segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Um país no “cul de sac”

 


Em engenharia de tráfego é habitual chamar “cul de sac” a um beco sem saída. Acontece quando uma estrada termina sem outras ligações à rede viária, tendo que se encontrar uma solução adequada para que os veículos que aí chegam consigam voltar para trás.

É essa a situação em que o nosso país parece estar. Quando, na sequência das eleições de 2015 nem o PS nem o PSD coligado com o CDS conseguiram maioria absoluta, o PCP ofereceu a célebre mão ao PS pela voz do seu Sec. Geral Jerónimo de Sousa- «o PS só não forma governo se não quiser». Foi o abrir do caminho para o que se veio a chamar «Geringonça» na base de acordos escritos entre o PS, o PCP e o BE. Acordo perfeitamente legítimo, porque assente entre partidos representados na Assembleia da República. Mas com evidente significado político, e as inerentes consequências na governação do país, que evidencia uma desconfiança quando não aversão às empresas que constituem a economia real geradora dos resultados de que saem os impostos que pagam o funcionamento do Estado. Foi assim que nunca se conseguiram atingir níveis de crescimento económico que nos fizessem subir na classificação de riqueza dos países europeus mas que, muito antes pelo contrário, conduziram à descida de um lugar por ano nesse ranking. Como aliás seria de prever, dado que não há memória de algum país que algum dia tenha enriquecido aplicando as fórmulas políticas dos dois partidos associados ao PS na geringonça que, assim, serviu apenas para a sua manutenção no poder.

A descida do défice das contas públicas até quase zero foi conseguida com malabarismos contabilísticos de cativações forçadas que desvirtuaram sucessivamente os diversos OGE aprovados na Assembleia da República e ainda pela não efectivação dos investimentos públicos previstos. Tudo isto com a participação activa dos partidos apoiantes do Governo no Parlamento que, sabendo do que acima ficou escrito, foram aprovando todos os Orçamentos do Estado com as consequências que se conhecem. Como exemplo podem apontar-se os problemas gravíssimos no Serviço Nacional de Saúde onde, além do mais, a falta de pessoal decorrente da adopção das 35 horas não foi compensada com novas contratações.


A situação foi caminhando sob os avisos de muitos que alertavam para a falta de capacidade do país perante uma qualquer crise inesperada, dado o elevado nível de endividamento que foi sempre crescendo. E essa situação chegou, sob a forma de uma pandemia. Como, por azar, a crise veio pelo lado da saúde, o SNS viu-se obrigado a dedicar-se quase em exclusivo ao novo vírus, deixando milhares de portugueses sem consultas, sem exame, sem cirurgias e sem alternativa de poderem ir ao sector privado da saúde. Dadas as característica da crise todos os países sofreram os efeitos nefastos nas suas economias mas lá está, uns têm umas couraças fortes perante os ataques e outros têm apenas uns escudos de papel. E Portugal está na situação de depender por inteiro de dinheiros vindos da União Europeia, desta vez sob a forma de subvenções ditas a fundo perdido. Vemo-nos, de novo, na situação humilhante de dependermos totalmente dos nossos parceiros internacionais, chegando ao ponto de apelar por uma «bazuca» de dinheiro, sem qualquer pejo.

O historial dos últimos cinco anos, associado à pandemia, trouxe-nos a esta situação que todos sentem ser um beco sem saída e que é, na verdade, a verdadeira razão para a dramatização do Governo ameaçando com uma crise enquanto diz que não a podemos ter. Acresce a situação própria da proximidade das eleições presidenciais. Há muitas semanas que o Presidente deixou de poder dissolver a Assembleia e durante mais seis meses depois da sua reeleição também não o poderá fazer.

Assim se percebe o drama artificial criado que vai desembocar numa nova aprovação do OGE com a colaboração, mais uma vez, do PCP e do BE, é certo. Por pura sobrevivência o governo socialista coloca-se de novo nas mãos das exigências dos dois partidos, entre as quais a não previsão no Orçamento dos 900 milhões de euros para o Novo Banco para cumprimento do contrato assinado pelo Governo socialista com o apoio dos seus companheiros de estrada. Sem capacidade nem vontade de fazer as reformas cada vez mais necessárias, vamo-nos entretendo com propostas de recriação de 600 freguesias.


