segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

NAUFRÁGIO

O “Princess of the Stars” afundou-se nas Filipinas durante uma forte tempestade. Mais de 800 pessoas morreram, das quais mais de quinhentas nunca foram encontradas. Uma tragédia gigantesca. Também nas Filipinas, afundou-se o “Dona Paz”, após uma colisão com outro navio: as consequências foram dantescas, tendo morrido mais de 4.300 pessoas.
Para mais informação ao leitor, adianto que o naufrágio do “Princess of the Stars” ocorreu em 21 de junho de 2008 e que o do “Dona Paz” foi em 20 de dezembro de 1987. Nenhum deles foi assim há tanto tempo, pois não? Pois devo estar muito perto da verdade, se disser que nenhum dos leitores se lembra destes naufrágios.
Mas tenho a certeza que o leitor conhece muitos pormenores do naufrágio do Titanic que aconteceu há bem mais tempo, em abril de 1912. Mesmo antes do filme que há alguns anos foi dedicado a este naufrágio, já este acidente fazia parte do nosso imaginário. Seja porque era uma viagem inaugural em que o navio ia cheio de milionários e porque antes da viagem foi dito que nem Deus seria capaz de afundar o navio, seja ainda pelo desprezo arrogante das condições meteorológicas locais, o afundamento do Titanic origina memórias vivas em todos nós, como se o tivéssemos testemunhado de verdade.
E o leitor sabe de tudo acerca do naufrágio do “Costa Concordia” que aconteceu há uma semana perto da costa da Toscânia em Itália, em que o número de mortos e desaparecidos é inferior a trinta. Sabe o nome do Comandante que parece ter sido um dos primeiros a abandonar o navio. Até já viu em detalhe a derrota do navio e a rota que lhe tinha sido traçada e que deveria ter seguido, o que não aconteceu porque o comandante terá resolvido fazer um desvio até junto de terra para saudar uns locais. Também não terá perdido as declarações de uma rapariga moldava de 25 anos que jantou nessa com o comandante e até se diz que seria convidada pessoal dele. O leitor teve ainda oportunidade de ver imagens terríveis dos passageiros a abandonar o navio adornado e mesmo já deitado de lado sobre o fundo do mar, numa posição a que os “marujos” como eu designam por “fez da quilha, portaló”. Quer o Titanic, quer este “Costa Concordia” levavam principalmente passageiros oriundos de países europeus. A Europa gosta muito de olhar para o seu umbigo, o que nos leva a ignorar desastres gigantescos que se passam lá longe e em que não há vítimas europeias, enquanto qualquer desastre dentro de portas levanta ondas de indignação e ataques ridículos a pessoas e instituições que infelizmente quase transformam esses desastres em cenas de revistas cor-de-rosa. Apenas mais um sintoma da mentalidade superficial e arrogante dos europeus que, lenta mas inexoravelmente, está a tornar a afundar Europa numa irrelevância a nível mundial, e não apenas economicamente, bem à maneira dos passageiros que dançam enquanto o navio vai ao fundo.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 23 de Janeiro de 2012

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Uma anedota que esteve ministra

Raciocínio tipicamente socialista:

A antiga ministra Canavilhas é uma cabecinha pensadora. Para a altura da celerada (há muito tempo que não utilizava esta palavra…) #PL118, ”os retalhistas e intermediários, cujo negócio é vender equipamentos de cópia, deviam incorporar a nova taxa“. Pois claro. Porque a senhora, cheia de sensibilidade social, quer poupar os portugueses a novos aumentos de preços. Como? Cortando nas margens. Claro: como comerciantes, como intermediários, são inevitavelmente chupistas no raciocínio puro de qualquer socialista. Nalguns casos, como aqui já foi demonstrados, os equipamentos poderão duplicar de preço, mas para a Canavilhas há sempre a margem dos retalhistas. Aonde chegámos…



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Torres Couto

A que propósito é que as televisões foram desenterrar a anedota do Torres Couto?

Pois é!

PS demarca-se “totalmente” do pedido de fiscalização junto do Tribunal Constitucional: O líder parlamentar do PS afirmou hoje que a sua direcção se demarca “totalmente” da iniciativa de deputados socialistas e do Bloco de Esquerda de requererem a fiscalização da constitucionalidade do Orçamento do Estado para 2012.

