terça-feira, 29 de setembro de 2009

Tapar o sol com a peneira

Um dos piores erros dos derrotados é desvalorizar a vitória dos que ganham. É uma espécie de bálsamo para atenuar a frustração da derrota. Vejo por aí muito boa gente a dizer que o PS não ganhou porque perdeu deputados para todos os partidos. Relembro: em democracia ganha quem tem mais votos! O PS é o vencedor destas eleições. O problema é que podia e devia tê-las perdido! E sejamos frontais: tal só não aconteceu porque, com muita pena minha, o PSD foi profundamente incompetente…

Foi incompetente quando não soube aproveitar a dinâmica de vitória criada pelo resultado das eleições europeias;
Foi incompetente quando não apresentou uma verdadeira renovação nas listas de candidatos a deputados;
Foi incompetente quando apresentou um programa dúbio, pouco claro e sem medidas verdadeiramente reformadoras;
Foi incompetente quando não aproveitou o interessante e inovador trabalho realizado pelo Instituto Francisco Sá Carneiro e o Gabinete de Estudos do partido;
Foi incompetente quando assentou a sua estratégia na ideia de que “em Portugal não se ganham eleições, perdem-se”;
Foi incompetente ao desprezar o valor da imagem e energia mediática no Século XXI;
Foi incompetente quando se asfixiou na história da asfixia democrática que nenhum interesse tem para a resolução dos muitos problemas do país;
Enfim, foi um partido sério, mas incompetente nos momentos decisivos…
Tenho estima e admiração por algumas das pessoas que vêm conduzindo o PSD. Penso que Manuela Ferreira Leite foi fundamental para estancar a degradação de recursos humanos que minava o PSD de Menezes. No entanto, o PSD fez muito pouco para ganhar estas eleições. Parecia uma equipa de futebol a jogar para o empate. E, quando se joga para empatar, normalmente perde-se…


publicado por Francisco Proença de Carvalho às 00:25

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O PSD quer ser o quê?

O PSD quer ser o quê? Um partido de poder ou um partido autárquico?

(via Clube das Repúblicas Mortas de Henrique Raposo em 27/09/09)

1. A resposta a esta pergunta foi dada pela própria MFL: o PSD é, neste momento, um partido autárquico, que se preocupa em manter as redes locais de caciques. Mais nada. A declaração de MFL é ainda mais triste por causa disso. No fundo, MFL veio dizer o seguinte: "perdemos as legislativas, mas iremos vencer as autárquicas, logo, estamos bem". Isto, para um partido como o PSD, é dramático. Com este discurso o PSD deixa de ser um partido de poder nacional e passa a ser - oficialmente - uma confederação de caciques.



2. MFL não tem condições para continuar à frente do PSD. As listas foram uma miséria, sobretudo porque desprezou a gente nova. A campanha foi feita sem profissionalismo, e sem qualquer sentido político. MFL tinha muita razão do seu lado. Muita mesmo. Escrevi isso várias vezes. Foi a única com coragem para dizer que "não temos dinheiro", o "endividamento é um sério problema". Mas em política não chega ter razão no papel. É preciso pegar nessa razão e fazer um discurso político que entre na cabeça das pessoas.E MFL sempre desprezou esta parte da democracia. Não chega ter a razão técnica. É preciso falar com as pessoas. Democracia não é uma aula de economia ou de contabilidade.



3. A nova liderança do PSD tem de resolver uma coisa: o PSD é o quê? O PSD representa o quê ideologicamente? O PSD quer ser apenas uma desculpa para a existência de autarcas ou quer ser um partido liberal e reformista, assumindo claramente a defesa da sociedade contra o Estado?

COIMBRA NO SEU MELHOR


Nestes últimos anos Coimbra tem feito um esforço notável de recuperação de atrasos crónicos em áreas tão sensíveis como o saneamento básico em todo o concelho. Em poucos anos o município conquistou um lugar cimeiro entre os concelhos do país com taxas de saneamento mais elevadas, o que se traduz num melhor ambiente e numa subida de qualidade de vida bem perceptível, em especial nas freguesias não urbanas.

Também os parques infantis e geriátricos têm vindo a ser instalados por todo o concelho facilitando a prática de actividade física ao ar livre com qualidade, tão aconselhada por especialistas com vista a uma vida mais saudável.

Como estas áreas muitas vezes desprezadas e esquecidas, muitas outras há em que o município deu passos de gigante nos últimos anos.

O estabelecimento de ligações formais entre o Município e a Fundação Cultural da Universidade de Coimbra é muito mais importante do que um simples protocolo deixa supor. Significa uma parceria única entre os principais actores da Cidade, sepultando rivalidades e uma situação de costas voltadas com séculos, simbolizada na tradicional diferença entre doutores e futricas. É uma alteração cultural que subverte de forma positiva atavismos que não faziam mais sentido nos dias de hoje, mas cujos sinais ainda são por vezes hoje estão patentes.

Há poucos dias, foi iniciado um outro projecto de grande importância para Coimbra, que aqui desejo saudar vivamente.

A Fundação Inês de Castro e a Câmara Municipal de Coimbra deram as mãos para a promoção da edificação de um Centro Interpretativo sobre a primeira dinastia de Portugal e a história de Pedro e Inês.

É a concretização de uma ideia original do Dr. José Miguel Júdice a que tive o gosto de dar publicidade nestas linhas em Abril deste ano, em crónica que terminava com estas palavras: “Um Centro Interpretativo da Primeira Dinastia em Coimbra proporcionaria uma ligação produtiva das pedras dos nossos inúmeros monumentos ao conhecimento já existente e a produzir, e alavancaria fortemente a actividade turística da Cidade”.

