Ensaio muito interessante do Henrique Raposo, a ler na edição deste mês da revista EXAME
jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
sexta-feira, 1 de julho de 2016
segunda-feira, 27 de junho de 2016
A questão conimbricense da “via central”
O ambiente político
de Coimbra anda agitado por causa da chamada “via central”. Há mesmo quem
defenda que se pergunte a opinião aos conimbricenses sobre a abertura da via,
através de referendo local. Mas será que sabemos todos de que se trata?
Nos anos noventa do
século passado, perante a iminência do fecho da Linha da Lousã a exemplo de
outros ramais por todo o país que foram encerrados por falta de rentabilidade,
surgiu a ideia do Metro do Mondego, posteriormente designado “Sistema de
Mobilidade do Mondego”. A sustentabilidade económica do sistema seria garantida
pelo trajecto urbano cujo eixo central uniria a linha ao longo do rio com os
Hospitais da Universidade, passando pela zona do “bota abaixo” e desembocando
na Rua da Sofia em frente à Caixa Geral de Depósitos. Como é sabido, as obras
de construção da linha do Metro Mondego avançaram, com aquisição e demolição de
prédios na baixa de Coimbra necessários à implantação da via, bem como as obras
de beneficiação da antiga linha do caminho-de-ferro até Serpins/Lousã.
Lamentavelmente, estas obras foram suspensas durante o governo Sócrates e
durante o governo Passos Coelho não foram retomadas, com a agravante de a
Sociedade Metro Mondego não poder sequer levar a cabo as obras de
reabilitação/renovação dos prédios frente à Rua da Sofia e na Rua Nova, nem ser
autorizada a entregar os prédios a outra entidade para realizar as obras.
O canal da
travessia entre a Av. Fernão de Magalhães e a Rua da Sofia foi objecto de uma
necessária DIA (Declaração de Impacte Ambiental) em 2004 que contemplava
condicionantes, entre as quais a de que a faixa rodoviária que acompanha as
duas ferroviárias apenas pudesse ser utilizada por veículos de emergência e de
carga e descarga. Com a candidatura da Universidade a Património Mundial que
incluia a Rua da Sofia, que já era no seu todo Monumento Nacional, esta rua passou
a ter uma importância patrimonial acrescida, pelo que se prevê para ela uma
diminuição da utilização rodoviária. A alternativa óbvia, perante a defesa do
bem patrimonial maior que é a Rua da Sofia e estando as demolições já
realizadas, é a utilização do canal da Metro pelo que a DIA foi alterada em
2010. A utilização rodoviária sem condições do canal do metro ficou autorizada,
na condição da libertação progressiva da Rua da Sofia do tráfego rodoviário,
começando pela eliminação de um dos sentidos de trânsito e alargamento dos
passeios.
O atraso de
decisões sobre a instalação do metro ligeiro de superfície está a ser
prejudicial para a Baixa de Coimbra aos mais diversos níveis. Desde logo, as
demolições realizadas são uma ferida no tecido urbano com consequências
nefastas a nível social, comercial e outras. Por outro lado, a renovação urbana
da Rua da Sofia só poderá avançar com a abertura do canal da Metro que dispõe
de um estudo de integração urbana da autoria do Arq, Gonçalo Byrne garantindo o
equilíbrio urbano entre a travessia rodo-ferroviária e os espaços e edificações
envolventes. Assinalo que a ligação viária entre a beira-rio e o interior da
Cidade é muito deficiente devido à orografia do terreno e ao fecho das Ruas Ferreira
Borges e Visconde da Luz ao trânsito rodoviário que não pode voltar atrás.
Essa abertura
implica naturalmente obras nos edifícios da Rua da Sofia onde o canal desemboca,
no edifício-ponte do meio e nos dois laterais que lhe darão o apoio estrutural
e os acessos, já que não terá ligação directa ao espaço público. O projecto
conjunto destes edifícios aprovado com os necessários pareceres do Ministério
da Cultura, que é de grande qualidade arquitectónica, é igualmente da autoria
do Arq. Gonçalo Byrne.
O actual Presidente
da Câmara assumiu os projectos que já vinham de trás e se encontravam parados,
tendo a Câmara desenvolvido um projecto provisório que contempla uma primeira
parte do futuro canal, incluindo a parte rodoviária, a que tem chamado “via central”,
completamente compatível com a futura utilização rodo-ferroviária.
Perante todos estes
dados, perguntar em referendo aos cidadãos se concordam com esta obra é, a meu
ver, o mesmo que perguntar a alguém que anda de cadeira de rodas se quer
caminhar sozinho, já que a alternativa é manter o que está e que é inaceitável.