Leve suspeita

Leve suspeita:

Há pouco ouvi na rádio o deputado (e politólogo) Manuel Meirinho Martins, a apelar a uma clarificação da lei dos limites de mandatos de autarcas. Em causa está a possibilidade de um autarca, chegado ao seu limite, passar simplesmente para uma freguesia ou município vizinho, e candidatar-se novamente. Diz o deputado, com alguma razão, que não seria este contorcionismo que estava no espírito da lei. É verdade que os eleitores mudam, o cargo muda (ser presidente de X é diferente de ser presidente de Y), mas há nisto tudo alguma Putinização: ora sou presidente, ora sou primeiro-ministro, ora me apetece voltar a presidente, e por aí fora, sem nunca violar a lei. E a Rússia nunca foi um grande exemplo de funcionamento democrático.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Paganini-Liszt La Campanella HQ

Morning

SMETANA - La Moldau - Herbert VON KARAJAN

MOZART Requiem - LACRIMOSA - Herbert von Karajan

Herbert von Karajan - Rossini - William Tell (2)

Bach - Abbado

Riccardo Muti: El Arte de la Dirección Musical

Placido Domingo B. Hendricks D. Hvorostovski La ci darem la

Vamos ver se entendi bem…

Um jornal em campanha. Que nojo. E há quem vá a correr deitar foguetes e buscar as canas. A histeria tomou conta de tudo?



Vamos ver se entendi bem…:

Segundo o Público de hoje, o actual Governo nomeou 1097 pessoas em “quase sete meses”, mais do que as 1094 nomeadas pelo primeiro governo de Sócrates em “dois meses e meio”. Título do Público: “Passos Coelho já nomeou mais pessoas do que o primeiro Governo de Sócrates”.


Devo dizer que tive de ler várias vezes a notícia para compreender a enormidade do raciocínio. O primeiro governo de Sócrates nomeou pessoas ao ritmo de 99 por semana, o de Passos Coelho ao ritmo de 37 por semana. Mas este último “nomeou mais do que o primeiro”.


Para fazer uma notícia daquelas podiam-se utilizar dois critérios: total de nomeações ao fim de um mesmo número de meses ou semanas (o método mais correcto) ou média de nomeações por mês ou por semana. Só assim se poderia comparar o que seria comparável. Comparar totais para períodos diferentes ou revela uma enorme ignorância, ou então intenções menos claras.


Já agora, por mero exercício contabilístico, vejamos o número médio de nomeações por semana dos últimos seis governos, sempre utilizando os números fornecidos pelo Público:


- Durão Barroso: 57 nomeações por semana

- Santana Lopes: 94 nomeações por semana

- Sócrates I: 99 nomeações por semana

- Sócrates II: 91 nomeações por semana

- Passos Coelho: 37 nomeações por semana


Suspeito que esta espécie de ranking não daria manchete do jornal, mas isto sou eu a pensar…


De resto, o trabalho de levantamento do Público nem sequer é muito fiável: hoje de manhã foi divulgado que, de acordo com números do próprio Governo, houve 1.682 nomeações (e não 1097), sendo que 962 foram reconduções. Há dia mais felizes na vida de um jornal.



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Economia paralela vale mais de 40 mil milhões de euros

Economia paralela vale mais de 40 mil milhões de euros: A economia paralela em Portugal valia 24,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010. São mais de 40 mil milhões de euros que não passam pelo fisco e que representam um crescimento de mil milhões de euros...

