quinta-feira, 12 de julho de 2018

A Coimbra maldita


Passei pelo Terreiro da Erva hoje ao fim da manhã. Desde PESSOAS a dormir ao relento sobre cartões nos passeios encostadas ás paredes até junkies a espetarem os braços no meio da rua, vi de tudo. Não há mesmo ninguém capaz de valer a estes desgraçados? É preferível dar-lhes de comer ali ao lado e fingir que não se passa mais nada? Raio de sociedade esta.
Nota: podia ter fotografado mas não o fiz; aquelas pessoas têm cara, foram crianças com sonhos como os nossos filhos e merecem ser consideradas como tal. Definitivamente não merecem ser "anuladas" para que as estatísticas nacionais sejam bonitas e os responsáveis recebam palmadinhas nas costas.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

CP sem comboios e sem manutenção

 Quando houver um acidente grave na Linha do Norte, quem é que vão acusar?

 Da revista Sábado:
"A CP – Comboios de Portugal está a colapsar. Com falta de carruagens para circular e de pessoal para fazer as manutenções e reparações de comboios, a empresa poderá ver-se obrigada a reconfigurar o serviço que disponibiliza aos clientes. Segundo noticia o Público esta quarta-feira, a partir de Agosto haverá menos oferta para os passageiros.
Para responder às dificuldades que enfrenta, a CP tem duas soluções: suprimir comboios e colocar autocarros a realizar os trajectos afectados ou disponibilizar carruagens inferiores que garantam o transporte dos passageiros."


http://www.sabado.pt/portugal/detalhe/cp-esta-a-ficar-sem-comboios-e-trabalhadores-para-manutencao

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Rui de Alarcão, Magnífico Cidadão.


Não há muitas pessoas que consigam aliar uma grande notoriedade académica, social ou política a um exercício de cidadania simples e despojado, bem como um convívio agradável e descomplexado com os seus concidadãos.
É este o caso do Prof. Doutor Rui de Alarcão, pessoa acerca de quem nunca ouvi uma única palavra de falta de apreço, qualquer que seja o quadrante ideológico ou posição social ou económica de quem exprima a sua opinião. E não é, certamente, por acaso que tal sucede.
Na sua vida profissional de docente e investigador de Direito, atingiu por mérito próprio a categoria mais elevada em termos académicos, tendo-se doutorado na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra da qual se tornou Professor Catedrático em 1978, tendo ainda sido Presidente do respectivo Conselho Directivo. Mas a Carreira Académica, já de si brilhante, não era suficiente para o Doutor Rui de Alarcão, que se afirmou ainda, quer na Universidade de que era Professor, quer nas mais diversas áreas sociais, políticas e intelectuais de Coimbra e do País, com uma intervenção notável em todas elas.
O Doutor Rui de Alarcão foi Reitor da Universidade de Coimbra durante dezasseis anos sucessivos, entre 1982 e 1998, atravessando períodos conturbados da vida social e política do país, fazendo a ponte entre períodos muito diferentes da gestão das universidades. A serenidade e visão da sua actuação como Reitor nesses tempos difíceis levaram a que obtivesse o apoio das diversas comunidades da Universidade, factor decisivo para o sucesso das reformas que levou a cabo.
Rui de Alarcão emprestou o seu saber e a sua disponibilidade para obter consensos e soluções para as mais diversas questões de importância nacional. Foi assim que, entre muitas outras funções, foi Membro do Conselho de Estado, Membro da Comissão Constitucional, Membro do Conselho Nacional do Ensino Superior ou Membro do Conselho Nacional de Educação. Foi ainda Chanceler das Ordens Honoríficas. Ele próprio foi agraciado com as mais importantes Ordens portuguesas: Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo. Grã-Cruz da Ordem de Sant’Iago da Espada. Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Recebeu ainda altas distinções em países tão variados como a Alemanha, a Bélgica, a Itália ou o Brasil. A Cidade de Coimbra outorgou-lhe também a sua Medalha de Ouro, reconhecendo-lhe a sua excepcionalidade. Para o Doutor Rui de Alarcão, no entanto, a distinção a que dá mais relevo é a Medalha de Ouro da Associação Académica de Coimbra, pelo que significa de apreço dos estudantes da Universidade pelo seu reitorado.

Tudo isto é público e notório, como se costuma dizer e referenciá-lo numa crónica de jornal não acrescenta nada a essa realidade. O que me traz hoje a escrever sobre o Doutor Rui de Alarcão é algo diverso e tem a ver com a sua relação com os seus concidadãos, na vida comum.
Ouvir o Doutor Rui de Alarcão falar em público, seja discorrendo sobre assuntos ligados ao exercício de cidadania, ou simplesmente apresentando outros oradores é um prazer raro. A sua observação da realidade não se faz sem um exercício de uma ironia fina cheia de sensibilidade, nunca sobre pessoas, mas sim sobre as circunstâncias e as ideias, recolocando as perspectivas com cuidado e exigência, em absoluto respeito pelos valores fundamentais e ética. O seu discurso é claro e conciso, dispensando aquela retórica excessiva ou mesmo gongorismos que tantas vezes escondem aquilo que é fundamental. Quando remete para os clássicos fá-lo sem pretensiosismo, antes com grande subtileza, respeitando os diversos níveis de percepção dos auditórios, sem qualquer agressão intelectual ou a mais leve manifestação de arrogância.
Conversar com o Doutor Rui de Alarcão, sendo um evidente privilégio, é igualmente uma experiência rara, dada a sua capacidade de ouvir o interlocutor e de analisar qualquer assunto com grande simpatia partilhando os seus conhecimentos e opiniões com a maior simplicidade.
O Doutor Rui de Alarcão foi um Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra mas é, acima de tudo, um Magnífico Cidadão a quem, para além da comunidade universitária, todos nós, os seus concidadãos, devemos mostrar gratidão pelo exemplo que tem sido toda a sua vida.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

terça-feira, 3 de julho de 2018

Pier


Madonna

Pois é, percebe-se bem porque é que ela gosta de viver em Lisboa. Hoje, podemos ter melhor aspecto geral e vestir melhor do que há 50 ou 60 anos. Mas a nossa subserviência ao "de fora" e famoso continua bem visível. Raios partam isto.