O beco sem saída em que o Governo meteu o país pelas suas escolhas políticas vai acabar por ser resolvido porque, felizmente, a Democracia tem essa grande vantagem sem que haja necessidade de se recorrer a cortes de regime. Mas, até lá, a complexidade da situação vai trazer grandes custos a assumir mais uma vez pelas carteiras dos portugueses, disso não tenhamos dúvidas.

 

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 12 de Outubro de 2020

Love Theme (From "Barry Lyndon")

domingo, 11 de outubro de 2020

Presidente da República (Marcelo R. Sousa) deu posse a Membros do Conselho das Ordens Nacionais

 A saber (em Junho de 2016):

O Presidente da República e Grão-Mestre das Ordens Honoríficas Portuguesas conferiu posse, em cerimonia realizada no Palácio de Belém, aos vogais dos três Conselhos das Ordens, nomeadamente Conselho das Antigas Ordens Militares, Conselho das Ordens Nacionais e Conselho das Ordens de Mérito Civil.

Tomaram posse como vogais do Conselho das Antigas Ordens Militares, sob proposta do seu Chanceler Dr. Jaime José de Matos da Gama, o Coronel Fernando Gil Almeida Lobato de Faria, o Coronel Raúl Miguel Socorro Folques, a Dra. Maria de Belém Roseira Martins Coelho Henriques de Pina, o Embaixador Fernando Andresen Guimarães, o General Luís Evangelista Esteves de Araújo, o Almirante Francisco António Torres Vidal de Abreu, a Professora Doutora Maria Raquel Viegas Soeiro de Brito e o Padre José Tolentino Calaça de Mendonça.

Para vogais do Conselho das Ordens Nacionais, sob proposta da sua Chanceler Dra. Maria Manuela Dias Ferreira Leite, tomaram posse a Dra. Isabel Maria de Lucena Vasconcelos Cruz de Almeida Mota, o Dr. José Albino da Silva Peneda, o Professor Doutor Manuel António Garcia Braga da Cruz, o Dr. António José de Castro Bagão Félix, a Professora Doutora Elvira Maria Correia Fortunato e o Dr. Carlos Morais Beato.

Tomaram ainda posse como vogais do Conselho das Ordens de Mérito Civil, sob proposta da sua Chanceler Professora Doutora Maria Helena Vaz de Carvalho Nazaré, o Embaixador Francisco Seixas da Costa, a Irmã Ana Maria de Sousa Vieira, o Professor Doutor José Carlos Diogo Marques dos Santos, a Professora Doutora Maria da Graça Martins da Silva Carvalho, a Engenheira Olga Maria Carrasqueira Laureano, a Dra. Maria da Conceição Rodrigues Leal e a Dra. Isabel Mendes Furtado.

Os Conselhos das Ordens são presididos pelo respetivo Chanceler e os seus vogais são nomeados de entre as Grã-Cruzes, Grande-Oficiais e Comendadores das respetivas Ordens. Os vogais da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito podem ser escolhidos de entre os condecorados com qualquer grau. Compete aos Conselhos das Ordens dar parecer sobre as propostas e solicitações de agraciamento com as respetivas Ordens e propor, nos termos da presente lei, a concessão de condecorações com as suas Ordens.

 

Nota minha: Enfim. Se os que propõem distinções são estes, não é de admirar quem são os distinguidos (as excepções servem para confirmar regras, como é bem sabido).

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Regras do Estado

 O primeiro-Ministro diz que acertou com o presidente da República que os mandatos dos dirigentes da Justiça são únicos, não havendo lugar a reconduções. Eu sei que sou engenheiro e não jurista, mas estava convencido que o estabelecimento de regras (dizem-se leis)  acertadas entre orgãos de soberania deviam ser publicadas no Diário da República, onde até aparecem as resoluções do Conselho de Ministros. Ou será que foram publicadas e ninguém reparou? Foi assim, senhor Presidente Marcelo Rebelo de Sousa?

Península Ibérica

 A diferença entre o Norte e o Sul de Portugal!



segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Uma crónica que é capicua: 777

 


Um amigo meu que é médico dos corpos e desconfio que, por vezes, ainda que ele próprio o não saiba até de almas, diz que «os números acertam sempre e as crónicas acertam às vezes» e quanto a mim, apesar de não acreditar em bruxas sei, de ciência certa, que as há.

