segunda-feira, 9 de julho de 2018

Rui de Alarcão, Magnífico Cidadão.


Não há muitas pessoas que consigam aliar uma grande notoriedade académica, social ou política a um exercício de cidadania simples e despojado, bem como um convívio agradável e descomplexado com os seus concidadãos.
É este o caso do Prof. Doutor Rui de Alarcão, pessoa acerca de quem nunca ouvi uma única palavra de falta de apreço, qualquer que seja o quadrante ideológico ou posição social ou económica de quem exprima a sua opinião. E não é, certamente, por acaso que tal sucede.
Na sua vida profissional de docente e investigador de Direito, atingiu por mérito próprio a categoria mais elevada em termos académicos, tendo-se doutorado na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra da qual se tornou Professor Catedrático em 1978, tendo ainda sido Presidente do respectivo Conselho Directivo. Mas a Carreira Académica, já de si brilhante, não era suficiente para o Doutor Rui de Alarcão, que se afirmou ainda, quer na Universidade de que era Professor, quer nas mais diversas áreas sociais, políticas e intelectuais de Coimbra e do País, com uma intervenção notável em todas elas.
O Doutor Rui de Alarcão foi Reitor da Universidade de Coimbra durante dezasseis anos sucessivos, entre 1982 e 1998, atravessando períodos conturbados da vida social e política do país, fazendo a ponte entre períodos muito diferentes da gestão das universidades. A serenidade e visão da sua actuação como Reitor nesses tempos difíceis levaram a que obtivesse o apoio das diversas comunidades da Universidade, factor decisivo para o sucesso das reformas que levou a cabo.
Rui de Alarcão emprestou o seu saber e a sua disponibilidade para obter consensos e soluções para as mais diversas questões de importância nacional. Foi assim que, entre muitas outras funções, foi Membro do Conselho de Estado, Membro da Comissão Constitucional, Membro do Conselho Nacional do Ensino Superior ou Membro do Conselho Nacional de Educação. Foi ainda Chanceler das Ordens Honoríficas. Ele próprio foi agraciado com as mais importantes Ordens portuguesas: Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo. Grã-Cruz da Ordem de Sant’Iago da Espada. Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Recebeu ainda altas distinções em países tão variados como a Alemanha, a Bélgica, a Itália ou o Brasil. A Cidade de Coimbra outorgou-lhe também a sua Medalha de Ouro, reconhecendo-lhe a sua excepcionalidade. Para o Doutor Rui de Alarcão, no entanto, a distinção a que dá mais relevo é a Medalha de Ouro da Associação Académica de Coimbra, pelo que significa de apreço dos estudantes da Universidade pelo seu reitorado.

Tudo isto é público e notório, como se costuma dizer e referenciá-lo numa crónica de jornal não acrescenta nada a essa realidade. O que me traz hoje a escrever sobre o Doutor Rui de Alarcão é algo diverso e tem a ver com a sua relação com os seus concidadãos, na vida comum.
Ouvir o Doutor Rui de Alarcão falar em público, seja discorrendo sobre assuntos ligados ao exercício de cidadania, ou simplesmente apresentando outros oradores é um prazer raro. A sua observação da realidade não se faz sem um exercício de uma ironia fina cheia de sensibilidade, nunca sobre pessoas, mas sim sobre as circunstâncias e as ideias, recolocando as perspectivas com cuidado e exigência, em absoluto respeito pelos valores fundamentais e ética. O seu discurso é claro e conciso, dispensando aquela retórica excessiva ou mesmo gongorismos que tantas vezes escondem aquilo que é fundamental. Quando remete para os clássicos fá-lo sem pretensiosismo, antes com grande subtileza, respeitando os diversos níveis de percepção dos auditórios, sem qualquer agressão intelectual ou a mais leve manifestação de arrogância.
Conversar com o Doutor Rui de Alarcão, sendo um evidente privilégio, é igualmente uma experiência rara, dada a sua capacidade de ouvir o interlocutor e de analisar qualquer assunto com grande simpatia partilhando os seus conhecimentos e opiniões com a maior simplicidade.
O Doutor Rui de Alarcão foi um Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra mas é, acima de tudo, um Magnífico Cidadão a quem, para além da comunidade universitária, todos nós, os seus concidadãos, devemos mostrar gratidão pelo exemplo que tem sido toda a sua vida.

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