Avé Maria - Caccini . OCC

Via CTT

Esta história da caixa de correio electrónico ViaCTT obrigatória (para alguns) cidadãos é uma monumental aldrabice. Só podia mesmo ter sido inventada num Governo de Sócrates. Pela minha parte, fui lá e escolhi a opção de reencaminhamento automático para a conta de e.mail que utilizo. Isto é, só serve para reencaminhamento. Desnecessário, porque a própria AT usa o meu mail para me mandar mensagens como, por exemplo, as que se referem ao e.factura. Será que o Simplex não podia simplificar e acabar com esta trapalhada? Claro que qualquer cidadão, sabendo do que a casa gasta, desconfia que por trás disto deve haver uma negociata qualquer.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Brexit com data marcada


No dia 23 de Junho de 2016 os cidadãos do Reino Unido decidiram maioritariamente, em referendo, a saída do seu país da União Europeia. O referendo tinha sido considerado por muitos extemporâneo e desnecessário, considerando-se, genericamente, que o seu resultado seria claramente favorável à permanência na União, à semelhança do realizado em 1975 que ditou a permanência na então CEE – Comunidade Económica Europeia. Contudo, o primeiro-ministro conservador David Cameron prometeu, na campanha eleitoral em que foi eleito em 2013, sem qualquer necessidade real de o fazer, agendar um referendo sobre a permanência ou saída da EU até 2017. O resultado do referendo criou uma crise política no Reino Unido que varreu Cameron do poder, além de criar um enorme problema à própria União Europeia. A sucessora de Cameron à frente do governo britânico, Theresa May, acionou o Art. 50 do Tratado da União Europeia a 29 de Março de 2017, o que significa que o prazo de dois anos para a saída da União Europeia terminaria em 30 de Março de 2019, a não ser que o Conselho Europeu, com o acordo do Reino Unido, decidisse por unanimidade prorrogar esse prazo.
Contudo, as acaloradas discussões sobre o Brexit que se têm verificado no seio do Reino Unido, bem como a noção estabelecida na opinião pública de que as negociações se têm arrastado sem progressos significativos, levaram a questão ao Parlamento britânico onde, finalmente, se tomou uma decisão definitiva. Foi assim que a promulgação pela Rainha em 26 de Junho de 2018 da chamada “lei de saída do Reino Unido da União Europeia” tornou o Brexit irreversível. De acordo com o texto aprovado na semana passada, após intensos debates na Câmara dos Comuns e na Câmara dos Lordes, que revogou a lei de adesão do Reino Unido à Comunidade Europeia em 1973, ficou estabelecido que a saída do Reino Unido da União Europeia se verificará mesmo às 23 horas do dia 29 de Março de 2019. A lei aprovada prevê a transferência das normas europeias para o direito britânico, o que de alguma forma facilita as relações futuras entre o Reino Unido e a União Europeia e estabelece um procedimento mútuo mínimo, no caso de falharem as negociações de acordo para a saída, nos termos do Art. 50.
E, na realidade, as negociações têm sido tudo menos um caminho de sucesso, com todos os ingredientes para terem um mau fim, seja por um acordo desastroso para o Reino Unido, seja pela pura e simples inexistência de acordo. Tendo sido o próprio país que quer sair a estabelecer uma data fixa para que isso suceda, coloca de parte a hipótese de vir a pedir uma prorrogação do prazo o que, em termos negociais, significa o tudo ou nada, estando ainda por cima do outro lado da mesa um conjunto de países que têm que entre eles acordar por unanimidade os termos finais de qualquer acordo. A falta de acordo, em negociações que duram há quase dois anos, sugere mesmo que os britânicos nunca perceberam o funcionamento da União Europeia e a complexidade dos seus processos de decisão.
Percebe-se que o Reino Unido está claramente desunido relativamente ao Brexit, com a classe política a corporizar discussões difíceis de compreender. Na semana passada, um dos defensores governamentais do Brexit, precisamente o ministro dos estrangeiros Boris Johnson, desdenhou das questões económicas nas negociações do Brexit, de uma forma inaceitável seja para quem for. Isto num momento em que as preocupações com as possíveis consequências desastrosas do Brexit para a economia britânica começam a ser evidentes e sindicatos e patrões se exprimem publicamente contra a forma como o governo está a negociar. É penoso ver uma nação com um lastro histórico tão impressionante sentar-se à mesa das negociações dividida e fazendo espalhafato e voz grossa, mas sem apresentar o trabalho de casa feito, perante um negociador burocrático mas competente e consciente de que tem a faca e o queijo na mão.
O cenário montado é tão complexo que o próprio presidente da Comissão Europeia declarou no início do Conselho Europeu da semana passada que a União Europeia considera muito seriamente a hipótese de se chegar a Março do próximo ano sem acordo. Tal situação seria má para os britânicos, mas igualmente má para o futuro da União Europeia que passa por momentos penosos de grande dificuldade em obter consensos em matérias cruciais.