GUERRAS SEM GUERREIROS

O desenvolvimento tecnológico está a mudar radicalmente a nossa vida, não sendo a guerra exceção. Ao longo dos séculos os homens foram lentamente aperfeiçoando os processos de matar o inimigo, à medida que a mobilidade foi evoluindo e que a capacidade de fogo também foi aumentando. Mas havia algo que ainda não tinha mudado: era sempre preciso ter soldados no terreno, ainda que a pilotar os aviões para largar as bombas.
Foi a partir do momento em que os militares desenvolveram os sistemas de navegação guiada por satélite, (mais tarde foram tornados disponíveis para usos civis, através do GPS que hoje usamos), que se desenvolveu toda uma tecnologia que está a definir novas formas de fazer a guerra. Quase todas semanas lemos notícias um pouco estranhas com títulos do género “Aviões teleguiados dos EUA matam quatro rebeldes no Paquistão”. São os famosos “drones”, que não são mais que pequenos aviões de guerra, equipados com mísseis, com sensores de tudo e mais alguma coisa, para além de câmaras especiais que lhes permitem “ver” de noite. Só lhes falta algo: piloto. São comandados à distância, aliás a uma distância de muitos milhares de quilómetros. A sala de comando situa-se bem no interior dos EUA, onde operadores de computadores com pequenos joysticks vão manobrando os “drones” por cima do território do outro lado do mundo, procurando os inimigos e eliminando-os um a um. O facto de usarem farda faz concluir que se trata de uma instalação militar, mas não transforma a atividade que lhes foi atribuída, que antigamente tinha um nome bem desagradável.
Como se isto ainda não fosse suficientemente mau, soube-se há poucos dias que já foi apresentado um novo avião de guerra, este de dimensões normais, que também não precisa de piloto. O software de que dispõe permite-lhe mesmo “tomar decisões” táticas por si mesmo, independentemente dos “controladores” à distância.
Muitas questões levantam estas novas e estranhas formas de fazer a guerra que, algo insolitamente, tornam cada vez mais atuais as palavras de Klausevitz sobre o significado da guerra vista como o prolongamento da diplomacia, por outros meios.
Se observarmos bem, não há guerra declarada no Paquistão. Mas os “drones” andam por lá a matar com o maior dos à-vontades, mais parecendo que desapareceram as fronteiras entre países. Por outro lado, a tecnologia que permite este tipo de guerra é demasiado sofisticada para que países pobres se possam defender. Acresce que, quem a possui, deixa de ter aquele aborrecimento de ter mortos em combate havendo, no entanto, cada vez mais “efeitos colaterais”. Na prática, o 11 de setembro fez confundir a guerra clássica com a luta internacional contra o terrorismo, levando as Forças Armadas a fazer “trabalho sujo” antes entregue a serviços secretos, o que a breve prazo bem poderá vir a tornar obsoleta a clássica organização militar dos países como Portugal.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 16 de Janeiro de 2012

domingo, 15 de janeiro de 2012

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Indignados

Acabo de saber que o Doutor Catroga vai para o tal Conselho da EDP ganhar o mesmo que o anterior presidente socialista Dr. Almeida, sendo que no tempo deste último, era o accionista Estado que mandava.
Indignação selectiva, não é?
E se para variar nos preocupássemos mas é com o trabalho da Regulação, essa sim uma função do Estado e apenas do Estado?

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

e julgava eu que a melhor interpretação disto era do Jonh Lee Hooker

The Rolling Stones - You Can't Always Get What You Want - SomRochedo

Fanfare For the Common Man - Aaron Copland, 1942

LIFE: absolutamente, a ler.

UM ANO DE MUDANÇAS

Com uma grande probabilidade, o mundo que conhecemos neste início de ano vai ser bastante diferente quando chegar o ano de 2013.
Não me refiro ao euro, que deverá estar por cá, sempre aos tropeções como acontece às crianças quando aprendem a andar, mas a resistir aos avanços dos que nunca o quiseram porque nunca quiseram uma União Europeia não socialista (digamos assim) e ainda aos políticos que olharam para a moeda única como uma oportunidade para praticarem os mais inacreditáveis disparates governativos.

Durante este ano vão ocorrer eleições mais ou menos democráticas em numerosos países. Em Angola já se sabe que Eduardo dos Santos vai vencer as presidenciais em setembro, criando condições para se manter mais uns dez anos no poder, o que até dá segurança a quem tem negócios com a maior empresária daquele país que, certamente só por acaso, é a filha dele próprio. Já em França, existindo mesmo democracia, o saltitante Sarkozy poderá encontrar-se em dificuldades nas presidenciais de abril e maio. É certo que o socialista François Hollande não tem grande carisma, mas por vezes mais do que opositores ganharem eleições, há líderes que as perdem, pelo que lhe poderá sair a sorte grande.
Na Venezuela, em princípio haverá eleições presidenciais em outubro, mas a questão que se coloca é se o paranoico Chavez terá saúde para continuar a sua senda de destruição da economia venezuelana.
A Rússia tem eleições presidenciais em março. Prepara-se a dança de cadeiras entre Putin e Medvedev perante ameaças de que o povo russo poderá começar a ficar farto deste tipo de governação. As enormes manifestações a que se tem assistido em Moscovo nos últimos tempos podem ser um sinal claro disso mesmo, embora ninguém saiba se o urso está a acordar ou se continua apenas a mexer-se durante o sono da hibernação.
Nos EUA, a Casa Branca pode mudar de inquilino. Em novembro Obama vai a eleições e a sua vida não está fácil, ao contrário do que se previa aquando da sua primeira eleição. O candidato opositor será certamente Mitt Romney que não será um adversário nada fácil. A situação económica também não ajudará muito Obama; por outro lado, se bem que a saída militar do Iraque tenha sido positiva, ainda há o Afeganistão onde o Ocidente continua a atolar-se, não tendo aprendido nada com os erros cometidos pelos soviéticos no século passado.
Para compensar toda esta sede de mudança, há a China onde o dragão continua a crescer sobre os direitos humanos e sociais dos chineses. E aí não se prevê qualquer alteração política. Ainda bem, dir-me-ão, já que os capitais excedentários chineses começaram finalmente a desaguar também em Portugal, o que nos poderá a ajudar a sair mais depressa da nossa atual crise. Costuma dizer-se que o dinheiro não tem cor e em tempo de guerra não se limpam armas e é muito verdade; mas recordo que no meu livro de leituras da escola primária vinha aquela história da panela de barro e da panela de ferro que convém não esquecer.
Publicado originalmente no diário de Coimbra em 9 de Janeiro de 2012