Os diversos partidos e movimentos de cidadãos têm, naturalmente, todo o direito
a ter as suas próprias opiniões e opções. Mas neste caso concreto há um
partido, para além do que actualmente governa a Câmara, que tem
responsabilidades acrescidas e que é o PSD. Todos os projectos em causa se
iniciaram, ou foram mesmo totalmente desenvolvidos, nos anteriores mandatos da
sua responsabilidade e é claramente o interesse da Cidade que está em causa,
acima das contingências políticas imediatas. Só lhe ficará bem assumir
publicamente este projecto que iniciou e foi assumido pela actual Câmara,
apoiando a sua execução no mais curto prazo possível.
segunda-feira, 20 de junho de 2016
Vasco Martins, Artista do mundo
Há duas semanas
tivemos a oportunidade de ouvir em Coimbra, e ao vivo, um grande artista cabo-verdiano
que tem também nacionalidade portuguesa. Vasco Martins esteve entre nós para
participar na apresentação do seu CD “Viagens no imaginário da Morna” editado
pela Orquestra Clássica do Centro tendo ainda, no dia seguinte, apresentado o
seu mais recente livro, “SINFONIAS”.
Vasco Martins é
muitas vezes apresentado como o maior compositor actual de música erudita de
África, o que é na verdade redutor perante a sua personalidade artística. Vasco
Martins é, antes de tudo, um artista multifacetado, sendo um grande compositor
de música clássica que acontece ter escolhido viver em Cabo-Verde não sendo
capaz, nas suas próprias palavras, de estar mais de um mês afastado de Vale da
Ribeira de Calhau onde actualmente reside, na ilha de S. Vicente.
Vasco Martins é também
escritor, tendo editado vários livros de entre os quais o já referido
“Sinfonias”, mas também os seus trabalhos sobre a Música Tradicional
Cabo-Verdiana (Morna), as obras “A Verdadeira Dimensão”, “Tempos da Moral
moral” sobre a sua mundividência e ainda os livros de poemas “Universo da Ilha”
e “Navegam os olhares com o voo do pássaro”. Foi ainda co-autor, juntamente com
o pintor Tchalé Figueira, de um livro sobre a vida de Cesária Évora (Cesária –
A rota da Lua vagabunda) editado em Coimbra pela Orquestra Clássica do Centro.
Pela sua ligação
afectiva e intelectual à Morna é o responsável pelo Centro de Estudos da Morna
que tem como um dos seus objectivos o reconhecimento deste género musical como
património mundial pela Unesco. Como o próprio Vasco Martins escreve, “a Morna
é sem dúvida uma das mais belas manifestações do mundo da chamada ‘música
popular urbana” e está, sem dúvida, no interior de muita da sua produção
musical.
Mas Vasco Martins
vai muito para além disso, como compositor. A sua formação musical iniciou-se
com Fernando Lopes Graça após o que continuou os seus estudos em Paris com
Henri-Claude Fantapié. Teve contacto próximo com a música dita contemporânea
modal e dodecafónica, tendo-se, no entanto, afastado dela por a achar puramente
intelectual, afastando-se do prazer que esta forma de arte deve proporcionar a
quem dela desfruta.
Vasco Martins é um
compositor prolífico, tendo escrito nove sinfonias entre 1997 e 2013, estando
neste momento a terminar a décima. Em vez de as numerar designa-as com nomes
próprios que remetem claramente para o ambiente geográfico, cultural e
artístico de Cabo Verde. Assim surgem as sinfonias “Equinócio”, “Erupção”,
“Arquipélago”, “Oceano Atlântico”, mas também “Buda Dharma” ou “Himalaias” que
reflectem as suas preocupações cosmogónicas. Para além das sinfonias, Vasco
Martins tem ainda obras para guitarra, piano e sintetizador, reflectindo os
seus diversos interesses musicais para além da música clássica, como o jazz ou
a música new-wave, para além da Morna, claro.
O facto de a sua obra
musical ter frequentemente referências à música de Cabo–Verde não significa que
fique confinada a um estilo “nacionalista” ou mesmo folclórico. Longe disso.
Como o próprio Vasco Martins acentua, muitos compositores clássicos integraram
elementos musicais das suas terras como Chopin, Mahler, Stravinsky, ou o
próprio Bach, para além de muitos compositores que incluíram elementos musicais
das terras de que gostavam como Debussy ou Messiaen.
A música sinfónica de
Vasco Martins é belíssima em qualquer parte do mundo, sendo a prova do seu
enorme talento, mas também da justeza das suas opções musicais. Nas suas
sinfonias Vasco Martins utiliza a orquestra como um instrumento, muito para
além da variedade de sons dos seus instrumentos musicais constituintes, sendo
perceptível a sua admiração por esse instrumento colectivo complexo.
