segunda-feira, 8 de março de 2010

A TERRA É DO HOMEM?


Mais um grande sismo com consequências trágicas veio perturbar a convivência do Homem com o planeta que habitamos, a Terra.

A relação da humanidade com a natureza tem variado muito ao longo dos séculos. A evolução do conhecimento científico, principalmente nos últimos cem anos, tem vindo a recolocar o Homem no Ambiente que o rodeia, trazendo humildade para o lugar da arrogância criada pelo iluminismo e pelo racionalismo.

Mas a Humanidade continua a considerar a Terra como sua propriedade e como se estivesse aqui para seu usufruto completo e para sempre.

Os próprios conceitos de Ecologia e de desenvolvimento sustentável têm ainda, muito frequentemente, o Homem como medida de todas as coisas e na prática, ainda considerado como centro do Universo, quando o que está em causa é todo o Ambiente em que o Homem se deveria inserir em harmonia com tudo o que o rodeia E não se conclua que esta visão é contra o progresso da humanidade, longe disso.

Ainda assim, para além dos estragos que o Homem provoca na Natureza, o pior é esquecermo-nos do nosso papel minúsculo no Espaço em que a Terra evolui e no Tempo de que a existência da Humanidade é um período de quase nada, mesmo tendo em consideração apenas a Terra.

A ciência do século XX veio esclarecer muito do que se passa na Terra e que provoca os sismos. Aos nossos olhos, os continentes e oceanos parecem bem delimitados e que sempre ali estiveram e para sempre estarão. Nada de mais errado. Já há vários séculos que alguns mais atentos observaram semelhanças geométricas entre as costas de África e da Europa com as costas das Américas, o que levantava a hipótese de algures no passado ter havido um continente que se teria rompido, tendo-se as partes resultantes afastado e o espaço no meio sido ocupado pelo oceano. Era a teoria da deriva dos continentes, que levou à consideração de primeiro continente único, a Pangea.

Só no século XX a instrumentação científica desenvolvida veio permitir conhecer melhor a constituição física e química da crosta terrestre e a evolução da litosfera terrestre, tendo-se desenvolvido a teoria da tectónica de placas. Através desta teoria, considera-se hoje que as placas terrestres que constituem a litosfera como que flutuam sobre o manto, mais profundo e viscoso. Nas zonas de contacto entre estas placas tectónicas em movimento criam-se tensões gigantescas que de vez em quando têm que ser libertadas, originando os tremores de terra. Trata-se de fenómenos a uma escala que o Homem não domina, e dificilmente virá a prever com exactidão quando e onde acontecerão.

Não vale a pena culpar Deus por estes acontecimentos. Eles já se verificavam antes de existir a Humanidade e continuarão certamente a verificar-se após o seu desaparecimento. Deus tem mais que fazer a ajudar-nos por dentro a todos e cada um de nós, do que provocar catástrofes naturais.

No estado actual da ciência, sabe-se no entanto com exactidão quais são as zonas de contacto entre as placas tectónicas e portanto, quais os locais de maior probabilidade de ocorrência de sismos de grande envergadura.

O que podemos fazer é evitar ocupar os locais mais perigosos e adoptar medidas de prevenção adequadas a cada zona. O Chile está precisamente numa dessas zonas mais perigosas, o conhecido anel do Pacífico.

A nossa capital, Lisboa, está também localizada numa zona de alguma perigosidade, como aliás o mostrou o terramoto de 1755, um dos mais mortíferos de que há conhecimento. Segundo a lei das probabilidades, mais cedo ou mais tarde irá verificar-se um novo grande terramoto no nosso país, pelo que não é ser catastrofista ter essa hipótese em atenção. E a nossa proverbial falta de planeamento e de cultura de prevenção aliadas a uma atitude de deixar andar e ligar apenas ao dia-a-dia não será certamente a melhor ferramenta para prevenir as suas consequências.