(Imagem retirada de: http://www.economist.com/ )

sábado, 7 de janeiro de 2012

Seguro quer PS a vencer a Câmara do Porto em 2013 - Politica - DN

O "pequeno" problema é aquela pedrinha no caminho que dá pelo nome de Menezes. Seguramente, o actual e ainda líder do PS seria mais prudente se não assumisse esse objectivo. Pelo menos publicamente.

Seguro quer PS a vencer a Câmara do Porto em 2013 - Politica - DN

Mortos nas estradas portuguesas

Isto é verdadeiramente uma boa notícia.

http://www.rtp.pt/noticias/index.php?t=690-mortos-nas-estradas-em-2011-valor-mais-baixo-de-ha-50-anos.rtp&article=515276&layout=10&visual=3&tm=8

Ora bolas!

Luís Montenegro em directo no Expresso de hoje: o "fumei mas não inalei" à portuguesa. Só apetece dizer asneiras perante a hipocrisia disto tudo. E o povo que não tem culpa nenhuma a aturar isto.

Milada Horáková

Li a história de Milada Horáková.
Ainda há pessoas de cultura que acreditam no comunismo? Como?!!!!!!!!!!!

Bethania - Poema do Menino Jesus - Fernando Pessoa

Who knows where the time goes - Fairport Convention

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

La flauta mágica. La reina de la noche. W.A. Mozart

Mozart: aqui vai um grito.

Dueto: Papageno Papagena -Jaki Jurgec in Katarina Perger

mais Mozart, que não tem culpa nenhuma das patetices de 2012.

Mozart - Don Giovanni -Là ci darem la mano

Ainda Mozart: hoje e sempre.

Parlamento aprovou projecto que classifica mefedrona como droga - Política - PUBLICO.PT

Até que enfim. Deveria ter sido em Abril, de acordo com as directivas da União Europeia. Era assim tão difícil?

Parlamento aprovou projecto que classifica mefedrona como droga - Política - PUBLICO.PT

Fidel Castro adverte que mundo avança para abismo - Internacional - Notícia - VEJA.com

Fantástico assistir à destruição do sonho comunista de Fidel. Incapaz de conceber um mundo livre fora da sua concepção mental, só consegue ver o caos.

Fidel Castro adverte que mundo avança para abismo - Internacional - Notícia - VEJA.com

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Novos boicotes para os indignados

Novos boicotes para os indignados:

Quando é que o grupinho dos indignados se lembra que há outras empresas que fizeram o mesmo que Jerónimo Martins? Quando é que começa o boicote a empresas como a Mota Engil (este até concordava se fosse o estado a decretá-lo), a Galp, a SONAECOM - quem tem Optimus é já deitar o cartão fora - ou a Caixa Geral de Depósitos (esta não era do Estado?). Apenas peço que não façam boicote à PT, porque isso iria prejudicar o Canal Benfica ou os blogues da Sapo. De resto, não tenham receio. Boicotem todas as empresas que fizeram operações financeiras semelhantes às da Jerónimo Martins.


 


PS: E não se esqueçam de boicotar também o Continente. 

Análise interessante e com substrato

Lobbies em Portugal – 5.:

Algum tempo atrás, um conhecido político explicava que qualquer partido político necessitaria, na sua perspectiva, de manter boas relações com os principais lobbies – referindo-se expressamente a entidades mencionadas no “Breve manifesto” de 1995, da autoria do Dr. Carlos Candal. De outra forma, na mesma perspectiva, a influência que os lobbies têm na comunicação social tornaria inútil qualquer ação por parte do partido em questão – gerar-se-ia de imediato um coro de criticas, orquestradas por vários maestros.