A edição do CD
“Viagens no imaginário da Morna” com composições sobre temas da música
tradicional de Cabo-Verde é um acontecimento invulgar entre nós, tanto mais
importante quanto o Fado não se encontra tão longe da Morna quanto se poderia
pensar.
sábado, 18 de junho de 2016
quarta-feira, 15 de junho de 2016
segunda-feira, 13 de junho de 2016
“Leva muito tempo tornarmo-nos jovens”
Picasso é um dos
pintores mais conhecidos do séc. XX, estando algumas das suas pinturas entre as
obras de arte mais significativas da História da Humanidade. O seu génio como
pintor revelou-se muito cedo, tendo sido orientado nos primeiros anos pelo pai,
ele próprio pintor, mas convencional e sem rasgo. Conta-se que, com menos de
catorze anos, entrou directamente para o último ano de uma escola de pintura,
tendo terminado num único dia um estudo sobre um nu que normalmente seria
trabalho para um mês.
São conhecidos e
sempre referidos os seus diversos períodos na pintura, como o azul, o cor-de-rosa
ou o cubista. No entanto, há outros aspectos da sua vida artística que merecem
atenção. A sua admiração pelos grandes pintores espanhóis é evidente. Não foi
por acaso que pintou uma extraordinária versão de “Las meninas” de Velasquez.
Tal como, ao observarmos a “”Guernica”, não podemos deixar de lembrar Goya e o
seu “fuzilamento de Maio de 1808”. Quanto a El Greco, Picasso manteve uma
admiração constante ao longo de toda a sua vida, com inúmeras obras inspiradas
em quadros do extraordinário pintor nascido em Creta, mas que desenvolveu
grande parte da sua vida artística em Espanha, depois de ter passado por Veneza
e Roma.
Há poucas semanas
tive a oportunidade de, mais uma vez, visitar o museu Picasso em Barcelona.
Para nosso deleite lá está o seu “Las Meninas”, bem como muitos dos estudos que
fez para esse quadro, além de outras obras-primas. Mas há algo que chama a
atenção naquele museu e que é essencial para perceber como se desenvolveu a
obra moderna de Picasso. Antes de se tornar no pintor vanguardista que tanto
influenciou a pintura moderna do século XX, Picasso passou por todo um processo
de aprendizagem, tendo retratos, paisagens e naturezas-mortas de uma qualidade
clássica irrepreensível, como o comprovam as obras existentes no museu. Sentiu
depois a necessidade de se libertar do academismo representativo da realidade
como a vemos exteriormente, como que passando para dentro dessa mesma realidade
e dando-nos a conhecê-la pelos diversos elementos que a constituem. A beleza da
pintura deixou de ser estática, interpelando intimamente e de forma inquietante
quem a observa e aí está o génio de Picasso. Da complexidade estrutural da
pintura representativa clássica, evoluiu para uma “aparente” simplicidade quase
infantil resultante da “explosão” dos diversos elementos integrantes do motivo
do quadro e transformando-os em simples objectos geométricos.
Por isso Picasso
brincava dizendo o que aparece no título desta crónica. Conta-se, a este
propósito, a história de uma senhora que lhe pediu um retrato que o pintor
executou com meia dúzia de traços e em poucos minutos. Quando lhe pediu a
conta, a senhora exclamou que era muito dinheiro para tão pouco tempo de
trabalho ao que o pintor respondeu que aquilo era o resultado do trabalho de
uma vida inteira, pelo que até era barato.
Além do tempo que
demora a ficarmos jovens, aqueles que ficamos, claro, é preciso reconhecer que
isso dá muito trabalho. E, como é evidente, tal não sucede apenas na arte mas
também na nossa vida. A simplicidade que advém do conhecimento interior da
sociedade e das pessoas permite distinguir o que é essencial do que é acessório
e o que é apenas revestimento artificial da realidade, escolhendo a verdade e
excluindo a mentira.
Pablo Picasso
deixou-nos no fatídico ano de 1973, em que a Humanidade perdeu três dos maiores
artistas do século XX, todos chamados Pablo.
Felizmente nos dias de hoje
podemos dizer que os artistas ficam para sempre connosco. Através das gravações
podemos continuar a ouvir Pablo Casals a tocar as suites de Bach no seu
violoncelo e pelos livros lemos os poemas eternos de Pablo Neruda.
