Quando o Homem pôde sair das cavernas e começar a cultivar plantas para se alimentar além da carne dos animais que caçava, depressa percebeu as vantagens de prever as variações regulares da meteorologia ao longo do tempo. O que o levou a observar os astros, em primeiro lugar o Sol, mas também outras estrelas.
Foi assim que os egípcios, já há uns seis mil anos, estabeleceram um calendário baseado nos movimentos do Sol, com doze meses de 30 dias cada um, a que no fim do ano adicionavam cinco dias em homenagem às cinco divindades mais importantes, assim se somando 365 dias. A precisão conseguida pelos egípcios é notável, ainda mais pela correcção de mais um quarto de dia, introduzida umas centenas de anos antes de Cristo pela observação da estrela Sirius, bem visível naquela região do globo terrestre.
Por sua parte, os romanos tinham um calendário muito complexo que a tradição atribuía ao próprio Rómulo, fundador de Roma. Júlio César decidiu, em 46 AC, eliminar as grandes discrepâncias que nessa altura se verificavam relativamente à realidade observável adoptando um novo calendário que passou assim passou a ser conhecido como Juliano. O modelo seguido foi o do calendário egípcio, com doze meses alternadamente com 30 e 31 dias, com excepção de Fevereiro com 29 dias, mas mais um dia a cada quatro anos, surgindo o conceito de ano bissexto. Assim definido, o calendário juliano tinha já uma aproximação média da duração do ano bastante acentuada relativamente à realidade hoje conhecida pela ciência.
Contudo, a pequena diferença relativamente ao ano solar, ao fim de séculos de acumulação veio de novo a provocar uma discrepância de vários dias entre o Equinócio da Primavera e a data que lhe deveria corresponder: 21 de Março. A discussão sobre as alterações a efectuar no calendário durou uns trezentos anos, tendo sido finalmente adoptado um novo calendário em 1582 pelo Papa Gregório XIII, pelo que ficou conhecido como Calendário Gregoriano que é o que dura até os dias de hoje, na maioria dos países. Os anos bissextos só são assim considerados se forem divisíveis por 400, anulando-se assim o atraso de três dias em cada quatrocentos anos.
Se os calendários têm que estar ajustados às leis da Natureza estudadas pela Física e pela Astronomia, já o início da nossa Era - Era cristã é puramente convencional, tendo sido definida no início do sec. VII com início na data no nascimento de Jesus Cristo calculada por um obscuro monge chamado Dionísio que viveu no sec. VI. Assim, veio a ser definida a data de 25 de Dezembro do ano 753 da fundação de Roma, data essa que os estudos posteriores vieram a verificar não ter nada a ver com a realidade, mas tendo a vantagem de coincidir com antigas festas pagãs, assim lhes dando continuidade já cristianizadas. A contagem dos anos pela Era cristã acabou por ser adoptada por todo o mundo, incluindo os países muçulmanos, tendo mesmo as tentativas históricas de a substituir por eras com outros referenciais sido votadas ao fracasso, como aconteceu na Revolução Francesa.
“Tempus fugit” ou, melhor dito, o tempo voa. Ainda há uns anos imaginava como seria o ano 2000 e a correspondente passagem do século e o ano de 2021 já passou. Terminou com mais uma demonstração do que a Humanidade é capaz de conseguir pela dedicação e esforço colectivo ao enviar um telescópio gigante para lá da Lua para observar os confins do Universo ou, neste caso, do próprio tempo já que o que irá ver já se passou a milhões de anos-luz, pouco depois do início de tudo ou assim se imagina actualmente. Mas o ano de 2021 viu também as ondas de refugiados e a morte de muitos deles, incluindo crianças, sem que se consiga aperceber de qualquer reacção a sério dos países e organismos internacionais para acabar com esta miséria física e moral. O ano de 2021 passou-se todo em situação pandémica. E, se por um lado é impressionante verificar a capacidade de reacção da ciência produzindo vacinas em tempo record e das autoridades em montar sistemas de vacinação generalizada num período historicamente curto, não deixa de ser entristecedor ver como políticos dos mais diversos quadrantes usam a pandemia como instrumento para manterem o poder ou para o tentarem obter.
O ano de 2022 que agora tem início começa praticamente com eleições legislativas. Neste novo ano vamos pois, tentar escolher o melhor possível, na esperança de que Portugal retome o ciclo de verdadeiro crescimento para bem de todos nós, filhos e netos. E esperemos que, finalmente, a pandemia desapareça como tal, permitindo a todos um reatar de relacionamento normal, algo de que já começamos a andar esquecidos.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 3 de Janeiro de 2022
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