Trata-se de uma variação importante relativamente ao texto de 1995 acima citado. Naquele texto, é dito que os lobbies infiltraram os partidos políticos e a comunicação social. Mas na perspectiva em análise, são os partidos que procuram ativamente o apoio dos lobbies. Tal apoio poderia ser conseguido, por exemplo, nomeando para a direção de um dado partido membros dos lobbies – permitindo assim que cada lobby tenha uma noção exata do que se passa “lá dentro”, e possa exercer influência. Igualmente importante poderá ser, na mesma perspetiva, a nomeação para cargos importantes de conhecidos membros dos lobbies. Esse tipo de medidas poderia, na perspectiva acima indicada, gerar a “boa imprensa” de que os partidos carecem para obter resultados políticos favoráveis.


Numa perspectiva de “Darwinismo político” (que me perdoe C. Darwin), a presença dos lobbies dentro dos partidos e mesmo apoiados pelos partidos, numa simbiose harmoniosa em que “uma mão lava a outra” seria vantajosa, ou mesmo indispensável, para os partidos  obterem resultados eleitorais.


Como já vimos em textos anteriores, nem todos os membros dos lobbies são indivíduos medianos. Contudo, quando um indivíduo mediano aparece nomeado para uma posição de destaque, ainda que com estatuto de “independente” (no sentido de não-filiado) devemos pensar na possibilidade de ser membro de um qualquer lobby. O velho conceito “cherchez la femme” ou ainda a sua variante “cherchez l’argent” poderá agora ser substituído por um “cherchez le lobby” (se me for permitida uma expressão galo-britânica). Parte significativa dos “independentes” da nossa praça seriam, na verdade, membros de lobbies.


Pelo caminho, fica a noção de igualdade de oportunidades no acesso à res publica. Devemos satisfazer-nos com este estado de coisas? Ou devemos, pelo contrário, defender a transparência como forma de controlar os lobbies? A escolha é, para mim, bastante clara.


José Pedro Lopes Nunes

Análise interessante e com substrato

Lobbies em Portugal – 5.:

Algum tempo atrás, um conhecido político explicava que qualquer partido político necessitaria, na sua perspectiva, de manter boas relações com os principais lobbies – referindo-se expressamente a entidades mencionadas no “Breve manifesto” de 1995, da autoria do Dr. Carlos Candal. De outra forma, na mesma perspectiva, a influência que os lobbies têm na comunicação social tornaria inútil qualquer ação por parte do partido em questão – gerar-se-ia de imediato um coro de criticas, orquestradas por vários maestros.



Trata-se de uma variação importante relativamente ao texto de 1995 acima citado. Naquele texto, é dito que os lobbies infiltraram os partidos políticos e a comunicação social. Mas na perspectiva em análise, são os partidos que procuram ativamente o apoio dos lobbies. Tal apoio poderia ser conseguido, por exemplo, nomeando para a direção de um dado partido membros dos lobbies – permitindo assim que cada lobby tenha uma noção exata do que se passa “lá dentro”, e possa exercer influência. Igualmente importante poderá ser, na mesma perspetiva, a nomeação para cargos importantes de conhecidos membros dos lobbies. Esse tipo de medidas poderia, na perspectiva acima indicada, gerar a “boa imprensa” de que os partidos carecem para obter resultados políticos favoráveis.


Numa perspectiva de “Darwinismo político” (que me perdoe C. Darwin), a presença dos lobbies dentro dos partidos e mesmo apoiados pelos partidos, numa simbiose harmoniosa em que “uma mão lava a outra” seria vantajosa, ou mesmo indispensável, para os partidos  obterem resultados eleitorais.


Como já vimos em textos anteriores, nem todos os membros dos lobbies são indivíduos medianos. Contudo, quando um indivíduo mediano aparece nomeado para uma posição de destaque, ainda que com estatuto de “independente” (no sentido de não-filiado) devemos pensar na possibilidade de ser membro de um qualquer lobby. O velho conceito “cherchez la femme” ou ainda a sua variante “cherchez l’argent” poderá agora ser substituído por um “cherchez le lobby” (se me for permitida uma expressão galo-britânica). Parte significativa dos “independentes” da nossa praça seriam, na verdade, membros de lobbies.


Pelo caminho, fica a noção de igualdade de oportunidades no acesso à res publica. Devemos satisfazer-nos com este estado de coisas? Ou devemos, pelo contrário, defender a transparência como forma de controlar os lobbies? A escolha é, para mim, bastante clara.