Ambos com
uma vantagem sobre Picasso: é que para apreciar verdadeiramente as pinturas de
Picasso temos que nos deslocar perante elas como já fiz várias vezes com a
Guernica, o que não sucede com a audição de Casals e a leitura de Neruda que
podemos apreciar em casa.
segunda-feira, 6 de junho de 2016
A crítica gestão de territórios urbanos
É hoje pacífico
reconhecer que, se o choque político, cultural, económico e social do fim dos
anos 70 e inícios dos anos 80 no nosso país teve aspectos muito positivos,
outros houve com uma enorme carga negativa que ainda hoje estamos a pagar. Um
deles foi certamente a ocupação do território e a evolução das cidades.
A súbita libertação
de forças sociais que se encontravam abafadas aliada a um esvaziamento
temporário da capacidade de intervenção da autoridade do Estado nos seus
diversos níveis, desde o nacional ao local, levou a uma explosão da actividade
urbanística que demorou muito tempo a ser controlada por legislação adequada.
Não estou tanto a falar da construção clandestina que se desenvolveu
principalmente junto das maiores cidades e também nas praias de maior procura,
como foi o caso do Algarve e que obrigou a programas governamentais específicos
para resolução desse problema.
Refiro-me mais ao crescimento das cidades em
mancha, muito por culpa de uma figura legislativa que vinha dos anos sessenta,
utilizada e aprovada sistematicamente pelos municípios de forma abastardada
relativamente aos seus princípios, que dá ainda pelo nome de loteamento e que
permite a transformação do uso do solo, gerando mais-valias privadas de forma
absurda.
Tudo isto é hoje uma
evidência reconhecida por todos, não carecendo de prova, para além do que se
encontra à vista de todos.
Só bem dentro da
década de oitenta começaram a surgir respostas de planeamento urbanístico,
definindo princípios gerais de ocupação do solo. Foi a época dos Planos
Directores Municipais, que todos os municípios foram obrigados a elaborar para
os seus territórios, muitas vezes sob a ameaça de que, se não o fizessem,
ficariam impedidos de aceder a determinadas verbas. Muitos PDM´s tipo copy/past
se fizeram nessa altura mudando só o nome do município, com a agravante de
serem feitos sem qualquer relação com os dos municípios vizinhos, anulando toda
a possibilidade de economia de escala, e levando à existência de equipamentos
redundantes a poucos quilómetros uns dos outros. Mais tarde, muito mais tarde,
também esse problema foi objecto de solução através de planos regionais e mesmo
nacional, numa altura em que praticamente todo o mal (custos desnecessários) já
estava feito.
Mas o pior ainda
está por aí a acontecer. Os PDM’s, que entretanto já foram todos eles objecto
de revisão, dadas as novas condicionantes técnicas, ambientais e mesmo de
princípios políticos orientadores, continuam em muitos municípios a servir para
aquilo para que não foram feitos. São destinados ao planeamento do território a
nível municipal e não à gestão urbanística que todos os dias é praticada pelos
municípios e que tem a ver com as operações urbanísticas de “licenciamento de
obras particulares” que exige uma escala completamente diferente. Quando surgiu
a necessidade que acima referi de controlar de forma sistemática e com algum
critério mínimo as operações urbanísticas edifício a edifício no interior das
cidades, os urbanistas lançaram mão de um instrumento que poderia ser usado de
imediato, o “índice de construção”. Só por si ou associado a outros conceitos
como a profundidade do terreno, a sua frente de rua ou até o limite de
impermeabilização do solo, servia para limitar a ocupação do território,
evitando excessos volumétricos desadequados. Trata-se, como é bom de ver, de um
instrumento claramente provisório, a utilizar apenas enquanto não avançassem
outros instrumentos urbanísticos mais adequados, com o Plano de Urbanização da
cidade à cabeça e outros planos mais restritos e ainda mais agarrados à
realidade concreta do território, como os Planos de Pormenor.
E é por esta razão,
caro leitor, que na actualidade ainda é possível encontrar edifícios
completamente desgarrados volumetricamente e fora da “moda local” em construção
na nossa cidade. De forma inteiramente legal e sem que a Autarquia o possa
impedir porque não se apetrechou, ao longo destas dezenas de anos, com os
necessários instrumentos para uma gestão urbanística moderna e eficaz.
sexta-feira, 3 de junho de 2016
quinta-feira, 2 de junho de 2016
Inacreditável
PM sobre PR:
“Vejo com satisfação que a senhora Merkel confortou o Presidente da República naquilo que tem sido a mensagem que o Governo tem transmitido ao senhor presidente da República…”
Isto vai fino, vai.
PS: Entretanto o PR respondeu dizendo que o programa deste governo não é muito diferente do governo anterior. Isto é, cá se fazem, cá se pagam. Isto continua fino, sim sr.
