jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
segunda-feira, 25 de junho de 2012
PODER E AUTORIDADE
Portugal encontra-se hoje numa daquelas situações atípicas que nunca
deveriam suceder, mas a que somos periodicamente sujeitos, normalmente devido a
disparates financeiros cometidos por governantes que não pesam os seus desejos
com as capacidades do país. E, como a História o demonstra, estas situações
trazem normalmente grandes perigos no seu interior.
Em tempos de crise grave como a que atravessamos, só se encontram
verdadeiras saídas em democracia, se o poder constituído aos diversos níveis da
governação do país detiver autoridade que seja reconhecida pela maioria dos
cidadãos.
Há cem anos, Max Weber definiu poder como a possibilidade de alguém obrigar
outro a cumprir a sua própria vontade, mesmo que com resistência, enquanto a
autoridade será a habilidade de levar as pessoas a fazerem de livre vontade a
sua própria vontade, apenas pela sua influência pessoal.
O conceito de autoridade vem dos tempos da República Romana, a chamada
“auctoritas” que de certa forma media o prestígio e a influência dos senadores
romanos, junto dos seus concidadãos. Essa autoridade era conquistada de
diversas formas, incluindo os feitos militares ou a maneira como essas pessoas
tinham servido a República em posições proeminentes. Para existir, essa
autoridade tinha que ser reconhecida pelos outros.
Entre nós é comum queixarmo-nos de “falta de autoridade”, ao mesmo tempo
que se nota um profundo desrespeito pelos responsáveis políticos em geral que,
na minha opinião, tem razões muito mais profundas do que a crise que
atravessamos:
Quando antigos responsáveis políticos de grande projecção são encontrados
em situações ilegais e a Justiça demora eternidades a aplicar o devido castigo;
quando os partidos mantêm em cargos de responsabilidade pessoas que perderam o
respeito dos cidadãos ficando em consequência sem autoridade; quando os
partidos escolhem para listas pessoas por critérios obscuros, deixando de lado
outras com provas mais que dadas; quando para cargos de gestão de
responsabilidade o critério é o amiguismo em vez do currículo pessoal; quando numa
altura em que toda a gente é chamada a sacrifícios pesadíssimos, entidades do
Estado mantêm todas as prerrogativas e mesmo privilégios e benefícios
financeiros insuportáveis; quando entre as funções de Estado e as grandes
empresas há um corredor aberto em permanência entre aquele e estas, é a
autoridade de todo um Estado que se esboroa, sem apelo nem agravo.
Todos conhecemos exemplos de pessoas que, sem deterem qualquer poder
político ou material demonstraram uma grande capacidade de mudar as
circunstâncias em que surgiram. A sua capacidade de liderança e exemplo
atribuíram-lhes uma autoridade reconhecida pelos outros, a tal “auctoritas” dos
romanos.
Estas são pessoas raras. Infelizmente, muito mais frequentes são aquelas
que de uma forma ou doutra, muitas vezes sem saber bem como, adquiriram algum
poder sem possuírem qualquer autoridade. E usam esse poder para impor as suas
vontades ou os seus gostos e mesmo para se vingarem de quem não gostam, por esta
ou aquela razão, mas normalmente por simples inveja, aquela última palavra que
Camões usou para fechar os Lusíadas.
Na realidade, abuso de poder pode ser cometido por acção, tal como está
fixado na Lei, mas também por inacção ou mesmo impedimento de acção. Mas
demonstra sempre falta de autoridade, quando não falta de princípios. E
destruir o que os outros fazem ou fizeram é sempre muito fácil quando se tem
algum poder público e não se percebe que esse poder vem do povo, pelo que se
está ministro ou seja o que for e não se é esse mesmo cargo.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 25 de Junho de 2012
domingo, 24 de junho de 2012
quarta-feira, 20 de junho de 2012
segunda-feira, 18 de junho de 2012
ASPECTOS DE GUERRA
Se a internet, as comunicações e a localização geográfica por satélites
entraram na vida do cidadão comum para a alterar por completo, a influência que
têm hoje noutros aspectos da comunidade internacional é cada dia mais
avassaladora e aumenta a cada dia que passa.
Para além dos nossos desejos, a guerra é uma das constantes da História do
Homem. Ainda que em determinado momento não seja possível apontar um local da
Terra em que esteja a decorrer um conflito armado declarado, mesmo assim a
organização de Forças Armadas é uma constante, tal como o é o desenvolvimento
contínuo de novas armas e novas formas de combater um inimigo.
As novas tecnologias trouxeram duas novas armas que estão já a mudar a
maneira de fazer a guerra: os drones e a ciberguerra.
Os drones não são mais do que veículos aéreos tele-comandados, isto é, sem tripulantes
a bordo. Claro que são apenas detidos pelos países mais desenvolvidos
tecnologicamente, mas a sua utilização tem sido cada vez mais intensa em
determinados teatros de operações, como sejam o Afeganistão, o Paquistão e o
Yemen, além de outros mais próximos de nós mas com maior grau de secretismo.