José Pedro Lopes Nunes

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

BOM ANO


A tradição recomenda que no início de um novo ano se deseje aos amigos que seja um bom ano. É isso que hoje faço com gosto aos leitores do Diário de Coimbra.
A passagem dos anos pode parecer uma simples convenção, mas na realidade reflecte uma íntima ligação do Homem à Natureza, já que um ano ou aproximadamente 365 dias é a duração de uma translação do nosso planeta Terra à volta da nossa estrela, o Sol. E o início do ano muito próximo do solistício de Inverno é também muito significativo, porque a partir daqui os dias começam a crescer, criando a sensação de renascimento. Nos nossos dias, o progresso tecnológico e social parece afastar-nos daquilo que verdadeiramente somos, mais parecendo que muitos de nós nos consideramos quase como deuses, quando na verdade todos fazemos parte de um sistema complexo que dominamos muito menos do que julgamos.
O início deste ano de 2012 vem encontrar os portugueses numa situação muito difícil e causadora de perplexidades, ansiedades e sacrifícios pesados para muitos.
Muitas vezes caímos na tentação de falar daquilo que, por demasiado afastado de nós, pouco podemos mudar. Claro que a opinião pública conta e muito, mas na realidade as eurobonds, as taxas do BCE, o comportamento dos mercados, a própria actividade dos bancos, estão muito longe de serem infuenciados pelo que localmente se diz ou escreve.
Já o mesmo não se dirá de tudo aquilo que está mais perto de nós e é por isso que a chamada administração local é tão importante.
Coimbra é uma cidade muito especial e não só por ser a nossa Cidade. É-o pela sua História riquíssima, intimamente ligada à História de Portugal desde o seu início, mas também pelo seu presente que é o que existe na realidade e prepara o futuro que assim dependerá dos que cá estão hoje, isto é, nós mesmos, o que nos responsabiliza perante as gerações futuras. É comum dizer-se, principalmente nos salões do poder em Lisboa, que de cada vez que se fala bem de alguém de Coimbra aparecem logo não sei quantos conimbricenses a criticar e dizer mal. Provavelmente, há razão nisto e é pena. Coimbra está numa encruzilhada da História. O país chama-se cada vez mais Lisboa, Porto e província. A desertificação do interior e mesmo de boa parte do litoral acompanha a metropolização crescente das áreas de Lisboa e do Porto, triste sinal de terceiro-mundismo.
Coimbra é a única cidade média da nossa Região que pode sobreviver a esta desagregação territorial do país. Para isso precisa de todos nós, sejamos de esquerda, de direita, professores, operários, empresários, médicos, enfermeiros ou engenheiros.
Há projectos em andamento, em preparação ou em estudo, cruciais para o futuro de Coimbra e da sua identidade. O Convento de S. Francisco trará vantagens comparativas à Cidade, mas precisa urgentemente de “software” para além do “hardware” que é o edificado: a definição de um modelo de exploração que não seja oneroso ao município é urgente. O Metro Mondego traduz-se hoje numa indefinição que dura já há mais de uma ano e se traduz em transportes rodoviários insuportáveis para os cidadãos de Miranda e da Lousã que os utilizam diariamente, para além das consequências no trânsito urbano de Coimbra; acresce a “ferida” aberta na Baixa que carece de solução urgente, sendo que Coimbra já propôs solução, ainda sem resposta. A Estação Velha continua a ser uma vergonha para a Cidade. Se toda a gente reconhece que Coimbra é uma “marca” turística com um valor enorme, que se promova o turismo cultural que hoje em dia tem tanta pujança e importância económica por essa Europa fora. O parque tecnológico “Coimbra i Parque” está aí em andamento, potenciando uma ligação crucial entre o conhecimento, a inovação e a economia real. A candidatura a Património Mundial da Unesco é uma oportunidade para unir os conimbricenses em torno de algo que pode, não só reconhecer Coimbra e a sua Universidade como um valor a nível mundial, mas também potenciar a renovação urbana de todo um Centro Histórico valiosíssimo e abandonado durante tantas décadas a políticas urbanísticas erradas ditas “de crescimento”.
Tanto mas tanto, tanto a fazer.
Estimado leitor conimbricense: votos de que a crise que atravessamos sirva para nos unir no essencial como cidadãos e, como se costuma dizer, constitua uma oportunidade para definir uma Coimbra que se afirme como a capital regional que sempre foi, pela sua Cultura, Economia, capacidade de atracção dos melhores e de produção do melhor.
Bom ano.