Este «Visto de Dentro» é a 777ª crónica desta série iniciada em Outubro de 2005 e, se algumas vezes terá acertado e outras menos, confio que será certamente desta vez que acerta em pleno, já que os numerologistas ocidentais e orientais coincidem em atribuir ao número 777 qualidades verdadeiramente excepcionais. No número 777 aparecem três algarismos seguidos. O número 7 só por si é considerado o número da perfeição, ligado ao conhecimento e à espiritualidade, estando presente em mitos e religiões ao longo da História por se encontrar ligado à Natureza através de numerosos ciclos como os dias da semana e as fases lunares entre muitos outros e até às notas musicais. O número 777 será, assim, um número especial, indicativo de sucesso ou realização de um sonho pessoal

Mas, para além da procura de significados de índole mais ou menos esotérica, a manipulação de números permitiu, desde tempos imemoriais, a representação de relações presentes na Natureza, mas também na capacidade de construção mental do Homem. O jogo de xadrez, debaixo do aparente caos de movimentos de 32 peças em 64 casas, esconde a construção de estratégias e utilização de tácticas com a mais fria lógica matemática, existe há mais de mil anos, pensando-se que teve origem na Índia. Classicamente representa uma batalha entre dois exércitos, mas mais modernamente não anda muito longe da representação da luta pelo poder entre partidos e até da conquista do mercado por empresas diferentes.


A capacidade de calcular distâncias entre pontos ultrapassando impossibilidades físicas foi trazida pela trigonometria e pela fórmula do triângulo rectângulo descoberta por Pitágoras uns quinhentos anos antes de Cristo: o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos, algo que todos aprendemos logo no início do Liceu.

Ao dividir-se o perímetro de qualquer círculo pelo seu diâmetro, seja qual for a dimensão do círculo, encontra-se sempre o mesmo valor, conhecido por Pi. As primeiras aproximações do valor de Pi obtiveram-se nas antigas civilizações, tendo os egípcios chegado ao valor de 3,16. O matemático grego Arquimedes calculou o valor de 3,142 e não foi por isso que gritou Eureka, expressão que reservou para outra descoberta também relacionada com números. Hoje em dia sabe-se que o valor de Pi é um número irracional com o valor 3,14159….., portanto uma sequência infinita de dígitos, mas a sua importância do conhecimento de algo matemático tão elementar na nossa vida continua a mesma ou mesmo ainda maior do que nos tempos dos antigos egípcios e babilónicos.

A medição das distâncias percorridas sobre os oceanos foi, durante séculos, um quebra-cabeças para os navegadores dado que, a partir de certa altura souberam como calcular a latitude e muito mais tarde a longitude, mas não sabiam a distância percorrida por um grau à superfície da Terra. Até que um matemático inglês, depois de ter tomado consciência da dificuldade de encontrar umas pequenas ilhas no meio do mar, se deu ao trabalho de o calcular. A partir da Torre de Londres andou a estender um fio muitas vezes até York para calcular esta distância, medindo depois o ângulo do Sol nos dois locais à mesma hora do mesmo dia. O seu cálculo de 110,72 km por grau foi bastante aproximado. O que ele não podia saber então é que a Terra tem menos 43 Km no Equador do que num meridiano, mas a sua obra foi de grande importância para as navegações marítimas.

Além do mais, o número 777 é também uma capicua, o que quer dizer que é idêntico ao ser lido da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda. O termo terá surgido no século XIX em Barcelona, derivando etimologicamente dos termos catalães para cabeça e cauda. As capicuas podem também ser chamadas palíndromos, termo que designa igualmente palavras ou frases com a mesma característica de poderem ser lidas nos dois sentidos. A palavra «Ana» é um exemplo de um palíndromo. Um dos palíndromos mais antigos está em latim: "SATOR AREPO TENET OPERA ROTAS" (O lavrador diligente conhece a rota do arado").


E é este último palíndromo que tem o condão de me trazer à terra, recuperando assim a rota do meu arado, isto é, a obrigação (ou devoção) de terminar mais esta crónica que, a certa altura, me levou por caminhos insuspeitados, certamente como consequência do seu número estranho. Prova da afirmação inicial de que os números acertam sempre, as crónicas só às vezes.
 
 
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 5 de Outubro de 2020

Renaissance - Can You Understand

Plano de recuperação de quê?

 Do Público:
«Duas novas pontes para Espanha, 1250 milhões para garantir habitação condigna para as 26 mil famílias sinalizadas, um eléctrico rápido em Loures, um autocarro autónomo no Porto, meios complementares de diagnóstico nos centros de saúde, mais de 8000 camas de cuidados integrados e paliativos e meios aéreos próprios (comprados). O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) já é mais do que o Powerpoint de 16 páginas apresentado pelo primeiro-ministro aos partidos no início da semana passada.» 

