segunda-feira, 30 de maio de 2016

“Afundem o Bismarck”


Na semana passada deu-se o momento final de uma das mais impressivas batalhas da II Guerra Mundial. Em Portsmouth, cidade inglesa onde se localiza o museu nacional da Royal Navy, ouviu-se o sino do navio HMS Hood a ser tocado pela primeira vez desde há 75 anos.
O couraçado Hood era o maior navio da Marinha Britânica e, em Maio de 1941, participava numa gigantesca operação naval que visava impedir que o couraçado alemão Bismarck passasse do Báltico para o Atlântico onde poderia impedir todos os abastecimentos à Grã Bretanha. O Bismarck era um navio de guerra impressionante construído na década de 30 nos estaleiros Blohm & Voss em Hamburgo, com uma artilharia poderosíssima, grande velocidade e uma blindagem resistente a quase todo o fogo inimigo, sendo o orgulho da marinha alemã e um perigo para a armada inglesa.

Nessa altura, a Europa estava praticamente toda ocupada pelas tropas nazis, Dunquerque tinha acontecido há um ano, os EUA permaneciam no seu isolamento, a União Soviética ainda não tinha sido invadida e apenas a Grã-Bretanha resistia corajosamente à vontade de Hitler estabelecer o seu Reich de mil anos. Depois do Bismarck, juntamente com outro couraçado alemão, o Prinz Eugen, terem conseguido passar pelo estreito da Dinamarca sem serem detectados, foram vistos já a navegar em pleno Atlântico, tendo vários navios ingleses seguido no seu encalço para lhe darem batalha. No dia 24 de Maio de 1941 o Hood afrontou o Bismarck de proa para lhe oferecer alvo mais reduzido mas a primeira salva do Bismarck atingiu-o em cheio, afundando-o de imediato e levando para o fundo os mais de 1.400 homens da sua guarnição. Perante o desastre, os outros navios ingleses, com menor poder de fogo, afastaram-se e o Bismarck continuou a sua rota no Atlântico, para cumprir a sua missão de afundar todos os navios que se dirigissem para as ilhas britânicas, seguindo a estratégia de Hitler de as isolar completamente, enquanto o Prinz Eugen se dirigiu para a França ocupada.
As ordens do governo britânico chefiado por Winston Churchill foram claras: “Afundem o Bismarck”. Seguiu-se uma gigantesca operação de caça pelo mar do Norte, com uma frota de navios britânicos a procurar o Bismarck que apenas terminou no dia 27 de Maio quando foi cercado e alvo da artilharia naval e torpedos, já que um ataque aéreo na noite anterior lhe avariara o leme e o colocara em situação de inferioridade. O Bismarck, depois de ter sido atingido com gravidade, acabou por ser afundado pela sua própria guarnição.
O afundamento do Hood e posterior caça ao Bismarck ficou como um marco na História da Royal Navy e da capacidade de resistência e sacrifício britânicos perante um inimigo poderoso que destruía de forma selvagem tudo aquilo que pudesse impedir os seus objectivos de poder total e absoluto.
No ano passado, foi finalmente resgatado o sino do HMS Hood dos seus restos que jazem no fundo do Atlântico norte.
Foi assim possível realizar a cerimónia no dia 24 de Maio da semana passada, em memória dos marinheiros do Hood afundado naquele mesmo dia, 75 anos antes. Os familiares dos marinheiros desaparecidos naquele dia trágico em luta crucial e decisiva pela Liberdade da Humanidade puderam assim recordá-los e prestar-lhes homenagem, com o toque do sino que eles mesmos ouviam a bordo nas suas fainas.


Estes acontecimentos mostram como a guerra é algo terrível a evitar com todas as forças pelas consequências trágicas para tantos que nela combatem e para as suas famílias. Mas são também a prova de que muitas vezes não é possível fugir dela e de que o heroísmo também faz parte da condição humana e, muitas vezes, é dele que depende o futuro digno de muitos. E os que assim caem devem ser lembrados e homenageados, como agora aconteceu em Portsmouth de forma simbólica tão cara aos marinheiros.

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