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segunda-feira, 2 de janeiro de 2017
segunda-feira, 26 de dezembro de 2016
Natal em Aleppo
Depois de Varsóvia,
Estalinegrado, Dresden, Sarajev e Srebrenica, para referir
apenas algumas,
Aleppo é apenas a última cidade martirizada em que os habitantes, aqueles que
sobreviveram, se transformaram em refugiados cujas únicas memórias são as casas
desfeitas, e os familiares homens, mulheres e crianças despedaçados pela
guerra.
Já poucos se
lembrarão, mas a guerra na Síria começou com manifestações pacíficas em 2011
juntando Sunitas, Shiitas, Cristãos e Curdos contra o despotismo do Presidente
Bashar al-Assad. Este acusou-os a todos de serem terroristas e respondeu com
enorme violência usando de todas as armas, incluindo químicas, contra o seu
povo no que teve o apoio do Irão desde o início.
A partir de certa
altura, a radicalização do conflito levou a que entrassem tantos intervenientes
que é hoje quase impossível conhecer exactamente todas as forças no terreno e
quem está com quem em determinado momento.
O “exército livre da Síria”, única
força que apenas combaterá pela libertação da Síria da tirania de al-Assad é
apenas uma das forças, além do Hezbollah, da ex-Jabhat al Nusra, de facções da
Al-Qaida e, finalmente, do ISIS que, claro, quer estabelecer o “Califado”, para
além das forças armadas do regime. A intervenção de países estrangeiros,
directa ou indirecta, é um facto e tem importância decisiva no desenrolar da
guerra: o Irão, a Turquia, a Arábia Saudita e a Rússia envolveram-se de uma
forma ou de outra na Síria. Outros países têm tido intervenção militar no
território da Síria como a França os EUA ou a Bélgica, mas visando directamente
o ISIS e não tendo propriamente uma intervenção na guerra civil. O número de
mortos desta guerra civil ultrapassará os 400.000, havendo milhões de
refugiados nos países vizinhos.
A cidade de Aleppo
era, até há não muito tempo, a maior cidade da Síria. Tendo estado integrada na
zona ocupada pelo “exército livre da Síria” o regime, ultimamente apoiado pela
aviação russa, decidiu terminar com essa situação, custasse o que custasse, o
que está praticamente conseguido. A cidade está hoje praticamente destruída e
os últimos habitantes tentam fugir às atrocidades que têm sido cometidas pelos
soldados de Bashar, incluindo sobre mulheres e crianças, segundo os relatórios
das Nações Unidas. Nos últimos dias, cerca de 25.000 pessoas terão sido
evacuadas da zona oriental de Aleppo, temendo-se pela sorte das mais de 50.000
que ainda permanecem no interior da cidade cercada pelas forças do regime.
Entre os que
conseguiram sair e atingir a segurança da Turquia conta-se uma menina de sete
anos de idade chamada Bana Alabed que foi colocando na sua conta do Twitter
fotografias do que via nas ruas de Aleppo desde o passado mês de Setembro,
tendo conseguido uma enorme influência ao atingir o número de 352,000
seguidores.
As crianças serão
certamente quem mais sofrerá pela vida fora como testemunhas que foram dos mais
indizíveis horrores que a guerra pode provocar. Mais de 1.000 mulheres sírias
deram à luz nos campos de refugiados gregos no ano de 2016, não tendo as
crianças nascidas um país próprio, nem casa para morar, nem basicamente para
onde ir, num mundo que cada vez se mostra menos receptivo para com os
refugiados.
Segundo Mateus, há
pouco mais de 2.000 anos, numa zona bem próxima daquela em que hoje se
verificam estes acontecimentos, os pais de um menino recém-nascido chamado
Jesus decidiram não voltar para a sua casa em Nazaré e empreender uma viagem
para o Egipto.
Tornaram-se refugiados fugindo à tirania e maldade de um rei
chamado Herodes que, com medo de vir a perder o trono para uma criança desconhecida
mas que alguns prediziam que viria a tornar-se rei, decidiu mandar matar todos
os recém-nascidos da região.