 Os génios que pariram um plano destes acham que a economia portuguesa é assim que vai recuperar? Os portugueses merecem mesmo isto? 

Ainda o Tribunal de Contas

 É verdade que no Tribunal de Contas o vice-presidente substitui o presidente antes da substituição deste, por ordem do Governo, ao contrário do que diz a Lei?

 Presidente Marcelo, tenha cuidado, muito cuidado. Pode parecer que não, mas os portugueses reparam em certas coisas.

domingo, 4 de outubro de 2020

Fake New

 Não se confirma que Amy Coney Barret vá ser a próxima Presidente do Tribunal de Contas de Portugal

sábado, 3 de outubro de 2020

Bazucadas

 António Costa informou que não vai utilizar a fatia de apoios europeus à recuperação económica constituida por quase 15 mil milhões de euros a juros baixos, aceitando apenas a fatia de dinheiro «oferecido», porque Portugal ainda não está em condições de o fazer porque tem uma dívida pública muito alta. Com tanta consciência, ainda vamos ver Costa a receber o dinheiro da UE e a ir pagar dívida . E, se calhar, a UE agradece.

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Tantos génios!

 

 


 

 

De Luis Aguiar Conraria, no Expresso:

https://expresso.pt/opiniao/2020-09-28-Mais-um-prego-no-caixao-da-escola-publica-1


«...No exame de acesso de Matemática A, a moda — ou seja, a nota que se repetiu mais vezes — foi 19. Em Física e Química A, do 11º ano, a moda foi 18. Olhando para as médias de acesso à Universidade, ficamos com a ideia de que o futuro do país está garantido. Os gestores portugueses serão, em breve, os melhores do mundo. Os economistas, idem. Temos uma medicina que não se compara a nada. Os juristas são tão extraordinários que a nossa Justiça rapidamente se tornará uma referência internacional. Cereja em cima do bolo, temos os melhores engenheiros aeroespaciais do mundo: em 10 anos, vamos a Marte e voltamos.

(Se tivermos em atenção que mais de metade dos professores universitários tem a avaliação máxima, de Excelente, somos obrigados a concluir que a academia portuguesa há de ser a melhor do mundo.)

Como, evidentemente, não somos todos uns génios, o que isto quer dizer é que os exames foram fáceis demais, não permitindo distinguir os bons alunos dos muito bons e dos excelentes. Isto tornou o acesso a alguns cursos numa autêntica lotaria. E numa tremenda injustiça para tantos jovens. Não consigo imaginar o que é estar na pele de um adolescente que desde o 10º ano só tira dezoitos, dezanoves e vintes, que nas provas de acesso não tem nenhuma nota abaixo de 18 e não consegue entrar no curso pretendido. Ou estar na pele de alguém que, ao longo de 3 anos, tirou 20 a tudo e que teve um azar no exame de Matemática, não conseguindo mais do que 16, e que por isso não entra no seu curso de sonho. Ao tornar o acesso ao superior numa lotaria, os exames foram um fracasso..

O CHOQUE COM A REALIDADE

Costa a informar os portugueses  que o seu país não tem condições para contrair mais empréstimos. Apenas utilizará o dinheiro "oferecido", dito à borla, que alguém pagará e nós não. Aderiu ao neo-liberalismo? Não! a União Europeia pela voz da sra. Von der Leyen veio explicar-lhe os factos da vida. E agora, geringonça? O BE continua a sustentar o governo PS? E o PCP? Claro que falta pouco para deixarem o PS sozinho a assumir os resultados da governação desde 2015. Vai ser feio de ver. E o Presidente que deixou que tudo isto acontecesse vai ter de arranjar uma saída. Não preciso de fazer um esquema para ver como vai ser.




segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Um país que faz de conta, ou que é apenas fingidor?

 


Eventualmente devido à pandemia que traz a nossa sociedade tolhida de medo, Portugal parece ter entrado num modo «faz de conta», de tal forma se parece fingir que situações graves, que se passam e deviam criar fortes reacções, não estão de facto a acontecer perante os nossos olhos.

Os dois principais partidos, o PS e o PSD, decidiram entre si avançar para uma democratização de faz de conta das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional e arranjaram uns colégios eleitorais constituídos por autarcas para «elegerem» os respectivos responsáveis. Para completar o cenário da dita democratização, distribuíram previamente entre si os lugares em disputa: tantos para mim e tantos para ti e agora srs. Autarcas votem em quem nós já escolhemos. Democracia de faz de conta, pois claro.

