegando a triste história do PRD para fazer obscurecer a dignidade, rigor e exigência, quer a nível político, quer pessoal, que colocou ao serviço do seu exercício da presidência.

Decididamente, Mário Soares não ficou na História de Portugal apenas pelo seu exercício da presidência da República. A sua vida política ao serviço dos seus ideais, antes e depois da instauração da Democracia é tão variada e de tão grande importância para o país que a presidência é apenas um dos seus capítulos, o que diz bem da personalidade em causa. Desde ministro a Primeiro-ministro, além de Presidente da República, Mário Soares foi praticamente tudo o que um político profissional pode almejar a ser, marcando de forma indelével o regime e o país.

O mesmo não poderei escrever sobre Jorge Sampaio. Antes de ser eleito Presidente da República derrotando Cavaco Silva, em termos de acção política a nível executivo tinha apenas sido presidente da Câmara Municipal de Lisboa, com a nota picante de ter vencido como adversário na eleição autárquica precisamente Marcelo Rebelo de Sousa. Da sua presidência da Câmara não haverá muito a recordar, tal como do exercício da presidência da República apenas ficou como momento relevante o uso da «bomba atómica» da demissão do Parlamento, enviando Santana Lopes para casa e abrindo a porta à era Sócrates.

Cavaco Silva exerceu os seus mandatos presidenciais durante os governos de Sócrates e de Passos Coelho e, em ambos os casos, serviu de apoio discreto às respectivas governações ainda frescas na memória de todos nós, escusando-me de as comentar neste lugar. Mas Cavaco Silva fica com o nome gravado na História essencialmente por ter sido eleito duas vezes sucessivas como Primeiro-ministro com maioria absoluta, facto inédito até hoje. Pesem embora todas as críticas que hoje se possam fazer à sua governação, ela coincidiu com a única altura do actual regime em que Portugal cresceu efectivamente em termos económicos e se aproximou realmente da Europa reformando-se e modernizando-se de uma forma que hoje parece impossível de se conseguir.

Sabendo de tudo isto Marcelo Rebelo de Sousa agora reeleito, também com o meu voto, terá certamente consciência de que não ficará na História pelo seu primeiro mandato. Descrispar o ambiente político e apoiar, orientar e corrigir suavemente o Governo na sua actuação corrente e nas suas falhas mais graves não constituem propriamente feitos que impressionem demasiado a História. Acresce que, durante esses cinco anos, Portugal foi paulatinamente descendo na classificação do ranking económico europeu aproximando-se do último lugar, que provavelmente ocupará durante o novo mandato presidencial. E, mesmo no fim do mandato, Portugal apresenta-se como o pior país do mundo no combate à terrível pandemia que nos assola, aguardando-se ainda pelas consequências a nível económico. Acresce o facto de, pela primeira vez desde a instauração da Democracia, um candidato líder de um partido da extrema-direita obter uma votação de meio milhão de votos.

Marcelo não é uma personalidade que se deixe acorrentar com facilidade por estas circunstâncias que, de forma impressionante, se parecem conjugar para moldar de forma negativa o nosso futuro próximo. O que, aliado à sua legítima e mais que certa vontade de deixar um lugar na História de Portugal que lhe seja favorável, será mais do que suficiente para que o seu segundo mandato seja, logo desde o seu início, marcado pela vontade de o seu nome não vir a ficar ficar ligado às consequências de nenhuma das circunstâncias que acima referi.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra na edição de 1 de Fevereiro de 2021

sábado, 30 de janeiro de 2021

MANIFESTAÇÃO CONTRA A PANDEMIA E CONTRA TUDO...

 Recebido de um amigo:


 MANIFESTAÇÃO CONTRA A PANDEMIA E CONTRA TUDO...

 


 

Os padeiros não têm massa
Os padres já não comem como abades
Os relojoeiros andam com a barriga a dar horas.
Os talhantes estão feitos ao bife
Os criadores de galinhas estão depenados
Os pescadores andam a ver navios
Os vendedores de carapau estão tesos
Os vendedores de caranguejo vêem a vida a andar para trás.
Os desinfestadores estão piores que uma barata
Os fabricantes de cerveja perderam o seu ar imperial
Os cabeleireiros arrancam os cabelos
Os futebolistas baixam a bolinha
Os jardineiros engolem sapos
Os cardiologistas estão num aperto
Os coveiros vivem pela hora da morte
Os sapateiros estão com a pedra no sapato
As sapatarias não conseguem descalçar a bota
Os sinaleiros estão de mãos a abanar
Os golfistas não batem bem da bola
Os fabricantes de fios estão de mãos atadas
Os coxos já não vivem com uma perna às costas
Os cavaleiros perdem as estribeiras
Os pedreiros trepam pelas paredes
Os alfaiates viram as casacas
Os almocreves prendem o burro
Os pianistas batem na mesma tecla
Os pastores procuram o bode expiatório
Os pintores carregam nas tintas
Os agricultores confundem alhos com bugalhos
Os lenhadores não dão galho
Os domadores andam maus como as cobras
As costureiras não acertam as agulhas
Os barbeiros têm as barbas de molho.
Os aviadores caem das nuvens
Os bebés choram sobre o leite derramado
Os olivicultores andam com os azeites
Os oftalmologistas fazem vista grossa
Os veterinários protestam até que a vaca tussa
Os alveitares pensam na morte da bezerra
As cozinheiras não têm papas na língua
Os trefiladores vão aos arames
Os sobrinhos andam "Ó tio, ó tio"
Os elefantes andam de trombas
SÓ OS POETAS CONTINUAM COMO SEMPRE... TESOS MAS MARAVILHOSOS!


quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Portugal a ser Portugal

 Ou business as usual

Como é evidente, há alguns altos dirigentes nacionais que devem ser prioritários na vacinação Covid-19, a começar pelo Presidente da República. Digamos, uns dez ou quinze imprescindíveis.

À boleia vão uns mil. Uma perfeita pouca-vergonha.

 


 

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA

 Quando é que os portugueses tomam consciência disto? Esta situação tem verdadeiros responsáveis.

(do Observador)