Como penso que acontecerá com a esmagadora maioria dos militantes do PSD, também eu observo com atenção o que se diz e escreve pelo lado das diversas candidaturas. A independência pessoal sem enfeudamentos que sempre defendi é crucial para permitir fazer as escolhas nas alturas em têm que ser feitas que, em minha opinião, dependem dos próprios candidatos que se apresentam a votos e das suas propostas, bem como das circunstâncias das candidaturas e das pessoas que os acompanham.
Entendo as campanhas eleitorais pela positiva, o que se aplica igualmente ao interior dos partidos. Claro que, com a minha idade, já não sou ingénuo ao ponto de me convencer que as campanhas não têm sempre um lado escondido, ou mesmo negro. Não esqueço o célebre comentário de Churchill, esse grande político e fazedor de frases geniais que um dia, em pleno Parlamento Britânico, elucidou um sobrinho de que os seus inimigos estavam na sua própria bancada, já que do outro lado estavam adversários.
Ainda a campanha interna do PSD não começou formalmente e já se vê ser utilizada a mais desgastada das armas políticas que existe em Portugal que é a de acusar um candidato que não se apoia de direitista, juntando-se-lhe ainda o epíteto de populista. Não fica bem, dentro de um partido como o PSD fazer isto, acho eu.
Quando vejo situações destas lembro-me sempre de Francisco Sá Carneiro e da sua luta para tirar o país da deriva esquerdista onde o PREC o colocou para nossa desgraça colectiva. Desde os congressos em que sucessivas “alas à esquerda” o iam tentando atirar pela borda fora até aos célebres “Inadiáveis” que lhe tiraram quase metade do grupo parlamentar antes da formação da Aliança Democrática, essa perigosa aliança que iria fazer o país “voltar ao fascismo”.
Lembro-me ainda da tentativa gorada de criação da Alternativa Democrática por parte de Marcelo Rebelo de Sousa, violentamente combatida no interior do partido como cedência a uma direita dura de Paulo Portas, exactamente pelos mesmos que logo a seguir às eleições se foram aconchegar nos braços do PP.
Seria muito melhor que se discutissem as ideias e as propostas concretas dos outros companheiros que se apresentam a votos, sem chavões que apelem a instintos primários nem falsos papões.
A conjugação das velhas teses de que as eleições se ganham ao centro e de que basicamente as eleições se perdem mais por quem está desgastado no poder do que se ganham pela afirmação de alternativas claras, tem conduzido a um pântano político e ideológico de que o beneficiário será sempre o Partido Socialista, desde que se distancie o suficiente da esquerda clássica em termos de políticas económicas.
Historicamente, o PSD foi forte e teve sucessos eleitorais quando se assumiu como personalista e reformista, sem medo e complexos de assumir as expectativas de um eleitorado que vê na Liberdade um bem maior do que a Igualdade.
Vir neste ano de 2010 classificar militantes do seu partido como de direita, verdadeiros social-democratas ou liberais será, no mínimo desajustado e menos respeitador para com os companheiros e, no limite, uma atitude que releva de alguma arrogância, já que o cargo de classificador ideológico não consta de nenhum regulamento ou estatuto.
O estado do nosso país é suficientemente grave para que se deva evitar que a discussão interna no PSD resvale para níveis impróprios, sob pena de o partido se tornar definitivamente irrelevante para o país. Faço notar, com veemência, que todo o país está de olhos postos nesta eleição, pelo que as responsabilidades dos contendores são gigantescas.
Caros companheiros de partido peço-vos, por favor, e dirijo-me principalmente aos mais responsáveis porque mais formação intelectual e académica possuem, que evitem manipulações fáceis e gratuitas que criam divisões artificiais. Não se esqueçam de pensar no dia seguinte às eleições, isto é, na responsabilidade que terão perante o país que vos olhará com a expectativa e esperança de poder haver finalmente uma alternativa política clara e assumida para a governação do país.
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