Publicado no Diário de Coimbra em 8 de Março de 2010

segunda-feira, 1 de março de 2010

SERIEDADE E RESPEITO NA POLÍTICA, PRECISA-SE


Como penso que acontecerá com a esmagadora maioria dos militantes do PSD, também eu observo com atenção o que se diz e escreve pelo lado das diversas candidaturas. A independência pessoal sem enfeudamentos que sempre defendi é crucial para permitir fazer as escolhas nas alturas em têm que ser feitas que, em minha opinião, dependem dos próprios candidatos que se apresentam a votos e das suas propostas, bem como das circunstâncias das candidaturas e das pessoas que os acompanham.

Entendo as campanhas eleitorais pela positiva, o que se aplica igualmente ao interior dos partidos. Claro que, com a minha idade, já não sou ingénuo ao ponto de me convencer que as campanhas não têm sempre um lado escondido, ou mesmo negro. Não esqueço o célebre comentário de Churchill, esse grande político e fazedor de frases geniais que um dia, em pleno Parlamento Britânico, elucidou um sobrinho de que os seus inimigos estavam na sua própria bancada, já que do outro lado estavam adversários.

Ainda a campanha interna do PSD não começou formalmente e já se vê ser utilizada a mais desgastada das armas políticas que existe em Portugal que é a de acusar um candidato que não se apoia de direitista, juntando-se-lhe ainda o epíteto de populista. Não fica bem, dentro de um partido como o PSD fazer isto, acho eu.

Quando vejo situações destas lembro-me sempre de Francisco Sá Carneiro e da sua luta para tirar o país da deriva esquerdista onde o PREC o colocou para nossa desgraça colectiva. Desde os congressos em que sucessivas “alas à esquerda” o iam tentando atirar pela borda fora até aos célebres “Inadiáveis” que lhe tiraram quase metade do grupo parlamentar antes da formação da Aliança Democrática, essa perigosa aliança que iria fazer o país “voltar ao fascismo”.

Lembro-me ainda da tentativa gorada de criação da Alternativa Democrática por parte de Marcelo Rebelo de Sousa, violentamente combatida no interior do partido como cedência a uma direita dura de Paulo Portas, exactamente pelos mesmos que logo a seguir às eleições se foram aconchegar nos braços do PP.

Seria muito melhor que se discutissem as ideias e as propostas concretas dos outros companheiros que se apresentam a votos, sem chavões que apelem a instintos primários nem falsos papões.

A conjugação das velhas teses de que as eleições se ganham ao centro e de que basicamente as eleições se perdem mais por quem está desgastado no poder do que se ganham pela afirmação de alternativas claras, tem conduzido a um pântano político e ideológico de que o beneficiário será sempre o Partido Socialista, desde que se distancie o suficiente da esquerda clássica em termos de políticas económicas.

Historicamente, o PSD foi forte e teve sucessos eleitorais quando se assumiu como personalista e reformista, sem medo e complexos de assumir as expectativas de um eleitorado que vê na Liberdade um bem maior do que a Igualdade.

Vir neste ano de 2010 classificar militantes do seu partido como de direita, verdadeiros social-democratas ou liberais será, no mínimo desajustado e menos respeitador para com os companheiros e, no limite, uma atitude que releva de alguma arrogância, já que o cargo de classificador ideológico não consta de nenhum regulamento ou estatuto.

O estado do nosso país é suficientemente grave para que se deva evitar que a discussão interna no PSD resvale para níveis impróprios, sob pena de o partido se tornar definitivamente irrelevante para o país. Faço notar, com veemência, que todo o país está de olhos postos nesta eleição, pelo que as responsabilidades dos contendores são gigantescas.