Possuem sensores ultrassofisticados que varrem o terreno de forma contínua e
silenciosa, permitindo aos respectivos controladores verificar o que se passa,
detectar alvos inimigos e eliminá-los, enquanto estão sentadosem total
segurança a mover um joystick em frente de monitores a milhares de quilómetros
de distância. Tudo isto sem colocar em risco a vida de pilotos e restantes
tripulantes de aviões clássicos e usando equipamento muitíssimo mais barato.
Já a ciberguerra faz-se sem a utilização de qualquer arma clássica, mas o
seu papel e importância têm sido crescentes. Nas últimas semanas os jornais
deram nota da descoberta de um novo vírus informático chamado Flame, tendo sido
notória a falta de informação credível sobre o assunto. As últimas notícias davam
conta de que alguém tinha dado ordem ao vírus para se autodestruir não deixando
qualquer rasto nos sistemas informáticos infectados. Entretanto, os
especialistas russos que o detectaram lá foram dizendo que se tratava de um
vírus muito mais poderoso e complexo do que qualquer outro anteriormente
conhecido e que estaria instalado em países do Médio Oriente, prestando
informações sobre todo o conteúdo dos computadores atacados. Logo a comunidade
informática se lembrou de outro vírus aparecido há dois anos chamado Stuxnet,
que invadiu as fábricas de purificação de urânio do Irão, tendo destruído
milhares de centrifugadoras. Pelos vistos os códigos de programação dos dois
vírus têm aspectos comuns que provam que houve, pelo menos, contacto entre os
respectivos programadores. O Flame é extremamente complexo e sofisticado,
podendo ser considerado uma arma cibernética concebida especificamente para
ciber-espionagem e só pode ter sido desenvolvido por uma equipa de
programadores a trabalhar durante meses e nunca por uma única pessoa. Isto é,
trata-se de uma arma desenvolvida por algum país ou mesmo através de colaboração
de países, com alvos hostis comuns.
Já neste mês de Maio, o Secretário da Defesa americano Leon Panetta aprovou
uma nova rede organizacional que deverá ser o primeiro passo para a
estandartização de ciber-operações militares. A nova organização define Ciber
Centros Conjuntos e um Ciber Comando (CYBERCOM). Os objectivos desta nova super
estrutura militar americana são simultaneamente defensivos e ofensivos, pelo
que no futuro terá uma importância capital nas forças armadas americanas.
Chegados a este ponto, o leitor não pense que pode ficar descansado por esta
guerra cibernética se passar longe, estando portanto livre de ser afectado por
ela. Na realidade, todo e qualquer computador ligado à internet é um possível
alvo de utilização indevida por desconhecidos. Para além dos hackers que
permanentemente vasculham a net à procura dos dados bancários dos incautos e
dos motores de busca e redes sociais que fornecem os dados dos utentes com
intuitos comerciais, certamente não por acaso, a Google anunciou a semana
passada que avisará os utentes do seu Gmail que sejam alvos de ataques de
vigilância por parte de Estados. Pelos vistos, jornalistas, trabalhadores de
ONG’s, estudantes, académicos e outros em vários países, já receberam avisos
desses.
Como se costuma dizer, pode-se não acreditar em bruxas, mas que as há, há,
pelo que todo o cuidado com a internet é pouco.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 18 de Junho de 2012
segunda-feira, 11 de junho de 2012
EUROPA: PARA ONDE?
Com os sacrifícios generalizados que agora começam a ser mais evidentes em
alturas de pagamentos de IRS, de férias sem subsídios e de níveis de desemprego
nunca vistos, Portugal lá vai prosseguindo na tarefa difícil de tentar
recuperar a credibilidade internacional para se poder financiar por si próprio.
Entretanto, a nossa comunicação social parece ter entrado em pura
esquizofrenia, abandonando a realidade e saltando alvoroçadamente da Ongoing
para a Impresa, do Freeport para o FaceOculta, das agências de rating para o
bispo incendiário das Forças Armadas, do vaticanleaks para o Euro 2012, das
Secretas que temos para o Público e por aí fora.
Bem pode o Tribunal de Contas vir agora dizer que o SNS aumentou a dívida
em 117% entre 2008 e 2010 com a simpática ministra Ana Jorge, que isso não
interessa para nada, nem sequer que esse aumento fosse apenas devido a
contratos e parcerias e não a melhoria dos serviços prestados. Bem pode o
Tribunal de Contas aprovar relatórios, por unanimidade, sobre as parcerias
publico privadas rodoviárias denunciando que lhe foram escondidas despesas de
700 milhões de euros, que isso não interessa para nada, face à “notícia” do
“aparecimento” de relatórios inexistentes de um juiz desconhecido em cacifos de
deputados da Assembleia da República, imagine-se. Bem pode “descobrir-se” que
Portugal comprou créditos de CO2 por dezenas de milhões de euros, que não fazem
falta nenhuma, que isso não é notícia.