Três juízes do Tribunal da Relação de Lisboa foram acusados das mais diversas tropelias à Lei, cometidas enquanto aplicavam a mesma aos cidadãos que lá tinham a desdita de cair. Os factos de que vão acusados passaram-se durante anos, sem que as instâncias de Justiça superiores tivessem capacidade ou vontade da acabar com a situação que seria do conhecimento de grande parte dos funcionários judiciais que lá trabalhavam. No caso de os acusados do processo Lex virem a ser ser condenados, abre-se a possibilidade de centenas de cidadãos afectados por decisões judiciais da responsabilidade do Juiz Rangel poderem requerer revisão dos respectivos processos que, em vez de justiça, podem ter trazido injustiça às suas vidas. Entre essas decisões, uma referente ao processo que já levou um ex-primeiro Ministro a prisão preventiva durante meses há seis anos, fingindo o país não reparar na gravidade de tal situação e no facto de ainda se aguardar pelo despacho de pronúncia ou não.

Entretanto, enquanto apresenta um suposto pacote para combater a corrupção que não é mais que uma mão cheia de nada, o Governo tem na AR uma proposta que visa substituir por convites directos a regra dos concursos para contratação pública e, neste caso, espero mesmo que o país não finja que não se passa nada.

O Governo pede a um cidadão respeitado e respeitável, a quem o primeiro-Ministro chama poeta-engenheiro, que elabore sozinho uma “visão” de recuperação pós-pandemia para orientar a aplicação de mais de uma dezena de milhar de milhões de euros da União Europeia e o país não mostra sinais de perceber a confissão pública de falta de estratégia nacional que isto denuncia.

Os portugueses continuam a ouvir a lenga-lenga de que a troica só veio para Portugal com o seu rol de austeridade e sacrifícios porque uns partidos malvados não aprovaram o PEC IV que lhe traria a recuperação sem necessidade daqueles problemas. E, já agora, sem necessidade de empréstimo de 78 mil milhões. Após isso, o governo andou 5 anos a afirmar que o crescimento de Portugal era superior à média europeia e o país fingia acreditar que sim e que não via que, ano após ano, íamos descendo um lugar no ranking europeu da produção de riqueza. E que, nos últimos 20 anos, o nosso crescimento médio foi de uns míseros 0,5%, sem que isso traga quaisquer dores de cabeça aos portugueses em geral e, principalmente, a quem o prazer de os governar.

O país dorme ou finge não ver que se está a preparar uma solução energética para o país, substituindo o gás natural por hidrogénio que será três ou quatro vezes mais caro. Tal como já aconteceu com as eólicas que nos impingiram com os portugueses a pagar alegremente uma das electricidades mais caras da Europa, porque estão na linha da frente da “descarbonização”, vejam lá a satisfação. Satisfação essa que obriga a sua maioria a não conseguir aquecer as casas no Inverno por causa da conta da electricidade.

O país finge igualmente não ver que, depois de duas auditorias a um banco que está a funcionar de portas abertas e que chegaram basicamente às mesmas conclusões, os responsáveis políticos, com o líder do maior partido da oposição à cabeça, pedem ainda outra auditoria a fazer agora, imagine-se, pelo Tribunal de Contas. Como se a oposição política se deva dirigir à gestão de um banco e não à governação do país. O que não nos deveria admirar quando se dispensa um primeiro-Ministro de ir quinzenalmente ao parlamento explicar-se e prestar contas, passando a fazê-lo de dois em dois meses lá está, porque coitado, tem mais que fazer.

Um país de fingidores, é aquilo em que Portugal se está a tornar.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 28 de Setembro de 2020

Emprego público para todos?

 Variação do emprego público desde 2012. Percebem agora a técnica do PS com a geringonça, ou é preciso explicar melhor?



O grande, enorme problema: os obstáculos. Ai de quem obstaculizae a distribuição

 https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2500/html/primeiro-caderno/em-destaque/costa-assume-supervisao-dos-novos-fundos?imp_reader_token=bfd0002e-afd0-4ca7-a328-0de8b6f3504b

 


 

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Sarah Lee Guthrie "Catch the Wind" | 30-Minute Music Hour: On the Road

AMIZADE

 


Tempos estranhos estes, em que o afastamento entre as pessoas passou a ser regra e, mais que isso, mesmo obrigação legal. Meses e meses sem contactos pessoais o que, para além de consequências psicológicas evidentes, provocará alterações sensíveis no próprio funcionamento da sociedade, já que o Homem sempre foi um animal gregário. Famílias que se fecham em casa sem se visitarem. Famílias que deixam de ir ao restaurante para evitar contágio. Viagens de turismo que não se fazem e familiares que não se visitam. As consequências económicas são de todos conhecidas por evidência imediata, já as outras não, só se descobrirão mais tarde.