Caros companheiros de partido peço-vos, por favor, e dirijo-me principalmente aos mais responsáveis porque mais formação intelectual e académica possuem, que evitem manipulações fáceis e gratuitas que criam divisões artificiais. Não se esqueçam de pensar no dia seguinte às eleições, isto é, na responsabilidade que terão perante o país que vos olhará com a expectativa e esperança de poder haver finalmente uma alternativa política clara e assumida para a governação do país.

Publicado no Diário de Coimbra em 1 de Março de 2010

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Escutar os juízes

A Dra. Cândida Almeida directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal propõe que se escutem os juízes, para prevenir o "segredo das escutas". O que é que nós, cidadãos comuns deveremos pensar sobre isto? Certo, certo, é que não ajuda nada a credibilizar a justiça portuguesa.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

ÉTICA DOS NEGÓCIOS



Na semana passada, o Núcleo de Coimbra da Acege (Associação Cristã de Empresários e Gestores) levou a cabo mais uma iniciativa integrada no ciclo “Líderes Empresariais Cristãos e Portugal”, em que participaram largas dezenas de pessoas.

Tivemos desta vez a oportunidade de ouvir o Dr. António Lobo Xavier falar sobre “Ética nos Negócios”, o que proporcionou depois um interessante debate sobre o tema, reconhecidamente da maior actualidade. De facto, é comum dizer-se que a recente crise de que ainda sofremos as consequências é fruto de falta de ética de muitos responsáveis por grandes empresas, designadamente do sector financeiro internacional. O Dr. Lobo Xavier manifestou a opinião de que esta crise se deveu essencialmente à existência de imperfeições, defeitos e mesmo negligência dos responsáveis pela regulação daquelas actividades, acompanhadas por desvios e erros em matérias básicas da condução de negócios. O eclodir da crise, com as suas colossais consequências, veio depois a destapar acções pouco ou mesmo nada éticas levadas a cabo por alguns responsáveis, o que é um pouco diferente. Ensinou-nos ainda que, nas últimas dezenas de anos, a evolução do capitalismo tem trazido novidades importantes para a actividade das grandes empresas e para a condução dos seus destinos.

É assim que hoje em dia se encontra institucionalizada uma “ética corporativa” nas grandes empresas, que define valores sem os quais nenhuma dessas empresas tem condições para operar no mercado internacional. Essa “ética corporativa” define-se usualmente a três níveis, sendo o superior constituído pelos chamados “valores corporativos”, definidos pelos accionistas tendo em vista a obtenção do sucesso da actividade da empresa. Há depois um nível intermédio, conhecido por “princípios de actuação”, onde já se podem encontrar algumas preocupações éticas, mas ainda em função apenas dos objectivos da empresa. Há por fim o nível mais básico, que determina os procedimentos individuais de todos os colaboradores, qualquer que seja o seu nível de prestação, que constitui o “código de regras de conduta individuais” e apresenta já muitas preocupações éticas, alinhadas com o objectivo do sucesso económico da empresa.

Além de todas estas normas, a própria “boa governação” das empresas dita hoje em dia que a actividade dos seus gestores e administradores seja sujeita a regras, muitas vezes bem apertadas.

Todas as grandes empresas possuem códigos de comportamento ou mesmo de ética deste tipo. Mesmo aquelas que deram origem à crise de que todos falamos. Sendo assim, há uma conclusão evidente a tomar. Por mais regras corporativas que se inventem e adoptem (e são bem necessárias), há uma Ética sem a qual as organizações, designadamente as empresariais, não podem passar e essa é a ética pessoal das pessoas. Isto é, quando a ética pessoal falha, as organizações correm perigo, ainda que tenham os melhores e mais sofisticados códigos de comportamento corporativo. As leis não são suficientes, ao contrário do que dizem os que defendem o primado da chamada “ética republicana”. O cristianismo completa a lei com um conjunto de valores baseados na melhoria pessoal, no aperfeiçoamento, cujo cumprimento deve significar liderança e exemplo moral.