O drama dos
refugiados é bem antigo. Novos são os Direitos da Criança e mesmo os Direitos
do Homem, tal como as convenções como a de Genebra que deveriam introduzir
regras mínimas de respeito, não só pelos soldados combatentes mas, acima de
tudo, pelos civis que nada têm a ver com as guerras dos poderosos. Direitos que
são muito bonitos no papel e para serem celebrados em dias próprios, mas que
são inúteis se só servirem para tempos de harmonia, logo sendo esquecidos
precisamente quando são mais necessários.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
“Não matar o mensageiro”
A História e os
clássicos são um bom instrumento para não nos deixarmos enganar pela chamada
espuma dos acontecimentos e pela apressada interpretação do que por todo o lado
nos é oferecido como sendo a realidade, deixando os realistas como sendo os
maus da fita.
Mais de trezentos
anos antes de Cristo, o exército do rei da Pérsia Dario III foi derrotado por
Alexandre o Grande, na batalha de Issus. Dario havia sido avisado por
Charidemos sobre as possíveis más consequências das suas decisões estratégicas,
dado que este último conhecia bem os exércitos de Alexandre. Dario não gostou
do que ouviu e matou Charidemos que, na realidade, lhe tinha transmitido a
verdade honestamente, tendo-se tornado incómodo por isso mesmo.
No século XIII, o
mongol Gengis Khan conquistou um enorme império, sendo conhecido até aos dias
de hoje por vários aspectos inovadores, como a liberdade religiosa ou um
serviço de correio montado em que os mensageiros oficiais podiam percorrer até
200 quilómetros por dia. Ficou também conhecido pela sua brutalidade,
estimando-se que nas suas guerras tenham morrido dezenas de milhões de pessoas.
E ficou célebre a sua sistemática reacção quando os mensageiros lhe traziam más
notícias, que era a morte imediata dos mesmos.
Hoje em dia e entre
nós a soberania está no povo, pelo que é a ele e às suas instituições que os
mensageiros fazem chegar as notícias de que são portadores. E o curioso é que,
de facto, as reacções são muitas vezes semelhantes às dos antigos reis. Quer no
momento em que se tomam decisões de escolha, quer ainda anteriormente na fase
das “sondagens”, a posição de recusa das más notícias parece-se muito com o que
os antigos ditadores faziam. A diferença estará em que a “morte política” é
agora muitas vezes o destino dos que trazem a verdade desagradável,
principalmente quando o fazem antes da chegada das consequências, como sucedeu
com o velho Charidemos.
Já Platão mostrou na
sua “alegoria da caverna” como as pessoas têm dificuldade de sair da sua zona
de conforto, ainda que não constitua mais do que um mundo irreal e falso,
habituando-se a ele de tal forma que se recusam a aceitar a realidade e o mundo
como ele é verdadeiramente e não o casulo em que se fecham. Nessa caverna,
vivem seres humanos que ali estão desde que nasceram, não conhecendo o mundo
exterior. Podem, no entanto, ver sombras projectadas na parede do fundo de
pessoas que passam no exterior, sombras essas que para eles são a realidade. Se
por acaso um dos habitantes da caverna vier para o exterior, a luz do dia quase
que o cegará, impedindo-o de ver bem a realidade; ao regressar à sua “segurança
habitual” da caverna, a escuridão não deixará ver alguma coisa, porque já
habituado à luz. Pior ainda, os seus antigos companheiros virar-se-ão contra
ele, mensageiro que ele era da realidade exterior em que não acreditavam e de
que tinham medo.
Na nossa realidade
actual deveremos perguntar-nos se, de facto, o ambiente cultural e social
essencialmente criado por uma comunicação social homogénea que aceita
acriticamente a propaganda como se de informação se tratasse, não constitui uma
redoma artificial fofa e agradável na qual a maioria se convence de que é
possível viver eternamente, rejeitando os mensageiros quem a avisam de que não
é assim. Prefere-se viver como se fosse possível não haver nunca necessidade de
sair da caverna para o mundo exterior da realidade, o que, mais cedo ou mais
tarde acaba por levar à destruição dos mitos criados, obrigando a dor e
sacrifícios generalizados. Já aconteceu no passado e voltará a acontecer. E
certamente, poderemos ver de novo aqueles que perseguiram os mensageiros da
realidade acusá-los do sucedido, recusando as suas próprias responsabilidades,
como Platão bem ensinou.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
Cidade com passado, do presente e com futuro
Coimbra tem uma
História rica e longa de muitos séculos que estendem até aos fenícios muito
tempo antes de ser a capital romana Aeminium, tendo conhecido altos e baixos ao
sabor das conquistas por novos povos e senhores. A estabilidade veio com o
estabelecimento da corte do nosso primeiro Rei Afonso em Coimbra, o que fez
dela a primeira capital de Portugal. A identidade mais duradoura e profíqua da
Cidade de Coimbra é a sua Universidade fundada originalmente pelo rei D. Dinis
em 1290 e aqui instalada de forma definitiva em 1537. O reconhecimento desta
importância veio com a classificação da Alta e Sofia como Património Mundial da
Humanidade, pela UNESCO em 2013 e é só por si, um facto do presente que puxa
pelo passado projectando-se no futuro. Sendo
o bem classificado uma universidade, mal ficaria a Coimbra se não elegesse a
Cultura como vector fundamental da sua afirmação. Valorização que passa, não
pela chamada esporádica de Rolling Stones ou outros que pouco ou nada cá deixam
e levam muito dinheiro, mas pelo apoio permanente e dedicado a quem cá produz
arte nas suas diversas formas, seja a música erudita, o teatro ou o jazz, que
lhes permita serem vectores da projecção de Coimbra para o exterior.