Mas, mesmo nestas condições sociais de isolamento pessoal há algo que resiste, porque está para além da distância e do tempo: a amizade. Desde bancos de escola onde alegrias e jogos infantis criaram relações simples e inocentes mas duradouras para a vida, até mesas de café onde discussões e conversas sobre tudo e mais alguma coisa nos levaram a conhecermo-nos melhor e aos outros, passando por férias de verão mais animadas, muitas situações ao longo da vida nos levaram a criar relações especiais com outras pessoas. Relações de amizade que, tantas vezes, acontecem entre pessoas muito diferentes em feitios, interesses imediatos, quase como se assim se obtivessem equilíbrios que acabam por tornar cada um melhor e mais receptivo à diferença, através da compreensão do outro. Relações que funcionam, tantas vezes, como estabilizadores emocionais durante as crises mais ou menos sérias que todos acabamos por ter ao longo da vida.

Quando reencontramos amigos verdadeiros, sentimo-nos como se o tempo não tivesse passado desde o último encontro. Ainda que se tenham passado dezenas de anos, é possível e mesmo frequente que a conversa seja retomada no ponto em que então ficou, como se tivesse acontecido há poucos dias. Comigo já aconteceu. Aqueles amigos que já nos deixaram para sempre mantêm-se de tal forma vivos na memória dos afectos que, quando nos lembramos deles, é possível recordar com exactidão palavras, frases, entoações, expressões. Nada disso desaparece da nossa memória e também tal me acontece em relação a amigos que já não estão fisicamente entre nós. Precisamente o contrário daquelas outras amizades que, por serem meramente circunstanciais, se evaporam para evitar situações difíceis. Como dizia Confúcio: para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça; no sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade.


A amizade séria pressupõe um respeito pelo outro, mas é também uma manifestação de confiança ilimitada. Não tem a ver com o amor ou a paixão, sendo antes disso uma relação estável, que autoriza uma dádiva mútua sem nada exigir e que se mantém com a passagem do tempo. Devo dizer que já encontrei pessoas que nunca tiveram amizades, tiveram colegas e, eventualmente amores e desamores, mas nunca sentiram essa sensação de poder confiar totalmente em alguém como amigo e só posso lamentar que tenham perdido na vida algo de tão importante.

Esta crónica não nasceu do acaso. Foi suscitada pela surpresa de, mesmo em situações de confinamento pandémico, ser possível verificar como amizades pessoais de muitos anos se mantêm vivas de uma forma absolutamente espantosa e com uma capacidade de dádiva e de preocupação cuidadosa que revelam aspectos tantas vezes escondidos mas bem vivos. Redescobertas sempre agradáveis de fazer e que nos levam a recordar ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY:

“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”

 

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 21 de Setembro de 2020

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Aquela janela

 Coloquei ali em baixo a canção "aquela janela virada pró mar" de Tristão da Silva. Tenho um particular afecto por esta canção. É, talvez, uma das minhas memórias musicais mais antigas, de ouvir na telefonia em miúdo. Fazia-me sonhar com o mar. Não me poderia passar pela ideia que um dia também seria marinheiro, ainda que por poucos anos. Hoje ouça-a como memória também desse tempo de ondas, espuma e sensações que só o mar alto nos pode transmitir. Memórias.

Tristão da Silva - Aquela janela virada p'r'ó mar

A REALIDADE E A SUA PERCEPÇÃO

 Do blogue IMPERTINÊNCIAS:

"A razão universal é a evolução natural ter conduzido o homo sapiens a um enviesamento da percepção da realidade que o leva a acreditar no que confirma as suas crenças e os seus pré-conceitos. Por isso, a partir do momento que um político ganha a confiança do seu eleitorado este tende a acreditar em tudo e isso é aproveitado por políticos manipuladores que apelam não à razão mas à emoção."

 

Assim se justifica o apoio a Sócrates perante todas as evidências, tal como o actual suporte a Costa, mesmo apoiando Luis Filipe Vieira .