Evidentemente que um Município com a dimensão e a importância no contexto nacional como é Coimbra, não pode deixar de dar atenção a todas as áreas de actuação como o urbanismo, as infra-estruturas, a atracção de empresas, o apoio à economia ao empreendedorismo e à criação de emprego, a educação, a situação regional, etc.

Mas suspeito que um presidente de Câmara que ama verdadeiramente Coimbra tem um prazer acrescido em participar e promover acções que, embora possam parecer menos espectaculares, permitem alterar situações velhas e caducas, sendo actor da mudança estratégica da agulha do concelho.

Post scriptum: Daqui a 15 dias farei aqui os meus comentários sobre a campanha que terminou nas eleições de ontem, recordando apenas algo que a Dra. Manuela Ferreira Leite disse na quinta-feira passada: “o povo português sempre demonstrou sempre ter inteligência nas escolhas que faz”.


Publicado no Diário de Coimbra em 28 de Setembro de 2009

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Fantástico

A condenação do "gang das picaretas" foi anulada.

Razão: "Os juízes julgam não estar claro se os carros eram roubados apenas para serem utilizados nos assaltos do grupo ou se havia intenção de apropriação dos mesmos, integrando-os no seu património".

E para os proprietários dos carros  a diferença é significativa.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Leituras (?)

A TSF anunciou hoje muito cedo que a distribuição de computadores às escolas se encontra suspensa, sem explicações dos responsáveis. No entanto, no jornal de notícias das oito na RTP, lá estava a responsável do Plano Nacional de Leitura. Em cima da mesa, imagine-se, um Magalhães. A senhora esteve para ali largos minutos a defender a distribuição de Magalhães, "fundamental" para a aprendizagem, imagine-se, da leitura. A senhora chegou a dizer que até as crianças que ainda não sabem ler, apreciam os livros através do computador: ouvem o barulho das páginas a passar. Para ela, a distribuição de Magalhães pelas escolas é um completo sucesso que pôs Portugal na linha da frente. Quais rankings tecnológicos que deixaram o nosso país exactamente na mesma posição que há quatro anos, porque os outros países não estiveram parados. Não, o que interessa é a sensação da senhora. Esta conversa fiada na boca da responsável pelo Plano Nacional de Leitura, repito. Poucas vezes vi uma campanha tão manipuladora na televisão do Estado a três dias das eleições.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A SEXTA RAZÃO


Eis-nos, enfim, chegados à última semana da campanha eleitoral.

Ao Programa Eleitoral do PSD foi dado simbolicamente o nome de Compromisso de Verdade. Ao contrário do que muitos tentaram dizer, aquela designação não quer dizer que o PSD se pretende detentor da verdade, longe disso. A palavra-chave para se perceber o que significa é COMPROMISSO, a garantia aos portugueses pelo PSD de que não os enganará. Trata-se mesmo de uma posição de humildade perante a difícil realidade com que o país se confronta, o oposto de quem julga ter soluções para todos os problemas.

O Programa Eleitoral do PSD elege cinco áreas cruciais para a recuperação do país e a sua recolocação no caminho da convergência com os índices europeus de desenvolvimento.

Essas áreas, para as quais se definem objectivos centrais, são: Economia, Solidariedade, Justiça, Educação e Segurança.

No que respeita à Economia, “os objectivos centrais são criar condições para aumentar o emprego e para retomar o crescimento e a convergência com a União Europeia”.

Quanto à Solidariedade, o PSD entende que “é fundamental aumentar a coesão social, a par da necessidade imperiosa de se acudir aos problemas mais prementes da pobreza e das desigualdades. Prioritárias são as pessoas e as famílias”.

Sobre a Justiça que é considerada “o primeiro pilar da garantia e defesa das liberdades”, afirma-se que “recuperar a confiança no sistema judicial e garantir a sua eficácia é uma das metas do PSD para esta legislatura”.

Quanto à Educação, o Programa lembra que “é a base do livre desenvolvimento das pessoas, o alicerce de todo o nosso desenvolvimento económico, social e cultural, pelo que o combate ao facilitismo e a recuperação dos professores são linhas mestres do programa de acção”.

Já sobre a Segurança, afirma-se que “é fundamental o reforço da autoridade do Estado, uma efectiva política de prevenção e a melhoria da coordenação dos meios de combate à criminalidade, já que sem segurança não há liberdade”.

Como se vê, este conjunto de cinco áreas a reformar profundamente, de imediato e de acordo com os princípios indicados, é mais do que suficiente para decidir um voto.

Mas, a meu ver, há uma questão que enforma uma Sexta Razão de voto no PSD como da mais vital importância nestas eleições. Trata-se da ligação do passado ao futuro. O passado destes quatro anos, todos nós o conhecemos. Por outro lado, segundo todas as previsões eleitorais conhecidas, não haverá nestas eleições maioria absoluta de qualquer partido. Assim sendo, o realismo dita que a formação de maiorias que garantam a estabilidade do governo a sair das eleições do próximo domingo passam por uma maioria PSD+CDS ou por uma maioria PS+BE.

Neste quadro, desafio o leitor a meditar sobre o que se passou nestes últimos quatro anos e a escolher pragmaticamente o futuro que quer para o país em função das hipóteses realistas de formação de Governo que se colocam.

Pelas primeiras cinco razões, vou votar no PSD pela positiva. Pela sexta razão, contribuo para evitar que em 2010 Portugal seja o único país europeu com um governo dependente de um partido de esquerda radical, que ainda entende as nacionalizações como política necessária.

Publicado no Diário de Coimbra em 21 de Setembro de 2009