Que todos os sacrifícios que os portugueses fazem tenham já como resultado
que, segundo o INE, a Procura Interna esteja pela primeira vez há dezenas de
anos a praticamente coincidir com o PIBpm, numa evolução drástica desde meados
de 2011 com tudo o que isso significa em termos de base para a nossa recuperação
económica, também não é notícia.
Mas, pior que tudo, também não é notícia o que se passa na União Europeia a
que pertencemos. Quem ler a nossa imprensa pensará que tudo se resumirá a uma
questão: os que querem o bem do povo defendem o crescimento e os que querem o seu
mal, defendem a austeridade. A esta simplicidade se resume, entre nós, a
discussão sobre o futuro da Europa.
Isto quando, de facto, o tempo se esgota para a Europa tomar decisões
cruciais. O mapa da cise europeia parece o dos fogos de verão que alastram por
todo o sul, desde a Grécia à Península Ibérica. Ou a Europa do Euro se afunda,
o que sucederá se não se fizer nada, isto é, se se continuar a tentar resolver
os problemas dos países um a um, ou muda de caminho com decisão. Não nos venham
convencer com mais “compromissos para crescimento e emprego” e mentiras
semelhantes ao célebre “compromisso de Lisboa”. Não chega fornecer dinheiro aos
bancos a boas condições como o BCE fez de forma maciça em Dezembro e Fevereiro,
apenas aliviando os sintomas do mal de forma temporária. Não basta pedir
eurobonds, é preciso avançar com determinação pela integração orçamental e
fiscal mínimas que sustentem uma resposta europeia, que incluirá naturalmente
as obrigações de dívida comuns. O atraso nessa resposta está a fazer subir os
custos da solução a níveis que um dia destes serão absolutamente
incomportáveis. A Directora do FMI Christine Lagarde já propõe que se fechem os
políticos numa sala até que concordem num plano, recordando o que J.P. Morgan
fez com os colegas banqueiros em 1907, até acertarem todos numa solução.
O medo generalizado e justificado de um “super-estado” tem tolhido os
responsáveis políticos europeus, impedindo-os de avançar um pouco que seja no
caminho da federalização mínima necessária, continuando-se a meio do caminho da
criação do euro, erro original que está na base de tudo o que se passa.
Mas chegou-se a um ponto em que ou se avança na federalização, com perda
voluntária de mais soberania, inclusive por parte da Alemanha, ou se assistirá
em breve ao desmantelamento do euro, que ninguém imagine que possa ocorrer de
forma coordenada e pacífica. Residirá, porventura, no medo de partilha de
soberania por parte da Alemanha, a razão de ser da falta de apoio de Merkel ao
caminho da federalização, ainda que mitigada, como deverá ser. Sucede que os
povos do sul começam a sentir esse medo doutra maneira, isto é, como vontade
imperialista de impor regras, o que, atendendo à História dos últimos cem anos
até compreende facilmente. E isso poderá impedir definitivamente uma solução
justa e duradoura.
A Europa está
na encruzilhada e tem de optar. Urgentemente.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 11 de Junho de 2012
quarta-feira, 6 de junho de 2012
Lá tenho de falar da "Selecção "de todos nós"
Um diário espanhol quis perceber quanto é que as várias selecções em competição vão gastar com o alojamento, e o resultado foi este, sem mais comentários.
Selecção e custo de hotel, por dia:
1. Portugal – Opalenica 33.174 euros
2. Rússia – Varsovia 30.400 euros
3. Polónia – Varsovia 24.000 euros
4. Irlanda – Sopot 23.000 euros
5. Alemanha – Gdansk 22.500 euros
6. Rep. Checa – Wroclaw 22.200 euros
7. Inglaterra – Cracóvia 19.000 euros
8. Holanda – Cracovia 16.200 euros
9. Italia – Wieliczka 10.500 euros
10. Croácia – Warka 8.300 euros
11. Dinamarca – Kolobrzeg 7.700 euros
12. Espanha – Gniewino 4.700 euros
Selecção e custo de hotel, por dia:
1. Portugal – Opalenica 33.174 euros
2. Rússia – Varsovia 30.400 euros
3. Polónia – Varsovia 24.000 euros
4. Irlanda – Sopot 23.000 euros
5. Alemanha – Gdansk 22.500 euros
6. Rep. Checa – Wroclaw 22.200 euros
7. Inglaterra – Cracóvia 19.000 euros
8. Holanda – Cracovia 16.200 euros
9. Italia – Wieliczka 10.500 euros
10. Croácia – Warka 8.300 euros
11. Dinamarca – Kolobrzeg 7.700 euros
12. Espanha – Gniewino 4.700 euros
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