Participar neste encontro alertou-nos para diversas facetas desta temática tão importante para as empresas e sua condução nos dias de hoje. Por isso, e pela simpatia bem conimbricense com que nos brindou neste seu regresso à sua cidade, um bem-haja ao Dr. António Lobo Xavier.

Publicado no Diário de Coimbra em 22 de Fevereiro de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Cântico das Criaturas:


Altissimo, onnipotente, bon Signore,

tue so' le laude, la gloria e l' honore et onne benedictione.

Ad te solo , Altissimo, se confano

e nullu homo ène dignu te mentovare.

Laudato sie, mi' Signore, cum tucte le tue criature,

spetialmente messer lo frate sole,

lo qual' è iorno, et allumini noi per lui

Et ellu è bellu e radiante cum grande splendore:

de te, Altissimo, porta significatione.

Laudato si', mi' Signore, per sora luna e le stelle:

in celu l' ài formate clarite e pretiose e belle.

Laudato si', mi' Signore, per frate vento

e per aere nubilo e sereno et onne tempo,

per lo quale a le tue creature dài sostentamento.

Laudato si', mi' Signore, per sor' acqua,

la quale è molto utile et humile et pretiosa et casta.

Laudato si', mi' Signore, per frate focu,

per lo quale ennallumini la nocte:

et ello è bello et iocondo e robustoso e forte.

Laudato si', mi' Signore, per sora nostra madre terra,

la quale ne sustenta et governa,

e produce diversi frutti con coloriti fiori et herba.

Laudato si', mi' Signore, per quelli ke perdonano per lo tuo amore

e sostengono infirmitate e tribulatione.

Beati quelli ke'l sosterranno in pace

ca da te, Altissimo, sirano incoronati.

Laudato si', mi' Signore, per sora nostra morte corporale

da la quale nullu homo vivente po' scappare:

guai a quelli ke morrano ne le peccata mortali;

beati quelli ke trovarà ne le tue sanctissime voluntati,

ca la morte secunda no 'l farà male.

Laudate et benedicete mi' Signore et rengratiate

e serviateli cum grande humilitate.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Leio e não acredito

A actual e simpática ministra da Educação dá uma entrevista ao Expresso.
O título estraga tudo: "Fui boa aluna, mas nunca marrona".
Alguém diga à senhora que agora é ministra e não escritora de livros infanto-juvenis.
Os estudantes são todos diferentes. Se alguns aprendem tudo sem estudar muito, outros precisam de o fazer. Muitos chegam muito longe e são merecedores de mais consideração do que os outros, porque tiveram que trabalhar muito mais para lá chegar.
Um ministro da Educação tem que saber esta verdade básica e respeitar todos os jovens.
Esta senhora não o faz. Lamento pelos jovens.

O EVANGELHO DE HOJE

Evangelho segundo S. Lucas 5,27-32.

Depois disto, Jesus saiu e viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado no posto de cobrança. Disse-lhe: «Segue-me.» E ele, deixando tudo, levantou-se e seguiu-o. Levi ofereceu-lhe, em sua casa, um grande banquete; e encontravam-se com eles, à mesa, grande número de cobradores de impostos e de outras pessoas. Os fariseus e os doutores da Lei murmuravam, dizendo aos discípulos: «Porque comeis e bebeis com os cobradores de impostos e com os pecadores?» Jesus tomou a palavra e disse-lhes: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os que estão doentes. Não foram os justos que Eu vim chamar ao arrependimento, mas os pecadores.»


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Carnaval a sério

Carnaval a sério é ouvir hoje que numerosas autarquias ficaram a arder com a chuva que estragou os cortejos de carnaval. Isto é que é mesmo um carnaval e, pelos vistos, ninguém leva a mal. Triste país em que o dinheiro falta para o essencial e há responsáveis que gastam o dinheiro dos impostos em cortejos exteriores no inverno, em tempos de "aquecimento global" que traz chuva, frio e neve como há muitos anos não se via.