O surto de industrialização
das primeiras décadas do século XX desapareceu já, levado pelas alterações
políticas, sociais e económicas que caracterizaram o Portugal das últimas
décadas. Coimbra apresenta hoje uma economia baseada em serviços públicos, de
que a economia da saúde e empresas das tecnologias de informação são as
excepções mais notórias e importantes, com a circunstância de a área estatal da
saúde ser claramente o esteio da privada, sem o qual esta desapareceria em
pouco tempo.
Como é de uma
evidência total, a dimensão dos serviços públicos não tenderá a crescer, razão
pela qual Coimbra necessita de atrair
investimento privado, não só para se manter com alguma viabilidade, mas
sobretudo para se afirmar no panorama nacional. O tempo dos professores que
de cá saiam para em Lisboa tomarem conta da política nacional já acabou há
muito e não voltará nunca. A Universidade de Coimbra foi formalmente a única do
país até ao início do século passado e de facto até aos fins do século XVIII.
Felizmente, há hoje muitas instituições de ensino superior de grande qualidade
por todo o país, pelo que se a Universidade de Coimbra quer continuar a ter um
papel importante tem que fazer por isso em igualdade de oportunidades e não por
ser património mundial, o que lhe pode trazer muitos visitantes, mas também obriga
a muitas responsabilidades.
O desenvolvimento
do país tem proporcionado um crescimento anormal das áreas urbanas de Lisboa e
Porto, numa lógica territorial que, aliás, é perfeitamente terceiro-mundista e
diz bem da qualidade dos governantes que temos tido. Coimbra e a sua região que
é a Região Centro/Beiras têm ficado como que ensanduichadas (passe o
neologismo) entre aquelas áreas metropolitanas Deve recordar-se que a
importância da localização de Coimbra não é de hoje, tem mesmo a ver com o seu
início e com a ligação viária entre Norte e Sul que vem desde os romanos, a
meio caminho da ligação entre Olissipo e Bracara Augusta com passagem por Cale
que hoje conhecemos como Porto.
Aqui reside a outra
grande linha estratégica de actuação política. Coimbra não pode deixar-se
apertar, necessitando como de pão para a boca, de se assumir como pólo
aglutinador das Beiras aos mais diversos níveis. Deve esquecer a região centro
tal como se encontra hoje definida para a CCDRC que, de forma errada e pensando
apenas nos fundos europeus, foi evoluindo para ser “tomada” precisamente pelas
áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, perdendo a sua identidade histórica.
As próprias
Comunidades Intermunicipais (CIM) estão a evoluir para organismos burocráticos,
onde os interesses de cada município se sobrepõem ao interesse comum.
Por isso, Coimbra tem que agregar os municípios à sua volta com os quais
tem já relações metropolitanas informais de alguma dimensão, de que os fluxos diários de dezenas de milhar de deslocações por dia são um bom indicador.
Deve dirigir-se a eles, estudar aquilo que de comum pode puxar por todos e
trabalhar com eles em conjunto, sem qualquer espírito de superioridade, mas de colaboração
para um desenvolvimento social e económico espacialmente coerente.
Em Lisboa
desenham-se, tantas vezes de forma artificial, políticas de desenvolvimento
regional. Cabe a nós, de Coimbra, tratar
do nosso futuro, se não queremos que os nossos filhos e netos sejam tudo, menos
conimbricenses.
sábado, 10 de dezembro de 2016
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
terça-feira, 6 de dezembro de 2016
segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
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