“Vejo com satisfação que a senhora Merkel confortou o Presidente da República naquilo que tem sido a mensagem que o Governo tem transmitido ao senhor presidente da República…”
Isto vai fino, vai.
PS: Entretanto o PR respondeu dizendo que o programa deste governo não é muito diferente do governo anterior. Isto é, cá se fazem, cá se pagam. Isto continua fino, sim sr.
segunda-feira, 30 de maio de 2016
“Afundem o Bismarck”
Na semana passada
deu-se o momento final de uma das mais impressivas batalhas da II Guerra
Mundial. Em Portsmouth, cidade inglesa onde se localiza o museu nacional da
Royal Navy, ouviu-se o sino do navio HMS Hood a ser tocado pela primeira vez
desde há 75 anos.
O couraçado Hood era
o maior navio da Marinha Britânica e, em Maio de 1941, participava numa
gigantesca operação naval que visava impedir que o couraçado alemão Bismarck
passasse do Báltico para o Atlântico onde poderia impedir todos os abastecimentos
à Grã Bretanha. O Bismarck era um navio de guerra impressionante construído na década
de 30 nos estaleiros Blohm & Voss em Hamburgo, com uma artilharia
poderosíssima, grande velocidade e uma blindagem resistente a quase todo o fogo
inimigo, sendo o orgulho da marinha alemã e um perigo para a armada inglesa.
Nessa altura, a
Europa estava praticamente toda ocupada pelas tropas nazis, Dunquerque tinha
acontecido há um ano, os EUA permaneciam no seu isolamento, a União Soviética
ainda não tinha sido invadida e apenas a Grã-Bretanha resistia corajosamente à
vontade de Hitler estabelecer o seu Reich de mil anos. Depois do Bismarck, juntamente
com outro couraçado alemão, o Prinz Eugen, terem conseguido passar pelo
estreito da Dinamarca sem serem detectados, foram vistos já a navegar em pleno
Atlântico, tendo vários navios ingleses seguido no seu encalço para lhe darem
batalha. No dia 24 de Maio de 1941 o Hood afrontou o Bismarck de proa para lhe
oferecer alvo mais reduzido mas a primeira salva do Bismarck atingiu-o em cheio,
afundando-o de imediato e levando para o fundo os mais de 1.400 homens da sua
guarnição. Perante o desastre, os outros navios ingleses, com menor poder de
fogo, afastaram-se e o Bismarck continuou a sua rota no Atlântico, para cumprir
a sua missão de afundar todos os navios que se dirigissem para as ilhas
britânicas, seguindo a estratégia de Hitler de as isolar completamente,
enquanto o Prinz Eugen se dirigiu para a França ocupada.
As ordens do
governo britânico chefiado por Winston Churchill foram claras: “Afundem o
Bismarck”. Seguiu-se uma gigantesca operação de caça pelo mar do Norte, com uma
frota de navios britânicos a procurar o Bismarck que apenas terminou no dia 27
de Maio quando foi cercado e alvo da artilharia naval e torpedos, já que um
ataque aéreo na noite anterior lhe avariara o leme e o colocara em situação de
inferioridade. O Bismarck, depois de ter sido atingido com gravidade, acabou
por ser afundado pela sua própria guarnição.
O afundamento do
Hood e posterior caça ao Bismarck ficou como um marco na História da Royal Navy
e da capacidade de resistência e sacrifício britânicos perante um inimigo
poderoso que destruía de forma selvagem tudo aquilo que pudesse impedir os seus
objectivos de poder total e absoluto.
No ano passado, foi
finalmente resgatado o sino do HMS Hood dos seus restos que jazem no fundo do
Atlântico norte.
Foi assim possível
realizar a cerimónia no dia 24 de Maio da semana passada, em memória dos
marinheiros do Hood afundado naquele mesmo dia, 75 anos antes. Os familiares
dos marinheiros desaparecidos naquele dia trágico em luta crucial e decisiva pela
Liberdade da Humanidade puderam assim recordá-los e prestar-lhes homenagem, com
o toque do sino que eles mesmos ouviam a bordo nas suas fainas.
Estes
acontecimentos mostram como a guerra é algo terrível a evitar com todas as
forças pelas consequências trágicas para tantos que nela combatem e para as
suas famílias. Mas são também a prova de que muitas vezes não é possível fugir
dela e de que o heroísmo também faz parte da condição humana e, muitas vezes, é
dele que depende o futuro digno de muitos. E os que assim caem devem ser
lembrados e homenageados, como agora aconteceu em Portsmouth de forma simbólica
tão cara aos marinheiros.
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