Não há muitas pessoas que
consigam aliar uma grande notoriedade académica, social ou política a um
exercício de cidadania simples e despojado, bem como um convívio agradável e
descomplexado com os seus concidadãos.
É este o caso do Prof.
Doutor Rui de Alarcão, pessoa acerca de quem nunca ouvi uma única palavra de
falta de apreço, qualquer que seja o quadrante ideológico ou posição social ou
económica de quem exprima a sua opinião. E não é, certamente, por acaso que tal
sucede.
Na sua vida profissional de
docente e investigador de Direito, atingiu por mérito próprio a categoria mais
elevada em termos académicos, tendo-se doutorado na Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra da qual se tornou Professor Catedrático em 1978, tendo ainda
sido Presidente do respectivo Conselho Directivo. Mas a Carreira Académica, já
de si brilhante, não era suficiente para o Doutor Rui de Alarcão, que se
afirmou ainda, quer na Universidade de que era Professor, quer nas mais
diversas áreas sociais, políticas e intelectuais de Coimbra e do País, com uma
intervenção notável em todas elas.
O Doutor Rui de Alarcão foi
Reitor da Universidade de Coimbra durante dezasseis anos sucessivos, entre 1982
e 1998, atravessando períodos conturbados da vida social e política do país,
fazendo a ponte entre períodos muito diferentes da gestão das universidades. A
serenidade e visão da sua actuação como Reitor nesses tempos difíceis levaram a
que obtivesse o apoio das diversas comunidades da Universidade, factor decisivo
para o sucesso das reformas que levou a cabo.
Rui de
Alarcão emprestou o seu saber e a sua disponibilidade para obter consensos e soluções
para as mais diversas questões de importância nacional. Foi assim que, entre
muitas outras funções, foi Membro do Conselho de Estado, Membro da Comissão
Constitucional, Membro do Conselho Nacional do Ensino Superior ou Membro do
Conselho Nacional de Educação. Foi ainda Chanceler das Ordens Honoríficas. Ele
próprio foi agraciado com as mais importantes Ordens portuguesas: Grã-Cruz da
Ordem Militar de Cristo. Grã-Cruz da Ordem de Sant’Iago da Espada. Grã-Cruz da
Ordem do Infante D. Henrique. Recebeu ainda altas distinções em países tão
variados como a Alemanha, a Bélgica, a Itália ou o Brasil. A Cidade de Coimbra
outorgou-lhe também a sua Medalha de Ouro, reconhecendo-lhe a sua
excepcionalidade. Para o Doutor Rui de Alarcão, no entanto, a distinção a que
dá mais relevo é a Medalha de Ouro da Associação Académica de Coimbra, pelo que
significa de apreço dos estudantes da Universidade pelo seu reitorado.
Tudo
isto é público e notório, como se costuma dizer e referenciá-lo numa crónica de
jornal não acrescenta nada a essa realidade. O que me traz hoje a escrever
sobre o Doutor Rui de Alarcão é algo diverso e tem a ver com a sua relação com
os seus concidadãos, na vida comum.
Ouvir o
Doutor Rui de Alarcão falar em público, seja discorrendo sobre assuntos ligados
ao exercício de cidadania, ou simplesmente apresentando outros oradores é um
prazer raro. A sua observação da realidade não se faz sem um exercício de uma
ironia fina cheia de sensibilidade, nunca sobre pessoas, mas sim sobre as circunstâncias
e as ideias, recolocando as perspectivas com cuidado e exigência, em absoluto
respeito pelos valores fundamentais e ética. O seu discurso é claro e conciso,
dispensando aquela retórica excessiva ou mesmo gongorismos que tantas vezes
escondem aquilo que é fundamental. Quando remete para os clássicos fá-lo sem
pretensiosismo, antes com grande subtileza, respeitando os diversos níveis de
percepção dos auditórios, sem qualquer agressão intelectual ou a mais leve
manifestação de arrogância.
Conversar
com o Doutor Rui de Alarcão, sendo um evidente privilégio, é igualmente uma
experiência rara, dada a sua capacidade de ouvir o interlocutor e de analisar
qualquer assunto com grande simpatia partilhando os seus conhecimentos e
opiniões com a maior simplicidade.
O
Doutor Rui de Alarcão foi um Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra mas é,
acima de tudo, um Magnífico Cidadão a quem, para além da comunidade
universitária, todos nós, os seus concidadãos, devemos mostrar gratidão pelo
exemplo que tem sido toda a sua vida.
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